12 de outubro de 2016 – Quarta-feira, dia de Nossa Senhora Aparecida

1ª Leitura: Est 5,1b-2; 7,2b-3

A 1ª leitura foi escolhida porque apresenta uma judia que salva seu povo sofrido pela intercessão. O livro de Ester pertence às narrações didáticas (não históricas) que tratam sobre a vida na diáspora, ou seja, a comunidade judaica espalhada entre as nações estrangeiras: Tobit entre os deportados israelitas na Assíria, Daniel entre os deportados judeus na Babilônia e Ester na comunidade judaica da Pérsia sob Xerxes (ou seu sucessor Artaxerxes; Assuero em latim e português) que reinava “da Índia até a Etiópia” (1,1), tomou Atenas, mas foi derrotado em Salamina pelos gregos (480 a.C.).

Existem duas versões do livro: a hebraica que foi escrita provavelmente nos meados do século IV a.C. entre os judeus na própria Mesopotâmia (atual Iraque), e uma versão grega do século II a.C., consideravelmente ampliada. O livro de Ester, talvez sob influência de festas babilônicas, procura legitimar a festa dos Purim (cf. 9,24-26; cf. 2Mc 15,36), cuja liturgia (em fevereiro ou março) tem até hoje um ar de carnaval.

O judeu Mardoqueu (ou Mordekai) criou sua prima orfã Ester (2,5.7). Seus nomes não são judeus, mas parecidos aos dos deuses babilônicos: Marduk (deus da cidade de Babilônia) e Ishtar (deusa do amor e da guerra). O autor se inspira na história do êxodo com uma pessoa influente na corte estrangeira que se solidariza com seus irmãos judeus e os salva, por ex.: Moisés (também não é um nome judeu, mas egípcio, cf. o faraó de nome Tut-Moses). O mesmo esquema encontra-se também na história de José no Egito e a de Daniel na Babilônia. Mesmo que os personagens (exceto o rei Assuero) e os acontecimentos sejam fictícios em Est, mas as perseguições dos judeus por serem eles “diferentes de todos os outros” (3,8) são dura realidade histórica, desde a antiguidade até o genocídio pelos nazistas na 2ª guerra mundial.

A versão hebraica evita o nome de Deus, mas ele age discretamente nos bastidores através de pessoas e acontecimentos. Não há milagres, mas a providência colocou a judia Ester como esposa do rei persa para salvar seu povo da perseguição. Influenciado pelo conspirador vilão Amã (Haman), o rei tinha assinado um decreto para exterminar os judeus, sem saber que sua própria esposa era judia. De fora do palácio, Mardoqueu mandou um recado para sua prima rainha para que ela intercedesse junto ao rei, e alertou: “Não pense que você é a única dos judeus a escapar com vida, só porque vive no palácio; se você se calar agora, a salvação e libertação dos judeus virão de outro lugar, mas você e sua família morrerão. Quem sabe se você não se tornou rainha exatamente para esta ocasião?” (4,13-14).

Ester passa pelo dilema da autoridade e tem que escolher: ou continua rainha para dar prazer ao opressor, ou se torna rainha em favor de seu povo, nem que esteja arriscando sua vida, porque “para qualquer homem ou mulher que penetre sem convocação até o vestíbulo interior da casa real não há senão uma sentença: deve morrer, a menos que o rei lhe estenda seu cetro do ouro, para que viva” (4,11).

Ester faz jejum e orações, trocando os vestidos de luxo e a cosmética por vestidos de luto e cinzas, e para entrar em ação “no terceiro dia, quando terminou de rezar, ela tirou suas vestes de súplica” (5,1a).

Ester revestiu-se com vestes de rainha e foi colocar-se no vestíbulo interno do palácio real, frente à residência do rei. O rei estava sentado no trono real, na sala do trono, frente à entrada. Ao ver a rainha Ester parada no vestíbulo, olhou para ela com agrado e estendeu-lhe o cetro de ouro que tinha na mão, e Ester aproximou-se para tocar a ponta do cetro (5,1b-2 hebr.)

Ester encontra graça nos olhos do rei poderoso. Ele não fica aborrecido, mas promete dar o que ela desejar, “ainda que seja a metade do meu reino” (v. 3.6; 7,2b; Herodes em Mc 6,23). Ela pede que o rei junto com Amã venha para o banquete que ela preparou. Durante este banquete, o rei repete a promessa. Ester pede a presença deles num outro banquete.

