29 de outubro de 2017 – 30º Domingo Ano A

 

1ª Leitura: Ex 22,20-26

A 1ª leitura foi escolhia em vista do evangelho de hoje que apresenta o amor a Deus e ao próximo como maior mandamento na Lei (de Moisés). No livro de Ex, narra-se a saída da escravidão do Egito e a chegada ao monte Sinai (Horeb) onde Deus proclama os dez mandamentos (o decálogo). Em seguida, é apresentado o “Código da Aliança” (20,22-23,33). A Bíblia de Jerusalém (p. 135) comenta:

O “Código da Aliança” (20,22–23,33) é assim chamado pelos modernos segundo 24,7, mas este texto diz respeito ao Decálogo. Esta coletânea de leis e costumes não foi promulgada no Sinai: suas prescrições supõem uma coletividade já sedentária e agrícola. Ele data os primeiros tempos da instalação em Canaã, antes da monarquia. Por aplicar o espírito dos mandamentos do Decálogo, foi considerado a carta magna da Aliança do Sinai, e por essa razão inserido aqui, na sequência do Decálogo. Os seus contatos com o Código de Hamurabi, o código hitita e o Decreto de Horemheb não atestam uma derivação direta e sim uma fonte comum: um antigo direito costumeiro que se diferenciou segundo os ambientes e os povos. – Pode-se distribuir as prescrições do Código, segundo o conteúdo, em três capítulos: direito civil e penal (21,1-22,20); regras para o culto (20,22-26; 22,28-31; 23,10-19); moral social (22,21-27; 23,1-9). De acordo com a sua forma literária, estas prescrições dividem-se em duas categorias: “casuística” ou condicional, no gênero dos códigos mesopotâmicos; “apodítica” ou imperativa, no estilo do Decálogo e dos textos da sabedoria egípcia.

Numa revisão posterior, estas leis de origem pré-monárquica são associadas à organização e centralização da coleta de tributos (22,28-29; 23,14-19), no interesse de reis e sacerdotes do pré-exilio (cf. Dt 12,5-7) e do pós-exílio (cf. Lv 17,1-9). Não é o caso da nossa leitura.

(Assim diz o Senhor:) Não oprimas nem maltrates o estrangeiro, pois vós fostes estrangeiros na terra do Egito. Não façais mal algum à viúva nem ao órfão. Se os maltratardes, gritarão por mim e eu ouvirei o seu clamor. Minha cólera, então, se inflamará e eu vos matarei à espada; vossas mulheres ficarão viúvas e órfãos os vossos filhos (vv. 20-23).

Órfãos (que não tem herança) e viúvas representam as classes mais pobres que a lei de Moisés protege (Ex 22,21-23; Dt 10,18; 14,29; 24,17-21; 26,13; 27,19) e por quem os profetas intercedem (Is 1,17.23; Jr 7,6; 22,3; Ml 3,5; cf. por contraste Is 9,16; Jr 49,10s; Ez 22,7); cf. Jó 31,16; Sl 68,6; 94,6; 146,9; Tg 1,24.

O estrangeiro que mora no pais, também goza de certa proteção (junto com os viúvas e órfãos, cf. Ex 22,21-23; 23,9.12; Dt 10,18; 14,29; 24,17-22; 26,13; 27,19; Sl 94,6; 146,9; Jr 7,6; 22,3; Ml 3,5). No Antigo Oriente, semelhante proteção legal se encontra para as viúvas e órfãos (por ex. Código de Hamurabi), mas não concretamente para os estrangeiros. O amor de Deus para com estrangeiros/migrantes diferencia a fé do povo hebreu dos outros povos. Pela experiência no Egito onde viveu como estrangeiro, o povo de Deus deve amar o estrangeiro, cf. Lv 19,34: “O estrangeiro que habita convosco será para vós como um compatriota, e tu o amarás como a ti mesmo, pois fostes estrangeiros na terra do Egito.”

“Se os maltratardes, gritarão por mim e eu ouvirei o seu clamor” (cf. v. 26), como Javé Deus escutou o clamor dos escravos hebreus no Egito e os libertou através de Moisés (cf. 3,7).

