23 de Setembro de 2020, Quarta-feira: Os discípulos partiram e percorriam os povoados, anunciando a Boa Nova e fazendo curas em todos os lugares (v. 6).

25ª Semana do Tempo Comum 

 Leitura: Pr 30,5-9

Neste penúltimo capítulo de Pr temos uma novidade: autores estrangeiros e formas novas; desponta uma crítica da atividade sapiencial. Os vv. 1-14 são a sexta coleção em Pr e atribuídos a um estrangeiro: “Agur, filho de Jaces, de Massa” (v. 1a). Provavelmente é um empréstimo da sabedoria oriental. Pelos nomes próprios presentes, pensa-se numa fonte sabeu-mineia.

A Palavra de Deus é comprovada. Ele é um escudo para os que nele se abrigam. Não acrescentes nada às suas palavras, para que ele não te repreenda e passes por mentiroso! (vv. 5-6).

A resposta às perguntas retóricas precedentes (“Quem subiu aos céus e de lá desceu?… Quem fixou os limites da terra?…”, vv. 3-4; cf. Jó 38,1-38; Is 40,12-14; Br 3,29s) é a “Palavra de Deus”, a revelação; essa palavra é pura, “comprovada”, não tem escória (Sl 12,7; 18,31;  2Sm 22,31) nem diminui, e o homem não deve manipulá-la (Dt 4,2; 13,1; Ap 22,18s). A Tradução Ecumênica da Bíblia (p. 1281) comenta: É o que fez Jó (42,2-6), que se cala após a investida divina. Os vv. 2-6 têm sido, às vezes, interpretados como censura da contestação inútil de Jó: Por que tantas perguntas? O melhor é apegar-se à palavra de Deus e pronto.

Duas coisas eu te pedi; não as recuses, antes de eu morrer: afasta de mim a falsidade e a mentira, não me dês pobreza nem riqueza, mas concede-me o pão que me é necessário. Não aconteça que, saciado, eu te renegue e diga: “Quem é o Senhor?” Ou que, empobrecido, eu me ponha a roubar e profane o nome de meu Deus (vv. 7-9).

Os pecados aqui mencionados têm a ver com a “palavra”, seja “a falsidade e a mentira”, frases desafiadores e arrogantes (“Quem é o Senhor?”), tomar o nome do Senhor em vão (“roubar e profanar o nome de meu Deus”). Por uma lei do paralelismo, os dois perigos afetam os dois sujeitos: à “riqueza” seguem-se saciedade, satisfação, autossuficiência, desprezo de Deus e abuso de seu nome; à “pobreza” seguem-se roubo, revolta contra Deus e amaldiçoar (profanar) seu nome. Cf. a vida modesta recomendada em Fl 4,12 e 1Tm 6,8.

A Nova Bíblia Pastoral (p. 814) comenta: Diante das injustiças que vê no mundo (vv. 11-14), o estrangeiro Agur lança severa crítica ás escolas tradicionais de sabedoria (vv. 1-6; cf. Ecl 1,3.14), segundo as quais o aprendizado da sabedoria era a condição para o ser humano se realizar. O sentido da vida, para Agur, vem depois de dois pedidos a Deus: uma vida sincera e sóbria. A sabedoria de Agur consiste na correção pessoal da própria vida: que cada um se preocupe com o pão para todos, rejeitando tanto a miséria da maioria quanto a opulência de uns poucos. Cf. a oração do Pai-nosso, em Lc 11,2-4.

Evangelho: Lc 9,1-6

Ouvimos no evangelho de hoje sobre a missão dos doze que continua de modo ideal a sua escolha (6,12-16p). “Apóstolos”, em grego quer dizer “enviados”, era o título que Jesus lhes havia imposto (6,13p). São os “doze”, como corpo ou colégio compacto (lembrando as doze tribos de Israel). O próprio Jesus foi enviado (para anunciar a Boa Nova, o Evangelho; cf. 4,18.43; Mc 9,37; Jo 3,17.34 etc.), agora ele envia (cf. Jo 20,21) e comunica o poder que possui (4,36). Assim se estende seu raio de ação sem ele deixar de ocupar o centro. Como em Mt 10, essa missão prefigura a definitiva, antes da ascensão (24,48; cf. Mt 28,16-20).