Então, o rei lhe disse:”O que me pedes, Ester; o que queres que eu faça? Ainda que me pedisses a metade do meu reino,ela te seria concedida” (7,2b).

No segundo banquete, o rei oferece pela terceira vez sua promessa (cf. vv. 5,3.6). A tríplice oferta articula o relato e garante sua validade.

Ester respondeu-lhe:”Se ganhei as tuas boas graças, ó rei, e se for de teu agrado, concede-me a vida – eis o meu pedido! – e a vida do meu povo – eis o meu desejo!” (7,3)

Ester repete enfaticamente as palavras do primeiro banquete: “eis meu pedido, eis meu desejo” (cf. 5,8). Para Assuero, a resposta de Ester é inesperado, surpreendente e obscura. Porque Ester, propositalmente, cala o nome do réu (Amã), obrigando o rei a perguntar. O paralelismo e a rima sublinham a vinculação de dois valores agora inseparáveis para Ester: sua vida, seu povo. Na avaliação do rei, vale mais a vida da rainha, e Ester taticamente a antepõe; para a rainha que arriscou a vida por seu povo, este vale mais; a solidariedade se expressa modelando a frase.

Ester é uma jovem submissa e discreta, que alcança grandeza num momento de valentia. Ester representa, na literatura bíblica, um novo triunfo feminino, depois de Rebeca, Tamar, Jael, Rute, Abigail e Judite. Como leitura na festa de Nossa Senhora Aparecida, ele prefigura a intercessão de Maria, serva-escrava na terra e rainha no céu, em favor do seu povo sofrido.

2ª Leitura: Ap 12,1.5.13a.15-16a

O livro do Apocalipse (palavra grega que significa “revelação”, cf. 1,1) de João (1,4.9); foi escrito por volta de 95 d.C. (por um certo “João”, cf. 1,4; mas pelo estilo diferente não o identificamos com o autor do quarto evangelho e das cartas de João), durante a perseguição violenta do imperador romano Domiciano, que pode ser identificado com a “besta-fera do mar” em Ap 13.

Já o livro de Daniel foi escrito durante uma perseguição violenta por Antíoco Epífanes (175-164 a.C.) e inaugurou o gênero apocalíptico, que usa metáforas, símbolos, cifras, números e alusões ao Antigo Testamento. Assim o perseguidor não pode entender a mensagem crítica e consoladora que anuncia a vitória de Deus sobre ele (no final dos tempos). Como em Dn 7, o autor do Apocalipse de João apresenta animais monstruosos, significando a oposição contra Deus, ou seja, contra a Trindade:

O dragão é a “antiga serpente, o chamado Diabo ou Satanás” (12,9; cf. Gn 3; Jó 1); opondo se ao projeto do Pai, quer impedir o nascimento do Filho (impressionante a cena em v. 4b). No capítulo 13 uma besta-fera do mar (imperador) opõe-se ao Filho (messias, cordeiro), perseguindo os cristãos, e também aparece uma besta-fera da terra, que significa a propaganda mentirosa do Império contra a verdade do Espírito Santo.

Apareceu no céu um grande sinal: uma mulher vestida do sol, tendo a lua debaixo dos pés e sobre a cabeça uma coroa de doze estrelas. E ela deu à luz um filho homem, que veio para governar todas as nações com cetro de ferro. Mas o filho foi levado para junto de Deus e do seu trono (vv. 1.5).

Depois do templo de Deus com a arca da aliança no céu (11,19; o templo já estava destruído em 70. d.C., e a arca perdida desde 586 a.C.), aparece outro sinal no céu, cheio de esperança e vida.

Um “grande sinal no céu” junto com as “dores do parto” (v. 2, omitido pela nossa liturgia; cf. 1Ts 5,3; Mc 13,8p; Ap 2,24; Rm 8,20-22; Os 13,13; Jo 16,20-22) já sinaliza o tempo final (cf. Mt 24,29-31p); cf. o convite de Isaias ao rei Acaz, oferecendo um sinal no céu ou no abismo (Is 7,11)

Quem é esta “mulher” luminosa? Brilha mais que Jerusalém (Is 60) e a noiva (Ct 6,10), é revestida de luz solar, como o Senhor (Sl 104,2). Ela se parece com uma deusa astral, mas as “doze estrelas” aludem às doze tribos de Israel (como no sonho de José em Gn 37,9s), ou seja, ao povo de Deus. Ela está gravida do messias (v. 4), e depois tem outros descendentes (v. 17), semelhantes a Is 66,7-14 que dá luz a um povo.