A Bíblia do Peregrino (p. 150) comenta: Viúvas, órfãos e migrantes formam com frequência o trio de um proletariado indefeso e explorado. Significam mais um estatuto social do que uma situação familiar (o herdeiro não se chama órfão). Deus se oferece como protetor pessoal desses desvalidos (Sl 68,6); atenderá sua reclamação judicial e castiga com uma pena como a do talião.

Se emprestares dinheiro a alguém do meu povo, a um pobre que vive ao teu lado, não sejas um usurário, dele cobrando juros. Se tomares como penhor o manto do teu próximo, deverás devolvê-lo antes do pôr-do-sol. Pois é a única veste que tem para o seu corpo, e coberta que ele tem para dormir. Se clamar por mim, eu o ouvirei, porque sou misericordioso (vv. 24-26).

O código da Aliança apresenta leis de origem profética popular que protegem órfãos, viúvas, migrantes e necessitados em geral (22,20-26; 23,6-9.10-12; Dt 15,4-11; cf. Am 2,6-8; 4,1; 5,11-12; 8,4-6; Is 1,17.23; 10,1-2). Não se deve cobrar juros, porque o pobre pede para subsistir, não para fazer negócios (Lv 25,35-37. Dt 23,20s; Dt 24,10-13; cf. Jó 22,6; Am 2,8; Lc 6,34-36)

A Tradução Ecumênica da Bíblia (p. 130) comenta: Nas ruinas da fortaleza de Mesad-Hashabiáhu, situada perto de Iabné-lâm (entre Jafa e Ashdod), foi descoberto um texto do século VII a.C., em que um ceifador reclama de um oficial de justiça o manto que lhe fora confiscado: “Teu servo havia terminado de ceifar, e estava armazenando nos dias anteriores no sábado; … então, apareceu Hoshaiáhu, filho de Shobai, tomou o manto de teu servo, quando eu já havia concluído minha ceifa. Já faz vários dias que ele tomou o manto de teu servo; e falarão em meu favor todos os meus irmãos, os que ceifam comigo no calor (da ceifa) …. Na verdade, sou inocente de qualquer falta. Providencia, pois, para que seja devolvido o meu manto…” (conforme A. Lemaire).

 

2ª Leitura: 1Ts 1,5c-10

Continuamos a 2ª leitura do documento mais antigo do NT, a carta de Paulo à Igreja em Tessalônica, capital da Macedônia (uma província romana na Grécia), escrito por volta de 50-51 d.C. em Corinto.

(Irmãos:) Sabeis de que maneira procedemos entre vós, para o vosso bem. E vós vos tornastes imitadores nossos, e do Senhor, acolhendo a Palavra com a alegria do Espírito Santo, apesar de tantas tribulações. Assim vos tornastes modelo para todos os fiéis da Macedônia e da Acaia. Com efeito, a partir de vós, a Palavra do Senhor não se divulgou apenas na Macedônia e na Acaia, mas a vossa fé em Deus propagou-se por toda parte (vv. 5c-8b).

A Tradução Ecumênica da Bíblia (p. 2306) comenta vv. 5c e 6a: Lit. “como sabeis que tais como acontecemos entre vós por vossa causa. E vós acontecestes, imitadores nossos e do Senhor”: o jogo, perceptível em grego, entre o que acontece aos apóstolos e o que acontece aos seus ouvintes, não pôde ser expresso na tradução. Os tessalonicenses imitaram a Cristo e aos apóstolos porque, como eles, sofreram por causa do Evangelho (cf. 1Cor 4,16 …). Mais adiante, em 2,14, Paulo dirá que imitaram as Igrejas da Judeia, a saber, que também eles sofreram a perseguição por causa do Evangelho. Vê-se, portanto, que, nos primeiros escritos paulinos, “imitar” não significa “procurar reproduzir as atitudes ou virtudes morais de alguém”, mas se trata para o discípulo de Cristo, de aceitar a condição de “servo sofredor”, que foi a de Jesus: “Se eles me perseguiram, hão de perseguir também a vós” (Jo 15,20; cf. Mt 10,18 e par).

A Bíblia do Peregrino (p. 2836) comenta: Propõe a corrente da imitação: Paulo imita Jesus, os tessalonicenses imitam Paulo (1Cor 4,16) e se tornam “modelo” de outros (v. 7); em geral e concretamente no sofrer com alegria pelo evangelho. O paradoxo da alegria no sofrimento consta no AT (cf. Sl 4,8) e é tema central da mensagem evangélica (Lc 6,22-23; At 5,41; 2Cor 3,7). É alegria humanamente não justificada, infundida pelo Espírito.

