27 de Outubro de 2019, Domingo: O cobrador de impostos, porém, ficou à distância, e nem se atrevia a levantar os olhos para o céu; mas batia no peito, dizendo: `Meu Deus, tem piedade de mim que sou pecador!’ (v. 13).

30º Domingo do Tempo Comum 

 1ª Leitura: Eclo 35,15b-17.20-22a (grego 12-14.16-18)

A 1ª leitura de hoje combina tanto com o evangelho do domingo passado (Lc 18,1-8: o juiz e a viúva) quanto com o de hoje (o fariseu arrogante e o publicano humilde).

O título do livro “Eclesiástico” provém do uso oficial na “Eclésia” (Igreja Católica), enquanto para os judeus e protestantes não faz parte das Sagradas Escrituras. O livro foi escrito em hebraico por um mestre de sabedoria, Jesus Ben Sirá(c), cujo neto o traduziu em 132 a.C. (cf. 50,27; 51,30 e o prólogo).

A Nova Bíblia Pastoral (p. 883) comenta nossa leitura no contexto histórico do autor: Advertências a respeito da exploração dos pobres, órfãos e viúvas. Podem ter sido dirigidas tanto aos dominadores selêucidas quanto aos judeus helenistas. Aos dois grupos o autor ressalta a opção de Deus pelos oprimidos, ao escutar suas súplicas (cf. Ex 22,21-22; Pr 22,22-23; 23,10-11). A ideia de que Deus é juiz e não faz acepção de pessoas é muitas vezes expressa no AT (cf. por ex. Dt 10,17; 2Cr 19,7) e retoma no NT (1Pd 1,17; At 10,34; Rm 2,11; Gl 2,6).

O Senhor é um juiz que não faz discriminação de pessoas. Ele não é parcial em prejuízo do pobre, mas escuta, sim, as súplicas dos oprimidos; jamais despreza a súplica do órfão, nem da viúva, quando desabafa suas mágoas (vv. 15b-17).

O tema anterior (34,18-35,10) foi sobre os sacrifícios. Oferecê-los a Deus para que deixe passar a injustiça, equivale a suborno. Deus não recebe os sacrifícios de bens injustos, mas escuta o grito do oprimido, como já diz Ex 22,22-24 a respeito de estrangeiros, viúvas, órfãos e indigentes.  Desse tema, Ben Sirac passa à situação histórica de Israel (cf. Lm 1,1-2: Israel como viúva), e assim desemboca numa oração por Israel no capítulo seguinte.

Deus “não faz discriminação de pessoas”. A Tradução Ecumênica da Bíblia (p. 1777) comenta: Lit.  A gloria da pessoa não é nada junto dele. Esta ideia é muitas vezes expressa no AT: Dt 10,17; 2Cr 19,7. Cf. Livro dos Jubileus: “Ele não é alguém que faça acepção de pessoas, nem é alguém que recebe presentes, quando diz que executará seu julgamento sobre cada um; se alguém der tudo que existe sobre a terra, mesmo assim ele não considerará esses dons, nem aceitará o que quer que seja em suas mãos, pois é um justo juiz” (5,16). A ideia será retomada no NT, cf. 1Pd 1,17. Ela é transposta: At 10,34; Rm 2,11; Gl 2,6. … Deus é protetor qualificado do pobre, do órfão e da viúva. Aqui escutando suas preces que apelam à sua justiça: cf. Ex 22,21-22; Pr 22,22-23; 23,10-11.

A Bíblia do Peregrino (p. 1649s) comenta: Se Deus sente alguma parcialidade, é a favor do oprimido e indefeso: em toda a história de Israel, Deus se põe ao lado do oprimido. Parece parcialidade, mas é a suprema justiça, que é vitória e salvação. Ver 4,4-6; …

Quem serve a Deus como ele o quer, será bem acolhido e suas súplicas subirão até as nuvens. A prece do humilde atravessa as nuvens: enquanto não chegar não terá repouso; e não descansará até que o Altíssimo intervenha, faça justiça aos justos e execute o julgamento (vv. 20-22a).

