18 de Setembro de 2020, Sexta-feira: Jesus andava por cidades e povoados, pregando e anunciando a Boa Nova do Reino de Deus

24ª Semana do Tempo Comum 

Leitura: 1Cor 15,12-20

Continuamos no cap. 15 no qual Paulo discursa sobre a ressurreição, porque alguns coríntios negaram a ressurreição dos mortos (v. 12). Uns pensaram que tudo terminava com a morte, outros que a alma se separava do corpo e continuava vivendo sozinha, outros “que a ressurreição já se realizou” (2Tm 2,16). A carta estabelece então o pressuposto central da fé, a ressurreição de Cristo, que dá o sentido à nossa vida e morte e motiva todos os nossos esforços (Rm 4,24s). A ressurreição de Cristo é um caso particular de uma série (vv. 12-19); é primícias e será consumação (vv. 20-28).

Ora, se se prega que Cristo ressuscitou dos mortos, como podem alguns dizer entre vós que não há ressurreição dos mortos? (v. 12).

Com a categórica profissão de fé, que Paulo acabou de apresentar (vv. 3-8), como se pode conciliar a opinião de alguns coríntios? Se negavam a ressurreição dos mortos, não seria por influência dos saduceus (improvável nessa região longe de Jerusalém; cf. Mc 12,18-27p; At 23,6-8), mas por uma concepção grega, na qual se considera a alma o essencial da pessoa e a carne como peso sujo, ou seja o corpo como prisão da alma (cf. Sb 9,15). Se na morte a “alma” se liberta do “corpo”, alcançando imortalidade (Sb 8,13.17), que sentido tem recuperá-lo, encerrar-se ou enterrar-se outra vez nele?

Se não há ressurreição dos mortos, então Cristo não ressuscitou. E se Cristo não ressuscitou, a nossa pregação é vã e a vossa fé é vã também (vv. 13-14).

Se a ressurreição dos mortos é impossível, o caso particular representado pela ressurreição de Cristo também o é. Outra interpretação seria: a ressurreição de Cristo só tem sentido enquanto primícias da nossa. Se esta for negada, a de Cristo já não tem sentido. Todavia, esta consideração só intervém a partir do v. 20.

A “pregação” e a “fé” que lhe corresponde têm por objetivo central a ressurreição de Cristo, e todos os demais aspectos da pregação e da fé só tem sentido em referência a ela. Caso não exista, “é vã” e tudo desmorona (mas Paulo vai concluir este capítulo no v. 58: “Vossa fadiga não é vã no Senhor”).

Nesse caso, nós seríamos testemunhas mentirosas de Deus, porque teríamos atestado – contra Deus – que ele ressuscitou Cristo, quando, de fato, ele não o teria ressuscitado – se é verdade que os mortos não ressuscitam. Pois, se os mortos não ressuscitam, então Cristo também não ressuscitou (vv. 15-16).

A ressurreição de Cristo é bem atestada, não é mentira nem ilusão. No início do cap., Paulo listou as testemunhas das aparições do ressuscitado (incluindo a si próprio, vv. 5-8).

E se Cristo não ressuscitou, a vossa fé não tem nenhum valor e ainda estais nos vossos pecados. Então, também os que morreram em Cristo pereceram (vv. 17-18).

Para Paulo, o que apaga o pecado é a vida nova do cristão no amor, como participação na vida de Cristo ressuscitado, e se expressa desde o batismo (cf. Rm 6,4-10; 7,4; 8,2). Se Cristo não ressuscitou, o pecado permanece, como também sua consequência, a perdição. O verbo empregado é “perecer”, que é deixar de existir; corresponde à raiz hebraica ‘bd, da qual se forma Abadon, nome do reino da morte. Sl 39,14 diz simplesmente “não ser”.

Se é para esta vida que pusemos a nossa esperança em Cristo, nós somos – de todos os homens – os mais dignos de compaixão (v. 19).

Outra tradução: “Se durante esta vida nada mais fizemos do que esperar em Cristo, somos os mais dignos de compaixão de todos os homens”.

A Bíblia do Peregrino (p. 2763) comenta: O argumento se baseia na correlação: a ressurreição de Cristo visa à nossa; se não aconteceu a nossa, a de Cristo não aconteceu. Se não aconteceu, nossa pregação é vã e falso testemunho (Ex 20,16; Dt 19,18; Pr 6,19), nossa fé carece do objeto e fundamento, nossa esperança é ilusória e trágica. “Os mais dignos de compaixão”, porque nos sacrificamos e renunciamos.

Renunciar aos prazeres do tempo presente seria uma burrice, se a morte pusesse fim a tudo (cf. 1,23; Sb 2).

Paulo não considera a imortalidade da alma fora da perspectiva da ressurreição da carne. Aqui fala só dos cristãos, e não propõe nem supõe a doutrina grega da sobrevivência da alma separada (libertada) do corpo (cf. a ideia de “imortalidade” em Sb 8,13.17).

Mas, na realidade, Cristo ressuscitou dos mortos como primícias dos que morreram (v. 20).

As “primícias” (primeiros frutos da colheita, cf. Ex 23,19; 34,26; Lv 23,10-14; Nm 15,19-21) eram oferecidas no primeiro dia (domingo para os cristãos) depois do sábado da Páscoa. A ideia de primícias implica um dom parcial e antecipado, penhor e garantia do futuro total. A consagração de uma parte privilegiada torna, de certo modo, todo o conjunto sagrado (cf. Rm 11,16).