A Bíblia do Peregrino (p. 2960) comenta: Os autores a identificam em três planos: a Sinagoga ou comunidade de Israel da qual nasce o messias, a Igreja que gera o messias em cada cristão (Gl 4,19), e Maria. Esta última é chamada “mulher” em Jo 2,4, é mulher e mãe junto à cruz.

A “coroa” simboliza sucesso e triunfo (cf. 1Cor 9,25; 2Tm 4,8; Tg 1,12; 1Pd 5,4; Ap 2,10; 62) antecipando aqui que a mulher não será vencida pelo dragão (vv. 6.14; cf. Mt 16,18).

Ela “deu à luz um filho homem” (cf. Is 7,14; Is 66,7; Mt 1,23; Lc 1,31), que “veio para governar todas as com cetro de ferro” (cf. o Sl 2,9, citado outra vez em Ap 19,15). Assim é caracterizado o messias, sem dúvida Jesus Cristo, cuja vida é resumida de modo brevíssimo, “foi levado para junto de Deus e do seu trono” (cf. o arrebatamento e Henoc e Elias em Gn 5,24 e 2Rs 2). João não fala aqui da vida adulta de Jesus nem da sua morte, cuja importância para a salvação se destaca em outro lugar (1,5b; 5,9; 14,4 etc.) e em seguida é mencionada (v. 11).

Dá a impressão como se Filho fosse arrebatado logo após o nascimento, mas João se concentra aqui na entronização como condição para o verdadeiro povo de Deus começa a existir (abrevia como Paulo quando caracteriza Jesus apenas como “crucificado” em 1Cor 1,23; 2,3; Gl 3,1 etc.).

O dragão não consegue derrotar o filho. Ao contrário, Satanás é rebaixado, numa batalho contra o arcanjo Miguel (12,7-9) é expulso do céu (onde estava entre os anjos, cf. Jó 1-2). Não há mais lugar para ele no céu, “agora …” (v. 10), mas na terra ele ainda tem um poder limitado até o fim determinado por Deus (vv. 9-12).

Quando viu que tinha sido expulso para a terra, o dragão começou a perseguir a mulher que tinha dado à luz o menino. A serpente, então, vomitou como um rio de água atrás da mulher, a fim de a submergir. A terra, porém, veio em socorro da mulher (vv. 13.15-16a).

Continua a hostilidade do dragão contra a mulher e sua descendência na terra (Gn 3,15). Com “asas” de águia (v. 14; cf. Ex 19,4), a mulher se refugia no deserto como Moises (Ex 2,15), Davi (1Sm 19-21) e Elias (1Rs 19) e um salmista (Sl 55,7-9); durante a metade de sete anos é alimentada com um novo maná (cf. a eucaristia em Jo 6). Satanás vai lançar o Império Romano, como um rio (cf. Is 8,7-8), para engolir a Igreja (cf. Ap 13). Assim o dragão envia como agente seu, as águas torrenciais (Sl 18,5; 32,6; Jn 2,4), que a terra engole (cf. Nm 16,30,32). Doravante o dragão lutará contar o “resto da descendência” da mulher (v. 17; cf. Gn 3,15).

A mulher do céu é perseguida também na terra (vv. 6a.13-17). Ela não é uma deusa astral, ela representa Maria e o povo de Deus (Israel com 12 tribos e a Igreja com 12 apóstolos; cf. Ap 21,12.14; Is 54; 60; 66,7; Mq 4,9-10). Costumamos identificar a mulher com Maria, mas ela é figura coletiva também, como nos ensina a comparação com Dn 7,14.18, onde o “Filho do Homem nas nuvens” é identificado com “os Santos do Altíssimo”. A mulher no céu, então, significa o nosso futuro de filhos de Deus, um futuro que para Maria já é presente.

