31 de Janeiro de 2020, Sexta-feira: Jesus disse à multidão: “O Reino de Deus é como quando alguém espalha a semente na terra.

3ª Semana do Tempo do Comum

Leitura: 2Sm 11,1-4a.5-10a.13-17

A Bíblia narra com frequência como também as grandes figuras da fé, como criaturas, têm suas fraquezas e pecam contra a lei de Deus. Ouvimos hoje do pecado grave de Davi, um adultério (primeira cena: Davi e Betsabeia em vv. 1-5), seguido de homicídio (vv. 14-17; cf. no decálogo Ex 20,13.14.17; Dt 5,17.18.21). O Salmo responsorial 51(50) recorda seu arrependimento.

A Bíblia do Peregrino (p. 569) comenta:

É surpreendente esta narração no presente lugar. O rei ideal de Israel é descrito como criminoso abjeto, e na narração o autor demonstra toda a sua maestria narrativa. Sobressaem a gradação das cenas em crescendo dramático, o complicar-se da trama, o traço psicológico, a imediação que se pode dizer impassível.

Muitos séculos depois, Jesus Ben Sirac recorda impressionado o crime de Davi, ao elogiar os antepassados (Eclo 47,11). Não houve mão violenta que destruísse este relato, nem mão piedosa que o sepultasse para a posteridade.

O autor que compôs e o que recolheu na obra olhavam da altura teológica. Se até agora Deus parecia ter-se retirado discretamente, diante do pecado de Davi entra vigorosamente em cena, dominando os eventos. Diria-se que o pecado de Davi é mais revelador que suas vitórias.

No ano seguinte, na época em que os reis costumavam partir para a guerra, Davi enviou Joab com os seus oficiais e todo o Israel, e eles devastaram o país dos amonitas e sitiaram Rabá. Mas Davi ficou em Jerusalém (v. 1).

“No ano seguinte”, lit. no retorno do ano; naquela época, a virada do ano era o equinócio da primavera, momento mais favorável para uma expedição militar porque já havia alimento no campo (cf. 1Rs 20,22). Tendo vencido os filisteus no oeste (litoral do mediterrâneo), Davi dirige suas tropas para o leste, para além do rio Jordão (10,16s). Rabá é a capital dos amonitas, hoje Amã, capital da Jordânia.

O primeiro versículo apresenta toda a situação: o contraste entre as tropas numerosas que marcham para a guerra, mas desta vez o rei que fica na capital. O contraste entre frases longas e breves é procedimento que se observa no relato; aqui em v. 1, frase longa para os soldados, frase breve para Davi. Embora toda a ação se passe na corte, uma presença dominadora e acusatória de guerra está envolta (visitas, mensagens) desde o início em 11,1 e fechando-se em 12,26-31.

Para o autor dos caps. 9-20, a guerra amonita constituiu apenas o quadro da história de Davi e Betsabeia. Ao contrário, o cronista não menciona o adultério com Betsabeia (cf. 1Cr 3,5) e o omite em 1Cr 20,1 (cf. a continuação da guerra em 1Sm 12,27), conforme a imagem idealizada que pretendeu dar a Davi,

Ora, um dia, ao entardecer, levantando-se Davi de sua cama, pôs-se a passear pelo terraço de sua casa e avistou dali uma mulher que se banhava. Era uma mulher muito bonita (v. 2).

A Bíblia do Peregrino (p. 569) comenta: O segundo versículo aproxima a figura de Davi: a sesta, o ocioso passear, o olhar curioso. Tudo isso do alto do seu terraço, da altura do seu poder real que ordena, manda, reclama, comenta. Contraste a frase longa sobre o rei com a frase breve dedicada à mulher, vista pelos olhos do rei.

O banho de Betsabeia, cuja voz não se faz ouvir, incitou a fantasia erótica, mas é a purificação de suas regras (v. 4b; cf. Lv 15,19-33).

Davi procurou saber quem era essa mulher e disseram-lhe que era Betsabeia, filha de Eliam, mulher do hitita Urias. Então Davi enviou mensageiros para que a trouxessem (vv. 3-4a).

