31 de Julho de 2017, Segunda-feira-17ª Semana

Leitura: Ex 32,15-24.30-34

Depois da aliança selada (com sangue de novilhos) no monte Sinai (24,1-11; cf. leitura de sábado passado), Moisés subiu de novo à montanha para receber o documento da aliança (protocolo ou “testemunho”, cf. 25,16.21s; 31,18), ou seja, as duas tábuas com o decálogo (dez palavras/mandamentos), escritas pelo próprio Deus (24,12-18; 31,18).

Moisés voltou do cume da montanha, trazendo nas mãos as duas tábuas da aliança, que estavam escritas de ambos os lados. Elas eram obra de Deus e a escritura nelas gravada era a escritura mesma de Deus (vv. 15-16).

A atribuição da escrita a Deus, como já a declaração direta do próprio Deus diante seu povo (Ex 20,1-17; cf. leitura de sexta-feira passada) salienta a importância destes dez mandamentos e a convicção de que foram inspirados pelo próprio Deus, embora tenham surgido como síntese de um longo processo.

Não aguentando a voz poderosa de Deus, o povo havia pedido Moisés para ele intermediar (20,18-21). Então Moisés subiu a montanha (20,21; 24,9.12-18) e “permaneceu na montanha 40 dias e 40 noites” (24,18) recebendo diversas instruções sobre a fabricação da tenda de reunião (o tabernáculo que prefigura o templo posterior em Jerusalém) e seu inventário do culto (25,1-31,17). Na sua ausência, porém, o povo no pé da montanha cai no pecado da idolatria (cf. a versão de Dt 9,15-21 na boca de Moisés).

Josué, ouvindo o tumulto do povo que gritava, disse a Moisés: “Há gritos de guerra no acampamento!”. Moisés respondeu: “Não são gritos de vitória, nem gritos de derrota; o que ouço são vozes de gente que canta”. Quando chegou perto do acampamento, e viu o bezerro e as danças, Moisés encheu-se de ira e arremessou por terra as tábuas, quebrando-as no sopé da montanha (vv. 17-19).

Josué que já foi apresentado em 17,8-14 subiu a montanha junto com Moisés em 24,13 e reaparece dialogando com Moisés a meio altura; ele será o sucessor de Moisés (Nm 27,15-23) e, junto com Caleb, entrará na terra prometida como únicos sobreviventes desta geração pecadora que sempre queria voltar ao Egito (cf. Nm 14,30s.38; Dt 1,36-38). O bezerro de ouro representa uma recaída aos deuses egípcios que eram representados com cabeças de animais.

Para ser breve, nossa liturgia saltou os vv. 1-14 que narram como o povo pecou, na ausência de Moisés, com a fabricação e adoração de um “bezerro de ouro” numa festa que incluiu danças em honra do Senhor (cf. 2Sm 6,14: Davi dança na frente da arca da aliança).

A releitura pós-exílica apresenta a idolatria como rebeldia (“gritos de guerra”) contra Deus. A Bíblia do Peregrino (p. 164) comenta: O primeiro ato do povo, logo que foi selada a aliança, é uma rebelião grave contra a mesma aliança. Logo após ser constituído como povo, em sua própria origem, o povo peca: e seu pecado original.

A Nova Bíblia Pastoral (p. 109) relaciona esta narrativa do “bezerro de ouro” com a reação dos reis Ezequias e Josias do reino do Sul (Judá) ao culto concorrente do reino do Norte (Israel):

A base destas narrativas é a condenação das imagens de metal usadas no culto nas cidades, e que pressupõem acúmulo de riqueza e poder (Os 8,4-5; 13,2). Na época de Ezequias e de Josias, esta condenação foi direcionada contra os bezerros de Dã e Betel, santuários oficiais de Israel (1Rs 12,28.32; 2Rs 10,29-31), legitimando a proibição do culto a outros deuses e às imagens (2Rs 18,1-6; 23,1-25), proibição depois reforçada pelo monoteísmo pós-exílico (Lv 19,4; 2Rs 17,15-16; Ne 9,18; 2Cr 13,8; Sl 106,19-20; Os 10,5-6)…. A polêmica contra as imagens de metal no culto da cidade (Os 8,4-5; 13,2), criadas e mantidas a partir de tributo, concentração de riquezas e poder (cf. 20,23; 34,17; Lv 19,4; Dt 9,12.16; 1Rs 14,9; Is 30,22), foi aplicada por Ezequias contra os bezerros do culto oficial de Israel (plural nos vv. 4 e 8, …), visando integrar os sacerdotes e o povo do reino do norte ao domínio de Jerusalém.

Imagens de touros ou de novilhos, símbolos de força e fertilidade (Gn 49,24; Sl 132,2.5), eram pedestais ou tronos sobre os quais se imaginava que pousava a divindade invisível que podia ser El/Elohim (1Rs 12,28), Baal ou Javé (32,5; 1Sm 4,4). No culto do deus invisível Javé, porém, deve servir a arca da aliança como pedestal, sobre a qual Deus falará no meio dos dois querubins (imagens de anjos, cf. 25,10-22).

Moisés atua como juiz (vv. 19-29) e como intercessor (vv. 11-14.30-35). Quebrar as tábuas significa a ruptura da aliança. Depois do perdão vai precisar de outras duas tábuas para renovar a aliança e receber a segunda edição do decálogo que Deus escreverá outra vez com seu punho, mas desta vez Moisés terá que lavrá-las, porque ele as quebrou (cf. 31,18; 34,1.4.28)

Em seguida, apoderou-se do bezerro que haviam feito, queimou-o e triturou-o, até reduzi-lo a pó. Depois, espalhou o pó na água, e fez os filhos de Israel beberem dela (v. 20).