 

Evangelho: Jo 2,1-11

Na festa de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil, nos é apresentado o evangelho do casamento em Caná, exemplo da intercessão da mãe de Jesus e da alegria da festa. Uma festa de casamento na aldeia é o episódio que sustenta um sistema de símbolos. O casamento é um momento festivo que costuma congregar muitas pessoas. No evangelho como livro, o relato se dirige ao grande círculo de discípulos fieis. Na transformação da água em vinho acontecida em Caná simboliza provavelmente a passagem da Antiga à Nova Aliança (um salto de qualidade, cf. Mc 2,18-22p).

Houve um casamento em Caná da Galileia. A mãe de Jesus estava presente. Também Jesus e seus discípulos tinham sido convidados para o casamento (vv. 1-2).

Lit. “No terceiro dia houve um casamento…”; três dias depois do encontro com Felipe e Natanael (1,43); contando desde o chamado de André (1,35ss) é o sexto dia, que é o dia da criação do homem e da mulher (Gn 1,26-31). O evangelho abre-se desse modo com uma semana completa contada quase dia por dia (1,29.35.43;2,1) e conclui-se com a manifestação da glória de Jesus. A “festa” pode ser também uma alusão à eucaristia (vinho) e o “terceiro dia” à ressurreição (cf. Mc 14,25).

A festa de casamento sustenta e unifica os símbolos. No AT, o matrimônio é símbolo frequente do amor de Javé pela comunidade, muitas vezes personificada na capital de Jerusalém: “Como um jovem se casa com uma donzela, assim te desposa aquele que te construiu” (Is 62,5; cf. Os 2; Is 1,21-26; 5,1-7; 49; 54; 62,1-9; Ez 16; Br 4-5). No NT, é símbolo da união do Messias com Igreja: “esse mistério (símbolo/sacramento) é magnífico e eu o aplico a Cristo e a Igreja… Cristo amou a Igreja e se entregou por ela” (Ef 5,32-33.25; cf. Mt 22,1-14; 25,1-13; 2Cor 11,1-4; Ap 12; 19,7-9; 21,2).

Como o vinho veio a faltar, a mãe de Jesus lhe disse: “Eles não têm mais vinho”. “Mulher, por que dizes isto a mim? Minha hora ainda não chegou.” Sua mãe disse aos que estavam servindo: “Fazei o que ele vos disser” (vv. 3-5).

O vinho é símbolo da alegria e dom do amor: “Tua boca é um vinho generoso” (Ct 1,2.4; 2,4; 4,10; 7,10; 8,2), e se anuncia  como dom messiânico: “Plantarão vinhedos e beberão seu vinho” (Am 9,13-14; Os 14,7; Jr 31,12; Is 25,6; 62,9). É além disso símbolo do Espírito (At 2,15-16). Acabar o vinho é sinal trágico: “Já não bebem vinho entre canções, e o licor tem sabor amargo para quem o bebe” (Is 16,9-10; 24,9; Jl 1,10).

Qual é o papel de Maria? Maria está presente ao primeiro milagre que revela a gloria de Jesus e novamente na cruz (19,25-27). Vários dados se correspondem nas duas cenas. O narrador a chamou “mãe de Jesus”; Jesus a chama “mulher”. Este tratamento insólito de um filho para com sua mãe repete-se a em 19,26, onde o seu significado se esclarece como reminiscência de Gn 3,15.20: Maria é a nova Eva, “a mãe dos viventes”.

“Mulher, por que dizes isto a mim?” lit. “que há entre mim e ti?”; é um semitismo bem frequente no AT (Jz 11,12; 2Sm 16,10; 19,23; 1 Rs 17,18; etc) e no NT (Mt 8,29; Mc 1,24; 5,7; Lc 4,34; 8,28), empregado para rejeitar uma intervenção que se julga inoportuna, ou então para demonstrar a alguém que não se deseja relacionamento algum com ele. Somente o contexto poderá indicar o sentido mais exato. Aqui Jesus objeta a sua mãe que “a hora ainda não chegou” (palavra chave em João, sobretudo apontando para a paixão e glorificação: 4,21; 5,25; 7,30; 8,20; 12,23.27; 13,1; 16,2.32; 17,1). Mais que repreensão, a frase parece um convite a não intrometer-se no assunto. Não cabe a Maria definir os tempos nem as ações de Jesus. Fixada pelo Pai, a hora de Jesus não deveria ser antecipada. O milagre conseguido com a intercessão de Maria será, no entanto, seu anúncio simbólico.

