15 de Dezembro de 2019, 3º Domingo do Advento: Em verdade vos digo, de todos os homens que já nasceram, nenhum é maior do que João Batista. No entanto, o menor no Reino dos Céus é maior do que ele” (v. 11). 

3º Domingo do Advento

No 3º Domingo do Advento continua a apresentação de João Batista como figura que prepara para a vinda do Senhor. Desta vez, João já está preso e parece duvidar do messias Jesus. A resposta de Jesus são seus milagres que cumprem as profecias (1ª leitura), motivo de “alegria”. O 3º domingo do Advento é chamada Gaudete (latim: “Alegrai-vos”) e tem a cor litúrgica rósea). Alegria e perseverança (paciência) são as atitudes para se esperar a vinda do Senhor (2ª leitura).

 

1ª Leitura: Is 35,1-6a.10

Os caps. 34-35 receberam o nome “pequeno apocalipse” de Is. Contém uma descrição dos últimos e terríveis combates que Javé Deus deve empreender contra as nações (pagãs) em geral e contra Edom em particular (cap. 34), seguida do anúncio do juízo final que restabelecerá Jerusalém em sua glória total. A intenção e o estilo dependem da segunda parte do livro de Is (Deutero-Isaias, caps. 40-55), são comparáveis aos caps. 24-27, o “grande apocalipse” de Is, e pertencem como estes à última etapa de composição do livro na época pós-exílio.

Junto ao precedente, o texto de hoje é a reviravolta total. Ao julgamento pronunciado contra Edom se opõem as bênçãos reservadas a Jerusalém. Nossa leitura (é o cap. 35 inteiro) é um hino à alegria, mencionada várias vezes. Os contatos com o Segundo Isaias (40,1-11; 43,19s; cf. 62,10-12) são particularmente numerosos com temas do êxodo e do retorno à pátria, como sagrada peregrinação.

A Bíblia do Peregrino (p. 1761) comenta: A renovação atinge as deficiências do corpo mutilado e a fraqueza da natureza deserta. Uma corrente de alegria atravessa e vivifica tudo; e a razão da alegria é a glória do Senhor, a sua recompensa, a sua redenção. Canta-se apenas a marcha, não se descreve a instauração do novo reino.

Alegre-se a terra que era deserta e intransitável, exulte a solidão e floresça como um lírio. Germine e exulte de alegria e louvores. Foi-lhe dada a glória do Líbano, o esplendor do Carmelo e de Saron; seus habitantes verão a glória do Senhor, a majestade do nosso Deus (vv. 1-2).

A transformação da natureza reflete a “glória do Senhor”. No livro de Ex, a glória do Senhor é associada à nuvem luminosa e a tempestade no Sinai (cf. Ex 13,21s; 16,10; 19,18s; 24,16; 34,29; 40,34s; cf. 1Rs 8.10s; 19,11-13; Ez 1), aqui à fecundidade do deserto da Síria pelo qual vão passar os israelitas libertados, na volta do exílio (cf. 40,5). Este deserto será como as regiões mais arborizadas (Líbano, Carmelo) e como a planície fértil do litoral (Saron; cf. a flor em Ct 2,1).

Fortalecei as mãos enfraquecidas e firmai os joelhos debilitados. Dizei às pessoas deprimidas: “Criai ânimo, não tenhais medo! Vede, é vosso Deus, é a vingança que vem, é a recompensa de Deus; é ele que vem para vos salvar” (vv. 3-4).

A comunidade dos judeus ficou enfraquecida pelo exílio, precisava ser socorrida (cf. 40,19-21 e as promessas de 40,10; 52,6). Para reanimar a comunidade cristã que sofria nas perseguições, Hb 12,12 cita este versículo. No contexto de Advento interessa que é o próprio Deus que “vem para vos salvar”, cf. Jo 3,17: “Deus não enviou seu Filho no mundo para julgar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele” (cf. a dúvida de João e a resposta de Jesus no evangelho de hoje).