“Acolhendo a Palavra”: A “Palavra” tornou-se termo técnico na literatura cristã primitiva. A Tradução Ecumênica da Bíblia (p. 2306) a comenta: É encontrado várias vezes nos evangelhos, em particular na explicação da parábola do semeador e nos textos que a ela se referem (cf. Mc 4,14.20,23 e par.). Quando não há complemento, a “palavra” é quase sinônimo de “Evangelho” (cf. Gl 6,6; Fl 1,14; Cl 4,3; 2Tm 4,2; At 6,4). O termo é muitas vezes especificado por um complemento: “palavra de Deus” ou “palavra do Senhor” (cf. 1,8; 2,13; 4,15; 2Ts 3,1). Estas especificações sublinham bem a origem divina desta palavra dirigida aos homens por outros homens. Paulo trata aqui do mesmo assunto que os evangelhos sinóticos na explicação da parábola do semeador: a acolhida da palavra missionaria. Esta só produz fruto entre os que a acolhem com alegria, apesar dos sofrimentos e perseguições. Tal atitude de total adesão só é possível se esta palavra for reconhecida como “Palavra de Deus”, e não somente como “uma palavra sobre Deus”, com que alguns pregadores exprimiriam as próprias concepções religiosas (cf. 2,13).

“Macedônia e Acaia” eram as duas províncias da administração romana na Grécia; a expressão significa, pois, a Grécia inteira (nos limites de hoje), mas ainda havia outras províncias gregas na Ásia Menor (atual Turquia). De lá (cf. At 16-17) Paulo entrou na Macedônia, via Filipos e Tessalônica (capital), e desceu para o sul na Acaia, passando por Atenas e instalando-se em Corinto (capital desde a reconstrução por César, cf. At 18).

Tessalônica era um centro de comunicações e facilitando o progresso da evangelização; mas a grande difusão da fama e de seu efeito positivo são a obra de Deus (desde o v. 2 Paulo está dando graças).

Assim, nós já nem precisamos de falar, pois as pessoas mesmas contam como vós nos acolhestes e como vos convertestes, abandonando os falsos deuses, para servir ao Deus vivo e verdadeiro, esperando dos céus o seu Filho, a quem ele ressuscitou dentre os mortos: Jesus, que nos livra do castigo que está por vir (vv. 8c-10).

Os vv. 9-10 parecem um resumo denso do evangelho pregado por Paulo. Aos pagãos greco-romanos ele afirma vigorosamente o monoteísmo (contra a idolatria: 1Cor 8,4-6; 10,7.14; Gl 4,8s etc.; cf. Mc 12,29) e apresenta uma cristologia que insiste na vinda (parusia) iminente do Senhor ressuscitado (4,15-17; cf. 1Cor 1,7; 15,23 etc.).

“Castigo” (ou condenação), lit. “ira” (cf. 2,16; 5,9; Rm 1,18 …), aquela que se manifestará pela condenação dos pecadores por ocasião da parusia. “Como vos convertestes, abandonando os falsos deuses”, lit.: “Como dos ídolos, vos convertestes a Deus” (cf. Rm 2,4). A Tradução Ecumênica da Bíblia (p. 2306) a comenta: O termo grego aqui empregado conserva a lembrança do verbo hebraico “voltar, retornar”: eles se afastam dos ídolos, voltando-se para Deus. Os vv. 9-10 são considerados como um resumo da pregação do Evangelho aos pagãos (kérygma). A pregação da mensagem os convida a se converter ao Deus único, o único a quem se deve servir, a crer em Jesus, seu Filho (cf. Rm 1,4 … ), que ele ressuscitou dos mortos, e a esperar a salvação que o Senhor trará quando da sua vinda gloriosa.