“Quem serve a Deus como ele o quer”. A Tradução Ecumênica da Bíblia (p. 1777) comenta: Texto impreciso: “aquele que serve segundo o bel-prazer”. Quem é servido? Deus ou o próximo? De mais a mais, o bel-prazer pode ser de Deus (cf. 1,26; 2,15), do próximo, ou mesmo daquele que serve (cf. 15,15).

“A prece do humilde atravessa as nuvens”, onde Deus habita (cf. Sl 68,35; 104,3, etc.), “enquanto não chegar não terá repouso”; grego: “ele não se consola”; variação hebraica “ela (a oração) não cessa”.

“Faça justiça aos justos e execute o julgamento”; hebr.: e que o juiz de justiça aplique o direito.

A Bíblia do Peregrino (p. 1650) comenta: Essa é a oração de súplica profundamente sentida, e tem sido súplica em tantos momentos históricos de aflição do povo. Israel foi na historia o pobre que grita pedindo justiça, e desse modo foi testemunha da misericórdia de Deus… O versículo retoma e resume o pensamento: o rico oferece a Deus ricos sacrifícios, à maneira de suborno, e o pobre oferece suas lágrimas, gritos e sua sede de justiça. Deus atende o pobre, e essa é sua justiça. Síntese de teologia do AT.

2ª leitura: 2Tm 4,6-8.16-18

Terminamos hoje a leitura da segunda carta a Timóteo (nossa liturgia só omite as saudações finais de vv. 19-22), chamada também de “Testamento de Paulo”, mas muitos exegetas consideram esta carta posterior ao martírio de Paulo. Há diversos indícios que situam a redação da carta na terceira geração cristã, como também nas outras cartas pastorais de 1Tm e Tt (Tritopaulinas). O estilo é de uma regularidade harmoniosa, que contrasta com o ímpeto das antigas epístolas do apóstolo.

Em 3,10s, (o autor em nome de) Paulo confirma que Timóteo é um dos discípulos mais fieis (At 16,1-3; 17,14s; 18,5; 19,22; 20,4; 1Ts 3,2.6; 1Cor 4,17; 16,10; 2Cor 1,19; Rm 16,21). Timóteo podia ser uma fonte dos Atos dos Apóstolos (quando o sujeito da narração das viagens de Paulo muda para a primeira pessoa do plural “nós” em At 16,10, etc.). A carta 2Tm supõe a prisão de Paulo em Roma (1,8.16s; 2,9). Ele se sente perto do fim, estando sozinho escreve uma despedida, um testamento (cf. At 20,17-37; Jo 13-17).

Quanto a mim, eu já estou para ser derramado em sacrifício; aproxima-se o momento de minha partida (v. 6).

Em 4,6, para significar o mistério da sua morte, Paulo recorre a duas imagens, que já empregara em Fl: A morte do apóstolo será uma “libação” (derramar), não de vinho, mas de sangue, não alheia, mas própria. Nos sacrifícios judaicos e pagãos, libações de vinho, água ou óleo eram derramadas sobre as vítimas (cf. Ex 29,40; Nm 28,7; Fl 2,17). Assim o sangue de Paulo ia ser derramado em libação no sacrifício do seu martírio. É morte com valor quase litúrgico.

Outro termo, a “partida” emprega-se para um navio levantar âncoras, largar as amarras e as fazer à vela rumo ao alto-mar, ou também para soldados que dobram as tendas e levantam o acampamento (cf. 2Cor 5,1-10; lembramo-nos de que Paulo era fabricador de tendas, cf. At 18,3).

Combati o bom combate, completei a corrida, guardei a fé. Agora está reservada para mim a coroa da justiça, que o Senhor, justo juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos que esperam com amor a sua manifestação gloriosa (vv. 7-8).

