21 de Fevereiro de 2019, Quinta-feira: Ele dizia isso abertamente. Então Pedro tomou Jesus à parte e começou a repreendê-lo. Jesus voltou-se, olhou para os discípulos e repreendeu a Pedro

Leitura: Gn 9,1-13

Em toda esta narrativa do diluvio (Gn 6,5-9,17) se mesclam duas tradições (fontes), uma que usa o nome divino Yhwh, (“Javé” traduzido por “Senhor) e outra, sacerdotal (escrita durante o exílio na Babilônia, séc. 6) que usa o nome Elohim (“Deus”).

No relato mais antigo chamado javista (que seguimos ontem e antes de ontem), não se fala de uma aliança no final do dilúvio, mas da promessa de Javé que não irá mais amaldiçoar a terra e destruir todos os viventes por causa do homem (8,21s). Na tradição sacerdotal (9,1-17), Deus renova a bênção da fecundidade e senhorio do homem (vv. 1-2.7; cf. Gn 1,28-30 sacerdotal), mas muda as condições de vida: Como o homem (Noé na arca) salvou todas as espécies de animais, pode agora alimentar-se da carne deles (contra 1,29),

Como convém para uma tradição “sacerdotal”, apresenta-se no final da narrativa uma “benção” e o sinal da primeira “aliança” de Deus para com os seres humanos. Na interpretação judaica, esta aliança (vv. 8-17) com estes mandamentos (vv. 1-7) valem para todos os homens, não só para os judeus, também para os pagãos.

Deus abençoou Noé e seus filhos, dizendo-lhes: “Sede fecundos, multiplicai-vos e enchei a terra. Vós sereis objeto de medo e terror para todos os animais da terra, todas as aves do céu, tudo o que se move sobre a terra e todos os peixes do mar: eis que os entrego todos em vossas mãos (vv. 1-2).

Deus renova a benção da fecundidade (1,28, dirigida também aos animais em 1,22) e do senhorio sobre os animais (1,26.28; cf. Sl 8,7-9), porém, os seres humanos serão “objeto de medo e terror”, e os animais “são entregues nas vossas mãos” (cf. v. 3).

A Bíblia de Jerusalém (p. 42) comenta: O homem é de novo abençoado e consagrado rei da criação, como nas origens, mas não é mais um reinado pacífico. A nova época conhecerá a luta dos animais com o homem e dos homens entre si. A paz paradisíaca só reflorescerá nos últimos tempos (Is 11,6-9).

Tudo o que vive e se move vos servirá de alimento. Entrego-vos tudo, como já vos dei os vegetais (v. 3).

Agora entra a carne animal no cardápio. No paraíso, não se imaginava violência nem derreamento de sangue animal (homens e animais só comiam vegetais em 1,29s). Como Noé salvou as espécies dos animais através da sua arca, agora tem o direito de se alimentar deles. Atualizando: só se o ser humano se preocupar com a preservação das espécies da natureza, tem o direito de se alimentar delas. O ser humano foi colocado como administrador de Deus nesta terra, que deve cultivar e preservar, não destruir e exterminar: seu projeto (arca) de desenvolvimento deve incluir toda biodiversidade (cf. 1,26-28; 2,15; 6,19s).

Numa visão, uma voz do céu oferece a Pedro todos os tipos de animais como alimento, contrariando a distinção judaica entre animais puros e impuros (At 10,11-16). Para os pagãos (que Pedro irá acolher na Igreja), não valem todas as prescrições da lei de Moisés na aliança do Sinai, mas valem estas normas dado a Noé, representante da humanidade.

Contudo, não deveis comer carne com sangue, que é sua vida. Da mesma forma, pedirei contas do vosso sangue, que é vida, a qualquer animal. E ao homem pedirei contas da vida do homem, seu irmão (vv. 4-5).

“carne com sangue, que é sua vida” lit. no sopro (cf. 2,7) da qual (está) o seu sangue. Esta relação entre a vida e o sangue, cara à tradição “sacerdotal”, reencontra-se em Lv 17,11.14.

Só Deus dispõe de qualquer vida, pois é ele que a comunica. Deus reserva para si a soberania sobre a vida, ou seja, o sangue: o homem não deve comer o sangue dos animais, considerado a sede da vida (Lv 17,11-14; cf. At 15,20). A comida considerado legítima para os judeus, é kosher. O açougue judeu mata os animais deixando escorrer todo sangue.

