11 de Janeiro de 2021, Segunda-feira – Semana Do Tempo Comum: Jesus lhes disse: “Segui-me e eu farei de vós pescadores de homens”.

2ª-feira da 1ª Semana Do Tempo Comum

Leitura: Hb 1,1-6 (cf. dia 25/12, 2ª leitura)

Nas próximas quatro semanas do Tempo Comum (ano ímpar) ouvimos a leitura da Carta aos Hebreus. No final do primeiro século (antes de 70 ou mais provável em 90 d.C.?), um escriba ou orador cristão anônimo da segunda geração cristã (cf. 2,1.3) escreveu uma “exortação” (13,22) a uma comunidade.

A Nova Bíblia Pastoral (p. 1468) comenta: A tradicional atribuição a Paulo não se justifica, pois faltam as indicações de autor e a saudação inicial comum em todas as cartas do Apostolo.

O estilo desta exortação é bem diferente das cartas do apóstolo Paulo. Mas deve ter sido colocada no final do corpo paulino devido à menção de “nosso irmão Timóteo” nas saudações finais em 13,23, que pode se referir ao acompanhante fiel de Paulo (At 16ss; 2Cor 1,1; etc.).

No ocidente, a carta demorou a ser aceita no cânone do NT. Atribuiu-se esta exortação a Lucas, Barnabé, Priscila e outros. Lutero sugeriu Apolo (cf. 1Cor 1,12; 3,4-11.22; Tt 3, 13) cuja descrição em At 18,24-28 se encaixa bastante ao perfil do autor de Hb: origem judaica, educação helenista em Alexandria onde atuava o filósofo judeu Filon, conhecimento das Escrituras e reputação de eloquência. Mas isso não basta para atribuir a carta a Apolo, pois estas características podem ser encontradas em outras pessoas da época.

Um “sermão para cristãos desorientados” – é assim que poderíamos chamar esta “epístola de Paulo aos hebreus” que não é epístola, nem de Paulo, nem aos hebreus (A. Vanhoye).

O título “aos Hebreus” não faz parte do texto e foi escolhido, provavelmente, na hora de inserir o escrito numa coletânea de várias cartas. Este sermão se dirige a cristãos de longa data (cf. 5,12), talvez judeus antes do seu batismo. Imaginava-se que seria endereçado aos hebreus, por causa do uso abundante do AT (Antigo Testamento) e das referências ao culto no templo de Jerusalém. É o único escrito do NT que aplica a Jesus o sumo sacerdócio (2.17; 3,2 etc.). Poderia ser chamado “sermão sacerdotal”.

A diferença às cartas de Paulo se percebe já no início, é um prólogo (cf. Jo 1,1-18) sem mencionar nomes de autores nem destinatários. No texto original em grego, os vv. 1-4 são uma única frase.

Muitas vezes e de muitos modos falou Deus outrora aos nossos pais, pelos profetas; nestes dias, que são os últimos, ele nos falou por meio do Filho, a quem ele constituiu herdeiro de todas as coisas e pelo qual também ele criou o universo (vv. 1-2).

O início desta carta realça a posição superior de Jesus. Durante a história humana, Deus se comunicava, “falava de diversas maneiras”, através de intermediários (o que explica também as diversas religiões no mundo), “aos pais”, i.e. aos ancestrais de Israel, às gerações passadas. Até os cristãos de origem pagã tinham consciência de sua vinculação como o povo de Israel (cf. Rm 4,16-18; 11,17; 1Cor 10,1). Aos “profetas”, designados servos (Jr 7,25; 25,4; cf. 2Cr 36,15; Zc 1,4s) sucede um último mensageiro que é “Filho” (cf. Mc 12,2-6p). O autor não se refere apenas aos escritos dos profetas, mas cita de várias partes de todo AT, também da lei de Moisés (cf. Nm 12,6-8; Dt 34,10).

