17 de agosto de 2017 – Quinta-feira, 19ª semana

Leitura: Js 3,7-10a.11.13-17

Depois de concluir a leitura do Pentateuco com a morte de Moisés (Dt 34, cf. leitura de ontem), ouvimos nestes dias sobre Josué, seu sucessor que liderou o povo na travessia do Jordão entrando na terra prometida. O livro de Josué relata acontecimentos situados no séc. XIII a.C.: a conquista e a partilha da terra de Canaã pelas tribos de Israel.

Na leitura de hoje ouvimos da travessia do rio Jordão pela qual o povo entra na terra prometida. Mas o rio Jordão se tornou fronteira apenas em 733 a.C., quando os assírios invadiram a ocuparam boa parte de Israel. Antes desta data a Transjordânia fazia parte do reino de Davi (2Sm 24,5) e o rei Jeroboão estabeleceu até uma residência lá (em Fanuel no rio Jaboc, 1Rs 12,25). Então, a narrativa com a travessia lendária do Jordão podia ser escrita só uma geração após 733, talvez em 673 a.C. A linguagem bélica deste livro de Js se deve também às guerras dos assírios e sua brutalidade.

O livro Js faz parte da história deuteronomista cuja narração se estende de Js e Jz por 1-2Sm até 1-2. Na Bíblia Hebraica (TNQ), que se divide em Torá (Lei), Nabiim (Profetas) e Qetubim (Escritos, sapienciais), a história deuteronomista faz parte dos profetas, são os “profetas anteriores” em contraposição aos “profetas posteriores” que seguem com seus escritos (Is, Jr, Ez e os doze profetas menores). Nas Bíblias cristãs, a história deuteronomista faz parte dos “livros históricos”.

O Senhor disse a Josué: ”Hoje começarei a exaltar-te diante de todo Israel, para que saibas que estou contigo assim como estive com Moisés (v. 7)

O livro de Js começa com a morte de Moisés e termina com a morte de Josué (24,29s). Ele aparece desde Ex 17,9; 24,13; 32,17; 33,11; Nm 13-14; Dt 1,38; 3,21.28), é o sucessor escolhido por Javé (cf. Nm 27,18-23; Dt 31,7-8.14; 34,9). Deus promete sua presença constante como antes a Moisés (“Estou contigo”; cf. 1,5; Ex 3,12; Gn 26,24; 28,15; Jr 1,8, etc.).

Tu, ordena aos sacerdotes que levam a arca da aliança, dizendo-lhes: ‘Quando chegardes à beira das águas do Jordão, ficai parados ali’” (v. 8).

A arca é uma espécie de sacramento da presença do Deus invisível, mas libertador, que caminha à frente do seu povo, conduzindo-o para a terra prometida. Ela é uma espécie de santuário transportável dos nômades (colocada na tenda de Encontro) e paládio bélico, garantindo a presença de Javé que guia seu povo, dá a terra e as vitórias na conquista (cf. Nm 10,33-35; 14,42-44). A redação do Dt entende a arca como “arca da aliança” na qual se conserva o documento da aliança (as tábuas com os dez mandamentos; cf. Dt 10,1-8; 31,9.26). Como na cultura cananeia imaginava-se a arca como pedestal do trono da divindade acompanhada de querubins (1Sm 4–6; 2Sm 6; Sl 99,5; 132,7s). A redação sacerdotal descreve sua tampa como propiciatório para expiação dos pecados (Ex 25,10-22; 33,1-9; Lv 16,11-14; cf. Hb 4,16). A arca foi transferida a Jerusalém por Davi (2Sm 6) e colocado no templo por Salomão (1Rs 8,1-9), mas na destruição de Jerusalém (586 a.C.) despareceu (Jr 3,16; cf. 2Rs 25). O templo assume sua função de representar a presença de Deus.

A quem compete o transporte da arca, são os levitas (Dt 10,8), os da tribo sacerdotal de Levi a qual Moisés e Aarão pertenciam (Ex 2,16,16-20); Josué não, ele é efraimita (Nm 13,8.16). Os pormenores dessa travessia do rio Jordão lembram uma celebração litúrgica (a presença da arca, os sacerdotes, a distância, a purificação, a travessia em forma de procissão). Talvez tenhamos aqui uma liturgia com que o povo celebrava a entrada na terra prometida.