Deus pedirá conta da vida (sangue derramado) do homem, “seu irmão” (cf. 4,10, o sangue de Abel, assassinado por seu irmão Caim)

A Nova Bíblia Pastoral (p. 29) comenta: Mas não se deve comer a “carne com sua vida”, “com seu sangue”, isto é, não extinguir sua espécie (cf. Dt 12,23-25), nem derramar o sangue dos semelhantes.

Quem derramar sangue humano, por mãos de homem terá seu sangue derramado, porque o homem foi feito à imagem de Deus (v. 6).

Deus vingará o sangue humano e delega, para tanto o próprio homem: a justiça de Estado, e também os “vingadores do sangue” (Nm 35,19). Prefigura-se a lei do Talião (Ex 21,23-25: “vida por vida, olho por olho, dente por dente, …”). Jesus reprende Pedro que quando pegou sua arma: “Guarda tua espada no seu lugar, pois todos os que pegam a espada, pela espada perecerão” (Mt 26,52).

A morte violenta de um ser humano não vai ficar impune, porque é a criatura mais trabalhada por Deus, mais evoluída, complexa e preciosa, “foi feito à imagem de Deus” (1,26s). O homem não pode atentar contra a vida de outrem sem atentar contra o próprio Deus, de quem o homem é imagem.

Quanto a vós, sede fecundos e multiplicai-vos, enchei a terra e dominai-a” (vv. 6-7).

No v. 7 concluem-se estes mandamentos válidos para toda humanidade repetindo o início da bênção de v. 1.

Disse Deus a Noé e a seus filhos: “Eis que vou estabelecer minha aliança convosco e com vossa descendência, com todos os seres vivos que estão convosco: aves, animais domésticos e selvagens, enfim, com todos os animais da terra, que saíram convosco da arca. Estabeleço convosco a minha aliança: nenhuma criatura será mais exterminada pelas águas do dilúvio, e não haverá mais dilúvio para devastar a terra” (vv. 8-11).

A Nova Bíblia Pastoral (p. 29s) comenta: Deus/Elohim estabelece uma aliança com a família do justo Noé e com os seres viventes, garantindo que não haverá outro dilúvio (9,1-17). A humanidade tem a oportunidade de um novo começo… O arco-íris deve lembrar que Deus é aliado de todos os seres vivos, pois que todos foram entregues (9,2) à proteção do ser humano, responsável por eles perante Deus.   

Aliança é uma promessa (geralmente mútua, as vezes com juramento ou documento), um contrato, um pacto. Na Bíblia, a iniciativa vem de Deus, o soberano é ele que se compromete a cumpri-la, é uma promessa/aliança mais unilateral do que bilateral, apesar da condição do povo cumprir a exigências (leis, decretos). Uma aliança pode ser concluída com um ritual (Gn 15) e/ou uma refeição (Ex 24).

E Deus disse: “Este é o sinal da aliança que coloco entre mim e vós, e todos os seres vivos que estão convosco, por todas as gerações futuras. Ponho meu arco nas nuvens como sinal de aliança entre mim e a terra” (vv. 12-13).

Esta é a primeira aliança de Deus com os homens na Bíblia. O sinal da aliança com Noé e todos os seres vivos é o “arco íris” (cf. Is 54,9 e o louvor da sua beleza em Eclo 43,11s), conveniente no final das chuvas; o dilúvio foi a primeira chuva relatada na Bíblia (antes só se menciona manancial e rios (cf. 2,5s.10-14). Como a pomba em 8,11, também o arco-íris pode ser um símbolo da paz. A Wikipédia comenta: Isso simbolizava que Deus havia terminado a sua “guerra” contra a humanidade. O aparecimento do arco-íris (Génesis 9:12-17) ao final da história do Dilúvio também representa a paz, por onde Deus direciona o seu “arco” contra si mesmo, um antigo sinal de cessão de hostilidade.

A Bíblia do Peregrino (p. 26) comenta: Deus tem suas armas, que são os meteoros (Eclo 39,28-30), empunha seu arco (Hab 3,9), dispara suas flechas (Sl 18,15). Terminada sua ação punitiva, solta o arco e o coloca em lugar bem visível, para demostrar suas intenções pacíficas. Assim começa a nova era: o cósmico, arco-íris; o biológico, fecundidade; o histórico, a aliança; o cultural, sangue, fundem-se todos numa dimensão universal.