A rápida ação está articulada pelo duplo envio: para informar-se, para trazer. Suposta a informação, o trazer equivale a um rapto para o adultério. Ela é filha de Eliam (Amiel em 1Cr 3,5) e “mulher de Urias”, um heteu (hitita, ou seja um mercenário estrangeiro; sobre os heteus, cf. Dt 7,1). Como tal aparecerá na genealogia do messias em Mt 1,6.

Ela veio e ele deitou-se com ela. Em seguida, Betsabeia voltou para casa (v. 4a.c).

Ela provocou o desejo do rei de propósito? Consente de boa vontade? Poderia resistir ao rei? Nada diz o autor da atitude dela, mas diversos filmes e novelas exploraram este vazio. Uma frase breve encerra o episódio, que poderia terminar sem consequências: “Voltou para sua casa” (o motivo da casa continua importante; cf. cap. 7), mas o v. 4b (omitido em nossa leitura) indica que estava se aproximando o período mais fértil da sua regra: “ela acaba de se purificar da sua regra” (sete dias depois da menstruação, cf. Lv 15,19).

Como ela concebesse, mandou dizer a Davi: “Estou grávida” (v. 5).

A Bíblia do Peregrino (p.569) comenta: A reação de Betsabeia é de pânico: a adúltera tem pena de morte, e a prova do adultério está no seu seio: cabe ao rei remediar. Os quatros verbos quase seguidos do original expressam a urgência. Contraste a brevíssima mensagem na frase final.

Davi mandou esta ordem a Joab: “Manda-me Urias, o hitita”. E ele mandou Urias a Davi (v. 6).

O rei tenta fazer de tudo para imputar o filho a Urias. O v. 6 repete três vezes o verbo “mandar” e introduz a segunda cena (o encontro de Urias e Davi em vv. 7-13).

A Bíblia do Peregrino (p. 569) comenta: O envio e a viagem, Jerusalém-Amã (Rabá) ida e volta, requerem um pouco mais de uma semana. O autor não diz se Urias sabe alguma coisa ou suspeita. Chamado real pode se tornar suspeitoso; a conduta real em seguida não dissipa, antes favorece a suspeita; as palavras de Urias (em v. 11, omitido em nossa leitura) parecem uma advertência, e sua conduta um desafio ao rei. Em todo caso, o leitor tem de observar a forte contraposição das duas figuras.

Quando Urias chegou, Davi pediu-lhes notícias de Joab, do exército e da guerra. E depois disse-lhe: “Desce à tua casa e lava os pés”. Urias saiu do palácio do rei e, em seguida, este enviou-lhe um presente real. Mas Urias dormiu à porta do palácio com os outros servos do seu amo, e não foi para casa (vv. 7-9).

Uma frase longa (v. 7), com três complementosde Joab, do exército e da guerra”, resume uma conversa e apresenta o interesse fingido do rei. Em hebraico se pergunta pelo shalom (paz, bem-estar); no contexto da guerra essa palavra, repetida três vezes no original, soa estranha.

“Desce à tua casa e lava os pés”; a expressão inclui o repouso completo em sua própria casa. O verbo lavar-se é o mesmo de Betsabeia banhando-se. Mas o soldado “não foi para casa”. O motivo da “casa” (metáfora para família e descendência; cf.2Sm 7, leitura de ontem) se torna obsessivo nos versículos seguintes. Enquanto Davi ficava em casa com conduta má, seu servo mercenário se mostra corretíssimo. Enquanto o rei de Israel age na margem, o estrangeiro Urias dá exemplo de lealdade às leis do Senhor (continência na guerra santa em 1Sm 21,6).

E contaram a Davi, dizendo-lhe: “Urias não foi para sua casa”. Davi convidou-o para comer e beber à sua mesa e o embriagou. Mas, ao entardecer, ele retirou-se e foi-se deitar no seu leito, em companhia dos servos do seu senhor, e não desceu para a sua casa (vv. 10a.13).

A Bíblia do Peregrino (p. 569) comenta: Urias trouxe consigo para a corte o clima de guerra, de austeridade militar. Suas palavras [omitidas, cf. v. 11] expressam o contraste, e, no contexto, a reprovação: a sua descrição sobre o exército denuncia o ócio e sensualidade de Davi. A arca, e com ela o Senhor (cf. 1Sm 4), Judá e Israel estão numa campanha nacional, mas Davi ficou no palácio com as mulheres e alguns cortesãosUrias desobedecendo ao rei recorda-lhe coisas desagradáveis, fez fracassar seu plano simples. Davi pensa que Urias sabe ou suspeita? Sente-se descoberto e ameaçado? Ao menos viu que não pode submeter seu soldado nem com presentes nem com vinho.