Então se abrirão os olhos dos cegos e se descerrarão os ouvidos dos surdos. O coxo saltará como um cervo e se desatará a língua dos mudos (vv. 5-6a).

Da reanimação de fraquezas temporárias e psíquicas passa para a cura de deficiências físicas. Na literatura apocalíptica, a restauração do povo inclui a recuperação dessas deficiências. Olhos e ouvidos eram temas condutores nos caps. 28-33 e o são em 40-55. Em Mt 11,5 (cf. evangelho de hoje) e Lc 7,18, a cura dessas deficiências entendem-se como cumprimento da profecia sobre o messias (cf. Is 29,18s; At 3,8 etc.).

Nossa liturgia omite os vv. 6a-9 que falam da transformação da natureza e da volta do exílio como caminho seguro e estrada santa para os puros.

Os que o Senhor salvou, voltarão para casa. Eles virão a Sião cantando louvores, com infinita alegria brilhando em seus rostos: cheios de gozo e contentamento, não mais conhecerão a dor e o pranto (v. 10).

É interessante o paradigma do que é excluído: impuros ou profanos (v. 8), feras (“animais de predadores”), sofrimento e aflição (vv. 3-6.9-10; cf. 25,8). A volta a Sião (Jerusalém) promete uma “infinita alegria”, imensa, eterna, sem limites, “brilhando em seus rostos”, lit.: “sobre sua cabeça”; é preciso compreender que eles carregam sua alegria como bagagem de um viajante; “cheios de gozo e contentamento, não mais conhecerão a dor e o pranto”. Já em 25,8, Is profetizou que não haverá mais morte nem lágrimas (em Ap 21,4 é citado para ilustrar a Jerusalém celeste).

2ª Leitura: Tg 5, 7-10

A Carta da Tiago é uma das sete Cartas Católicas. Católica no seu significado grego: universal, geral, ou seja, estas cartas não se dirigem a um destinatário específico, p. ex. a uma comunidade em Roma ou Corinto, mas a todos em geral

A Bíblia Sagrada Edição Pastoral (p. 1489) introduz esta carta: A Carta de Tiago é um escrito de caráter sapiencial, isto é, mostra a sabedoria do discernimento cristão diante das situações. Dirige-se a todas as comunidades cristãs, simbolizadas pelas «doze tribos» do novo povo de Deus. O autor se apresenta como Tiago, pode ser o filho de Alfeu (Mc 3,18), ou mais provavelmente o “irmão do Senhor” (Gl 1,19; cf. Mc 6,3; At 12,7; 21,17s; 1Cor 15,7) que dirigiu a igreja de Jerusalém (cf. At 15,13) e morreu mártir no ano 62 (não o irmão de João que morreu em 44, cf. At 12,2). Diversas razões, porém, fazem pensar que o verdadeiro autor da carta é judeu de origem grega do final do século I, e que escreveu a carta entre os anos 80 e 100.

Na última parte da carta, o autor dirige-se novamente e repetidamente aos “irmãos” (vv. 7.9.10.12). para exortá-los sobretudo à paciência (ou perseverança; vv. 7-11) e à oração (vv. 13-18).

Irmãos, ficai firmes até à vinda do Senhor. Vede o agricultor: ele espera o precioso fruto da terra e fica firme até cair a chuva do outono ou da primavera. Também vós, ficai firmes e fortalecei vossos corações, porque a vinda do Senhor está próxima (vv. 7-8).

Como no início da carta (cf. 1,2-4.12), fala de paciência (v. 7) e perseverança nas provações. A espera da “vinda (parusia) do Senhor” é o motivo decisivo da paciência cristã (1,2-4; 12; 1Ts 3,13; 1Pd 4,7; 5,10), comparada com a do lavrador (v. 7; cf. Mc 4,26-29) no regime agrícola da Palestina. A paciência como perseverança nas dificuldades e adversidades (cf. 1,3s; Cl 1,11) e a firmeza do coração (1Ts 3,13) são atitudes adequadas no tempo da provação que precede a parusia.