Jesus convocou os Doze, deu-lhes poder e autoridade sobre todos os demônios e para curar doenças, enviou-os a proclamar o Reino de Deus e a curar os enfermos (vv. 1-2).

Aqui, Lc segue a sua fonte Mc 6,7-13, que falou apenas da autoridade sobre os demônios. Lc acrescenta a palavra “poder” (cf. 4,36) as finalidades “para curar” (duas vezes em vv. 1-2) e “proclamar o Reino de Deus” (v. 2). Aqui Lc omite (e Mt 10,5 também) o envio de “dois a dois” (Mc 6,13), mas não o descarta, o transfere para o segundo envio dos 70 discípulos em 10,1.

E disse-lhes: “Não leveis nada para o caminho: nem cajado, nem sacola, nem pão, nem dinheiro, nem mesmo duas túnicas. Em qualquer casa onde entrardes, ficai aí; e daí é que partireis de novo (vv. 3-4).

Lc encontrou estas recomendações para missão no evangelho de Mc (cajado permitido), mas também na fonte comum com Mt, chamada Q (coleção de palavras; “nem cajado, nem sandálias”).

A Bíblia do Peregrino (p. 2484) comenta: As instruções servem para inculcar aos enviados o desprendimento e a confiança em Deus e para que experimentem a hospitalidade da boa gente. São dois fatores correlativos: o desprendimento e a confiança em Deus fazem que o povo lhes dê crédito e confie neles. Pode-se recordar a hospitalidade prestada a Eliseu por uma mulher: “Vê, esse que sempre vem à casa é um profeta santo…” (2Rs 4,8-10). Também isso é ensinamento para os futuros missionários do evangelho, como o experimentará Paulo (At 16,15) e João o recomenda (3Jo 3-8).

Todos aqueles que não vos acolherem, ao sairdes daquela cidade, sacudi a poeira dos vossos pés, como protesto contra eles” (v. 5).

A mensagem dos apóstolos é “Boa Nova” (evangelho) para os que a recebem, mas torna-se juízo de condenação para os que a rejeitam. Os apóstolos serão testemunhas de acusação, e sacudir a poeira é um gesto que a atesta. Nada da cidade incrédula, nem o pó dela, deve apegar-se a seus pés (assim Paulo faz em At 13,51).

Os discípulos partiram e percorriam os povoados, anunciando a Boa Nova e fazendo curas em todos os lugares (v. 6).

Mc 6,12s falava da pregação para arrependimento (cf. João Batista e Jesus em Mc 1,4.15) e da expulsão dos demônios e da cura através da unção com óleo (cf. Tg 5,14s). Lc não entra em detalhes, mas fala de maneira geral e otimista do anúncio da “Boa Nova” (evangelho)do Reino de Deus e das “curas em todos os lugares” (cf. vv. 1-2). O profeta Deutero-Isaias no exílio expressou de foram poética: “Quão formosos são sobre os montes os pés do mensageiro que anuncia a paz, que traz a Boa Notícia…, que diz a Sião: Teu Deus já reina” (Is 52,7).

O site da CNBB comenta: O Evangelho de hoje é uma espécie de “Manual do Evangelizador”. Ele nos mostra que o evangelizador não age em nome próprio, pois ele não evangeliza por que quer, mas porque é enviado por Deus. Os poderes que tem para evangelizar não são próprios, são recebidos para serem usados em uma finalidade própria. Os bens materiais não podem ser um empecilho para o trabalho, nem podem ofuscar a força do anúncio e do testemunho. A inserção e a participação na vida das pessoas e das famílias é fundamental. Mas o mais importante são os dois objetivos que caracterizam o profetismo: a luta contra toda espécie de mal, que se manifesta na ordem da cura, e a proclamação da presença do Reino de Deus na vida de todas as pessoas.

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