21 de Junho de 2020, 12º Domingo do Tempo Comum: Não tenham medo daqueles que matam o corpo, mas não podem matar a alma. Pelo contrário, temei aquele que pode arruinar a alma e o corpo no inferno (v. 28).

12º Domingo do Tempo Comum  

1ª Leitura: Jr 20,10-13

A 1ª leitura foi escolhida em vista do evangelho que fala das perseguições, do medo e como superá-lo. A leitura mostra uma das páginas mais trágicas do livro de Jeremias, é a última das cinco confissões de Jeremias (11,18-12,6; 15,10.15-20; 17,14-18; 18,18-23; 20,7-18). O profeta sabe que foi chamado por Deus e não pode deixar de denunciar injustiças e anunciar calamidades, mas sofre com esta missão difícil.

(Jeremias disse:) “Eu ouvi as injúrias de tantos homens e os vi espalhando o medo em redor: ‘Denunciai-o, denunciemo-lo.’ Todos os amigos observavam minhas falhas: ‘Talvez ele cometa um engano e nós poderemos apanhá-lo e desforrar-nos dele’” (v. 10).

Até os parentes de Jeremias (cf. 11,18-23; 12,6) e “todos os amigos (lit. os homens da minha paz)” observavam as falhas do profeta para apanhá-lo. Tantos homens o ameaçam “espalhando o medo em redor”, lit. “terror de todos os lados” (v. 10; 6,25; 46,5; 49,29; cf. Sl 31,14), querendo denunciar, prender, torturar e eliminar o profeta.

Mas o Senhor está ao meu lado, como forte guerreiro; por isso, os que me perseguem cairão vencidos. Por não terem tido êxito, eles se cobrirão de vergonha. Eterna infâmia, que nunca se apaga! O Senhor dos exércitos, que provas o homem justo e vês os sentimentos do coração, rogo-te me faças ver tua vingança sobre eles; pois eu te declarei a minha causa (vv. 11-12).

Jeremias se sente pressionado por dois lados: por um lado pelos homens aos quais pode passar sua mensagem só sob perigo de morte; por outro lado pelo próprio Deus: “Tu me seduzistes Senhor e eu me deixei seduzir, tu me forçaste, me violaste” (v. 7; cf. as expressões à luz da legislação de Dt 22,23-29), como o Senhor tivesse atraído o profeta até seduzi-lo. Recorde-se que o Senhor tinha proibido o profeta de se casar (16,1). Jeremias seduzido por belas promessas, agora se encontra abandonado e feito zombaria do povo (cf. Sl 22).

Mas Jeremias espera no “Javé (Senhor) dos exércitos” (v. 12; 32,18; estes “exércitos” podem ser as estrelas ou o exército de Israel ligado à arca da aliança; cf. Gn 2,1; 1Sm 1,3; 4,4; 2Sm 6,2; Is 6,3 etc.). Que o Senhor não abandone seu mensageiro, mas o defenda como “forte guerreiro” (v. 11; Is 42,13; Sf 1,14), como já prometeu na sua vocação (1,19). Os seus inimigos “se cobrirão de vergonha. Eterna infâmia que nunca se apaga” (v. 11; 17,18; 23,40; Sl 40,15).

O Senhor também é justo juiz que “vê os rins (sentimentos) e o coração”, pois a ele Jeremias confia sua causa (v. 12; 11,20; 17,10; cf. 1Sm 16,7; Sl 7,10; 26,2; 1Cr 28,9; 2Cr 16,9; 1Ts 2,4; 1Pd 2,23; Ap 2,23).

A Tradição Ecumênica da Bíblia (p. 748) comenta: Jeremias sabe que todo crime deve ser punido e que toda ação será compensada por algum sofrimento … o princípio do equilíbrio das transações deve predominar sempre e em todo lugar nas interações entre os membros da sociedade. Jeremias, contudo, não executa uma ação punitiva por sua conta: deixa-a nas mãos do Senhor (cf. Dt 32,35; Rm 12,19). – Jesus e seu seguidor Estevão admitirão implicitamente este princípio, porém intercederão pelos seus carrascos (Lc 23,34; At 7,60…).

Cantai ao Senhor, louvai o Senhor, pois ele salvou a vida de um pobre homem das mãos dos maus” (v. 13).

