11 de Setembro de 2020, Domingo – 28º Domingo do Tempo Comum: Por que muitos são chamados, e poucos são escolhidos” (v. 14).

28º Domingo do Tempo Comum

 1ª Leitura: Is 25,6-10a

A 1ª leitura foi escolhida em vista do evangelho de hoje que apresenta um grande banquete ao qual Deus convida. Ela faz parte dos caps. 24-27, chamados “Grande Apocalipse de Isaías”, porque pertencem a um gênero literário tardio (pós-exílio) formando uma escatologia ou descrição de um julgamento seguida da instauração de uma ordem definitiva. Retomando e aplicando concepções universalistas já difundidas em profecias anteriores (Is 2,2s; 56,6-8; 60,11-14; Zc 8,20; 14,16, etc.), o autor descreve a afluência dos povos a Jerusalém (cf. 2,1-5) como um imenso festim. A partir deste texto, a ideia de um festim messiânico tornou-se corrente no judaísmo e encontra-se no NT (Mt 22,2-10; Lc 14,14.16-24; Ap 19,9).

O Senhor dos exércitos dará neste monte, para todos os povos, um banquete de ricas iguarias, regado com vinho puro, servido de pratos deliciosos e dos mais finos vinhos (v. 6).

O banquete real deve acontecer depois da entronização em 24,23 de “Javé (Senhor) dos exércitos”. Este termo (6,3.5; 2Sm 6,18; Sl 24,10; 46,8 etc.) não só se refere aos exércitos de Israel em ordem de batalha (Jó 10,17; 1Sm 17,45s; Ex 12,51), mas também às constelações das estrelas (Gn 2,1; Is 40,26) e finalmente a todos os elementos e poderes do universo.

O poder de convidar muitos é sinal de poderio e riqueza (Est 1,3-8). O Senhor convida “todos os povos” a um banquete esplêndido, que se celebrará neste “monte” sagrado (no monte Sião em Jerusalém onde fica o templo, cf. 2,3s; 11,9s; 16,1; 18,7; 24,23; 27,13 etc.) dentro da tradição dos banquetes sagrados que acompanham os sacrifícios de comunhão nos dias de festa (cf. Ex 24,11; Dt 16,13-15; 1Sm 9,13; Ne 8,10-12; Is 55,1-5; 60,11.14; Zc 8,20-22; 14,16).

Ele removerá, neste monte, a ponta da cadeia que ligava todos os povos, a teia em que tinha envolvido todas as nações. O Senhor Deus eliminará para sempre a morte e enxugará as lágrimas de todas as faces e acabará com a desonra do seu povo em toda a terra, o Senhor o disse (vv. 7-8).

No banquete, dá presentes aos comensais. O primeiro é a sua presença e manifestação: antes, os povos estavam como cegos, cobertos; agora, “removerá … a coberta (teia)”, podem reconhecê-lo. O véu cobre os rostos (cf. 6,2.5; Ex 3,6; 33,20-23; 34,33-35; Lv 16,2; 1Rs 19,13) para impedir de ver e compreender (29,10-12; cf. 2Cor 3,13-18) ou, com mais frequência, como sinal de luto (2Sm 15,30; 19,5; Jr 14,3s; Est 6,12); assim no v. 8, o mesmo verbo: “removerá (eliminará)” a “morte”. A palavra grega apocalipse significa precisamente “retirada do véu” (cf. v. 7), sendo empregada a propósito da “revelação às nações” no Cântico de Simeão em Lc 2,32.

O segundo presente é extraordinário: aniquila a morte, a maldição original do homem (Gn 3,19), para que os convidados vivam “para sempre” com ele numa vida sem dor e sem lágrimas. O apóstolo Paulo aplica um versículo à vitória de Cristo sobre a morte (1Cor 15,54). O João do Ap 21,4 aplica estes vv. à vida eterna na Nova Jerusalém. O final de v. 8 reforça como assinatura que “o Senhor o disse”.

Naquele dia, se dirá: “Este é o nosso Deus, esperamos nele, até que nos salvou; este é o Senhor, nele temos confiado: vamos alegrar-nos e exultar por nos ter salvo”. E a mão do Senhor repousará sobre este monte (vv. 9-10a).