O autor sacerdotal marca a sua história com três grandes alianças ou compromissos de Deus, cada qual com seu sinal. A primeira é com Noé e se estende por todo criação e nação, seu sinal é cósmico, o arco-íris. A segunda é com Abraão, e seu sinal é a circuncisão, interessará somente aos descendentes do patriarca (Gn 17). A terceira é com Moisés no Sinai, se limitará a Israel, exigindo, em contrapartida, a obediência à Lei (Ex 19,5; 24,7-8) e sobretudo a observância do sábado, “sinal de uma aliança eterna” (Ex 31,16s; cf. Gn 2,2s).

Evangelho: Mc 8,27-33

Chegamos a uma parte chave de Mc, por isso há de lembrar que é o evangelho mais antigo, e ao mesmo tempo o mais curto com apenas 16 capítulos. Não apresenta a infância de Jesus nem as aparições do ressuscitado (16,9-20 é um anexo posterior). Mc começa com o batismo de Jesus que revela (somente ao próprio Jesus) quem ele é: o Filho de Deus (1,10s). Isto é a meta deste Evangelho: mostrar que Jesus é o “Cristo, Filho de Deus” (1,1), mas em que sentido?

Na primeira metade do livro, Jesus demonstra seu poder, cura e faz milagres na Galileia até ser aclamado de “Cristo/Messias” por Simão Pedro (8,29). Mas a partir daí Jesus começa anunciar sua paixão e morte em Jerusalém (8,31; 9, 31, 10,33). O segredo do messias e a incompreensão até dos próprios discípulos são características do Ev de Mc.

Jesus partiu com seus discípulos para os povoados de Cesareia de Filipe (v. 27).

Antes de ir ao sul para cumprir sua missão Jerusalém, Jesus e os discípulos encontram-se no ponto mais setentrional de sua trajetória, em Cesareia de Filipe, que era uma cidade construída junto às nascentes do Jordão, em 2-3 a.C., por Herodes Filipe em honra de César Augusto.

No caminho perguntou aos discípulos: “Quem dizem os homens que eu sou?” Eles responderam: “Alguns dizem que tu és João Batista; outros que és Elias; outros, ainda, que és um dos profetas” (v. 28).

A pergunta de Jesus força os discípulos a fazerem uma revisão de tudo o que ele realizou no meio de povo. Esse povo não entendeu quem é Jesus.

O título “profeta”, que Jesus não reivindicou senão de maneira indireta e velada (Mt 13, 57 par; Lc 13,33), mas que as multidões lhe deram sem hesitar (Mt 16,14 par; 21,11.46; Mc 6,15p; Lc 7,16. 39; 24,19; Jo 4,19; 9,17), tinha valor messiânico, pois que o espírito de profecia, extinto desde Malaquias, devia reaparecer, segundo a opinião dominante entre os judeus, como sinal da era messiânica, seja na pessoa de Elias (Mt 17,10-11p), seja sob a forma de uma efusão geral do Espírito (At 2,17-18.33). De fato, no tempo de Jesus sugiram muitos (na maioria falsos) profetas (Mt 24,11.24p; etc.). Quanto a João Batista, esse foi realmente profeta (Mt 11,9p; 14,5; 21,26p; Lc 1,76), mas como precursor vindo com o espírito de Elias (Mt 11,10p. 14; 17,12p); ele negou (Jo 1,21) ser “o profeta”, que Moisés tinha predito (Dt 18,15). Este profeta, a fé cristã só reconheceu na pessoa de Jesus (At 3,22-26; Jo 6,14; 7,40). Contudo, por ter-se disseminado na Igreja primitiva o carisma da profecia, após o Pentecostes (At 11,27), este título deixou, bem cedo, de ser aplicado a Jesus, cedendo o lugar a títulos mais específicos da cristologia.

Então ele perguntou: “E vós, quem dizeis que eu sou?” Pedro respondeu: “Tu és o Messias” (v. 29).

Os discípulos, porém, que acompanham e veem tudo que Jesus tem feito, reconhecem agora, através de Pedro, que Jesus é “o Messias”.

“Cristo” não é nome, é título, tradução grega da palavra hebraica/aramaica messiah e quer dizer, “ungido”, consagrado por uma unção (crisma – a unção com óleo; cristo – o ungido). Quem foi ungido no AT (Antigo Testamento)? Geralmente reis, sacerdotes e raramente profetas (só 1Rs 19,15-16; Is 61,1; cf. Lc 4,18). Quanto aos membros do sacerdócio, não parece que a unção lhes tenha sido conferida antes da época persa. Os textos sacerdotais antigos a reservavam ao sumo sacerdote (Ex 29,7.29; Lv 4,3.5.16; 8,12). Depois foi estendida a todos os sacerdotes (Ex 28, 41; 30,30; 40,15; Lv 7,36; 10,7; Nm 3,3).