O pedido de justiça e canto de vitória se inspiram na linguagem dos salmos (cf. Sl 35,4.8-9.27; 37,5; 96,1; 97,10; 148,1 etc.). Mas o estado emocional de Jeremias sempre está entre esperança e desespero. Logo cai de novo em depressão e suas palavras seguintes são: “Maldito o dia em que nasci, o dia em que minha mãe me deu à luz não seja abençoado” (v. 14). No AT, os heróis são humanos demais e não escondem seus sentimentos.  Admirável é o fato de Jeremias aguentar esta situação por tantos anos sem esmorecer na sua missão.

 

2ª Leitura: Rm 5,12-15

Ouvimos hoje um texto que se tornou importante na evolução da doutrina do “pecado original” na igreja ocidental por St.º Agostinho. Ainda que não se encontre este termo na carta de Paulo, é conceito válido de reformular o conteúdo central desta leitura. Uns detalhes deste texto, porém, são difíceis de traduzir e interpretar (cf. o comentário extenso na Tradução Ecumênica da Bíblia, p. 2180s).

O pecado habita o homem (7,14-24); ora, a morte, castigo (salário) do pecado (6,23), entrou no mundo a partir da falta de Adão (Sb 2,23s: pela inveja do diabo); disso Paulo conclui que o próprio pecado entrou na humanidade por meio desta falta inicial (pecado original); Paulo vê um paralelo entre a obra nefasta do primeiro Adão e a reparação superabundante de Cristo, o “segundo Adão” (vv. 15-19; 1Cor 15,21s.25). É na qualidade de novo chefe da humanidade, imagem na qual Deus restaura sua criação (8,29; 2Cor 4,4.6; 5,17) que Cristo salva a humanidade.

Nossa liturgia só apresenta os primeiros vv. do trecho e omite os vv. 16-21. Em todo trecho é central a relação numérica “um só” e “todos”.

O pecado entrou no mundo por um só homem. Através do pecado, entrou a morte. E a morte passou para todos os homens, porque todos pecaram (v. 12).

O texto original começa com um “como”, mas termina sem membro correspondente. A Bíblia do Peregrino (p. 2714) comenta: Como se Paulo se detivesse para limpar o terreno antes de chegar à sua afirmação central. Contudo, já no primeiro v. deixa estabelecido um fato, “por um só homem entrou”, sem tentar explicá-lo. Também afirma sem mais a vinculação entre pecado e morte (cf. 1Jo 4,10). Todos pecaram, também pessoalmente: 2,12; 3,9.23; 1Cor 6,18; Ef 4,26). Ainda que se difunda como um contágio, não é uma fatalidade, e sim uma responsabilidade (cf. Tg 1,13-15).

Paulo expõe a libertação do pecado e da morte, na grande comparação entre Adão e Cristo. “Adão” (v. 14) em hebraico significa simplesmente “homem, ser humano”, não é um nome próprio, mas um protótipo.

“Porque todos pecaram”, sentido controvertido: seja por uma participação no pecado de Adão (“em Adão todos pecaram”), seja por seus pecados pessoais (3,23). A Bíblia de Jerusalém (p. 2127) comenta: Neste caso, a expressão grega se traduziria melhor “mediante o fato de que”, introduzindo a condição realizada que permitiu à morte (eterna) atingir todos os homens. Com efeito, no caso do adulto, único aqui visado, o poder do pecado que entrou no mundo com Adão produziu seu efeito de morte através dos pecados pessoais que ratificam de certa maneira a revolta de Adão.

Pecado e Morte são personificações literárias das quais se predicam os verbos: “entrou, passou, difundiu-se, estava em, reinou”. Podemos comparar estas personificações com outras imagens, como a serpente de Gn 3 – não citada por Paulo (desmitizada em Eclo 21,2) ou com o animal acuado que espreita (Gn 4,7); a pastora Morte em Sl 49,15; o oráculo em Sl 36,2.