Irmãos, não vos queixeis uns dos outros, para que não sejais julgados. Eis que o juiz está às portas (v. 9).

A Nova Bíblia Pastoral comenta (p. 1486): A perseverança a mencionada no início da carta se presenta aqui à luz da grande esperança que anima o autor e a comunidade: a vinda próxima do Senhor. Apostar nessa vinda não é acomodar-se, mas agir como agricultor que mesmo sem sinais de vida na semente que lançou no solo, sabe que o resultado de seu trabalho virá.

Exortando a paciência e a perseverança, o autor supõe que a “vinda do Senhor” esteja próxima e que será o tempo do julgamento final e definitivo. Era a crença das comunidades primitivas (cf. Mc 13,29p: “ele está próximo, às portas”; cf. Ap 3,20), mas contrariamente ao uso nas cartas de Paulo (cf. 1Cor 15,23; 1Ts 2,19; 3,13; 4,15; 5,23; 2Ts 2,1.8) e no resto do NT (Mt 24,3.27.37.39; 2Pd 1,16; 3,4; 1Jo 2,28), a parusia em Tg é antes a de Deus que a de Cristo (cf. 2Pd 3,12), pois o “Senhor” (vv. 8.10.11) e o “juiz” (v. 9) designa Deus como demonstra o contexto.

Neste particular, Tg se aproxima mais do ambiente judaico. A carta é escrita num momento ou num ambiente onde não se põe o problema do retardamento da parusia (como em Mt 25,5.19 ou 2Pd 3,8s), mas o horizonte escatológico é evocado com diversas expressões: “últimos dias” (5,3); “salvação” (1,12; 2,14); “coroa da vida” (1,12), “Reino” (2,5); o “juízo-julgamento” (2,12s; 5,12); “inferno” (3,6).

Irmãos, tomai por modelo de sofrimento e firmeza os profetas, que falaram em nome do Senhor (v. 10).

O recurso ao “modelo de sofrimento e firmeza” dos profetas é conforme a tradição judaica que os considerava mártires e por isso ‘bem-aventurados’ (v. 11; cf. Mt 5,12p; cf. Mt 23,29-31; At 7,52; Rm 11,3; 1Ts 2,15; Hb 11,36-38). Outro exemplo das Escrituras é a “paciência de Jó” (em seguida, no v. 11).

 

Evangelho: Mt 11,2-11

Outra vez ouvimos de João Batista, o profeta que prepara o povo para a vinda do Senhor. Ele é o “precursor”, na vida (seis meses mais velho que Jesus, cf. Lc 1,28) e na morte de Jesus. A influência de João Batista foi grande e não parou com seu martírio durante o banquete de Herodes Antipas (cf. 14,1-12p). Havia grupos batistas que se consideravam João talvez como messias e se tornaram certa concorrência dos cristãos (cf. At 19,1-7). Como João batizou a Jesus, ele parecia ser a pessoa superior (cf. 3,14s). O lugar de João na história da salvação precisava ser esclarecido (cf. Jo 1,6-8.15.19-36; 3,22-30; 4,1s; 13,6-10).

O texto de hoje não se encontra no evangelho mais antigo de Mc, mas noutra fonte comum com Lc (fonte Q, cf. Lc 7,18-28) que Mt usa. A Bíblia do Peregrino (p. 2340) comenta: Em algumas comunidades primitivas foi preocupante a questão sobre o lugar de João Batista com referência a Jesus. Algo disso se reflete nessa perícope. Vamos dividi-la em duas partes: Jesus responde a João e seus discípulos definindo sua identidade messiânica (1-6); Jesus define a missão do Batista e explica a reação dos judeus (7-15.16-19).