Os vv. 9-12 são um novo hino de vitória (cf. 24,16a; 12,1; 26,1). A batalha foi dura, porque a cidade resistiu com todos os seus meios. A salvação é a esperança cumprida. A aclamação de um novo rei era acompanhada de sacrifícios e banquetes (1Sm 11,15; 1Rs 1,15) e a fórmula “este é nosso Deus” pode se aproximar da aclamação do Senhor como Rei que se encontra em 24,23 (cf. Sl 93,1; 97,1; 99,1).

 

2ª Leitura: Fl 4,12-14.19-20

Ouvimos hoje o término da carta (exceto as saudações finais em vv. 20-23). No mesmo clima de alegria, o apóstolo quer agradecer ainda aos filipenses pelo auxílio recebido em Tessalônica, e agora trazido por Epafrodito (2,25-30). Pelo que consta, essa ajuda foi caso único. No mais, ele sempre fez questão de pregar na gratuidade e trabalhar para a própria manutenção (cf. At 18,3).

Ao mesmo temo, quer fazer profissão de independência e liberdade para sua missão apostólica. Tal subvenção recebida não lhe tira a liberdade, pois sua riqueza está em Deus. Embora esteja fraco e na prisão (1,7.13s.17), do Senhor recebe força para suportar qualquer coisa (cf. 2Cor 12,9s); antes falava de vida ou morte (1,20-25; 2,17; 3,10). A liberdade que Paulo busca não é simplesmente a autarquia dos filósofos estoicos, embora tenha pontos de contato com ela.

(Irmãos:) Sei viver na miséria e sei viver na abundância. Eu aprendi o segredo de viver em toda e qualquer situação, estando farto ou passando fome, tendo de sobra ou sofrendo necessidade (v. 12).

“Eu aprendi o segredo” lit. eu fui “iniciado”; termo próprio dos cultos de “mistérios”, cujo sentido aqui é simplesmente: eu aprendi uma coisa que nem todos sabem.

Tudo posso naquele que me dá força (v. 13).

Sem pronunciar lhe o nome, Paulo pensa em Cristo ressuscitado e na ação do “poder (força)” de Deus nele (cf. 3,10.21). Esta força pode ser o Espírito na pregação do apóstolo ou a força de resistir a doenças e provações e lutar pelo evangelho (cf. 1Cor 2,4; At 1,8; 2Cor 12,9).

No entanto, fizestes bem em compartilhar as minhas dificuldades (v. 14). 

Paulo estabeleceu um intercâmbio (v. 15: “relação de crédito”; lit. de dar e receber, ou: uma conta de “haver” e “dever”) de bens espirituais e materiais que se estabeleceu entre ele e os cristãos de Filipos (1,5: “comunhão”; cf. 1Cor 9,11). Essas doações são as únicas que ele consentiu aceitar para si. Depois da sua partida de Tessalônica, Paulo recebeu, sem dúvida, a ajuda deles em Coríntio (2Cor 11,8s).

Geralmente Paulo se recusava a aceitar tais compensações, embora as considera legítimas (1Cor 9,6-14; Gl 6,6; 2Ts 3,9, cf. Lc 10,7). Preferiu trabalhar com as próprias mãos para provar seu desinteresse (At 18,3; 20,33s; 1Cor 4,12; 9,15-18; 2Cor 11,7-12) e evitar a suspeita de fazer da pregação um negócio e se enriquecer com donativos. Só fez exceção para os seus queridos filipenses.

A Bíblia do Peregrino (p. 2823) comenta: Como princípio geral, Paulo preferiu não receber para si, para não ser um peso e para conservar a independência. Mas seria outra dependência atar-se rigidamente a esse princípio. Ao contrário, sabe recusar e sabe receber, segundo as circunstâncias.

Cf. no AT: Abraão recebe do Faraó, mas recusa do rei de Sodoma (Gn 12,16 e 14,22-24); Eliseu aceita da sunamita e recusa de Naamã (2Rs 4,9-10 e 5,16).

O meu Deus proverá esplendidamente com sua riqueza a todas as vossas necessidades, em Cristo Jesus (v. 19).

Para Paulo, sai ganhando quem dá (At 20,35, citado por Paulo como frase de Jesus). Quem dá, receberá de Deus a paga com juros acrescidos (cf. Dt 15,1-11; Eclo 29,11-13).

“O meu Deus proverá” (na tradução latina da Vulgata: “assim meu Deus proveja”; cf. Gn 22,14 grego) “esplendidamente”, lit. “em glória”; alguns o entendem da glória celeste; outros traduzem: “segundo a riqueza da sua glória”.