A Bíblia do Peregrino (p. 2836s) comenta: Soa como síntese concisa da primeira pregação (kerigma) e da sua conversão. Esta é um movimento espiritual de­­ – para (como o indica a etimologia de con-verter-se). Aos ídolos “mortos” e inerentes (Sl 115 e 135; carta de Jeremias) se opõe o Deus “vivo” (Dt 5,26; 1Sm 17,26, Davi a Golias; 2Rs 19,4, Senaquerib o insulta; Sl 42,3); os deuses “falsos” e vazios (Jn 2,9; Sl 31,7; Jr 51,18) se opõe o Deus “verdadeiro e autentico”. O caminho dessa conversão foi a adesão a Jesus. É significativa a ordem e disposição das peças da mensagem e suas consequências. Coloca em lugar de destaque a esperança escatológica do Filho de Deus que se encontra no céu (portanto, glorificado), a quem seu Pai “ressuscitou” (logo, tinha morrido): ele se identifica como Jesus (nome histórico), que nos livra da “condenação” ou ira futura, ou seja, no julgamento definitivo. A “ira” (de Deus) expressa em termo de sentimento a condição de Deus inconciliável com o pecado, e objetivamente a sentença de condenação que deve ser executada. Consequência para os fiéis: a vinda de Jesus será libertadora.

 

Evangelho: Mt 22,34-40

Ouvimos no evangelho de hoje outra vez sobre a questão de Lei que é cara ao evangelista Mt que escreveu para judeu-cristãos (cf. 5,17-48 etc.), é a questão sobre o “maior mandamento da lei”. Aqui Mt copia de Mc 12,28-34, mas resume pela metade.

Os fariseus ouviram dizer que Jesus tinha feito calar os saduceus. Então eles se reuniram em grupo, e um deles perguntou a Jesus, para experimentá-lo: (vv. 34-35).

No meio das últimas controvérsias com os adversários em Jerusalém, Mc 12,28-34 apresentou ainda um diálogo que não é hostil: um escriba, reconhecendo que Jesus respondeu bem aos “saduceus” (a respeito da ressurreição dos mortos que estes não aceitavam), fez uma pergunta sem segundas intenções e ainda elogiou a resposta de Jesus. Quer dizer, no tempo de Mc (por volta de 70 d.C.), ainda não houve tanta ruptura entre judeus e cristãos, de modo que ainda havia simpatizantes escribas entre os judeus (por ex. Gamaliel em At 5,34-39).

Mt e Lc, porém, escreveram 10 a 15 anos depois de Mc. Os judeus tinham perdido a guerra contra os romanos (66-73 d.C.). O templo foi incendiado e, com isso, os saduceus (aristocracia sacerdotal) não haviam mais como existir. Mt alude a este fim do templo quando escreveu: “Jesus tinha feito calar os saduceus”? (em Mc apenas, Jesus “havia respondido muito bem”).

Sobraram, então, só o partido dos fariseus para assumir a liderança no judaísmo. Na reconstrução da identidade judaica, os conflitos com os cristãos se agravaram (cf. Mt 23). No sínodo de Jâmnia em 90 d.C., os rabinos (mestres farisaicos) excomungaram os cristãos (Jo 9,22; 16,2) que se entendiam ainda como grupo dentro da religião judaica (com a diferença que acreditavam em Jesus como messias e aceitavam os pagãos). Depois não havia mais simpatizantes no judaísmo por enquanto. Por isso, Mt e Lc, independentes um do outro (ou através de uma segunda edição de Mc – Deuteromarcos – que ambos usavam), mudaram a figura do escriba simpático em Mc por um (grupo) fariseu (Lc: legista) que pergunta a Jesus já com intenção má, “para experimentá-lo” (cf. 19,3p; 22,15p; Lc 10,25).

“Mestre, qual é o maior mandamento da Lei?” (v. 36).

Em Mc, a pergunta foi sobre o “primeiro” de todos os mandamentos, mas não ficou clara: como o “primeiro” poderia se entender o primeiro do decálogo ou um dos mandamentos dados a Noé ou Abraão. Mt expressa a pergunta de maneira mais correta no debate dos rabinos: Qual é o “maior” mandamento da Lei? Lit. “o grande”, porque, no judaísmo, a pergunta sobre o “maior” de todos os mandamentos já era uma polêmica. Muitos consideravam uma blasfêmia fazer diferença entre mandamentos mais importantes e menos importantes, já que cada um vem do Senhor e ele só dá mandamentos importantes.

