18 de novembro de 2016 – Sexta-feira, 33ª semana

Leitura: Ap 10,8-11

O autor João apresentou sua visão da liturgia celeste com o trono de Deus (Pai) e o Cordeiro (Jesus) que foi achado digno de abrir os sete selos do livro da revelação (caps. 4-5; leituras de 4ª e 5ª feira). Na abertura dos primeiros quatro selos, aparecem quatro cavaleiros que simbolizam expansão, violência/guerra, inflação/fome, peste/morte (cf. Zc 1,8-10; 6,1-3); no quinto selo, o clamor dos mártires sob o altar, no sexto, terremotos e sinais cósmicos. Depois anjos marcam os mártires na fronte, e se encontra uma multidão incontável com vestes brancas cantando diante de Deus (lembra o cap. 4-5 4 antecipa os cap. 14; 21-22). O roteiro do Ap não é linear, mas a narração das visões se desenvolve como numa espiral.

A abertura do sétimo selo traz um silêncio e depois anjos com sete trombetas. O toque de cada trombeta causa catástrofes na terra e nas estrelas (cf. a pragas de Ex 7-12; e Mc 13p). Nossa liturgia saltou todas estas descrições catastróficas (caps. 6-9) e apresenta a leitura de hoje com a entrega de um livro para João, apresentado antes da morte de duas testemunhas (leitura de amanhã) e do toque da sétima trombeta (introdução à visão da mulher e do dragão).

A Bíblia do Peregrino (p. 2957) comenta: Visto que o sétimo toque da trombeta é adiado até 11,15, essa seção reclama um espaço notável para apresentar algo muito importante que deve acontecer antes do fim.

Aquela mesma voz do céu, que eu, (João), já tinha ouvido, tornou a falar comigo: “Vai. Pega o livrinho aberto da mão do anjo que está de pé sobre o mar e a terra” (v. 8).

Interrompendo o ritmo das trombetas, um “livrinho” é introduzido com grande arranjo dramático. Antes de receber o livrinho, João já escutou “sete trovões” (v. 3; cf. Sl 29), que agora têm a voz articulada (cf. Ex 20,18-19; Jo 12,29), e viu um “anjo que está de pé sobre o mar e a terra” (vv. 1-6). Este anjo magnífico, radiante, solar, de fogo, de voz possante, pronunciou o juramento mais solene (v. 6; cf. Dt 32,40; Gn 14,22), anunciando que o fim é iminente.

Diferente do livro selado ao Cordeiro (5,2), este livro oferecido ao vidente (a liturgia acrescentou o nome “João”) é pequeno e “aberto”. Se o livro dos sete selos era o Antigo Testamento interpretado por Cristo glorificado, o presente livrinho fala da etapa que precederá o julgamento final; não está selado e renova a missão de João, tornando-a mais precisa (cf. 1,1-2.9-20). O autor inspira-se na vocação profética de Ezequiel (Ez 2,8-3,3; cf. Jr 1,19s; 15,16).

Eu fui até ao anjo e pedi que me entregasse o livrinho. Ele me falou: “Pega e come. Será amargo no estômago, mas na tua boca, será doce como mel”. Peguei da mão do anjo o livrinho e comi-o. Na boca era doce como mel, mas quando o engoli, meu estômago tornou-se amargo (vv. 9-10).

Para assimilar o conteúdo do livrinho, é preciso comê-lo e digeri-lo; tem sabor doce, como palavra de Deus (cf. Jr 15,16) e porque anuncia o triunfo da Igreja, é amargo pelas ameaças que contém, e porque profetiza também sofrimentos (11,1-13).

A Tradução Ecumênica da Bíblia (p. 2438) comenta: Aqui, indicação do duplo aspecto da Palavra de Deus. Mas em que ela é doce, e em que amarga? Pode-se hesitar entre diversas hipóteses, p. ex.: doçura de receber a palavra, amargura de ter de exercer o ministério profético; doçura do anúncio da eleição, amargura do anúncio da perseguição

Então ele me disse: “Deves profetizar ainda contra outros povos e nações, línguas e reis” (v. 11). 

A Bíblia do Peregrino (p. 2957) comenta: O livro ingerido confere a missão de profetizar (Ez 3,1-11) e dá autoridade sobre povos e rei (Jr 1,10). Profetizar é dar testemunho da parte de Deus: o autor profeta se desdobrará em duas testemunhas coletivas, para etapa anterior ao julgamento. A função do livrinho é provocar e garantir o testemunho cristão, que é a nova profecia (cf. Mc 13,11).