Deve-se entender pecado e morte em sentido forte: Pecado que escraviza (6,12) e faz romper com Deus. O pecado separa o homem de Deus. Esta separação já é uma “morte”: morte espiritual e “eterna”, da qual a morte física é sinal (cf. Sb 1,13; 2,24; Hb 6,1). Morte total não é só física, mas a primeira e a “segunda” (1Cor 15,56; Ap 2,11). Nos próximos vv. 17-21, deve-se entender o contraste da dupla Pecado/Morte, isto é Justiça/Vida, no sentido forte de relação positiva com Deus (justiça) e “vida eterna” (v. 21).

A transgressão de um só levou a multidão humana à morte, mas foi de modo bem mais superior que a graça de Deus, ou seja, o dom gratuito concedido através de um só homem, Jesus Cristo, se derramou em abundância sobre todos (v. 15b).

Nossa liturgia traduz por “transgressão” o grego paráptoma cuja etimologia é “queda mais além”. Seu oposto não é manter-se de pé, mas receber um favor, “o dom gratuito” que, por vir de Deus e ser concedido por meio de Cristo, supera imensamente a “queda” humana. “A multidão à morte” (lit.: morreu) inclui todos os seres humanos (cf. v. 18; Mc 10,45p; Is 53,11s), mas o dom ultrapassou o delito.

Entre todas as outras interpretações, há uma autorizada pelo Concílio de Trento no ano 1546 (DS 1510-1516) que a Bíblia do Peregrino (p. 2714) comenta: Em resumo afirma: que o pecado de Adão não afetou a ele apenas, mas toda a sua descendência; e não só nas consequências de penas e morte, mas também no próprio pecado; que se transmite por propagação e não por imitação; que o único remédio é Cristo.

Esta doutrina do “pecado original”, desenvolvida por St.º Agostinho a partir de Rm 5 (e sobre o batismo do qual Paulo fala em Rm 6), teve efeitos colaterais negativas como interpretações que favoreceram conversões e batismos à força e o medo de que crianças não batizadas não pudessem entrar no céu. Bento XVI corrigiu este último detalhe, abolindo o “limbo”, espaço imaginado (antessala do paraíso) onde ficariam as crianças mortas que não foram batizadas.

Mas há de assegurar dois pontos importantes da doutrina do pecado original: Todo ser humano nasce dentro de uma história marcada por um complexo de limitações e culpas e não consegue simplesmente se ausentar ou redimir desse por si próprio, portanto é necessitado de salvação (remissão, redenção, libertação). Todo ser humano, porém, sem exceção, pode ser redimido pela fé em Cristo.

 

Evangelho: Mt 10,26-33

Continuamos ouvindo o segundo grande discurso de Jesus no evangelho de Mt com o tema da missão dos apóstolos. Jesus falava da tarefa de anunciar o Reino de Deus, mas também de perseguições que podem surgir (e surgem o tempo de Mt) de dentro (sinagogas) e ou de fora (reis, governadores). Como Jesus, os discípulos não devem desistir por medo, mas dar testemunho.

(Naquele tempo, disse Jesus a seus apóstolos:) Não tenhais medo dos homens, pois nada há de encoberto que não seja revelado, e nada há de escondido que não seja conhecido (v. 26; cf. Mc 4,22; Lc 12,3).

É preciso superar o medo na perseguição. Jesus talvez tenha transformado um ditado popular “Tudo acaba aparecendo à luz do dia”, mas refere-se à vinda do Reino (v. 7). A questão é, quando se revelará a verdade? Aqui na história ou no juízo final? Pode-se pensar na história (p. ex. no Edito de Milão pelo qual César Constantino encerrou a perseguição aos cristãos no Império Romano em 313 d.C.). Mt pensa mais no juízo final (cf. vv. 15.23.28-31.32s.39.41s)

O que vos digo na escuridão, dizei-o à luz do dia, e o que escutais ao pé do ouvido, proclamai-o sobre os telhados (v. 27).

O servo da sinagoga anunciava o início do sábado tocando o chofar (chifre do carneiro) do telhado mais alto da cidade. Jesus não podia transmitir a sua mensagem senão de maneira velada, porque os seus ouvintes não podiam compreendê-la (cf. o segredo messiânico em Mc 1,34; etc.) e porque ele mesmo não tinha ainda acabado a sua obra, morrendo e ressuscitando. Mais tarde os seus discípulos podiam entender e deviam proclamar tudo sem medo algum. Hoje a imagem do anúncio sobre os telhados corresponde à evangelização pelos meios de comunicação atuais (antenas de televisão, rádio, celular e internet).