Depois Josué disse aos filhos de Israel: ”Aproximai-vos para ouvir as palavras do Senhor vosso Deus”. E acrescentou: ”Nisto sabereis que o Deus vivo está no meio de vós e que ele expulsará da vossa presença os cananeus (vv. 9-10a).

Josué pronuncia estas palavras (vv. 9-13) em nome do Senhor, na linguagem do Dt. No milagre que vai suceder-se revelará ao povo o “Deus vivo”, que entra em ação para salvar a vida do seu povo; ele não é inerte como os ídolos, ele é Senhor da vida. O título ou suas derivações se leem no Sl 42,3; 84,3. Afirmar que Deus é vivo é uma das formas principais da fé no Deus verdadeiro e único (cf. Dt 4,35; 5,26; 6,4), implicando a rejeição de deuses falsos, que não têm vida, e de suas imagens (Js 3,10; 1Sm 17,26.36; Is 37,4; Jr 10,8-10; Os 2,1; Sl 84,3 etc.; cf. Mt 16,16; 26,63; Rm 9,26; 1Ts 1,9; 1Tm 3,15). Com isso, justifica-se o sonho expansionista do rei Josias e sua reforma com a destruição dos ídolos (2Rs 23) e a expulsão dos povos (sincretistas ou pagãos) da terra diante dos repatriados na volta do exílio.

Nossa liturgia omitiu o v. 10b, a lista completa dos sete nomes dos povos de Canaã (cf. 24,11 na leitura de amanhã).

Eis que a arca da aliança do Senhor de toda a terra vai atravessar o Jordão adiante de vós. E logo que os sacerdotes, que levam a arca do Senhor de toda a terra, tocarem com a planta dos pés as águas do Jordão, elas se dividirão: as águas da parte de baixo continuarão a correr, mas as que vêm de cima pararão, formando uma barragem”. Quando o povo levantou acampamento para passar o rio Jordão, os sacerdotes que levavam a arca da aliança puseram-se à frente de todo o povo (vv. 11.13-14).

Javé Deus é o “Senhor de toda a terra” (cf. Lv 25,23: “A terra me pertence, e vós sois para mim estrangeiros e hóspedes”). Dono de toda a terra é titulo que se lê no salmo de Deus rei (Sl 97,5). É o próprio Deus representado pela arca que caminha a frente do povo e dá a terra prometida como dom.

A história deuteronomista vê o exílio babilônico do seu tempo causado pelo pecado do povo que se desviou do doador divino da terra e por isso a perdeu (Dt 29,21-30,20; cf. Jz 2,11-15). Em 538 a.C., o rei da Persia, Ciro II, decretou que os exilados pudessem voltar a sua terra. É o mesmo caminho chegando do leste para atravessar o Jordão novamente (Dt 30,18). Como não há mais reis em Israel, os sacerdotes tomam “a frente de todo povo” (teocracia em Jerusalém), até chegar o messias. A redação sacerdotal (538-520) queria motivar os judeus acomodados no exílio para voltarem a terra prometida com antigamente Abraão que saiu do sul da Babilônia no mesmo caminho para a terra que Deus lhe prometeu (cf. a redação sacerdotal em Gn 11,31-12,5).

Quando chegaram ao rio Jordão e os pés dos sacerdotes se molharam nas águas da margem – pois o Jordão transborda e inunda suas margens durante todo o tempo da colheita -, então as águas, que vinham de cima, pararam, formando uma grande barragem até Adam, cidade que fica ao lado de Sartã, e as que estavam na parte de baixo, desceram para o mar da Arabá, o mar Salgado, até secarem completamente. Então o povo atravessou, frente a Jericó (vv. 15-16).

“O Jordão transborda e inunda suas margens durante todo o tempo da colheita” (v. 15). Esta enchente se produz com o congelamento das neves de monte Hermon (no Líbano), em março e abril, no tempo da ceifa no vale baixo do Jordão. Mas segundo 5,10, estamos nas vésperas da páscoa; portanto ainda não chegou a colheita; mas é certo que por todo esse tempo o Jordão está cheio (cf. 1Cr 12,16; Eclo 24,26).