João estava na prisão. Quando ouviu falar das obras de Cristo, enviou-lhe alguns discípulos, para lhe perguntarem: “És tu, aquele que há de vir, ou devemos esperar um outro?” (vv. 2-3).

No trecho paralelo, Lc 7,18 não fala da prisão (na fonte Q não estava?), mas os três evangelhos sinóticos afirmam que João Batista foi preso já antes de Jesus iniciar sua pregação (4,17p). Herodes Antipas, o poderoso tetrarca (governador da Galileia e da Pereia/Transjordânia), mandou prender João por ter criticado seu casamento ilegítimo (Mc 6,17s; Mt 14,3s) e a injustiça (Lc 3,19s; Flávio Josefo). Podemos imaginar a situação difícil na carceragem que leva a desespero, loucura e revolta. Não só bandidos estão na prisão, inocentes também podem estar presos, até profetas e homens santos: p. ex. José no Egito (Gn 39,20-40,23); Jeremias em (Jr 37-38); Jesus (Mc 14-15p; Jo 18-19) e os apóstolos (At 4-5; 12; 16; 21-28). Em 27,46, também Jesus parece entrar em desespero, na cruz rezando Sl 22,2.

“Ouviu falar da obras de Cristo”; são a as palavras e curas de Jesus, narrados nos caps. anteriores. “Cristo”, em Mt, é o messias de Israel, descendente de Davi (1,1.16s; 2,4). Em 3,11, João anunciou o messias como mais forte, “aquele que há de vir” (cf. Jo 1,27). João tem dúvidas ou falta de paciência na atuação de Cristo?

Variação de texto: “enviou-lhe dois dos seus discípulos” (cf. Lc 7,18). João ouviu da atuação de Jesus misericordioso com os pecadores e curando os doentes. Começou duvidar se Jesus seria o messias esperado e por ele anunciado como juiz definitivo e implacável (3,10-12)? Ou ficou impaciente e pretende convidar a Jesus a passar a ação. De fato, há uma desproporção entre o anunciado pelo precursor e a maneira como Jesus age (ou demore a agir?) que justifica a pergunta.

A Bíblia do Peregrino (p. 2341) comenta: A pergunta de João é sincera ou retórica? Alguns pensam que João faz a pergunta simplesmente para que seus discípulos recebam a resposta. Muitos pensam, por causa do contexto e atitude ambígua dos discípulos, que João pergunte desiludido ou desconcertado. A pergunta é nada menos que sobre o Messias esperado, futuro, “aquele que há de vir” (Ml 3,1). João o esperava como o juiz escatológico, armado de pá e fogo (3,10-12) e sua imagem se fundamenta na Escritura (p. ex. Is 66,5-6.15-16); as notícias que recebe falam de um Jesus benéfico, acolhedor, disposto a perdoar.

Jesus respondeu-lhes: “Ide contar a João o que estais ouvindo e vendo: os cegos recuperam a vista, os paralíticos andam, os leprosos são curados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e os pobres são evangelizados (vv. 4-5).

João perguntou sobre a pessoa do messias, Jesus reponde com o tempo do messias. A Nova Bíblia Pastoral (p. 1198) comenta: Se é pelo fruto que se conhece a árvore, a pergunta de João tem de ser respondida por Jesus e não com o mero “sim” ou “não”, mas com os resultados de sua atividade. Os relatos interiores não mostram outra coisa, em relação às dores dos pobres e abandonados, senão a compaixão do Messias e sua intervenção em favor da liberdade deles.

Jesus responde apontando para uma imagem alternativa da Escritura: não o juiz escatológico aplicando a ira de Deus (cf. 3,7), mas os milagres e curas que Isaias anunciou como sinais do tempo messiânico: Is 26,19 (mortos); 29,18s e 42,18 (surdos, cegos) e 35,5-6 (cegos, surdos, coxos, pobres; cf. 1ª leitura de hoje); 61,1 (citado por Lc 4,18s: Boa Nova para os pobres; cf. Lc 1,19: o anjo Gabriel anunciou a Zacarias “uma Boa Nova/evangelho”). A cura de leprosos e a ressurreição dos mortos encontram-se no tempo de Elias e Eliseu (1Rs 17,17-24; 2Rs 4,18-37; 5-27).

