16 de Julho de 2020, Quinta-feira – Festa de Nossa Senhora do Carmo: Jesus disse: “Eis minha mãe e meus irmãos. Pois todo aquele que faz a vontade do meu Pai, que está nos céus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe” (vv. 48-50).

Festa de Nossa Senhora do Carmo

Na época das cruzadas no século XII, alguns eremitas constituíram na “Terra Santa” uma ordem de vida contemplativa, os carmelitas. Como ancestral espiritual consideraram o profeta Elias que defendeu a fé no único Deus no monte Carmelo (1Rs 18). O título Nossa Senhora do Carmo está ligado à visão que o Elias teve sobre o Monte Carmelo durante a grande seca. Elias viu que subia do mar uma nuvem muito pequena, em forma de mão humana e daquela pequena nuvem desabou uma chuva muito forte (1Rs 18,41-46). Os místicos viram na pequena nuvem a imagem profética da Virgem Maria, que gerando o Verbo de Deus, trouxe vida para o mundo. Segundo a tradição carmelita, Nossa Senhora teria entregue o escapulário do Carmelo a São Simão Stock, primeiro geral da ordem. O Monte Carmelo era muito florido. Os santos disseram que Nossa Senhora é a mais bonita flor do Jardim de Deus, a flor do Carmelo. Maria é comparada também à colina de “Sião”, porque nela Deus se fazia presente como antigamente no templo de Jerusalém.

 

Leitura: Zc 2,14-17

Neste dia dedicada a Nossa Senhora ouvimos o profeta Zacarias animando seus compatriotas para reconstruir o templo em Jerusalém, símbolo da fé e unidade nacional. Junto com seu colega contemporâneo Ageu, agiu com inspirador da reconstrução do templo após o exílio babilônico (por volta de 530 a 518 a.C.). Dezoito anos depois da primeira caravana dos repatriados, Jerusalém estava reconstruída só pela metade. O povo se sente desencorajado e pergunta: “Deus ainda está em nosso meio?”

Rejubila-te, alegra-te, cidade de Sião, eis que venho para habitar no meio de ti, diz o Senhor (v. 14).

Jerusalém e a “cidade de Sião” porque foi construída sobre uma colina chamada Sião. O templo é considerado o lugar da presença de Deus na terra. A razão da alegria será a presença salvadora do Senhor no meio de seu povo (cf. a alegria em Is 12,6; 54,1; Sf 3,14). Estando presente o Senhor, retornarão para a cidade santa não somente os exilados, mas todas as nações.

Muitas nações se aproximarão do Senhor naquele dia e serão o seu povo (v. 15a).

Os profetas mais antigos já sonharam com uma romaria dos povos a Jerusalém para adorarem junto o mesmo Senhor; então haverá paz universal (cf. Is 2,2-4 par Mq 4,1-3). Com a conhecida fórmula de união “naquele dia”, acrescenta-se outro oráculo que alarga a visão precedente (Is 19,24-25; 56,3.6; Jr 50,5). A fórmula da aliança – “serão o seu povo” – é estendida aqui a “muitas nações”: Jerusalém será a metrópole religiosa do universo (cf. Is 45,14); cf. Is 19,25: “meu povo, o Egito e a Assíria… e Israel”.

O Senhor entrará em posse de Judá, com porção na terra santa, e escolherá de novo Jerusalém (v. 16).

A expressão “terra santa” aparece aqui pela primeira vez na literatura bíblica (cf. 2Mc 1,7; cf. Ex 3,5: terreno sagrado). Segundo o texto hebraico, esta adesão dos pagãos far-se-á por uma conversão no seu lugar, enquanto Jerusalém conservará ainda a sua posição privilegiada: “porção”. Na perspectiva da tradução grega, os pagãos se instalarão no meio do povo e dele farão parte integrante, sem nenhuma discriminação. Será a perspectiva do NT em At 8 e 10.

Emudeça todo mortal diante do Senhor, ele acaba de levantar-se de sua santa habitação (v. 17).

É como o grito de um arauto impondo silêncio ao chegar o soberano (Hab 2,20). Como final de vv. 15-16, refere-se à tomada de poderes de um reino próprio e um império internacional (cf. o dialogo de Is 51,9-52,6; cf. também Sl 44,24; 65,9; 73,20). A ”santa habitação” é a o palácio celeste que se imaginava exatamente acima do templo em Jerusalém, o lugar que Javé Deus havia “escolhido para aí fazer habitar seu nome“ (Dt 12,11 etc.).

Evangelho: Mt 12,46-50

No evangelho de hoje, Jesus nos apresenta seus novos familiares. Mt copiou este relato do encontro com os familiares de Jesus da sua fonte Mc 3,31-35.

Enquanto Jesus estava falando às multidões, sua mãe e seus irmãos ficaram do lado de fora, procurando falar com ele. Alguém disse a Jesus: “Olha! Tua mãe e teus irmãos estão aí fora, e querem falar contigo” (vv. 46-47).