Surpreende a menção geográfica tão exata em v. 16: Sartã se encontra a uns 25 km ao norte de Jericó, mas os meandros (curvas) do rio multiplicam a distância percorrida. Relaciona-se este fato com o ocorrido em 1267 d.C. segundo um cronista árabe: O Jordão cessou de correr durante dez horas, porque um desmoronamento do terreno havia obstruído o vale precisamente na região de Adamá-Damieh. Mas o autor de Js tem outra intenção do que descrever um fenômeno natural.

A Bíblia do Peregrino (p. 374) comenta: O autor quer descreve um fato decisivo na sua dimensão transcendente. Decisivo porque é a fronteira da entrada na terra. Transcendente porque é Deus quem abre prodigiosamente a porta… O texto apresenta esta passagem como paralela à do mar Vermelho e a mostra com dados explícitos: o chefe, as águas, a passagem da multidão. Ao mesmo tempo, marca as diferenças: não é o mar, é o rio; não há vara mágica nem ordem às águas; em, vez de massa, doze tribos disciplinadas; não á inimigo pelas costas; a função da nuvem é desempenhada pela arca; não é noite e sim dia. Sobretudo, a grandiosidade épica e a riqueza simbólica de Ex 14-15 dão lugar a prescrições e gestos rituais: purificação (Ex 19,10s; 1Sm 16,15), procissão etc.

E os sacerdotes que levavam a arca da aliança do Senhor conservaram-se firmes sobre a terra seca, no meio do rio, e ali permaneceram até que todo Israel acabasse de atravessar o rio Jordão a pé enxuto (v. 17).

Toda a etapa do deserto se coloca entre dois milagres semelhantes: a travessia do mar Vermelho “a pé enxuto” (Ex 14,22.29; 15,19), passando da escravidão para a liberdade, e a travessia do rio Jordão, também “a pé enxuto”, entrando na terra dada por Deus para a construção de uma vida nova.

Toda a narrativa da passagem do Jordão e da entrada em Canaã (3,1-5,12) apresenta um paralelismo com a narrativa de saída do Egito, sublinhado pelo redator (3,7; 4,14.23): Javé pára o curso do Jordão (3,7-4,18) como havia feito secar o mar dos juncos (Ex 14,5-31); a arca da aliança guia a passagem (Js 3,6-17; 4,10-11), como a coluna de nuvem ou de fogo (Ex 13,21-22; 14,19-20); Josué (Js 3,7; 4,14) desempenha o mesmo papel que Moises no Êxodo, a circuncisão é renovada para seus descendentes nascidos no deserto (Js 5,2-9); o maná que havia sido a alimentação no deserto (Ex 16) deixa de cair desde a entrada em Canaã  (Js 5,12) e a “páscoa” é celebrada em Guilgal após a segunda “passagem” (Js 5,10) como havia sido no Egito, antes da primeira (Ex 12,1-28; 13,3-10).

Como a paixão e a ressurreição do Cristo renovarão espiritualmente os acontecimentos do Êxodo (cf. 1Cor 10,1), Josué que dá a tais acontecimentos a seu primeiro cumprimento, foi considerado pelos Padres da Igreja como uma figura de Jesus, do qual é homônimo: Josué, em hebraico é Yehoshua, sua forma abreviada de Yeshua tornou-se, na tradução grega, “Jesus”.

 

Evangelho: Mt 18,21-19,1

Continuamos no quarto discurso de Jesus no evangelho de Mt que finaliza este sermão sobre a comunidade com uma parábola a partir de uma pergunta e traduz o pedido do Pai-nosso em narrativa.

Pedro aproximou-se de Jesus e perguntou: “Senhor, quantas vezes devo perdoar, se meu irmão pecar contra mim? Até sete vezes?” Jesus respondeu: “Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete (18,21-22)

Mt encontrou uma frase na fonte Q (palavras em comum com Lc) que recomenda o perdão “sete vezes num só dia” (Lc 17,4). Mt a coloca na boca de Pedro em forma de pergunta. “Senhor, quantas vezes devo perdoar, se meu irmão pecar contra mim? Até sete vezes?” (v. 21). À pergunta matemática de Pedro, Jesus responde ao mesmo terreno saltando de um numero generoso a outro indefinido. “Não lhe digo que até sete vezes, mas até setenta vezes sete” (v. 22). Quer dizer, na comunidade de Jesus não existem limites para o perdão.