No final desta cena se repetem, em outra chave, os termos da primeira cena (vv. 1-5): deitar-se, cama (leito), ficar (em Jerusalém). Como eco ao v. 9, soa outra vez a “casa”.

Na manhã seguinte, Davi escreveu uma carta a Joab e mandou-a pelas mãos de Urias. Dizia nela: “Colocai Urias na frente, onde o combate for mais violento, e abandonai-o para que seja ferido e morra”. Joab, que sitiava a cidade, colocou Urias no lugar onde ele sabia estarem os guerreiros mais valentes. Os que defendiam a cidade, saíram para atacar Joab, e morreram alguns do exército, da guarda de Davi. E morreu também Urias, o hitita (vv. 14-17).

A Bíblia do Peregrino (p. 569) comenta: A terceira cena (vv. 14-17), breve e rapidíssima, está iluminada por uma luz trágica: Urias é o portador de sua própria sentença de morte. A “carta” podia ir escrita numa tabuinha de barro ou em pergaminho, e ia selada. Davi dá sua ordem sem explicações. O comandante do exército, Joab (cf. v. 1), a executa sem pestanejar.

A carta termina com a frase breve: “que seja ferido e morra”, à qual faz eco uma frase com que termina a terceira cena: “morreu também Urias, o heteu”, isto soará de novo, quase como estribilho (cf. 21.24) na quarta cena (omitida pela nossa liturgia) em que Davi recebe a notícia da morte de Urias e quer consolar seu general Joab pelas perdas: “Não seja mau a teus olhos (não te preocupes), … guerra é assim mesmo”. A vida de alguns soldados da guarda é bom preço pela morte de Urias: salvaram-se a autoridade e o prestígio do rei, morreu um inocente, mas triunfa a razão do estado.

Betsabeia sabia se seu marido morreu na guerra “assim mesmo” ou a mando de Davi? O narrador não diz, mas o profeta Natã sabe e reprenderá Davi (cap. 12; leitura de amanhã).

Passado o tempo de luto, Davi mandou buscar Betsabeia e “a recebeu em sua casa, e tomou-a por esposa” (mais uma; Davi já tinha várias esposas: Micol, Abigail etc.). “Mas o que Davi fizera, desagradou ao Senhor (lit. foi mau aos olhos do Senhor)” (v. 27).

Não é difícil comparar este episódio com escândalos atuais em que poderosos se aproveitam de sua posição superior e depois tentam desmentir suas más ações de várias maneiras, por táticas de mentiras, subornos e até assassinatos. Uma gravidez indesejada pode trazer graves incômodos e, com frequência, resulta também numa forma de homicídio, o aborto, tirando a vida de um ser humano inocente para escapar das consequências de um relacionamento.

 

Evangelho: Mc 4,26-34

Com duas pequenas parábolas, Jesus conclui seu discurso de parábolas em Mc 4. Mais uma vez, compara o reino de Deus com a agricultura da Galileia.

Jesus disse à multidão: “O Reino de Deus é como quando alguém espalha a semente na terra. Ele vai dormir e acorda, noite e dia, e a semente vai germinando e crescendo, mas ele não sabe como isso acontece. A terra, por si mesma, produz o fruto: primeiro aparecem as folhas, depois vem a espiga e, por fim, os grãos que enchem a espiga. Quando as espigas estão maduras, o homem mete logo a foice, porque o tempo da colheita chegou” (vv. 26-29).

Como na primeira parábola (vv. 1-9), o desenvolvimento da semente é o ponto de comparação. Mas desta vez descreve-se o comportamento do semeador de trigo. Depois do plantio, a semente germe e cresce independentemente do agricultor. A semente contém um princípio de desenvolvimento, uma força interior, secreta: o agricultor “não sabe como isso acontece” (v. 27c). Bem, hoje se sabe muito mais, e através da ciência e tecnologia (agronomia) usam-se adubos, fertilizantes, defensivos e até manipula-se a estrutura genética das plantas (transgênicas). Em Mc, o agricultor, depois de semear, só “vai dormir e acorda, noite e dia” (v. 27a). É porque “a terra, por si mesma produz o fruto… Quando as espigas estão maduras, o homem mete logo a foice, porque o tempo da colheita chegou” (vv. 28-29).