No casamento, ela é uma convidada importante com autoridade, traslada os criados ao serviço de Jesus (como o faraó a propósito de José em Gn 41,55). No casamento prefigurado deste e segundo a tradição bíblica, ela é a mãe do noivo: “com a coroa que lhe cingiu sua mãe, no dia do seu casamento, dia de festa de seu coração” (Ct 3,11; Sl 45,10; 1Rs 1,16.28; Jr 22,26). Podemos entendê-la como mãe do noivo (messias) da Nova Aliança. Com ela e seus discípulos, Jesus se retirará no final a Cafarnaum (v. 12).

Estavam seis talhas de pedra colocadas aí para a purificação que os judeus costumam fazer. Em cada uma delas cabiam mais ou menos cem litros. Jesus disse aos que estavam servindo: “Enchei as talhas de água”. Encheram-nas até a boca. Jesus disse: “Agora tirai e levai ao mestre-sala”. E eles levaram. O mestre-sala experimentou a água, que se tinha transformado em vinho. Ele não sabia de onde vinha, mas os que estavam servindo sabiam, pois eram eles que tinham tirado a água (vv. 6-9).

“Mais ou menos cem litros”, lit. “duas a três medidas”, cerca de 40 litros por medida. O mestre-sala faz o papel de testemunha involuntária do prodígio: a água das abluções (Mc 7,3-4) não traz o amor e a fecundidade. Ele não sabia “de onde”: aponta ao ministério da origem de Jesus e de seus dons (4,11; 7,27; 8,14).

O mestre-sala chamou então o noivo e lhe disse: “Todo mundo serve primeiro o vinho melhor e, quando os convidados já estão embriagados, serve o vinho menos bom. Mas tu guardaste o vinho melhor até agora!” (v. 10).

A mudança de água e vinho simboliza a passagem da velha à nova economia. O vinho novo é o vinho melhor (cf. Lc 5,39 que reflete a resistência dos judeus), “melhor que o amor” dos dois humanos (Ct 1,2.4).

Este foi o início dos sinais de Jesus. Ele o realizou em Caná da Galileia e manifestou a sua glória, e seus discípulos creram nele (v. 11).

O versículo final define o fato: é o “primeiro sinal”, portanto deve ser lido como cabeça de uma serie; é manifestação da glória de Jesus (glória do Filho único do Pai, segundo 1,14), como gesto de poder e de “bondade”; pelo sinal, os discípulos “creem” em Jesus. Em Caná ele fará também o segundo sinal, encerrando um ciclo (4,54).

Os evangelhos sinóticos (Mc, Mt e Lc) tinham reservado o uso da palavra “sinal” (semeia) aos grandes pródigos que deviam caracterizar a inauguração do tempo messiânico (Mc 8,11s; Mt 12,38; 16,1-4; Lc 11,16.29), por contraste designavam os milagres como atos de poder  (dynamis). Jo retoma uma concepção do AT (Is 66,19) e considera os milagres como gestos simbólicos que devem indicar que em Jesus se realiza o acontecimento escatológico e divino.

Todo profeta devia provar a autenticidade de sua missão por meio de “sinais”, isto é prodígios realizados em nome de Deus (Is 7,11; cf. Jo 3,2; 6,29.30; 7,3.31; 9,16.33); esperava-se especialmente do Messias que ele renovasse os prodígios de Moisés (1,21). Jesus realizou, pois, ”sinais” para incitar os homens a crerem em sua missão divina (2,11.23; 4,48-54; 11,15.42; 12,37; cf. 3,11), porque essas obras testemunham que Deus o enviou (5,36; 10,25.37), que o Pai está nele (10,30), com o poder de sua gloria (1,14). O pai é quem realiza essas obras (10,38; 14,10). Muitos, no entanto, recusam a crer (3,12; 5,38-47; 6,36.64; 7,5; 8,45; 10,25; 12,37). O pecado deles permanece (9,41; 15,24; cf. Mt 8,3). No evangelho de João contamos sete “sinais”, ou seja, Jesus realiza sete milagres cada vez maiores (o sétimo é a ressurreição de Lázaro após quatro dias).

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