13 de Maio de 2021, Quinta-feira – N. Sra. de Fátima: Em verdade, em verdade vos digo: Vós chorareis e vos lamentareis, mas o mundo se alegrará; vós ficareis tristes, mas a vossa tristeza se transformará em alegria (v. 20).

Festa de Nossa Sra. de Fátima (facultativo)

 

De 13 maio a 13 outubro de 1917, três crianças em Fátima (Portugal) afirmaram ter testemunhado aparições de “uma Senhora mais brilhante do que o Sol”, a qual se terá apresentado em 13 de outubro como sendo Nossa Senhora do Rosário, e que é hoje devotada nacional e internacionalmente sob o título mariano de Nossa Senhora de Fátima.

Do interrogatório do Pe. Manuel Marques Ferreira, pároco de Fátima, a Lúcia de Jesus Santos, 11 anos, a maior das três crianças) sobre a primeira aparição: Primeiro viram um relâmpago, levantaram-se e começaram a juntar as ovelhas para se irem embora com medo, depois viram outro relâmpago, depois viram uma mulher em cima duma carrasqueira, vestida de branco, nos pés meias brancas, saia branca dourada, casaco branco, manto branco, que trazia pela cabeça, o manto não era dourado e a saia era toda dourada a atravessar, trazia um cordão de ouro e umas arrecadas  muito pequeninas, tinha as mãos erguidas e quando falava alargava os braços e mãos abertas.

Leitura: Is 61,9-11

A leitura escolhida para a festa de Nossa Senhora de Fátima é tirada do cap. 61 de Trito-Isaías, um profeta que escreveu no pós-exilio (caps. 56-66). O início do cap. 61 foi lido por Jesus na sinagoga de Nazaré (Lc 4,18s). A mensagem é de consolação (evangelho – boa nova; v. 1) e restauração, mas não só o templo e a cidade de Jerusalém devem ser reconstruídos, mas a paz em justiça e liberdade.

A Bíblia de Jerusalém (p. 1462) comenta: O Profeta muito provavelmente autor do caps, 60 e 62 anuncia que recebeu de Deus uma mensagem de consolação (vv 1-3): reconstruir-se-á (v. 4); os estrangeiros assegurarão as necessidades materiais de Israel, transformando em povo de sacerdotes e cumulando de gloria (vv. 5-7). Yahve toma a palavra para erguer uma alinaça eterna (vv. 8-9). Os vv 10-11 são uma ação  de graças do profeta que fala em nome de Sião.

A sua descendência será conhecida entre as nações, e seus filhos se fixarão no meio dos povos; quem os vir há de reconhecê-los como descendentes abençoados por Deus (v. 9).

Deus  é fiel e recompensa a injustiça sofrida dos exilados com “eterna alegria” (v. 7).  Ele sela com eles uma “aliança eterna” (v. 8). Em imagem vegetal a benção patriarcal revela a ação de Deus: na expansão (fixarão) e reconhecimento “entre as nações” (povos pagãos)  “como descendentes abençoados por Deus” (cf. 65,23) lembrando  a promessa e bênção a Abraão (Gn 12,2s);

Exulto de alegria no Senhor e minh’alma regozija-se em meu Deus; ele me vestiu com as vestes da salvação, envolveu-me com o manto da justiça e adornou-me como um noivo com sua coroa, ou uma noiva com suas joias (v. 10).

Quase com as mesmas palavras, Maria entoa o hino do Magnificat (latim: minha alma “engrandece” o Senhor …) em Lc 1,46ss (inspirado no cântico de Ana que era estéril e agracede ao Senhor  em 1Sm 2,1ss).

Aqui, a filha de Sião, ou seja, a cidade de Jerusalém, agradece e rejubila por não ter sido abandonada como uma esposa rejeitada, mas recuperada (62,2-4; cf. cap. 54; Os 1-3), como numa festa de casamento a noiva sera ornada com vestes e joias (cf. 52,1; Sl 45). Já Oseias comparou a relação de Israel com seu Deus como num casamento (Os 1-3); Deutero-Isaías anunciou a reconciliação, a volta do exílio e a restauração da cidade de Jerusalém destruída (cap. 54).  Jeremias falou de uma “nova aliança”  (Jr 31,31). Jesus compara o reino de Deus a uma festa de casamento, ele como “noivo” (Mc 2,18-20p; cf. Mt 22,1-14; Jo 2,1-12). “Deus é amor” (1Jo 4,8.16) e sua aliança é eterna (seu favor, sua misericórdia e graça, cf. Sl 136). A cidade celeste de Jerusalém é descrita como “noiva que  se enfeitou” para seu marido, Deus (Ap 19,8; 21,2).

“Adornou-me como um noivo com sua coroa”, lit.: “como o noivo adorna (o enfeito da cabeça); o texto masorético tem: “como o noivo atua como sacerdote”.