Evangelho: Lc 19,45-48

Hoje, por coincidência, a leitura e o evangelho falam da purificação do Templo em Jerusalém. Com muitos outros judeus, Jesus fez a viagem a Jerusalém (9,51-19,28, parte central do evangelho de Lc) para participar da festa da páscoa. Lc contou a primeira romaria de Jesus junto com a família em 2,41-50, onde Jesus já reclamou o templo como “casa de meu Pai” (2,49). O centro religioso da capital da Judeia é o Templo. Para Lc, Jerusalém (cf. At 1,8) e particularmente o Templo são temas importantes; seu evangelho começa e termina no Templo: a primeira cena é o sacrifício de Zacarias (1,5-25), e a última, a oração dos discípulos depois da ascensão do mestre (24,53).

Jesus entrou no Templo e começou a expulsar os vendedores. E disse: “Está escrito: Minha casa será casa de oração. No entanto, vós fizestes dela um antro de ladrões.” (vv. 45-46).

O cuidado do templo era responsabilidade do rei (2Cr 29,4.12; 29,6-11; 34,8). Herodes iniciou uma reforma esplêndida que durou 46 anos (cf. Jo 2,20). Jesus, que acabou de entrar na cidade e foi aclamado como rei messiânico pelo povo (vv. 29-40), se sente responsável pelo templo, toma posse da casa de seu Pai (cf. 2,49).

Mt e mais ainda Lc omitem os detalhes do relato de Mc 11,15-18. Para Lc importa apenas a interpretação da ação por Jesus. Ele se dirige ao templo para purificá-lo numa espécie de ação simbólica, que a citação de dois textos proféticos explica:

O primeiro é de Deutero-Isaias e define a função do templo como “casa de oração”, e sua abertura aos pagãos (Is 56,7 citado em parte); talvez uma segunda versão de Mc (Deutero-Marcos) já tenha omitido a outra parte “para todos os povos” (Mc 11,17; falta em Lc e Mt 21,13). O segundo texto é de Jeremias que denunciou o abuso do templo, como garantia de impunidade para continuar pecando: “Credes que é uma cova de bandidos este templo que traz o meu nome?” (Jr 7,11). Embora a ação pareça radical, não foi ilegal: Jesus não atrapalhou o próprio culto dos sacrifícios nem o questionou.

Jesus ensinava todos os dias no Templo. Os sumos sacerdotes, os mestres da Lei e os notáveis do povo procuravam modo de matá-lo. Mas não sabiam o que fazer, porque o povo todo ficava fascinado quando ouvia Jesus falar (vv. 47-48).

Esta notícia introduz os discursos que se seguem. O templo, como a sinagoga, não é só casa de oração (cf. At 3,1), mas também de ensino. Com a purificação, Jesus criou as condições para o templo servir de palco para o seu ensinamento (cf. 2,46s; 19,47; 21,37; 22,53; cf. Amós pregando no santuário de Betel, Am 7,13). Depois da ressurreição de Jesus, os apóstolos recomeçarão ensinando o evangelho no templo (At 5,12.20s.25.42). É ali onde se colocam as bases da doutrina da Igreja, ali se inicia a pregação missionária.

Com a purificação, Jesus não só atrapalhou os negócios da elite, mas se comportou como rei-messias. Neste ponto se apartam e contrapõem a hostilidade das autoridades (Sl 86,14) e a avidez do “povo todo” em escutar. Lc distingue o “povo” da “multidão”. O messias congrega o “povo” de Deus, a Igreja começa se formar, o verdadeiro Israel surge dentro do judaísmo, distinguindo-se pela confissão da fé em Jesus “Cristo” (messias). Os adversários são os três grupos do sinédrio (conselho supremo), “os sumos sacerdotes, os mestres da Lei e os notáveis do povo” (os últimos são uma expressão da comunidade de Lc, cf. At 25,2; 28,17). Eles têm que respeitar o povo cujo apoio precisarão para acusar Jesus diante do governador romano. Hão de esperar por uma oportunidade que surgirá depois.

O site da CNBB comenta: Existem muitas pessoas que se vangloriam do fato de participar ativamente da Igreja, possuir ministérios ou ter um cargo importante na comunidade eclesial. Mas infelizmente, existem pessoas que usam do fato da pertença na comunidade para substituir as relações de serviço por relações de poder, para dominar, oprimir, buscar promoção pessoal e desvalorizar as outras pessoas que fazem parte da comunidade. A religião para essas pessoas é uma forma não de adorar ao Deus vivo e verdadeiro, mas sim de promover o culto a si próprio e buscar a satisfação dos seus próprios interesses. A esses diz Jesus: “sofrerão a mais rigorosa condenação”.

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