28 de Julho de 2020, Terça-feira: O Filho do Homem enviará os seus anjos e eles retirarão do seu Reino todos os que fazem outros pecar e os que praticam o mal; e depois os lançarão na fornalha de fogo.

17ª Semana do Tempo Comum

Leitura: Jr 14,17-22

Nossa leitura de hoje faz parte do conjunto de 14,1-15,4 organizado em forma de diálogo entre Javé Deus e o profeta, com elementos de uma liturgia de lamentação (cf. Jl 1-2; Sl 74 e 79); descrição da desgraça (vv. 2-6); lamentação do povo (vv. 7-9); resposta de Javé (vv. 10-12); defesa de Jeremias (vv. 13-16); nova descrição da desgraça (vv. 17-18); nova lamentação do povo (vv. 19-22) e nova reposta de Javé. À ameaça de fome por causa da seca ajunta-se a ameaça da invasão.

O núcleo é formado pelos vv. 13-16 e deve ser atribuído a Jeremias (ainda que o estilo seja do redator deuteronomista) reclamando dos profetas falsos que prometem paz e prosperidade. Nossa leitura e os outros versículos são acréscimos secundários do redator deuteronomista, com a sua teologia: deuses falsos, pecados e castigos (cf. Dt 28,25-26).

A Nova Bíblia Pastoral (p. 976) comenta os vv. 13-22: As mentiras dos profetas sobre a paz é um dos temas principais de Jeremias (cf. 6,14; 8,11). A verdadeira paz consiste na comunhão com Deus entre as pessoas. Os vv. 17-22 descrevem o desastre do exilio como consequência do pecado (“ídolos das nações”).

“Derramem lágrimas meus olhos, noite e dia, sem parar, porque um grande desastre feriu a cidade, a jovem filha de meu povo, um golpe terrível e violento. Se eu sair ao campo, vejo cadáveres abatidos à espada; se entrar na cidade, deparo com gente consumida de fome; até os profetas e sacerdotes andam à toa pelo país” (vv. 17-18).

A ligação com os vv. anteriores é difícil, por isso um redator acrescentou: “Dize-lhes esta palavra” (v. 17a). A Bíblia Pastoral (p. 1886) comenta: À maneira de hipótese, proponho a seguinte explicação: o profeta vai reagir compassivamente à mensagem do Senhor, aparentemente desapiedada. Deus toma essa reação e a transforma em oracular. Já que o profeta se recusa a ameaçar, que chore publicamente; o seu pranto impotente será profecia da desgraça irremediável; segue-se a visão intuitiva da catástrofe. Outra explicação supõe que aqui começa outro oráculo.

A Tradução Ecumênica da Bíblia (p. 739) comenta: A oração de intercessão (vv. 19-22) é aqui precedida pela evocação das desgraças que se abatem sobre o povo (vv. 17-18). Esta evocação é apresentada como um oráculo vindo do Senhor; isto poderia indicar que o próprio Senhor sofre por ver o povo esmagado.

As mulheres de lamentação choram em 9,17; Javé em 12,7 e Jeremias em 13,17. Jesus chora sobre Jerusalém em Lc 19,41.

“A jovem filha de meu povo”, lit. a virgem da filha-meu-povo. Cf. 4,11; 6,26; 8,11.19.21; 9,6; 14,17; 18,13; 31,4.21; 46,11. “Espada” e “fome” já foram anunciados nos vv. 12s e 15s.

“Acaso terás rejeitado Judá inteiramente, ou te desgostaste deveras de Sião? Por que, então, nos feriste tanto, que não há meio para nos curarmos? Esperávamos a paz, e não veio a felicidade; contávamos com o tempo de cura, e não nos restou senão consternação. Reconhecemos, Senhor, a nossa impiedade, os pecados de nossos pais, porque todos pecamos contra ti. Mas, por teu nome, não nos faças sofrer a vergonha suprema de levarmos a desonra ao trono de tua glória; lembra-te, não quebres a tua aliança conosco” (vv. 19-21).