Nos textos históricos antigos, a unção é reservada ao rei (1Sm 10,1s; 16,1-13; 1Rs 1,39; 2Rs 9,6; 11,12). Esta unção confere ao rei um caráter sagrado: ele é o Ungido de Javé (1Sm 24,7; 26,9.11.23; 2Sm 1,14.16; 19,22). Aplicado muitas vezes pelos Salmos a Davi e à sua dinastia, este título tornou-se o título por excelência do rei do futuro, o messias, do qual Davi era o protótipo, e o NT (Novo Testamento) o atribui a “Cristo” Jesus.

A esperança (profecia) do messias inicia-se mil anos antes: em 2Sm 7,12-16 Deus promete a Davi que sua dinastia e seu trono permanecerá para sempre. O oráculo ultrapassa o sucessor de Davi, Salomão, e deixa entrever um descendente privilegiado em que Deus se comprazerá. É o primeiro elo das profecias sobre o messias, “filho (descendente) de Davi” (Is 7,14; 9,5-6; 11,1-5; 42,1; Jr 23,5-6; Mq 4,14; Ag 2,23). Mas a maioria dos sucessores no trono de Davi não seguiu os caminhos de Deus (cf. 1-2Rs), provocando assim a destruição e o exílio. Depois do exílio não havia mais rei da descendência de Davi em Israel. O rei Herodes não era nem judeu (era idumeu, povo vizinho ao sul da Judeia), instituído por imposição de César Augusto. Mas a esperança de um messias salvador que libertasse o povo dos seus opressores igual a Davi, se mantinha viva (e existe até hoje entre os judeus).

Jesus proibiu-lhes severamente de falar a alguém a seu respeito (v. 30).

Messias ou Cristo é designação judaica do salvador esperado. Mc compreende esse título no sentido novo que lhe confere sua aplicação a Jesus (9,41; 12,35-37). Em Mc só um homem reconhece Jesus como Messias: Pedro, mas é logo intimado ao silêncio (8,29-30; em Mt 16,17-19 é instituído “Papa” primeiro). Jesus só aprova esse título Messias/Cristo durante seu processo (14,61-62).

Estas imposições de silêncio são particularmente frequentes em Mc (cf. 1,34; 9,9; a respeito dos milagres, cf. também 1,45; 5,43; 7,36s). Muitas vezes tal imposição não é respeitada, como se a irradiação do poder do Filho de Deus não pudesse ser contida. Aos demônios (1,25.43; 3,12), aos curados (1,44; 5,43; 7,36; 8,26) e mesmo aos apóstolos (8,30; 9,9), Jesus impõe, sobre sua identidade messiânica, uma recomendação de silêncio que só depois de sua morte será suspensa (Mc 9,9p; Mt 10,27p).

Como vulgarmente se fazia do messias uma ideia nacionalista e guerreira, muito diferente daquela que Jesus queria encarnar, ele precisava usar de muita prudência, pelo menos nas terras de Israel (cf. 5,19), a fim de evitar infelizes mal-entendidos sobre sua missão (cf. Jo 6,15; Mc 4,10-13p). Essa recomendação do “segredo messiânico” não corresponde a uma tese artificial inventada extemporaneamente por Marcos, como alguns têm afirmado; corresponde, sim, a uma atitude histórica de Jesus, tema sobre o qual, de fato, Marcos insiste, ele mesmo escrevendo durante a guerra Judaica em 70 d.C. Essa recomendação ocorre em Mt e Lc (que escrevem 10 aos depois da guerra Judaica) só nas passagens paralelas a Mc (exceção Mt 9,30), e, com frequência, chegam mesmo a omiti-la.

Esta reação de Jesus não implica, segundo Mc, nenhuma desaprovação quanto ao título de Cristo, que ele vai aceitar em 14,62. Este título fica incluído na norma do silêncio, tanto quando ao “Filho de Deus” (como era considerado o messias, cf. 2Sm 7,14; Sl 2,7) e as demais expressões da fé da Igreja (cf.1,34; 1,44) prematuras, segundo Mc, antes que a missão de Jesus se conclua pela morte e ressurreição (cf. 4,22; 9,9). Para compreender as insistências de Mc no segredo de Jesus, é preciso levar em conta não só as ambiguidades dos títulos messiânicos judaicos, insuficientes para definir a missão de Jesus, como também os progressos da fé da Igreja primitiva e o empenho de Mc em reler a vida terrestre de Jesus à luz da revelação da Páscoa.