No AT (Antigo Testamento), mais precisamente na Torá (“Lei” de Moisés, que são os cinco primeiros livros, chamados Pentateuco em grego), não só havia o decálogo (os “Dez Mandamentos”: Ex 20; Dt 5). Os rabinos contavam um total de 613 mandamentos da Lei (365 proibições e 248 mandatos). Não se podia fazer uma síntese de todos eles? As respostas que já foram dadas repetem um dos Dez Mandamentos, por ex. o primeiro (não ter outros deuses/ ídolos) ou o terceiro (santificar o sábado) ou o quarto (honrar os pais). Haverá outras sínteses, mas sem citar um texto bíblico, combinando por ex. os deveres a respeito de Deus e dos semelhantes: “servir com santidade e justiça” (cf. Lc 1,75), ou a Regra de Ouro (cf. Mt 7,12; Lc 6,31).

Mas a pergunta aqui exige uma citação concreta da Lei de Moisés (em Lc, que escreveu para não-judeus, a pergunta é outra: “Como ganhar a vida eterna?”, Lc 10,25; cf. Mc 10,17p).

Jesus respondeu: “‘Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento!’ Esse é o maior e o primeiro mandamento (vv. 37-38).

A resposta de Jesus é uma combinação original de dois textos da Lei de Moises (Dt 6,5 e Lv 19,8).

O primeiro é tirado da profissão de fé judaica, o shema (ouça; cf. o comentário de sábado da 18ª semana do tempo comum, ano ímpar). O início é citado ainda em Mc, mas falta em Mt e Lc: “Ouve, Israel, Javé teu Deus é Um só Senhor” (Dt 6,4; Mc 12,29). Esta profissão de fé monoteísta, os judeus guardam por escrito em cápsulas e faixas de couro e a colocam na testa (para rezar) ou na entrada da casa. Como Deus é o único (ao contrário do politeísmo), ele exige toda atenção e adoração: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o coração, de toda tua alma, de todo o teu entendimento e com toda tua força” (Dt 6,5 grego).

Mt reforça ainda: “Este é o grande (maior) e primeiro mandamento” (cf. Mc 12,31 que resume os dois).

O segundo é semelhante a esse: ‘Amarás ao teu próximo como a ti mesmo’. Toda a Lei e os profetas dependem desses dois mandamentos” (vv. 39-40).

Sem ser perguntado sobre o segundo mandamento, Jesus o acrescenta (como em Mc também), porque é uma unidade.

Do amor a Deus nasce o amor a suas criaturas. “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Lv 19,18). Jesus não especifica aqui o significado da palavra “próximo” (em Lv 19,18 era apenas o compatriota; em Lc 10,29-37 será o bom samaritano, ou seja, qualquer um, até o inimigo, cf. Mt 5,43-48p).

Estes dois mandamentos equivalem as duas tábuas do decálogo, deles “dependem toda a Lei e os Profetas” (Mt já afirmou a mesma coisa sobre a Regra de Ouro em 7,12 que se refere só ao amor do próximo). “Amar” é mais profundo do que mera observância de preceitos (já o Dt e os profetas destacaram o coração, a adesão interior), exige mais empenho e criatividade do que “não ter outros deuses, não pronunciar o santo nome em vão, … não matar, não furtar”, mas tem que se traduzir em gestos concretos também (cf. as obras da misericórdia em Mt 25,31-46).

Em todos os quatro evangelhos, Jesus coloca o amor (caridade) como critério soberano (cf. ainda Jo 13,34s; 15,12s.17). Quem ama, não está mais longe de Deus, porque “Deus é amor” (1Jo 4,8.16; cf. 1Jo 3,11-24; 4,20-21; cf. 1Cor 13).

O site da CNBB comenta: Deus não admite o amor a si sem que este amor se torne gestos concretos de caridade. É por isso que hoje vemos no Evangelho que o primeiro e maior mandamento traz consigo um outro que é semelhante a ele. O primeiro exige de nós o amor a Deus e o segundo exige de nós o amor ao próximo. Jesus nos diz que desses dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas. A partir daí podemos perceber porque São João nos diz na sua primeira epístola que quem ama não peca. Com isso, Jesus nos mostra que somente a plena vivência do amor nas suas duas dimensões, a Deus e ao próximo, pode conduzir verdadeiramente à santidade.

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