A Bíblia do Peregrino (p. 1886) comenta: Na interpretação proposta, o profeta salta da visão à súplica apaixonada, como não podendo conter-se, como que insatisfeito das lágrimas, como que apostando na sua vocação profética de intercessor. Pode-se comparar com salmos de súplica: 44, 74 e 79.

“Os pecados de nossos pais exprime a solidariedade histórica como no Sl 106,6 e em orações penitenciais pós-exílicas. O “nome” é também a fama, a honra pessoal (13,11; 14,7) que levará Deus a perdoar seu povo no exílio (Ez 36,21-29). O “trono de tua glória” se encontra em Jerusalém, construída sobre o monte Sião, ou seja, no templo (3,17; 17,2; Is 6,1). Sobre a “aliança”, cf. a renovação da aliança em 31,31-33.

“Acaso existem entre os ídolos dos povos os que podem fazer chover? Acaso podem os céus mandar-nos as águas? Não és tu o Senhor, nosso Deus, que estamos esperando? Tu realizas todas essas coisas” (v. 22).

A Bíblia do Peregrino (p. 1886) comenta: Depois da visão bélica, retorna o tema da chuva e da seca colocado no princípio do capítulo, e em sua relação com a divindade, que é expressão de lealdade ao Deus da aliança, inclusive repetindo o “esperar”.

Evangelho: Mt 13,36-44

No evangelho de hoje voltamos à parábola do joio e do trigo (vv. 24-30, evangelho de sábado passado).

Jesus deixou as multidões e foi para casa. Seus discípulos aproximaram-se dele e disseram: “Explica-nos a parábola do joio!” (v. 36).

Esta parábola do joio será explicada a parte, só aos discípulos (como a primeira, cf. vv. 18-23). Muda o local da beira do lago para a “casa” que deixaram em 13,1. Eles querem entender (cf. vv. 23.51) e entenderão, não através de uma revelação sobrenatural, mas pela aprendizagem na “escola” de Jesus (escola de palavra e vida), “único mestre” (23,8).

Segue-se uma lista de significados nesta alegoria (alegoria é uma parábola em que cada item tem significado, não apenas o final, a moral da historinha).

Jesus respondeu: “Aquele que semeia a boa semente é o Filho do Homem” (v. 37).

O “Filho do homem” (cf. 8,12; 12,8.31.40; …) não é apenas aquele que vem julgar o mundo no final dos tempos (cf. 16,27s; 19,28; 24,30.39.44; 25,31; 26,64; cf. Dn 7,13s), mas o mesmo Jesus que semeia a palavra já agora (vv. 4.18) e controla a colheita e a história toda (vv. 40-43).

O campo é o mundo. A boa semente são os que pertencem ao Reino. O joio são os que pertencem ao Maligno. O inimigo que semeou o joio é o diabo. A colheita é o fim dos tempos. Os ceifadores são os anjos (vv. 38-39).

Nota-se que o “campo” não é a Igreja, mas o “mundo”. Os discípulos são “sal e luz do mundo” (5,13-16), enviados ao mundo todo (28,19).

A “boa semente” não é a Palavra como na primeira parábola do semeador (13,19; Mc 4,14), mas os “filhos do Reino” (a liturgia traduz: os que pertencem ao Reino). Estes eram os israelitas em 8,12, mas aqui está aberto quem são; no evangelho inteiro, Mt conta como os pagãos que trazem frutos se tornam filhos do Reino no lugar dos israelitas (cf. 21,43).

Os “filhos do mal” (os que pertencem ao Maligno) podem ser “do Maligno” (v. 19) ou do reino “do mal” (em paralelo aos filhos do Reino). O inimigo é o “diabo” (cf. 1Pd 5,8), que, igual a Jesus, já atua no tempo presente, semeando o joio. A “colheita” como fim do mundo e os anjos do juízo como ceifadores eram metáforas comuns no judaísmo.