Paulo nasceu fora de Israel em ambiente helenista e gosta de comparações da vida esportiva ou militar dos gregos e romanos (“combate”, “corrida”; cf. 1Cor 9,24-26; Gl 2,2; 5,7; Ef 6,10-17; Fl 2,16; 3,12-14; 1Tm 1,18; 6,12; Hb 12,1). Jesus contou parábolas para a população rural da Galileia; Paulo discursa para um público urbano, para filósofos (At 17), políticos (At 25-26), comerciantes (At 16), reis (At 26), soldados, gladiadores e outros. Paulo se vê como atleta na corrida da vida, competiu até o final e agora se dispõe para receber a coroa do prêmio (1 Cor 9,25). Mas esta “coroa da justiça” está reservada não somente a um, “mas também a todos” os que correm com esperança invencível. O “justo juiz” é árbitro da competição: é o Senhor Jesus no dia da sua vinda gloriosa (parusia).

Nossa leitura salta as anotações sobre alguns nomes de colaboradores ou hostilidades de conhecidos (vv. 9-16).

Mas o Senhor esteve a meu lado e me deu forças; ele fez com que a mensagem fosse anunciada por mim integralmente, e ouvida por todas as nações; e eu fui libertado da boca do leão. O Senhor me libertará de todo mal e me salvará para o seu Reino celeste. A ele a glória, pelos séculos dos séculos! Amém (vv. 17-18).

No processo, Paulo foi abandonado por vários colaboradores (v. 16; como Jesus), mas está solidão está povoada pela presença de Deus. No momento do comparecimento diante do tribunal, Paulo teve oportunidade de anunciar a mensagem “integralmente” (guardar a fé e anunciar a mensagem integralmente são preocupações das cartas pastorais) a qual foi “ouvida por todas as nações” (lit. o mundo todo), ou seja, as nações concentradas em Roma. Mais uma vez, Paulo se realiza como apóstolo dos pagãos (At 9,15; Gl 2,7s; Rm 1,5 etc.).

O “leão” é o perseguidor (Sl 22,2; cf. Dn 6,17; 1Pd 5,8). Muitos cristãos sofreram o martírio ao serem jogados aos leões nos circos romanos. Pode ser uma alusão à morte de Paulo: durante a perseguição violenta por César Nero (64-67 d.C.), ele não foi crucificado como Pedro, porque sendo cidadão romano, não podia ser condenado à crucificação (cf. At 22,25-29). Também não foi jogado aos leões, mas decapitado.

O final (v. 18) lembra o fim da oração do Pai Nosso (Mt 6,13). É a Cristo salvador e libertador, a quem Paulo dirige a doxologia (fórmula de louvor) semelhante à de Gl 1,5 (cf. Rm 16,25-27).

 

Evangelho: Lc 18,9-14

Lc destaca bastante a oração no seu evangelho. Mais do que os outros evangelistas mostra Jesus rezando em situações importantes (3,21; 5,16; 6,12; 9,18.28s; 11,1; 22,41-44; 23,34.46). Também tem parábolas próprias sobre a perseverança da oração: 11,5-8; 18,1-8. Depois da parábola do juiz injusto e da viúva (cf. domingo passado), outra parábola sobre a oração. Além de fé (confiança) e perseverança, precisa de humildade para rezar bem e ser aceito por Deus. Diante de Deus não valem tanto as obras e o sucesso, mas a atitude do coração.

A Bíblia do Peregrino (p. 2515s) comenta: Essa parábola é extremamente importante. Descreve satiricamente um tipo de religiosidade falsa e contrapõe-lhe afetuosamente um tipo autêntico. O fariseu é um personagem do relato, figura típica que se pode encontrar em todas as latitudes. O personagem está satisfeito de si e despreza os demais: a conexão é significativa.

Jesus contou esta parábola para alguns que confiavam na sua própria justiça e desprezavam os outros: (v. 9).

Como na parábola anterior Lc já antecipou a moral da história (v. 1), aqui ele deixa claro que não se trata apenas de um crítica histórica aos fariseus, mas se dirige à comunidade cristã atual também (traduz-se às vezes: “visando a alguns”). O gênero desta parábola não é de comparação (por ex. ao reino de Deus), mas apresenta o exemplo de uma atitude a imitar ou evitar (cf. 10,29-37; 12,16-21; 14,28-32; 16,1-8).

A Tradição Ecumênica da Bíblia (p. 2017) comenta: Lc indica a intenção que atribui à parábola que se segue. Nela, vê uma crítica aos que estão seguros da própria justiça (cf. 5,32; 15,7), que a querem exibir (cf. 16,15; 10,29). Considerando-a um apelo a humildade (v. 14).