Parece que os outros evangelistas, Mt e Lc, não concordaram com esta parábola, porque Mt a transforma em outra parábola, a do joio e do trigo. Como em Mc, o lavrador não deve interferir: não arrancar o joio para não prejudicar o trigo (Mt 13,24-30), ou seja, devemos reconhecer que existem pecadores no mundo e na Igreja, mas não usar de violência contra eles (fanatismo, guerras santas, inquisição, …). No final dos tempos (na colheita), Deus separará o joio (os maus) do trigo (dos bons; cf. Mt 13,36-43). Lc omitiu a parábola de Mc por completo, talvez achando que promovesse a preguiça, ou seja, o “ócio” da elite enquanto o trabalho era para os escravos, o “neg-ócio” (Lc 12,16-21 conta a parábola de um rico fazendeiro).

Hoje podemos descobrir o valor da parábola da Mc de novo. Mc, ou melhor, o próprio Jesus que trabalhava com as próprias mãos, não quer promover a preguiça, mas mostrar que devemos confiar (ter fé) na palavra (semente) de Deus que criou o mundo e atua de maneira irresistível e misteriosa em Jesus (cf. Gn 1; Jo 1,1-18). A atitude certa é ter fé e esperar com serenidade até a colheita (julgamento de Deus). Não precisa ficar nervoso e precipitar-se. Tudo tem seu tempo (Ecl 3). Nem Deus criou o mundo em um só dia; tudo o que é bom precisa do seu tempo.

Mas hoje a propaganda consumista nos leva a um imediatismo que afeta até as relações humanas e destrói o meio ambiente. O capitalismo coloca o lucro acima das pessoas e da natureza. Só funciona com a economia sempre crescendo. Mas o que é crescimento, o que é desenvolvimento? Se a economia cresce sem levar em conta os limites da natureza, é como um câncer que destrói a própria vida. Neste sentido, a economia do índio que não produz é melhor, porque não destrói a base da vida.

Em 2013, no Fórum Econômico Mundial (FEM) em Davos (Suíça), se colocou na pauta pela primeira vez, que a maior ameaça à economia global está nos custos financeiros das mudanças climáticas. “Duas tempestades – ambiental e econômica – estão a caminho de uma colisão. Se não alocarmos os recursos necessários para mitigar o crescente risco de eventos climáticos severos, a prosperidade global para futuras gerações pode ser ameaçada. Líderes políticos, líderes empresariais e cientistas precisam se unir para administrar esses riscos complexos”, comentou John Drzik, diretor executivo do FEM. A parábola nos ensina que existem outros valores do que só trabalho e consumo desenfreados num desenvolvimento insustentável. Não é só uma questão econômica, mas ética.

E Jesus continuou: “Com que mais poderemos comparar o Reino de Deus? Que parábola usaremos para representá-lo? O Reino de Deus é como um grão de mostarda que, ao ser semeado na terra, é a menor de todas as sementes da terra. Quando é semeado, cresce e se torna maior do que todas as hortaliças, e estende ramos tão grandes, que os pássaros do céu podem abrigar-se à sua sombra” (vv. 30-32).

A segunda parábola que ouvimos hoje é a última do discurso de Mc 4, mas foi transmitida também pela fonte Q (coleção antiga de palavras que se preservou em partes de Mt e Lc) junto com outra parábola pequena, a do fermento que a mulher mistura com uma porção maior de farinha (Mt 13,31-33; Lc 13,18-21). Como o grau de mostarda e o fermento, o reino de Deus tem um começo modesto, mas um grande desenvolvimento.