Em Jesus Cristo, Deus se revelou em pessoa e definitivamente. Ele é Filho de Deus não só por seu nascimento da virgem Maria, mas porque nele Deus falou em pessoa (não mais através de intermediários); “nestes dias que são os últimos” (Lit. “no fim destes dias”), ou pela expectativa de um fim próximo deste mundo (cf. 1Ts 1,10; 4,15; 5,1; 1Cor 1,7s; 7,29; 15,51s; etc.) ou pela revelação última e definitiva que se realizou em Jesus Cristo. É doutrina cristã, que a revelação de Deus está concluída em Jesus. Não há de esperar outra (cf. Mt 11,3p). Lit. “no fim dos dias” traduziu no AT grego o tempo da intervenção divina definitiva (cf. Ez 38,16; Dn 2,28.45; 10,14; Mq 4,1). Ao acrescentar “(n)estes”, Hb afirma que doravante este período final está presente; Cristo o inaugurou (cf. At 2,17; 1Cor 10,11; 1Pd 1,20).

Jesus não é como os profetas do AT (Antigo Testamento) que anunciaram a vinda do messias. Jesus é o messias (Cristo), é “Filho” (cf. Sl 2,7; 2Sm 7,14; Mt 16,13-16; Mc 12,1-11) e “herdeiro de todas as coisas”. Nele as promessas feitas “aos pais” alcançam sua realização final. Ele é o descendente privilegiado dos patriarcas (cf. Gn 15,3s; Eclo 44,21) e de Davi (Sl 2,8) a quem fora prometido o reino universal (cf. Dn 2,44; 7,14; Mt 1,1-17p; Lc 1,32s).

À esta tradição messiânica, o autor junta a tradição sapiencial: como a Sabedoria, o Filho é associado à criação do mundo, “pelo qual também criou o universo”.

Este é o esplendor da glória do Pai, a expressão do seu ser. Ele sustenta o universo com o poder de sua palavra (v. 3a).

Em Jesus, se tornou visível como Deus é (cf. Cl 1,15): Ele não é como os deuses egípcios com cabeças de animais (por isso era proibido fazer imagens de Deus, cf. Ex 20,2-5); Jesus é o rosto humano de Deus e rosto divino do homem, é “esplendor da glória do Pai e expressão do seu ser” (v. 3). Percebe-se uma influência da tradição sapiencial (Sb 7,25-26 e Pr 8,27-31; Sb 7,21; 9,9) e da filosofia platônica igual ao filósofo judeu Fílon de Alexandria (20 a.C – 54 d.C.) e ao prólogo de Jo 1,1-18 sobre a preexistência do Verbo divino que se tornou carne em Jesus (cf. evangelho de hoje).

O poder divino é de tal porte que nenhum esforço lhe é preciso para “sustentar o universo”, basta-lhe uma palavra: “pela palavra do seu poder” (cf. Sl 33,6.9). Como Jo 1,1-18, Hb afirma que Deus falou definitivamente em Jesus Cristo, o qual é a palavra viva e concreta de Deus. Através dele Deus faz existir e salva toda criatura.

Tendo feito a purificação dos pecados, ele sentou-se à direita da majestade divina, nas alturas (v. 3b).

A carta falará ainda de Jesus como sumo sacerdote que nos purificou dos pecados pela oferta do seu próprio sangue (9,14.26). Apresenta a glorificação de Jesus de maneira tradicional inspirando-se em Sl 110,1 (sentar-se à direita, ao lado preferido) com conotação celeste “nas alturas” (cf. Mc 14,62p: “nas nuvens”).

Ele foi colocado tanto acima dos anjos quanto o nome que ele herdou supera o nome deles (v. 4).

A posição superior de Jesus se confirma pelo “nome” (que representa a pessoa) que lhe foi dado. Como em Jo, o nome Jesus não é mencionado logo no início, só em 2,9; por enquanto fala do “Filho” ou aqui aludindo ao nome do Senhor.

Em Fl 2,9-11, Jesus foi sobre-exaltado de maneira que foi lhe dado um nome e todos os seres, também os celestes, dobrem os joelhos e confessem: “Jesus é o Senhor”. Este nome é kýrios (Senhor) e com este termo traduzia-se no AT grego o nome sagrado Yhwh (Javé), é uma afirmação indireta da divindade de Jesus (cf. At 2,36; Rm 10,9; Jo 20,28; Tt 2,13).

De fato, a qual dos anjos Deus disse alguma vez: “Tu és o meu Filho, eu hoje te gerei”? Ou ainda: “Eu serei para ele um Pai e ele será para mim um filho”? (v. 5).

Para sustentar a filiação divina de Jesus, o autor cita Sl 2,7 (pronunciado sobre o rei na hora da sua posse) e 2Sm 7,14 (promessa de messias a Davi), cf. Rm 1,3-4; At 13,33.