A mensagem de Jesus não é esotérica, embora, por enquanto, seja comunicada a um círculo escolhido. O medo não deve induzir a escondê-la (Jr 1,8.17). Tampouco é propriedade exclusiva. Embora se aprenda privadamente, está destinada aos outros. Como diz Ben Sirac: “Farei brilhar meu ensinamento como aurora para que ilumine as distâncias” (Eclo 24,32). A comparação indica o caráter expansivo da mensagem. O sentido das mesmas palavras em Lc 12,3 é inteiramente diferente: os discípulos não devem imitar a hipocrisia dos fariseus, porque tudo quanto eles quiserem ocultar acabará por ser conhecido ao mesmo modo. Assim o que importava é que falassem abertamente.

Não tenham medo daqueles que matam o corpo, mas não podem matar a alma. Pelo contrário, temei aquele que pode arruinar a alma e o corpo no inferno (v. 28).

Uma palavra dessa mostra que os membros da comunidade estavam sendo perseguidos e contavam com o perigo concreto do martírio (cf. 2Mc 6,30). Aparece aqui a distinção grega de uma “alma” imortal e um “corpo” que os homens podem matar, mas o judeu-cristão Mt distingue entre uma vida simplesmente biológica e a vida plena que é transcendente. Na Bíblia, a palavra grega psykhé equivale muitas vezes a vida (v. 39; 16,25s). Aqui, Mt não identifica simplesmente alma e vida; o corpo é aquilo pelo qual o ser humano se exprime, a alma é o princípio que o mantém em relação com o Deus da vida. Interessante é que a alma não é imortal aqui como era tida na antropologia grega. Deus pode arruinar também a alma no inferno (cf. Ap 20,6; 21,8). Este detalhe que parece contrariar a doutrina cristã da imortalidade da alma interpretava-se assim: Deus pode matar a alma humana, mas não o faz, ou: a palavra não é “matar”, mas fazer perecer, destruir, “arruinar”, o que equivale o castigo eterno no inferno. O fogo é símbolo do castigo escatológico, definitivo (cf. Is 66,24; Mc 9,48).

Quem faz arruinar o corpo e a alma no inferno, não é o diabo, mas Deus, e por isso devemos temê-lo. O “temor de Deus”, porém, está relacionado ao amor a Deus (cf. Dt 6,5; 10,12.20; 13,5). O temor e o amor convergem na obediência à sua vontade (declarada na Lei, cf. 6,10; 12,50; 22,36s; Jo 14,21.23; 1Jo 4,16-18). Teologicamente, o temor a Deus está relacionado ao seu poder imenso, sua soberania. O que consola os discípulos não é a imortalidade da alma, mas a soberania de Deus, enquanto o poder dos homens está limitado apenas ao corpo visível.

Não se vendem dois pardais por algumas moedas? No entanto, nenhum deles cai no chão sem o consentimento do vosso Pai. Quanto a vós, até os cabelos da cabeça estão todos contados. Não tenhais medo! Vós valeis mais do que muitos pardais (vv. 29-31).

Com dois exemplos (pardais, cabelos), Jesus apresenta o poder de Deus que se manifesta na sua providência (cf. 6,26-30p: aves e lírios). O Deus todo-poderoso no céu, que é “vosso Pai”, cuida também dos humildes e pequeninos (cf. Is 66,1s), até dos pardais. Pardais eram as aves mais baratas no mercado, o frango dos pobres; o preço de dois pardais correspondia ao de um pão. Para estipular o valor de um ser humano precisaria de muitos pardais. “Não tenhais medo! Vós valeis mais do que muitos pardais” (v. 31). De ambos, Deus se ocupa paternalmente: um filho de Deus é mais que qualquer animal (cf. Sl 8; 36,7-10). “Nenhum deles cai no chão”, ou seja, nenhum discípulo morre “sem o consentimento do vosso Pai”, o Pai estará presente; sua morte não será em vão ou fortuita, terá um significado.