A piedade judaica ensinava o seguinte: Quem é justo diante de Deus, ou seja, quem cumpre as exigências da Lei corretamente, pode ter certeza absoluta de ser salvo, porque pode mostrar suas obras. Mas desta maneira, a confiança (fé) em Deus é substituída pela autoconfiança nas próprias obras: “confiavam na sua própria justiça” (cf. Mt 6,1). Quem insiste tanto nas obras, torna-se duro em relação a seus semelhantes: “desprezavam os outros”.

“Dois homens subiram ao Templo para rezar: um era fariseu, o outro cobrador de impostos (v. 10).

Lc gosta de ensinar apresentando o contraste entre duas figuras, que representam tipos de seres humanos (cf. Gn 4,2), por ex. nas parábolas: os dois filhos do Pai misericordioso (15,11-32), o rico esbanjador e o pobre Lázaro (16,19-31), e na narrativa Maria e Marta (10,38-42) e os dois ladrões na cruz (23,39-43). Aqui basta dizer a qual grupo os dois homens pertencem, e o leitor já sabe como os dois são vistos no judaísmo: o “fariseu” como homem da Lei e da obediência absoluta à instituição do templo; o “cobrador de impostos” como pecador desprezível porque estava a serviço dos pagãos (romanos) cujo sistema tributário explorava o povo (a arrecadação dos impostos era terceirizada: o salário dos cobradores era o que eles cobravam acima da taxa estabelecida).

O fariseu, de pé, rezava assim em seu íntimo: ‘Ó Deus, eu te agradeço porque não sou como os outros homens, ladrões, desonestos, adúlteros, nem como este cobrador de impostos. Eu jejuo duas vezes por semana, e dou o dízimo de toda a minha renda’ (vv. 11-12).

Lc critica os fariseus também em 11,39-53 e 16,15. Em geral, Lc poupa os judeus porque escreve para pagãos (gregos, romanos) e não para judeu-cristãos como Mt que polemiza contra os fariseus num cap. inteiro (Mt 23; aqui cf. Mt 23,28). Mas os leitores de Lc precisam ser motivados primeiro para se interessar pela periferia do Império Romano, a Terra Santa, sua religião e seu messias (Cristo; cf. a narração da infância de Jesus em Lc 1-2).

O fariseu se coloca em posição judaica de oração no templo, “de pé” (1Rs 8,55; Jr 18,20; Mc 11,25). Sua oração “em seu íntimo” substitui o monólogo que revela o pensamento íntimo em outras parábolas (cf. 12,17; 15,17; 16,3; 18,5 etc.), mas talvez insinue que sua oração não chega ao seu destino: em vez de falar com Deus, o homem fala consigo mesmo. Logo se acha melhor que os “outros homens”. Só ele está ao lado da Lei, os outros são “ladrões, desonestos, adúlteros” (pecam contra os mandamentos 7º, 8º e 6º) e “este cobrador de impostos” que está aqui para representar os outros como figura negativo.

Além da conduta correta, o fariseu aponta para o supérfluo das suas obras piedosas. A lei de Moisés prescreve apenas um dia de jejum (yom kippur, o dia da expiação, cf. Lv 16,29; 23,26-32); o fariseu jejua mais (5,33p), talvez em expiação dos pecados do povo para aplacar a ira divina sobre seu povo. Outro exemplo é a entrega do seu dízimo de toda sua renda (cf. 11,42p). Os rabinos exigiam mais do que a entrega do dízimo de trigo, vinho, óleo e do primogênito do rebanho na Lei de Moisés (Dt 14,22s). Não podemos negar certo respeito por todo sacrifício material e zelo deste fariseu. Mas ele se enche de orgulho e despreza os outros, nas suas práticas encontra a certeza da sua própria justiça, mas ele não espera nada de Deus.

A Bíblia do Peregrino (p. 2516) comenta: A ação de graças é recitada no AT pelos benefícios recebidos de Deus; o fariseu a perverte dando graças a Deus por sua própria bondade, a de suas obras e observâncias (Dt 14,22).