Assim como a terra faz brotar a planta e o jardim faz germinar a semente, assim o Senhor Deus fará germinar a justiça e a sua glória diante de todas as nações (v. 11).

Deutero-Isaías concluiu sua profecia comparando a eficácia da palavra de Deus com a chuva que molha a terra (55,10s), aqui Trito-Isaías continua os frutos: a terra molhada “faz brotar a planta”, assim Deus “fará germinar a justiça” (cf. 45,8 imperativo, aqui indicativo). Trito-Isaías, mais universalista ainda, anuncia a glória divina “diante de todas as nações” (cf. 2,2-5; 25,6-8; cf. Zc 2,14s escrito na mesma época da reconstrução do templo).

A Bíblia do Pergrino (p. 1827) comenta: Mais importante é a benção da justiça para distinguir a estirpe escolhida. A maldição do pecado será anulada (59,9-15); a nova videira dará o fruto esperado (5,7) em virtude dela, serão carvalhos do justo (61,3). A cidade feita um jardim, começa a ressoar cânticos de louvor que sem a justiça não era aceito (1,10-20). A cidade poderá chamar-se cidade fiel (1,26) e as portas louvor (60,18).

A leitura parece homeagear o alcance da mensagem de Fátima. A profecia de Maria em Portugal diz respeito às nações, como nos profetas. Concerne, em particular, à imensa e poderosa Rússia da época e seu expansionismo ideológico e militar (Em 1917 aconteceu a revolução comunista na Rússia. Em 1989, a ditadura comunista e ateia na Russia e Europa oriental terminou sem guerra). Envolve a intervenção do papa e do episcopado mundial. Dirige-se a todos os fiéis e à humanidade em geral. É uma mensagem de paz, que é fruto da justiça (Is 32,17).

Evangelho: Lc 11,27-28

Ouvimos hoje um trecho breve e próprio de Lucas, uma aclamação que envolve Jesus e sua mãe.

Enquanto Jesus falava, uma mulher levantou a voz no meio da multidão e lhe disse: “Feliz o ventre que te trouxe e os seios que te amamentaram” (v. 27).

Na cultura semita, a família (aqui a mãe) participa do destino da pessoa, e ao bendizer ou amaldiçoar, evita-se o nome da pessoa. Ao invés, fala-se dos órgãos: lit. “Feliz o ventre que te trouxe e os seios que sugaste”. É uma expressão tipicamente judaica (cf. 10,23 e Mt 13,16 ou Lc 23,29). Se a mãe é felicitada, refere-se a Jesus. Pelo filho louva-se a mãe e vice-versa. Essa mulher do povo, talvez mãe, representa o sentir popular. Ela faz uma aclamação ao Cristo e expressa a opinião positiva do povo simples apesar da rejeição dos líderes que acabaram de acusar Jesus de um pacto com Belzebul (vv. 11-26, evangelho de ontem)

A Bíblia do Peregrino (p. 2495) comenta: Em termos de realista maternidade, faz eco à felicitação de Isabel e à predição de Maria (1,45.48). Pode emprestar sua voz a uma humanidade que felicita Maria que escutou e cumpriu, ou deixou cumprir-se, a palavra de Deus.

Jesus respondeu: “Muito mais felizes são aqueles que ouvem a palavra de Deus e a põem em prática” (v. 28).

É possível que Jesus, queria responder ao elogio com outro elogio, como convém a um oriental educado.

A resposta da Jesus retoma o de 8,21p: “Minha mãe e meus irmãos são aqueles que ouvem a palavra de Deus e a põem em prática.” Ouvir a Palavra e colocá-la na própria vida, enfrentando os obstáculos e conflitos que daí virão, é que faz alguém ser efetivamente da família de Jesus; e aí está a felicidade que importa (8,19-21).

Aqui, em contraste com a maternidade carnal da sua mãe, Jesus proclama a grandeza da fé. Ele visa a todos os crentes, que opõe aos seus adversários do vv. 14-23. Lc não vê aqui uma crítica a Maria, pois esta, ele a apresentou como a “crente” (“feliz aquela que acreditou”, 1,45), que meditava em seu coração o que acontecia com Jesus (2,19.51).

O site da CNBB comenta: A maternidade carnal de Maria é muito importante e, é claro, muito valorizada por Jesus, mas é apenas uma maternidade, algo que faz parte da natureza de todas as mulheres. No Evangelho de hoje, Jesus contrasta a maternidade carnal de sua mãe com a grandeza da fé e do seguimento dos valores do Reino, o que não faz parte da natureza humana, mas é fruto da atuação da graça divina em nós, e que fazia parte da vida de Maria. Mas Maria, quando se dispôs a fazer a vontade de Deus e disse Sim ao seu projeto de amor, foi muito além, pois sua maternidade não foi apenas carnal, foi divina.

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