Mas, quando faz entrar o Primogênito no mundo, Deus diz: “Todos os anjos devem adorá-lo!” (v. 6).

Deus se revela e se aproxima ao máximo de nós, “quando faz entrar o Primogênito entrar no mundo” (v. 6; cf. Lc 2,7.23; Cl 1,15.18). “Entrar no mundo” pode significar não só a encarnação, mas também a reintrodução de Cristo (sua volta, a parusia), pelo contexto, sua entronização na cidade celeste (cf. Ef 1,21s; Fl 2,9s).

Em Sl 89,27-28 se fala da entronização do rei como “primogênito”, o “altíssimo sobre os reis da terra”. Jesus é o altíssimo (sobre todos os anjos, v. 4), e “todos os anjos devem adorá-lo” (cf. Dt 32,43 grego). O “Filho de Deus” pode ser tratado como o próprio Deus (cf. vv. 8-9; cf. Jo 1,1; 20,28).

O Concílio de Niceia (325 d.C.) define: o Filho é consubstancial ao Pai (cf. Credo niceno-constantinopolitano): Creio em um só Senhor, Jesus Cristo, Filho unigénito de Deus, nascido do Pai antes de todos os séculos: Deus de Deus, Luz da Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado, não criado, consubstancial ao Pai; por Ele todas as coisas foram feitas. 

 

Evangelho: Mc 1,14-20

Inicia-se hoje a leitura do “Evangelho segundo Marcos” nos dias da semana do Tempo comum, depois ouviremos Mateus e Lucas. Durante o ano litúrgico, passamos por estes três evangelistas chamados “sinóticos”, porque “olham juntos”, ou seja, tem o mesmo roteiro da atividade pública de Jesus com a duração de um ano, começando na Galileia e terminando com a páscoa em Jerusalém. No quarto evangelho (João), porém, Jesus faz diversas viagens para a páscoa em Jerusalém. É fruto do movimento bíblico e do Concilio Vaticano II que passamos por todos os evangelhos (João é lido no tempo da quaresma e da páscoa), iniciando com Marcos que é o evangelho mais velho (segundo as pesquisas dos séculos 19 e 20):

A tradição mais antiga da Igreja colocou Mt em primeiro lugar porque está ligado ao nome de um apóstolo e faz muitas referências ao Antigo Testamento (AT). Mas nenhum evangelista assinou com seu nome; os evangelhos são obras anônimas, às quais a Igreja atribuiu posteriormente nomes do âmbito apostólico (de apóstolos, Mt e Jo, ou discípulos deles, Mc e Lc). Uma análise literária demonstra claramente que Mt e Lc são independentes um do outro (cf. as diferenças na narração da infância de Jesus), mas ambos dependem de Mc! Ambos copiavam os relatos de Mc e seu itinerário, às vezes corrigindo e resumindo o estilo mais primitivo de Mc.

Portanto, Mc é o evangelho mais velho e mais original. É também o evangelho mais curto com apenas 16 capítulos; não narra nada da infância de Jesus, mas apresenta logo no início o batismo de Jesus por João Batista (cf. o evangelho de ontem), em seguida, a vitória de Jesus sobre a tentação no deserto (evangelho do 1º domingo de quaresma) e depois, no evangelho de hoje, o início da sua pregação e o chamado dos primeiros discípulos.

Depois que João Batista foi preso, Jesus foi para a Galileia, pregando o Evangelho de Deus e dizendo: “O tempo já se completou e o Reino de Deus está próximo. Convertei-vos e crede no Evangelho!” (vv. 14-15).

Como a tentação é narrada em apenas dois versículos, nossa liturgia prefere acrescentar mais dois que já ouvimos há um mês atrás (3º Domingo do Tempo Comum), mas pelo tema quaresmal da “conversão” caem muito bem aqui.