Ao nosso Deus e Pai, a glória pelos séculos dos séculos. Amém (v. 20).

Os autores do NT adotam as bênçãos e doxologias de Israel (Gn 14,19s; Sl 41,14), chamando, porém, frequentemente a Deus de Pai (Gl 1,4s; Fl 4,20; Ap 1,6; cf. Rm 11,36; 1Tm 1,17; 6,16; 2Tm 4,18) e incluindo Jesus Cristo (Rm 9,5; 16,27; 1Cor 8,6; Ef 3,21; Hb 13,21; 1Pd 4,11; 2Pd 3,18; Jd 25). As doxologias posteriores na Igreja o mais das vezes nomearão as três Pessoas da Santíssima Trindade.

Evangelho: Mt 22,1-14 (ou vv. 1-10)

O evangelho de hoje sobre o banquete nupcial é uma parábola que tem paralelo em Lc 14,16-24; aliás, os dois textos são tão diferentes que há quem duvide se tenham eles origem no mesmo relato (na fonte Q). Contudo, apesar das diferenças, trata-se de fato, em Mt e Lc, da mesma parábola, com a mesma ponta polêmica. Mt, porém, a inseriu após a parábola dos vinhateiros assassinos (21,33-43p, cópia de Mc) e a modificou para ter vários pontos em comum: a menção do reino, o rei, o filho, o envio duplo dos empregados que são maltratados e assassinados e cuja morte provoca o castigo dos ímpios.

O texto se compõe de dois trechos: A parábola dos convidados ao casamento (vv. 1-10) e um acréscimo próprio de Mt sobre o traje para o banquete (vv. 11-14). Na primeira parte, Mt ainda introduziu um episódio bélico (vv. 6-7). A primeira parte da parábola pode se referir ao destino do povo judeu e à vocação dos pagãos (repetindo o esquema da parábola precedente dos vinhateiros assassinos); a segunda se dirige à comunidade cristã. Uma interpretação mais diferenciada vê nos empregados os missionários cristãos que pregam aos judeus até a destruição de Jerusalém (70 d.C.); vem a seguir a pregação aos pagãos, que se encerra com uma visão escatológica. A parábola é contada e lida no tempo da Igreja, apesar de colocada na etapa final de Jesus em Jerusalém.

Jesus voltou a falar em parábolas (aos sumos sacerdotes e aos anciãos do povo), dizendo: “O Reino dos Céus é como a história do rei que preparou a festa de casamento do seu filho. E mandou os seus empregados para chamar os convidados para a festa, mas estes não quiseram vir (vv. 1-3).

Desde 21,23, Jesus fala aos sumos sacerdotes e aos anciãos do povo, agora a terceira parábola (nos v. 45s, eles perceberam que as parábolas se referiam a eles, e só não o prenderam por medo do povo que o considerava um profeta). O “rei”, lit. “um homem rei” (em Lc 14,16, nem rei, nem casamento, apenas “um homem estava dando um grande jantar”). O AT e o judaísmo tinham o hábito de falar de Deus como de um rei. “A festa de casamento”, lit. “bodas”, no plural, porque as festividades estendiam-se por vários dias. Como tantas vezes na Bíblia, as bodas são símbolo da alegre e definitiva comunhão de Deus com o seu povo (cf. 9,15p; 25,1-12 etc.).

A Bíblia do Peregrino (p. 2369) comenta:

A introdução deixa aparecer um símbolo de grande alcance, que se mantém como fundo do relato: o convite visa sempre a um casamento. É o símbolo do Messias esposo, próprio do NT (Jo 1-3; 2Cor 11,2; Ef 5; Ap 19 e 22 etc.), prefigurado no símbolo nupcial entre Yhwh e Jerusalém ou a comunidade (Os 2; Is 1,21-26; 49; 54 etc.). 

O rei pai representa obviamente Deus, e Jesus é seu filho, príncipe herdeiro (não pode ser sucessor; cf. Sl 45). Não se menciona a noiva (cf. 25,1-13), cujo lugar, com menor coerência, os convidados ocupam (o autor precisa de um plural). O banquete expressa a alegria do casamento; representa a participação da Igreja e aponta para a consumação escatológica (cf. Is 25,6-8; Mt 26,29; Ap 19,9). Os enviados são os profetas e, no horizonte eclesial de Mateus, os pregadores do evangelho.