Em seguida, começou a ensiná-los, dizendo que o Filho do Homem devia sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes e doutores da Lei, devia ser morto, e ressuscitar depois de três dias (v. 31).

Doravante o ensinamento de Jesus versa sobre o modo pelo qual deve cumprir sua missão (vv. 31-33; 9,30-32; 10,32-34). Tal ensinamento, reservado aos discípulos, empresta unidade a esta parte do livro até 10,45. Caracteriza uma segunda fase da revelação de Jesus, desta vez explícita (v. 32), após a das parábolas e milagres.

“O Filho do Homem deve sofrer muito”. Jesus junta a expressão apocalíptica de “Filho do Homem” (cf. Dn 7,13s) com a profecia de Is 53 sobre o “Servo de Javé”, que devia morrer para salvar seu povo dos pecados. Este texto profético Is 53 sobre o sofrimento do messias (cf. Is 42,1; 61,1), chamado o quarto canto do Servo de Javé, é o ápice de Deutero-Isaias e foi usado muito no anúncio dos primeiros cristãos (citado em Mt 8,17; Lc 22,37; At 8,30-35; 1Pd 2,21-25; cf. Mt 26,28.63; 27,29-31.38s.60; Jo 1,29; 19,5 etc.) para identificar a paixão de Cristo (cf. Sl 22).

“Ser rejeitado pelos anciãos, sumos sacerdotes e escribas”, trata-se dos membros do Grande Sinédrio, colégio de 71 membros, que governava o povo judeu. Ele constava dos representantes da aristocracia leiga (“anciãos”), das grandes famílias sacerdotais (“sumos sacerdotes”), entre os quais se elegia o Sumo Sacerdote, e dos “escribas” ou intérpretes da lei (na maioria com tendência farisaica). O Sinédrio era presidido pelo Sumo Sacerdote em exercício, Caifás. Aqui, Mc não diz aqui de que maneira Jesus será morto, mas nos versículos seguintes já deixa claro que a pena de morte será a crucificação (v. 34).

“Ressuscitar depois de três dias”, pode significar “no terceiro dia”, contando sexta-feira, sábado e domingo (o Tríduo Pascal da liturgia começa na Quinta-feira Santa e termina no Domingo da Páscoa). O terceiro dia é tradicionalmente o dia da salvação (Os 6,2; Jn 2,1; Mt 12,40).

Ele dizia isso abertamente. Então Pedro tomou Jesus à parte e começou a repreendê-lo. Jesus voltou-se, olhou para os discípulos e repreendeu a Pedro, dizendo: “Vai para longe de mim, Satanás! Tu não pensas como Deus, e sim como os homens” (vv. 32-33).

A reação de Pedro (cf. 2Sm 20,20; 23,17; 1Cr 11,19) ilustra bem a dificuldade de associar o título de Cristo às perspectivas da paixão e da morte. Talvez isto esclareça a preterição, em Mc, desse título (além dos de Santo e Filho de Deus) até a paixão: o centurião reconhece que o crucificado “era Filho de Deus” (15,39; cf. 1Cor 1,22-24). Opondo-se ao padecimento de Jesus, Pedro endossa o papel de “Satanás” (cf. Jó 1-2), que tenta desviar Jesus da obediência a Deus. Ele abandona a sua posição de discípulo que deve “seguir”, ou seja, caminhar atrás de Jesus (cf. 1,17,20; 8,34).

Em Mc, cada anúncio da paixão é seguido primeiro por uma falta de compreensão dos discípulos, e em seguida por palavras de Jesus, que tira as consequências para seus discípulos (8,32-38; 9,32-41; 10,35-45; cf. Lc 9,23 “para todos”): “renunciar a si mesmo, tomar a sua cruz e seguir” (v. 34).

O site da CNBB resume: A resposta que damos à pergunta que Jesus faz aos discípulos e a cada um de nós no Evangelho de hoje mostra principalmente o significado que ele tem em nossas vidas e exige coerência no relacionamento que nós temos com ele. Para Pedro, Jesus é o Messias, o enviado de Deus, o Ungido, o Salvador, mas Pedro é incoerente no relacionamento, pois não quer submeter-se a ele e aceitar os caminhos da salvação. Assim também acontece conosco: dizemos que Jesus é amor, mas não amamos; que é Deus, mas não o servimos; que é o enviado do Pai, mas não o ouvimos; que é nosso irmão, mas não criamos fraternidade.

Voltar