O evangelista separa o tempo e o espaço de Jesus e do Batista. Mesmo comprovada sua missão como messias no batismo e na tentação, Jesus não começou pregar, enquanto João ainda atuava na beira do rio Jordão. Será por coincidência ou por respeito? Em Jo 1, Jesus, Pedro e André já eram discípulos no âmbito de João Batista. Quando o Batista foi “preso” (lit: entregue, cf. 9,31; 10,33; 14,41), o grupo se desintegrou e voltou à sua pátria “Galileia” (cf. 1,9; Jo 1,43s). Como o menino Jesus obedeceu a seus pais (Lc 2,51), Jesus poderia ter respeitado seu mestre João (apesar de ser superior a ele, cf. Mt 3,14s; Jo 1,30), antes de começar sua própria pregação. A menção da prisão do Batista traz a expectativa de que Jesus anuncie uma mensagem de esperança e libertação. Mc resume a pregação de Jesus em poucas palavras: Jesus não anuncia a si mesmo (cf. 1,1: “evangelho de Jesus”), mas o “evangelho de Deus”, ou seja, o “Reino de Deus”.

“Anunciar o evangelho de Deus” corresponde à linguagem da missão helenista (1Ts 2,9; cf. Gl 2,2), enquanto “anunciar o Reino de Deus” à tradição da Palestina (Mt 10,7; Lc 10,9).

Jesus aparece ao arauto de Is 52,7: “Como são belos os pés dos mensageiro que anuncia a paz, do que proclama a boa nova (evangelho, cf. Is 61,1) e anuncia a salvação, do que diz a Sião: ‘O teu Deus reina’”.

No Antigo Oriente não havia estados democráticos, apenas monarquias (um rei ou imperador com todo poder em suas mãos). De maneira análoga no AT (Antigo Testamento), Deus é visto como “rei”, sentado no trono e cercado de uma corte celeste (anjos), governando toda a terra, a criação e as nações (cf. Sl 24; 145 etc.). De maneira especial, Deus é rei de Israel, seu povo escolhido. Atendendo ao pedido do povo, Deus concedeu um rei (monarca) para governar as doze tribos de Israel, mas não sem crítica e submetendo o rei à lei de Deus (cf. 1Sm 8). Ao segundo rei, Davi (cerca de 1000 a.C.), prometeu um descendente que governaria para sempre, o “messias” (rei “ungido”, 2Sm 7). Nos tempos difíceis, os profetas continuavam alimentando esta esperança por um messias salvador (Is 9,5s; 11,1-5; Jr 23,5-6 etc.). O termo e conceito próprio do “Reino de Deus” aparece pela primeira vez nas visões apocalípticas de Dn 2,44 e 7,14.

“O tempo já se completou” (v. 15); tem duas palavras gregas por tempo: chronos (duração, cf. Gl 4,4) e kairós (momento definido, certo); Mc usa o kairos que se completou, expressão apocalíptica para designar os momentos definidos por Deus (cf. Dn 7,22; Ez 7,12; 9,1; Lm 4,18; Ap 1,3; 1Pd 1,11). Deus fixou o tempo certo para a chegada de Jesus, é uma mudança de época, a grande virada do tempo, o “Reino de Deus está próximo”, mas em que sentido? É a parusia (vinda) triunfal do Filho do Homem no final dos tempos com raios, anjos, trombetas etc. (13,24-27)? Aqui ainda não, mas o Reino de Deus está presente já, a partir de agora começa se manifestar e crescer (cf. as parábolas do cap. 4) até a vida eterna (9,47).

Jesus é o “Filho do homem” (Mc 2,10.28 etc.) a quem Deus entregará este reino (cf. Dn 7,13s). Com ele, o reino “está próximo”; ele é o rei (Cristo=Messias) que representa este reino. Isto é o que a Igreja vai anunciar após a sua morte e ressurreição. Para Paulo, o centro da pregação já é o próprio Cristo, não mais o reino (cf. 1Cor 1,22-24; Gl 2,20 etc.).

Na história da Igreja, com o passar do tempo e a demora da parusia, o termo “reino de Deus” torna-se um termo da eclesiologia, ou seja, identifica-se mais e mais o reino com a Igreja, com a comunidade, onde Cristo se faz presente (aspecto presente do reino). No séc. 20, resgata-se o significado escatológico do reino (aspecto futuro). De fato, o termo Reino de Deus tem os dois significados, presente (desde já) e futuro (ainda não), e permanece um símbolo crítico contra absolutismo eclesial e mundano.