O rei mandou outros empregados, dizendo: ‘Dizei aos convidados: já preparei o banquete, os bois e os animais cevados já foram abatidos e tudo está pronto. Vinde para a festa!’ Mas os convidados não deram a menor atenção: um foi para o seu campo, outro para os seus negócios, outros agarraram os empregados, bateram neles e os mataram. O rei ficou indignado e mandou suas tropas para matar aqueles assassinos e incendiar a cidade deles (vv. 4-7)

Nesta parábola, Mt mencionou o filho (messias) apenas no início, mas ele continua ser importante, porque é para ele que se celebra a festa. A narração põe o acento mais na recusa do convite pelos primeiros convidados. Eles tinham sido convidados com antecedência e deviam esperar a convocação, isto é, sinal que lhes anunciasse que as festas estavam para começar. Em Lc 14,17, apenas um servo é enviado; em Mt, são dois envios de vários servos (como na parábola precedente) e uma descrição do banquete abundante (cf. Pr 9,2s; Is 25,6; 1Rs 1,9). O chamado lembra as vocações (4,12p; 9,13p; ao reino em 1Ts 2,12).

Enquanto em Lc 14,18-20, o acento é posto em três diferentes desculpas, aqui em Mt se rompe a lógica do relato: em lugar da terceira desculpa, Mt introduz uma violência não justificada dos convidados (v. 6; cf. 2Cr 30,1-10; 2Sm 10), reúne os culpados numa cidade e menciona uma expedição militar contra ela. Em 21,35, os empregados maltratados são profetas; em 23,34 são missionários cristãos. Talvez Mt pense no primeiro envio nos profetas e no segundo, nos missionários cristãos (cf. 5,11s)?

“Mandou suas tropas para matar aqueles assassinos e incendiar a cidade deles”. Neste v. 7 se vislumbra a destruição histórica de Jerusalém (com o incêndio do templo) pelos romanos no ano 70 d.C., mas também é descrição típica do julgamento divino no AT (Jz 1,8; 2Sm 12,26-31; 1Mc 5,28; Is 5,24s); a narrativa paralela de Lc 14,21 a ignora (mas Lc tem outras alusões a destruição de Jerusalém, cf. Lc 19,43s; 23,28-30). Mt e Lc escrevem por volta de 80 d.C., independentemente um do outro. Ou os vv. 6 e 7 de Mt foram acrescentados à parábola original depois da destruição de Jerusalém, ou toda a parábola tomou forma depois de 70.

Em seguida, o rei disse aos empregados: ‘A festa de casamento está pronta, mas os convidados não foram dignos dela. Portanto, ide até às encruzilhadas dos caminhos e convidai para a festa todos os que encontrardes’ (vv. 8-9).

A festa do casamento não será cancelada, o convite para o reino continua: “Portanto, ide” antecipa o envio dos apóstolos a “todos” os povos em 28,19.

É provável não se tratar de “encruzilhadas” no interior da cidade ou das aldeias, mas de pontos de junção, no exterior da cidade, das diversas estradas ou veredas oriundas do campo; em Nm 34,4-6, a palavra tem o sentido de limite exterior de um território. Este pormenor do texto insiste na universalidade do último convite às bodas. No paralelo em Lc 14,21-23, o dono da festa manda convidar agora os excluídos de Israel (pobres, estropiados, cegos e coxos) e, em seguida, qualquer outra pessoa que se pode encontrar pelos caminhos (os pagãos).

Mt não diz que todos judeus serão excluídos a partir de agora do reino ou da Igreja. A parábola se destinou a seus líderes (sumos sacerdotes e anciãos), cuja cidade era Jerusalém.

Então os empregados saíram pelos caminhos e reuniram todos os que encontraram, maus e bons. E a sala da festa ficou cheia de convidados (v. 10).

Aqui terminava a parábola original (cf. Lc 14,23). Mt acrescenta “maus e bons”; para ele, a Igreja (assembleia dos convidados) é um corpo misto de bons e maus (cf. a parábola do trigo e do joio em 13,24-30.36-43).

Estas palavras aludem, quer ao fato de bons e maus se acharem misturados no Reino, antes do juízo final (13,37-43; cf. 7,17s), quer, mais provavelmente, à graça de Deus, que convida à alegria do Reino todos os homens (cf. 5,45), e muito especialmente os pecadores (cf. 9,9-13).