“Primícias dos que morreram”, lit.: dos que adormeceram”. Chamando os mortos os que dormem, correlativamente, ressuscitar é despertar (Cl 1,18). O texto baralha os termos “despertar” e “levantar-se” (cf. Is 51,17).

Evangelho: Lc 8,1-3

Depois do encontro com a pecadora na casa do fariseu (7,36-50, evangelho de ontem), Jesus continua sua missão, andando e pregando pelas cidades e povoados da Galileia (cf. 4,43s; Mc 1,39; Mt 4,23; 9,35).

Jesus andava por cidades e povoados, pregando e anunciando a Boa Nova do Reino de Deus. Os doze iam com ele; e também algumas mulheres que haviam sido curadas de maus espíritos e doenças: Maria, chamada Madalena, da qual tinham saído sete demônios (vv. 1-2)

No seu caminho, Jesus vai formando uma comunidade nova, um povo de Israel renovado: os “doze” apóstolos (6,12-16) representam as doze tribos de Israel, descendentes dos doze filhos de Jacó; (Gn 35,22b-26; Ex 1,1-4; 1Rs 4,1-7). Jesus cumpre sua missão em companhia de um grupo de discípulos, como farão mais tarde os missionários da Igreja (At 8,14; 11,26; 13,2s; …). Mas os doze só receberão a responsabilidade da missão a partir de 9,1s.

No movimento de Jesus não há somente homens reconhecidos pela sociedade. Entre os doze encontramos um publicano (cobrador de impostos para os romanos, cf. Mt 9,9; 10,3) e um guerrilheiro (terrorista ou zelota: Simão Cananeu; cf. Lc 6,12p), marginalizados pela sociedade do seu tempo, como eram as mulheres. Elas também são parte integrante do grupo que acompanha Jesus. A presença dessas mulheres em volta dele é um fato excepcional no mundo palestinense (cf. Jo 4,27).

Enquanto em Mc, evangelho mais velho e fonte para Mt e Lc, aparecem mulheres acompanhantes de Jesus só no final, na morte e no túmulo de Jesus (Mc 15,40-16,8), em Lc elas tem um destaque desde o início (por ex. Maria, Isabel e Ana em Lc 1-2; Maria e Marta em 10,38-42). O primeiro lugar na lista das discípulas sempre ocupa a testemunha da ressurreição em todos os evangelhos: Maria Madalena. Como ela é chamada pelo nome do lugar (Magdala – madalena; cf. Nazaré – nazareno), pode se deduzir que não tinha família (marido, pai, filho) que se importava com ela. Ela se encontra ao pé da cruz (Mt 27,56p), no sepultamento de Jesus (Mt 27,61p) e no túmulo aberto (Lc 24,10p), onde ela será a primeira a ver o Ressuscitado (Jo 20,11-18; Mt 28,9s).

A ideia de que vários demônios podem possuir a mesma pessoa se encontra também em 8,27. 30 e 11,26. Isso deve ser uma representação judaica para significar o poder da influência de Satanás sobre o possesso (sobretudo com o número sete, que significa plenitude). Para Maria de Magdala, Lc não esclarece: é doença ou possessão? Ela é a pecadora anônima de 7,36-50 como às vezes se pensou e assim a tradição a identificou? Enquanto “certo fariseu” (7,36) foi identificado por “Simão” em 7,40-44, “certa mulher” (7,37) ficou sem nome, apenas conhecida como “pecadora” (7,37.39) a quem Jesus perdoou.

Joana, mulher de Cuza, alto funcionário de Herodes; Susana, e várias outras mulheres que ajudavam a Jesus e aos discípulos com os bens que possuíam (v. 3).

O cargo exato deste funcionário Cuza e a sua importância são mal definidos, como também a função de Manaém junto a Herodes em At 13,1. Vários têm visto uma relação entre a menção de Lc a esses personagens do séquito de Herodes e os dados que só ele reporta sobre o tetrarca e sua família (Lc 3,1; 13,31; 19,12-14; 23,7-15; At 4,27; 12). Joana, que se encontra também no túmulo vazio (24,10), teria sido uma informante para o evangelista?

As mulheres curadas servem a Jesus e a comunidade (a sogra de Pedro em 4,39; Tabita em At 9,36-42), como outras também, e não só com bens materiais (Maria e Marta em 10,38-42; Priscila em At 18,2.18.26 etc.). Mas para motivar seus leitores greco-romanos, Lc destaca a presença e a partilha de pessoas abastecidas (cf. 19,1-10; At 4,36s).

O site da CNBB comenta: Assim como Jesus não parava, mas vivia caminhando de um lado para o outro anunciando a chegada do Reino de Deus, a sua Igreja não pode ficar parada. Ela deve ir sempre ao encontro do outro, abrir novas fronteiras no trabalho evangelizador para que todos possam ter a oportunidade de conhecer o Reino de Deus, assim como livremente optar por ele. Para realizar a sua missão, a Igreja deve, assim como o divino Mestre, envolver o maior número possível de pessoas, sem distinção entre elas, que queiram colocar a sua vida a serviço do Reino de Deus, como fizeram as mulheres, conforme nos narra o Evangelho de hoje.

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