Como João Batista (v. 4), Jesus também anuncia a “conversão” (mudar de mentalidade, voltar-se a Deus), mas não com ameaças proféticas, sim com a “boa nova”. Os apóstolos continuarão esta pregação de conversão (6,12). A palavra grega “evangelho” (euaggelion) significa boa mensagem (cf. Is 40,9; 52,7), por ex. na ocasião de uma vitória ou do nascimento de um herdeiro, cf. Lc 2,10s). A pregação apostólica é a boa nova de Jesus Cristo (messias) morto e ressuscitado (cf. Rm 1,3s.9; 1Cor 15,2). Devemos “crer” (confiar) neste evangelho, nesta pessoa. Assim Mc entendeu a sua obra (cf. o título em 1,1), que se torna depois o protótipo de um novo gênero literário “Evangelho segundo …”, parecido à uma biografia, mas não quer passar informações neutras, sim convidar para fé: “Convertei-vos e crede no evangelho!”.

E, passando à beira do mar da Galileia, Jesus viu Simão e André, seu irmão, que lançavam a rede ao mar, pois eram pescadores. Jesus lhes disse: “Segui-me e eu farei de vós pescadores de homens”. E eles, deixando imediatamente as redes, seguiram a Jesus (vv. 16-17).

Um rei não faz as coisas sozinho, mas tem seus ministros. Também um profeta e um rabino têm seus discípulos. Então o messias Jesus chama os primeiros discípulos como colaboradores. No “mar da Galileia” (o lago de Genesaré com 15 km de extensão) havia muitos pescadores; era uma profissão para os que não possuíam terras na Galileia, região de muitos latifúndios. Jesus chama dois irmãos, Simão, chamado depois de Pedro (cf. 3,16; Mt 16,18; Jo 1,42; 1Cor 15,5), e André para outra pesca, a “de homens” (cf. Lc 5,1-11; Jo 21) formando uma rede de evangelizadores. A boa notícia (Evangelho) do reino atrairá multidões.

Em Jo 1, os discípulos conheceram e seguiram Jesus a partir da indicação de outras pessoas (Joao Batista, parentes e outros discípulos). Em Mc, o próprio Jesus toma iniciativa, ele os chama enquanto exercem sua profissão (cf. 2,14), mas eles o seguem imediatamente deixando (quase) tudo. Simão Pedro e André deixaram “imediatamente as redes”, mas não logo a família e a casa em Cafarnaum onde Jesus curará a sogra de Pedro (cf. 1,21.29-31). Esta casa servirá como ponto de acolhida para Jesus (cf. 2,1; 3,20.31). Jesus usará também a barca de Pedro (3,9; 4,1.36 etc.; cf. Lc 5,3).

Caminhando mais um pouco, viu também Tiago e João, filhos de Zebedeu. Estavam na barca, consertando as redes; e logo os chamou. Eles deixaram seu pai Zebedeu na barca com os empregados, e partiram, seguindo Jesus (vv. 19-20).

Novamente Jesus chama dois irmãos, Tiago e João, filhos de Zebedeu (apelidados “filhos do trovão”, cf. 3,17). Impressionante como deixam imediatamente as redes, a barca e ainda o pai e seguem Jesus (cf. 2,14; 9,34-35,10,28-30; Lc 9,57-62). Para Mc, a palavra de Jesus tem poder e autoridade, é diferente daquela dos escribas e maior do que a dos profetas (cf. 1,22.27; 8,27-29; Lc 9,57-62p; 1Rs 19,19-21). É “palavra de rei (messias)” que deve ser atendida e “seguida” logo, imediatamente. É Palavra eficaz de Deus (Deus falou e assim se fez, cf. Gn 1). A palavra euchtys (“logo, imediatamente”) é preferência de Mc.

Para refletir: o que responder a críticas modernas que dizem o seguinte: “Jesus não queria fundar uma igreja” e “Jesus anunciou a vinda do reino de Deus, mas o que veio? A Igreja!” Fato é que Jesus chamou colaboradores para anunciar o reino de Deus. A Igreja continua fazendo isso.

O site da CNBB comenta: A pregação inicial de Jesus é um grande convite à mudança, e esta mudança tem como consequência o discipulado, o seguimento de Jesus. De fato, quem se converte verdadeiramente faz com que Jesus se torne o centro da sua própria vida e a razão da sua existência, e o discipulado é a grande manifestação dessa centralidade de Jesus, que pode acontecer tanto por meio das vocações de especial consagração, como a sacerdotal ou religiosa, como através da vocação laical, que leva o cristão a testemunhar a presença de Jesus em todos os meios em que vive e a ser fermento, sal e luz no meio da sociedade.

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