Mt não diz que Jesus estava numa casa (mas o diz em seguida em 13,1; cf. Mc 3,20.31). Do lado de “fora” deste círculo das multidões que estão com Jesus (desde v. 23), os familiares procuram Jesus, são “a mãe de Jesus e seus irmãos”. O termo “irmão” abrange, em linguagem bíblica, também os parentes (cf. Gn 13,8)

A expressão “irmãos e irmãs” de Jesus (cf. 13,55-56p) é interpretada de maneira diferente: para os católicos são apenas parentes; para os protestantes são outros filhos de Maria. A Tradução Ecumênica da Bíblia (TEB, p. 1882) anota: Na Bíblia, como ainda hoje no Oriente, a palavra irmãos pode designar tanto os filhos da mesma mãe, como parentes próximos (cf. Gn 13,8; 14,16; 29,15; Lv 10,4; 1Cr 23,22).

A própria Bíblia não decide a questão (não está escrito em nenhum trecho da Bíblia que Maria teve apenas um filho, nem está escrito que teve mais de um), mais é tradição da Igreja desde os primeiros séculos que Maria não teve outros filhos além de Jesus. A Igreja Católica considera como revelação divina não só a Bíblia, mas também a tradição da Igreja. O que reforça o dogma da Igreja Católica é a entrega da mãe no pé da cruz ao discípulo amado (Jo 19,26-27). Se existissem outros filhos de Maria, Jesus não precisava entregá-la aos cuidados de um discípulo.

Não se menciona o pai (cf. 13,55; Mc 6,3; 10,30). Então, José, cujo papel Mt destaca na infância (Mt 1-2), já deve ter morrido e Jesus adulto tornou-se chefe da família que quer agora romper o círculo dos seguidores e reclamar seu parente famoso.

Jesus perguntou àquele que tinha falado: “Quem é minha mãe, e quem são meus irmãos?” E, estendendo a mão para os discípulos, Jesus disse: “Eis minha mãe e meus irmãos. Pois todo aquele que faz a vontade do meu Pai, que está nos céus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe” (vv. 48-50).

Jesus não despreza vínculos familiares (cf. 15,4-6), por isso, ele tem um “Pai, que está nos céus” (6,9; 23,9; Lc 2,41-52; Mc 14,36). O Filho de Deus está criando uma nova família, não através da carne, mas através do Espírito (cf. Jo 1,12-13; Rm 8,14-17).

Quem faz a “vontade do meu Pai”, fará parte desta família de Jesus. Quanto a Maria, ninguém como ela cumpriu a vontade do Pai e foi agradecida com o Espírito (cf. Lc 1,35-38). Jesus anuncia a vontade do Pai e a cumpre (26,42). A comunidade reza por ela na oração que Jesus ensinou (6,10). Será critério no julgamento (7,21-23).

O Papa Bento XVI (na Encíclica Deus Caritas Est) olha para a situação de Maria deixada de lado, durante os anos da vida pública de Jesus e percebe a sua grande humildade: aceita ser deixada de lado para que Jesus forme a sua nova família. Maria só se aproximará de Jesus no momento da cruz, quando os seus discípulos tiverem fugido (Jo 19,25-27). Em Pentecostes, todos irão se juntar ao redor dela à espera do Espírito Santo (cf. At 1,14). Stº Ambrósio comentando o texto de hoje diz assim: “Não se propõe aqui a recusa ofensiva dos parentes, mas ensina que os laços espirituais são mais sagrados do que os laços de sangue”.

O próprio Mt acrescentou que Jesus estava “estendendo a mão para os discípulos” (v. 49). Na tradição bíblica, este gesto significa diversas atitudes: carência (12, 13), hostilidade (26,51), bênção (Gn 48,14) ou o poder e o julgamento de Deus (frequente em Ez, Jr, Sf). Em Mt, Jesus estende a mão ao leproso (8,3) e a Pedro que afunda (14,31), ambas demonstrações do seu poder auxiliador. Aqui significa que os discípulos estão sob a proteção do seu Senhor que estará com eles até o fim do mundo (28,20).

Para os judeus, “irmãos” já eram os conterrâneos, para os cristãos são os membros da comunidade. Além disso, os discípulos são “meus irmãos” (cf. 28,10; 25,40; 23,8; Jo 20,17; Rm 8,29; Hb 2,11s). Como irmãos de Jesus, podemos invocar Maria como nossa mãe (cf. Jo 19.25-27).

 O site da CNBB comenta (citando Jo 15,15): Jesus não quer que nós sejamos seus servos, pois o amor que ele tem por nós não permite isso. O apóstolo São João nos diz no seu Evangelho que Jesus não chama os seus seguidores de servos, mas de amigos, porque lhes revelou tudo o que o Pai lhe deu a conhecer. Mas no Evangelho de hoje, Jesus vai mais além, ele nos mostra que quer que todos os que ele ama e o amam sejam membros da sua família, participem da sua vida divina. Para demonstrar o amor que temos por Jesus, não basta apenas afirmar o amor que se sente por ele, é preciso ir além, é preciso conhecer e realizar a vontade do Pai. Somente quem faz a vontade do Pai ama verdadeiramente a Jesus, torna-se membro da sua família e participa da sua vida.

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