Como o joio é recolhido e queimado ao fogo, assim também acontecerá no fim dos tempos: (v. 40)

A prática comum da agricultura era arrancar primeiro a erva daninha (joio) e depois colher o trigo e guarda-lo no celeiro. No final queima-se o joio que ainda sobrou no campo. Mas a resposta da parábola narrada em v. 30 foi contrária, porque o dono respondeu aos empregados: “Pode acontecer que, arrancando o joio, vocês arranquem também o trigo. Deixem crescer um e outro até a colheita. E no tempo da colheita direi aos ceifadores: arranquem primeiro o joio, e o amarrem em feixes para ser queimado. Depois recolham o trigo no meu celeiro!” (vv. 28b-30). Esta sequência diferente da agricultura corresponde ao esquema apocalíptico onde os maus são castigados primeiro e os bons salvos (cf. Ap 20-22). Para Mt, o foco aqui é o juízo que ele apresenta como pequeno apocalipse destacando o destino do mal (conforma o título da parábola, v. 36).

O Filho do Homem enviará os seus anjos e eles retirarão do seu Reino todos os que fazem outros pecar e os que praticam o mal; e depois os lançarão na fornalha de fogo. Ali haverá choro e ranger de dentes (vv. 41-42).

O Filho do homem enviará seus anjos (como em 24,31) e eles retirarão “todos os que fazem outros a pecar e os que praticam o mal”, lit.: “todos os (que provocam) escândalos e praticam a iniquidade” (cf. 7,23; 18,6s), ou seja, os que não praticam a lei que culmina no amor (22,34-40). A “fornalha de fogo” expressa o juízo (cf. Dn 3,6-22; 25,41; Jr 29,22; Dt 3,6). João Batista havia anunciado que “alguém que vem depois de mim … vai recolher seu trigo no celeiro e queimará a palha num fogo inextinguível” (3,11s). Mt costuma falar de “chorar e ranger os dentes” para expressar as dores dos condenados (cf. 8,12; 13,42.50; 22,13; 24,51; 25,30).

Então os justos brilharão como o sol no Reino de seu Pai (v. 43a).

O reino do Filho do Homem está atuando neste mundo (no campo) através da evangelização (semente boa) pelos apóstolos (a igreja no mundo; cf. 28,18-20). Quando o mal for destruído, o reino do Filho transforma-se no “Reino do seu Pai” (cf. 25,34; 1Cor 15,24-28). Os justos, discípulos que praticam os mandamentos de Jesus, são agora “luz do mundo” (5,14) e “brilharão” no céu para sempre (cf. Dn 12,3; Eclo 43,4; 50,7; Bar 6,66; Mt 17,2).

Jesus instaurou o Reino dentro da história, e esta é feita pela ação de bons e maus. A vinda do Reino, porém, entra em luta contra o espírito do mal, e conduz os justos à vitória final. A história é tensão contínua voltada para a manifestação gloriosa do Reino.

“Quem tem ouvidos, ouça” (v. 43 b).

Com um chamado de atenção (cf. v. 9), Jesus conclui. O que acabou de explicar, influencia diretamente na vida dos discípulos.

 O site da CNBB comenta: Jesus contou a parábola do trigo e do joio para toda a multidão, mas depois, os discípulos o procuram para uma maior compreensão da parábola. Assim, existem aquelas pessoas que apenas ouvem o que Jesus tem a dizer e se dão por satisfeitas, porém, existem aquelas pessoas que querem sabem mais, querem aprofundar a fé. Existem as pessoas que não valorizam plenamente a fé, então aprendem o mínimo e se dão por satisfeitas. Para quem quer verdadeiramente ser discípulo de Jesus, sempre há oportunidade para ir além no conhecimento das verdades da fé com a finalidade de agir melhor segundo os critérios do Evangelho.

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