O grão de mostarda tem um tamanho menor que um milímetro, mas a planta madura pode alcançar uma altura de quatro metros nas hortas da Galileia e “estende ramos tão grandes que os pássaros do céu podem abrigar-se à sua sombra” (v. 32b; cf. Ez 17,23; Dn 4,9.18). Is 5 comparou Israel com uma videira (cf. Jo 15; Mc 12,1-9p); Ez 17 comparou o povo de Deus com uma árvore replantada. Dn 4 comparou o império babilônico de Nabucodonosor com uma “árvore… cuja grandeza chegou até o céu”, e os pássaros são as outras nações que se abrigam nela. Mas o Senhor mesmo o destronará e plantará um broto “sobre um alto monte de Israel. Ele deitará e produzira frutos do modo que à sua sombra habitará toda espécie de pássaros” (Ez 17,23). O termo “reino de Deus” aparece neste contexto (cf. Dn 2,44; 4,14.31; 7,13-14).

A novidade de Jesus é que não se inaugure o reino de Deus num grande evento apocalíptico (cf. Mc 13,7-5.10.24-27.32), mas já começa pequeno, já está perto e no meio de nós (cf. Mc 1,15; Lc 17,20-21) na pessoa de Jesus Cristo, no cotidiano da vida cristã.

Sem confundir o reino de Deus com a Igreja, podemos afirmar que o começo modesto e o crescimento enorme se verificaram de certo modo: Um menino pobre em Belém está no início de um movimento que evoluiu: de doze apóstolos na periferia do império romano para uma organização internacional (Igreja Católica) que some mais de um bilhão de pessoas e junto com outros “ramos” (igrejas ortodoxas, protestantes,…) é quase um terço da população do planeta (dois bilhões de cristãos).

Podemos tirar um resumo destas duas parábolas e do discurso todo. Para fazer parte do reino de Deus precisa ter abertura, serenidade e confiança (fé) na Palavra de Jesus e não ficar ansioso por sucesso imediato (o agricultor semeia e sabe aguardar até a colheita). Esta palavra (semente) cresce com uma força misteriosa apesar de parecer pequena (semente de mostarda). Nunca devemos desprezar o pequeno, o humilde, o menor (cf. 9,41-42; 10,13-16; Mt 10,42; 25,31-46; Lc 1,48.52; 2,12; Jo 1,46; …).

Jesus anunciava a Palavra usando muitas parábolas como estas, conforme eles podiam compreender. E só lhes falava por meio de parábolas, mas, quando estava sozinho com os discípulos, explicava tudo (vv. 33-34).

O final do evangelho de hoje é a conclusão do discurso. “Jesus só lhes falava em parábolas” (v. 34a). As multidões só entendem parábolas, metáforas ou histórias do seu cotidiano (como hoje preferem novelas na TV). A Palavra de Deus vem do céu (o espírito é universal, cf. Jo 3,8; At 2), mas sempre se adapta (encarnação, inculturação) nas limitações dos seres humanos de certa época ou região da terra, “conforme eles podiam compreender” (v. 33b). Assim Jesus falava em parábolas agrícolas para os pobres da Galileia, e o apóstolo Paulo fazia discursos sofisticados para o povo das cidades greco-romanas (cf. At 17,16-34). Nós devemos traduzir esta Palavra não somente para nossa língua, mas adaptar à nossa situação e aos nossos conceitos atuais (não fazer leitura fundamentalista “ao pé da letra”). Mas Jesus, “quando estava sozinho com os discípulos, explicava tudo” (v. 34b). Mc faz esta distinção entre “os de fora” e “os de dentro” (vv. 11-12; 3,31-34). Jesus chamou os discípulos “para que ficassem com ele” (3,13; cf. 6,31, 9,2.30; 10,32) e aprendessem os valores do reino. Nós como discípulos e missionários de Jesus devemos aprofundar a palavra de Deus no estudo e nos círculos bíblicos da comunidade. O Espírito Santo que inspirou os autores bíblicos (2Tm 3,16-17) nos explicará tudo (cf. Jo 14,26; 16,13-15).

O site da CNBB resume: Muitas vezes tentamos explicar a realidade do Reino de Deus de uma forma muito complicada, repleta de elaborações doutrinais e de palavras com significados bem específicos que exigem dicionários e conhecimentos específicos em várias ciências para a sua compreensão. Jesus não age assim. Ele procura revelar as verdades do Reino de forma muito simples, compreensível para todas as pessoas, para que os simples e humildes possam acolher a proposta divina e dar a sua adesão a esta proposta sem desanimar diante de dificuldades teóricas e científicas.

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