Este número, porém, lembra o canto da vingança ilimitada de Lamec, descendente de Caim: “Caim é vingado sete vezes, mas Lamec, setenta e sete vezes” (Gn 4,15.24). A vingança foi limitada pela lei do talião: “(um) olho por (um) olho…”; cf. Ex 21,23-25; Lv 24,19-20; Dt 19,21), mas o perdão é o contrário da vingança. O que deve ser sem limites é a misericórdia e o perdão (cf. 5,38-42; Lc 23,34; At 7,60).

Seguindo o exemplo de Deus e de Jesus (Lc 15), os cristãos devem perdoar uns aos outros (5,39; 6,12p; cf. 7,2; 2Cor 2,7; Ef 4,32; Cl 3,13). Já o faziam os israelitas entre si (“com seu próximo”; cf. Lv 19,18-19; Ex 21,25). No contexto cristão, porém, “o próximo” aplica-se a todos os homens compreendendo também aqueles aos quais é preciso pagar o mal com o bem (5,44-45; Rm 12,17-21; 1Ts 5,15; 1Pd 3,9; cf. Ex 21,25; Sl 5,11). Assim, o amor cobre uma multidão de pecados (Pr 10,12 citado por Tg 5,20; 1Pd 4,8).

Porque o Reino dos Céus é como um rei que resolveu acertar as contas com seus empregados. Quando começou o acerto, trouxeram-lhe um que lhe devia uma enorme fortuna (vv. 23-24).

É uma parábola sobre o reino, ou seja, sobre um rei que “resolveu acertar as contas”, símbolo também do juízo final (cf. 25,19). Ofensa e divida são dois símbolos que expressam a situação negativa do homem diante de Deus. Como na oração do Pai-nosso, adota-se aqui a imagem de “divida” (pecado) que permite quantificar a explicação: 10.000 (dez mil) talentos são quase 174.000 kg (cento e setenta e quatro toneladas) de ouro: uma quantia exorbitante, escolhida intencionalmente.

O relato não explica como o funcionário pôde endividar a tal ponto; podemos imaginar um governador de província corrupto, por ex. Varus, o governador romano da Síria, dele se dizia: “Ele veio como homem pobre à uma província rica, e saiu como homem rico de uma província pobre” (de lá foi transferido para a fronteira norte do império e perdeu uma legião inteira numa batalha contra as tribos germânicas).

Como o empregado não tivesse com que pagar, o patrão mandou que fosse vendido como escravo, junto com a mulher e os filhos e tudo o que possuía, para que pagasse a dívida. O empregado, porém, caiu aos pés do patrão, e, prostrado, suplicava: “Dá-me um prazo! e eu te pagarei tudo” (vv. 25-26).

Era comum vender-se (ou parte da família) como escravo para pagar uma dívida (Ex 22,2). O devedor não se recusa a pagar, só pede paciência (Eclo 29,1-13), mas pagar esta soma enorme dentro de um prazo razoável, não parece realista.

Diante disso, o patrão teve compaixão, soltou o empregado e perdoou-lhe a dívida (v. 27).

O patrão responde cheio de “compaixão” (talvez pense que o outro não poderá pagar) e perdoa. Já o perdoado, deveria imitar, em escala reduzida, o exemplo do rei, ou seja, a compaixão de Deus (cf. Ex 34,6). Mas não é assim que a história continua.

Ao sair dali, aquele empregado encontrou um dos seus companheiros que lhe devia apenas cem moedas. Ele o agarrou e começou a sufocá-lo, dizendo: “Paga o que me deves.” O companheiro, caindo aos seus pés, suplicava: “Dá-me um prazo! e eu te pagarei” (vv. 28-29).

Com a generosidade do perdão do patrão contrasta o comportamento mesquinho do empregado com seu colega. Cem moedas (denários) é o salário de cem dias de trabalho (de um diarista), então menos de 30 g (trinta gramas) de ouro. Pagar esta dívida num certo prazo é realista. As mesmas palavras e o mesmo gesto do devedor (cf. v. 26), porém, não surtem o mesmo efeito do perdão do credor de antes (v. 27), ao contrário.