“Quanto a vós, até os cabelos da cabeça estão todos contados” (v. 30). Os cabelos da cabeça são minúsculos e exemplo proverbial de algo incontável (Sl 40,13; 69,5). Tudo está nas mãos de Deus (Sl 31,6.16). Em Lc, as testemunhas de Jesus não perderão “um só fio de cabelo” (cf. Lc 21,18; cf. 12,7; 1Sm 14,45). Deus, o Senhor sobre o corpo e a alma, é também um Pai que ama e sustenta a comunidade no sofrimento, como ela é sustentada pelo Espírito (v. 20) e pelo Senhor ressuscitado (28,20). O poder e o amor de Deus estão juntos, influem o temor de Deus e libertam do medo diante os homens.

Poderia concluir que nada nos acontece por acaso ou sem a vontade do nosso Pai celeste. Mas não quer dizer que Deus queira as guerras, os assaltos, as traições e mortes violentas, etc. O sentido da frase de Jesus é consolar-nos em grandes perigos com a afirmação de que Deus é nosso Pai. Não devemos interpretar essa frase fora do seu contexto e não insistir na especulação sobre a realidade do mundo e o mistério de Deus que ultrapassa os nossos limites (teodiceia).

Portanto, todo aquele que se declarar a meu favor diante dos homens, também eu me declararei em favor dele diante do meu Pai que está nos céus. Aquele, porém, que me negar diante dos homens, também eu o negarei diante do meu Pai que está no céu (vv. 32-33).

Esta frase já concluiu o tema na fonte Q (cf. Lc 12,8-9) que Mt usava aqui. Ele só destaca que o Senhor do juízo será o mesmo “Pai que está no céu” que cuida dos seus e a quem se dirigem na oração (cf. 6,5-14), em contraste está a ruptura em seguida com os pais (familiares) aqui na terra (vv. 35-37).

A “revelação” decisiva (v. 26) acontecerá neste juízo final. Diante do Pai que está no céu, caberá a Jesus como testemunha (“darei testemunho”) reconhecer os seus ou os estranhos (cf. 25,12). O testemunho do discípulo é sua prática da fé que pode incluir o derramar do próprio sangue (vv. 26-31; cf. Lc 12,8s), unindo o próprio destino ao de Cristo. “Negar” Jesus é dizer: “Não conheço este homem” (Pedro em 26,34.74); aos que o renegam, Jesus dirá por sua vez: “Eu não vos conheço” (7,23; 25,12). Não admite a neutralidade nem as concessões, afirma a reciprocidade (no entanto, perdoa a Pedro em Jo 21,15-19; cf. Mt 16,18s). Aos que o seguem na prática da misericórdia, dirá: “Vinde, benditos do meu Pai” (25,34). Jesus é mais do que uma testemunha neste juízo (“eu”), mais do que intercessor (cf. Rm 8,34; 1Jo 2,10), ele é também o “Filho do Homem” a quem o Pai entregou a sentença e o Reino (25,31-46; cf. Lc 12,8s; Dn 7,13s). Sua palavra decide sobre vida e morte, salvação ou condenação. É a primeira vez que Mt fala da salvação dos discípulos no juízo.

Na história da Igreja, nosso texto animou a confissão de fé diante dos juízes e carrascos deste mundo em tempos de perseguição, depois inspirou a profissão da doutrina ortodoxa (doutrina reta: Cristo é Deus) frente às heresias (Cristo é só homem, etc.). Hoje, o texto convida a professar a nossa fé através da prática da justiça (cf. 6,33), testemunhar Jesus numa existência humilde, indefesa e sofrida, e não ter medo dos homens, mas assumir a missão de discípulos missionários com coragem contando com a providência e o amor do Pai e sua recompensa no Reino.

O site da CNBB comenta: Aos homens, é impossível entrar no Reino de Deus, mas para Deus, tudo é possível. A salvação não é obra nossa, é ação divina sobre todos nós e é gratuidade do amor misericordioso do nosso Deus que vem ao nosso encontro. Mas, se é obra divina, por que devemos desenvolver o trabalho evangelizador? É porque o próprio Deus, que é amor infinito e poderia ter feito tudo sozinho, quis que todos nós participássemos da divina missão da salvação da humanidade, fazendo de todos nós colaboradores seus. Para nós, cabe corresponder a esse amor através do nosso sim e do anúncio desse Deus amoroso a todas as pessoas.

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