O cobrador de impostos, porém, ficou à distância, e nem se atrevia a levantar os olhos para o céu; mas batia no peito, dizendo: `Meu Deus, tem piedade de mim que sou pecador!’ (v. 13).

O cobrador “ficou à distância”, não tem coragem de se aproximar. Consciente da sua culpa, “nem se atrevia a levantar os olhos para o céu” como fazem os judeus na oração. Suas mãos não se levantam alegremente (1Tm 2,8), “mas batia no peito”, gesto de penitência. Ele mostra vontade de conversão, mas sua situação é irremediável: para indenização, segundo os rabinos, ele devia restituir todo o dinheiro mais 20% de juros. Resta-lhe apenas pedir misericórdia, rezando o início de um salmo penitencial (Sl 51) e acrescentando “de mim (que sou) pecador”. Com isso, ele está sob a promessa deste salmo: “Coração contrito e esmagado, ó Deus, tu não desprezas” (Sl 51,19).

A Tradição Ecumênica da Bíblia (p. 2017) comenta: Também o coletor de impostos diz a verdade: ele é pecador, mas esta confissão sincera o abre para Deus e à sua graça.

A Bíblia do Peregrino (p. 2516) comenta: Também o coletor é personagem típico. Os judeus qualificavam tais pessoas de pecadoras. Diante de Deus, o publicano não rejeita o título de pecador; assume-o no arrependimento: “Declarei-te meu pecado, não te encobri meu delito” (Sl 32,5). Só pede piedade (Sl 51,3-11; 41,5). Obtém o perdão e começa a ser justo, a estar em paz com Deus: “Feliz o homem a quem o Senhor não aponta o delito e cuja consciência não é turva” (Sl 32,1-2).

Eu vos digo: este último voltou para casa justificado, o outro não (v. 14a).

A fórmula “Eu vos digo” introduz a sentença de Jesus que desqualifica a atitude de fariseu e dos que pensam igual a ele. Esta inversão do conceito de justiça é para os judeus um escândalo. Eles não entendem que Jesus não julga os fatos, mas as atitudes: o pecador é justificado, não pelo seu pecado, mas por sua contrição interior, enquanto o piedoso é condenado pela sua arrogância.

A justiça, que o fariseu pretendia adquirir por suas obras, é um dom (graça, misericórdia) que só Deus pode conceder. Paulo, que era fariseu e tornou se apóstolo, aprofunda toda esta questão da justiça pelas obras ou pela fé (cf. Fl 3,9; Gl 2,16-21; Rm 1,17 etc.) que se tornou também o pivô da reforma protestante por Martinho Lutero em 1517. Hoje esta questão não divide mais os católicos e luteranos: em 1999, no “Documento de Convergência”, ambos afirmam a primazia da fé, mas para ser autêntica, esta fé deve se traduzir em obras de caridade.

A Nova Bíblia Pastoral (p. 1279) comenta: Não são posturas aparentes e repetidas de piedade que tornam seu ser humano digno de estar diante de Deus. Efetivamente, com sua arrogância, o fariseu se exclui da graça de Deus. É fundamental recordar sempre a pequenez e a libertação humanas. Isso modificará as relações com Deus, tornando a pessoa mais aberta à ação dele e aos semelhantes, criando espaços de fraternidade e partilha.

Pois quem se eleva será humilhado, e quem se humilha será elevado” (v. 14b).

Esta conclusão generalizada não seria mais necessária, não expressa com exatidão o fio da parábola: o cobrador não se humilhou, mas reconheceu o que de fato ele é. Portanto deve ser um acréscimo da redação, que utiliza a mesma frase em 14,11 (cf. Mt 23,12) como motivo de conversão. Na forma passiva se mostra, como Deus atuará no juízo final (cf. Lc 1,52s).

A Bíblia do Peregrino (p. 2516) comenta: A sentença conclusiva é mais ampla que a parábola, mas nos ensina que o arrependimento e a confissão do pecado são uma forma egrégia de humildade (Ez 17,24). A parábola se dirige de cheio à Igreja. “E assim ninguém poderá orgulhar-se diante de Deus” (1Cor 1,29).

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