Aqui, “maus e bons” entende-se em sua conduta precedentes (Pr 15,3). A nova chamada não se baseia em méritos adquiridos. Esse dado serve para enganchar a cena acrescentada.

Quando o rei entrou para ver os convidados, observou ali um homem que não estava usando traje de festa e perguntou-lhe: ‘Amigo, como entraste aqui sem o traje de festa?’ Mas o homem nada respondeu. Então o rei disse aos que serviam: ‘Amarrai os pés e as mãos desse homem e jogai-o fora, na escuridão! Ali haverá choro e ranger de dentes’ (vv. 11-13).

A conexão dos vv. 11-13, próprios de Mt, com o que precede, é difícil. O rei entra, mas não se fala mais do banquete e sim da vistoria dos convidados que é uma alusão ao juízo final. Como alguém que vem de fora e foi convidado pelo caminho, poderia chegar com uma veste especial? O AT fala de trajes de festa como presentes (Gn 45,22; Jz 14,12; 2Rs 5,22), mas não se conhece um costume de entregar um traje aos convidados na entrada da festa. Devemos pensar numa metáfora, algo pelo qual o convidado é responsável.

Seria esta veste nupcial o símbolo da fé, da alegria, da salvação ou da prática da justiça, isto é, das boas obras cuja importância Mt sublinha continuamente (3,15; 5,16-20; 7,21-27; 25,31-46)?  O contexto recomenda esta última interpretação. O convite é gratuito, mas é também exigente. O convite ao reino exige a prática da justiça, a fé sem obras é morta (Tg 2,14-28).

A Bíblia do Peregrino (p. 2369) comenta: Não obstante, o salto é violento e exige do leitor colocar-se na situação da Igreja. O traje vai simbolizar sua conduta de acordo com o chamado e a função (cf. Ap 15,6; Is 61,10). A exclusão do reino, fato negativo, é representada pela imagem das trevas, que podem ser as da morte (Jó 10); o pranto é a reação do excluído, contraposta à alegria da festa.

A “escuridão” onde haverá “choro e ranger de dentes” é uma expressão bíblica que significa o despeito e a ira dos ímpios à vista da felicidade dos justos (cf. Jó 16,9; Sl 35,16; 37,12; 112,10; Sb 17,2; Lm 1,2; Mt 13,4s.50; 22,13; 24,41; 25,30).

Por que muitos são chamados, e poucos são escolhidos” (v. 14).

Como em 20,16, a parábola termina com uma sentença apocalíptica, outra resposta à pergunta quem será salvo (19,16.25): não os chamados, mas os eleitos (cf. Sb 3,9; 4,15; 24,22.24.31; Ap 17,14).

Este v. 14 serviria melhor de conclusão aos vv. 1 a 10 do que aos vv. 11-13. Antes que uma alusão aos (líderes) judeus, convidados primeiro a salvação, mas agora excluídos por recusarem Cristo, este v. enigmático seja uma advertência para nós, de acordo com os vv. 11-13, visando aos que abusam do convite gratuito de Deus e são finalmente rejeitados, postos “fora” do Reino.  Seu paralelo mais próximo está no livro apócrifo de 4Esd 8,3: “Muitos são criados, e poucos são salvos”.

A experiência mostra: pela Igreja, Deus quer chamar a todos, mas poucos correspondem ao chamado; a maioria prefere os negócios, o trabalho, projetos individuais e outras coisas à alegria da festa do reino, da comunidade. A própria Igreja é mista de bons e maus, santos e pecadores. Deus tem a última palavra, mas o ser humano tem liberdade e responsabilidade para corresponder ao chamado com suas obras da justiça e da misericórdia.

O site da CNBB comenta: A proposta de Jesus é feita para todas as pessoas de boa vontade, mas exige resposta incondicional e adesão aos valores do Reino e ao seu projeto. Muitos valores da sociedade atual apresentam-se como concorrentes aos valores do Reino e fazem com que outras escolhas sejam possíveis, assim como a possibilidade de rejeição do projeto de Cristo. Mas também acontece que algumas pessoas dão a sua adesão ao projeto de Jesus, no entanto se tornam pessoas divididas porque não conseguem deixar os valores anteriores e a suas vidas são caracterizadas pela duplicidade. Essas pessoas participam do banquete, mas as suas vestes não são apropriadas.

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