A Bíblia de Jerusalém (p. 1858) comenta: Por essa alusão aos oráculos de Isaías, Jesus mostra a João que as suas obras inauguram certamente a era messiânica, mas sobre a forma de ações benéficas e de salvação, não de violência e de castigo (cf. Lc 4,17-21).

O conjunto de Mt 5,1-9,34 mostrou como Jesus cumpre todas essas profecias (cf. os resumos 4,23=9,35). Nestes caps, anteriores, o leitor de Mt já leio sobre as curas de cegos (9,27-31), paralítico (9,2-8), leproso (8,1-4) surdo (9,32-34) e ressurreição de uma pessoa morta (9,18-26). Evangelizar (anunciar a boa Nova) aos pobres lembra o início do sermão da montanha (5,3).

A salvação de Deus é concedida (cf. Lc 4,18s; Jo 3,17). O cumprimento de profecias messiânicas confirma a missão de Jesus. Em 10,1.7s, envia os apóstolos para fazerem as mesmas coisas.

Feliz aquele que não se escandaliza por causa de mim!” (v. 6).

Em forma positiva, esta bem-aventurança felicita a quem recebe Jesus como Messias. “Escandalizar” vem de “tropeçar”, aqui se escandaliza quem se sente-se frustrado pela ação de Jesus e não reconhece-lo como Messias. Mt (e Mc) usa a mesma palavra na rejeição de Jesus durante sua paixão (26,31.33) e no fim dos tempos (24,10).

A Tradução Ecumênica da Bíblia (p. 1865) comenta em 5,29: Conforme a Bíblia, o “escândalo” não é um mau exemplo nem um fato revoltante, mas etimologicamente, um “obstáculo”, uma “armadilha” (Sl 124,7), uma “pedra de tropeço” que faz cair (I 8,14-15; Rm 9,33; 1Pd 2,8). Numerosos são as causas ou ocasiões de queda: primeiro, Jesus (Mt 11,6; 13,57; 17,27; 26,31-33), mas também, em outro sentido, os homens (5,29; 16,23; 18,6-9), a perseguição (13,21; 24,10)

A frase do v. 6 alerta para as curas de Jesus não sejam motivo de escândalo; supõe-se que havia compreensões a respeito do Messias que iam em outra direção (talvez triunfalista ou militar, como os macabeus ou Davi; cf. os pretendentes de messias na época de Jesus em At 5,36s; cf. Mt 24,4-5p). Aí entra o julgamento escatológico sim: é pela tomada de posição em favor ou contra Jesus que o julgamento se opera (cf. 10,32-33p; Jo 3,19-21; 8,12). Aqui, o reino e Jesus são quase identificados. José Luiz Gonzaga do Prado (na revista Vida Pastoral, nov./dez. 2016) comenta: Muitos não gostam disso, de dizer que a missão de Jesus é levar boa notícia aos pobres, levar esperança e força aos que são o refugo da sociedade, abrir os olhos, os ouvidos, a boca aos que são proibidos de fazê-lo. Muitos se escandalizam com a afirmação de que Jesus veio para libertar os oprimidos.

Os discípulos de João partiram, e Jesus começou a falar às multidões, sobre João: “O que fostes ver no deserto? Um caniço agitado pelo vento? O que fostes ver? Um homem vestido com roupas finas? Mas os que vestem roupas finas estão nos palácios dos reis (vv. 7-8).

Em seguida, Jesus começa a falar a respeito de João Batista “às multidões”. João atraiu o povo pela sua pregação e seu estilo austero de vida, contrário ao luxo ostensivo ou à volubilidade caprichosa (como um caniço ou bambu) de Herodes Antipas (vv. 7-8).