Mas o empregado não quis saber disso. Saiu e mandou jogá-lo na prisão, até que pagasse o que devia (v. 30).

Pagar a dívida através da prisão era prática comum (cf. 5,25s). Na Itália da Idade média, St.º Antônio conseguiu acabar com esta prática injusta em Pádua.

Vendo o que havia acontecido, os outros empregados ficaram muito tristes, procuraram o patrão e lhe contaram tudo. Então o patrão mandou chamá-lo e lhe disse: “Empregado perverso, eu te perdoei toda a tua dívida, porque tu me suplicaste. Não devias tu também, ter compaixão do teu companheiro, como eu tive compaixão de ti?” (vv. 31-33).

Enquanto na primeira parte da parábola surpreendeu a graça de Deus (o perdão generoso), na segunda parte destaca-se o julgamento. O empregado não agiu conforme a graça recebida, mas aplicou sem piedade o princípio da retribuição.

O patrão indignou-se e mandou entregar aquele empregado aos torturadores, até que pagasse toda a sua dívida (v. 34).

Agora se retribui a atitude cruel que o empregado demonstrou com seu colega. A prisão piorou ainda com a presença dos torturadores. Como em outras ocasiões de advertência, Mt destaca no final mais o lado negativo do juízo, a condenação e o castigo (cf. 3,7.10.12; 5,22.25s.29s; 7,19.23; 10,15.28; 11,22.24; 13,41s.49s; 18,8-9; 22,7.13; 23,33; 24-25), mas aqui fica claro, que Deus é imensamente misericordioso (cf. Ex 34,6-7), só quando o homem não demonstra misericórdia alguma, recebe o troco, será tratado como tratou o semelhante  (cf. 5,7; 6,12.14).

É assim que o meu Pai que está nos céus fará convosco, se cada um não perdoar de coração ao seu irmão” (v. 35).

O homem, destinatário da imensa misericórdia de Deus (Sl 86,5) deve aprender a exercer sua pequena misericórdia com o próximo devedor (cf. no Sl 112 a passagem do v. 4 ao v. 5; também a consequência que tira Sb 12,18s; há muitos textos que recomendam a piedade e a compaixão: Pr 14,21; 19,17; Sl 37,21.26 etc.).

Na comunidade de Jesus não existem limites para o perdão (setenta vezes sete). Ao entrar na comunidade (pelo batismo), cada pessoa já recebeu do Pai um perdão imenso (dez mil talentos), sem falar que a vida já é um dom que ninguém pode pagar (Sl 49,8s). A vida na comunidade precisa, portanto, basear-se no amor e na misericórdia, compartilhando entre todos esse perdão que cada um recebeu.

Ao terminar estes discursos, Jesus deixou a Galileia e veio para o território da Judeia além do Jordão (19,1).

Ao indicar a mudança do local, Mt segue Mc 10,1. Jesus não voltará mais à Galileia antes da sua ressurreição (cf. 28,7.16). Já se encontra no caminho a Jerusalém (cf. 20,17) que passa por Judeia e pelo outro lado do Jordão (os judeus costumavam evitar o caminho mais curto pelo território da Samaria).

Com esta frase transitória (cf. 11,1; 13,53), Mt conclui mais um discurso, mas o tema da comunidade continua nas instruções do caps. 19-20 (sobre família, propriedade, trabalho, autoridade), seguindo o roteiro de Mc 10.

O site da CNBB comenta: Nós não temos como pagar a Deus para obtermos o perdão dos nossos pecados, de modo que merecemos a paga pelos mesmos que é a morte. Mas o amor misericordioso de Deus não permite que nenhum dos seus filhos e filhas seja entregue à morte, de modo que a verdadeira paga pelos nossos pecados foi a obediência de Jesus, amando-nos até o fim e, assim, apesar dos nossos pecados, temos a eterna aliança com ele. Desse modo, Deus nos dá o exemplo do verdadeiro perdão, nos ensinando que tudo devemos fazer para restaurar a unidade perdida por causa dos males que as pessoas comentem contra nós.

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