Então, o que fostes ver? Um profeta? Sim, eu vos afirmo, e alguém que é mais do que profeta. É dele que está escrito: ‘Eis que envio o meu mensageiro à tua frente; ele vai preparar o teu caminho diante de ti’ (vv. 9-10).

A Bíblia do Peregrino (p. 2342) comenta: Em seguida Jesus define a missão de João. Por sua conduta ascética, é como o primeiro dos profetas, Elias, que se retira ao deserto e enfrenta o rei e sua corte (1Rs 17-18) … Pela sua atividade, devidamente reconhecida, João é o Elias anunciado (Ml 3,1; Eclo 48,10-11). Até ele chegou a velha economia; ele se apresenta à nova, anunciando a presença do reino e do Messias.

A citação (v. 10) de Ml 3,1 (junto com Ex 33,20) fala de um “mensageiro” ou “anjo” (mesma palavra em grego; daí João Batista é apresentado com asas de anjo na arte dos ícones na Igreja Ortodoxa). Ml 3,1 foi aplicada à volta de Elias pelo judaísmo (Ml 3,23s; Eclo 48,10) e a João Batista pela Igreja (Mc 1,2; Lc 1,17.76); em Ml 3,23 identifica o mensageiro enviado do v. 1 com o profeta Elias para restaurar os corações e preparar o povo para a vinda do Senhor (ou do messias; cf. Lc 1,17).

Em verdade vos digo, de todos os homens que já nasceram, nenhum é maior do que João Batista. No entanto, o menor no Reino dos Céus é maior do que ele” (v. 11). 

A atividade do Batista supera todos os anúncios dos profetas anteriores, ele é o precursor que “prepara o caminho” (3,3 citando Is 40,3), mas não se iguala a pertencer ao novo reino (cf. a segunda parte do Benedictus, Lc 1,76-79). “O menor no Reino dos Céus é maior do que ele” pelo simples fato de pertencer ao Reino que é inaugurado em Jesus (4,17p): o precursor João parou à entrada e ficou no limiar (cf. Jo 3,28-30). Entre ele e Jesus com seus discípulos há uma ruptura, uma novidade radical (cf. 9,14-17p). Os padres antigos da Igreja disseram: pelo novo nascimento no batismo e no Espírito Santo e a filiação divina, o menor dos cristãos é maior do que o maior dos judeus.

A Bíblia de Jerusalém (p. 1858) comenta: Essas palavras opõem duas épocas da obra divina, duas “economias”, sem depreciar em nada a pessoa de João: os tempos do Reino transcendem inteiramente aqueles que o procederam e prepararam.

A Nova Bíblia Pastoral (p. 1199) comenta os vv. 7-19 (vv. 12-19 omitidos pela nossa liturgia): Agora é o momento de Jesus esclarecer a identidade de João e seu grande valor, como profeta que com seu exemplo e palavras denuncia o luxo e arrogância dos poderosos. Mas o anúncio que Jesus faz vai além, ao propor a busca do Reino como algo a ser vivido no cotidiano da vida, sobre a inspiração na justiça de Deus. Jesus e João têm estilos e projetos muito distintos um do outro, mas ambos atuam em nome de Deus. A rejeição de ambos mostra o receio geral de acolher os enviados de Deus e ter de se comprometer com as exigências que eles comunicam.

A Bíblia dos cristão faz jus a importância de João: Ele é o elo que liga as profecias do AT com a realização do NT (Jesus). Enquanto a Bíblia (hebraica) dos judeus coloca os livros sapienciais após os profetas, a Bíblia cristã inverte: coloca os livros sapienciais antes dos profetas. O livro de Ml é o último dos profetas e do AT na Bíblia cristã que continua como o NT, com João Batista retomando o fio e apresentando Jesus, o messias anunciado antes pelos profetas.

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