Moisés destrói a imagem do bezerro até “reduzi-lo a pó” (cf. a reforma de Josias em 2Rs 23,4-6.10-14). Assim o ídolo mostra sua impotência diante da ira de Moisés: o que foi feito, é desfeito. E o pó se converte em bebida de maldição que penetra nos corpos dos culpados, para denunciar a culpa e castigá-la.

O último verbo (“beberam”, o termo hebraico tem um sentido incerto) não se acha na versão de Dt 9,21. Trata-se talvez de um ordálio (teste judiciário para conseguir um julgamento “divino”), para designar os verdadeiros culpados, os três mil homens que vão ser condenados (v. 28; cf. Nm 5,11-31 no caso de suspeito de adultério; idolatria é visto como adultério um rompimento da aliança).

A Bíblia de Jerusalém (p. 154) comenta: Mas aqui não se trata de um ordálio, como no texto citado de Nm, pois todo o povo é considerado culpado. A tradição primitiva provavelmente deixava a Deus o castigo, que aqui é atribuído aos levitas (cf. vv. 25s). Dt 9,21 narra o fato de outro modo.

Moisés disse a Aarão: “Que te fez este povo, para atraíres sobre ele tão grande pecado?” Aarão respondeu: “Não se indigne o meu Senhor. Tu bem sabes que este povo é inclinado ao mal. Eles me disseram: “Faze-nos deuses que caminhem à nossa frente, pois quanto àquele Moisés, que nos tirou da terra do Egito, não sabemos o que lhe aconteceu”. Eu, então, lhes disse: “Quem de vós tem ouro?” Eles trouxeram ouro e me entregaram, e eu lancei-o no fogo e saiu este bezerro” (vv. 21-24).

O interrogatório de Aarão contrasta com a oração precedente de Moisés (vv. 11-14). O sacerdote culpado se desliga do povo “inclinado ao mal”, jogando nele toda culpa. (cf. o diálogo entre Deus e Adão e Eva depois do pecado original em Gn 3,18-13). E dá uma versão falsa, dir-se-ia mágica, da fabricação: “lancei-o no fogo e saiu este bezerro”. Talvez estes versículos contenham uma crítica contra sacerdotes (aaronitas) que aceitaram imagens (1Rs 12,31; 2Rs 23,4-9; 2Cr 11,13-17; 13,4-12; 36,14; Ez 7,17-19; 16,17; 44,10).

Os vv. 1-6 narram como se chegou a este pecado: na ausência de Moisés, o povo pediu a Aarão que lhe fizesse (um) deus(es), assim o povo se mostrou infiel à primeira/segunda cláusula do decálogo (20,4). Queria possuir um ídolo (imagem), isto é, um objeto que, sem ser um Deus, torne de certo modo Deus visível e palpável. Significa rejeitar o Deus livre e invisível do Sinai para querer um Deus do qual se possa dispor à vontade, ainda que aparentemente a ele obedecendo. Quando Aarão terminou sua obra da arte, disseram: “Este é o teu deus(es) que te tirou do Egito” (cf. Ex 20,2).

Como a palavra hebraica por “Deus”, Elohim, já é uma forma gramatical no plural, as traduções oscilam neste capítulo entre o singular (“deus” Bíblia de Jerusalém, Bíblia do Peregrino, Ave Maria, Bíblia Pastoral) e o plural (“deuses”: texto litúrgico, CNBB, Vozes, TEB, Nova Bíblia Pastoral). De qualquer modo, o pecado é contra o 1º mandamento: não ter outros deuses, e não fazer imagens (de Javé ou de outros deuses, cf. Ez 20,2-6 e o comentário de sexta-feira passada).

A Bíblia de Jerusalém (p. 155) comenta: O “bezerro” de outro, assim chamado por ironia, é de fato imagem de um novilho, um dos símbolos divinos do antigo Oriente. Um grupo concorrente… pretende ter como símbolo da presença do seu Deus uma figura de touro em vez da arca da Aliança. Mas trata-se sempre de Iahwe (v. 5) que fez Israel sair do Egito (v. 4 e 8).

A Tradução Ecumênica da Bíblia (p. 143) comenta: Quanto as estelas do antigo Oriente, o deus da tempestade era por vezes representado de pé sobre um touro novo, símbolo de força e de fecundidade. Aqui, o bezerro (ou touro novo) não é propriamente divinizado, mas é pedestal da divindade, mais ou menos como os querubins de Jerusalém. A imagem do bezerro, porém, foi banida do culto de Israel por causa de suas ligações com os mitos naturistas cananeus.

Nossa liturgia omitiu os vv. 25-29, que contam como os levitas, guardas do Templo pós-exílico (cf. Nm 18,3-4; Ez 40,45) se mostram fiel a Javé e a ordem de Moisés matando “uns 3000 homens”. Como depois na conquista da terra por Josué, transparece a violência de uma religião que justifica matar em nome de Deus (cf. 19,12-13; 23,23; Nm 25,1-18; Dt 136,2-19; Js 1,18; 6,21; 8,24-25; 2Rs 9,22-10,27; 23,20; Esd 6,11-12; 7,26; 9,3-7; Jo 8,40-47), mas isso não condiz com o Novo Testamento.

No dia seguinte, Moisés disse ao povo: “Vós cometestes um grandíssimo pecado. Mas vou subir ao Senhor para ver se de algum modo poderei obter perdão para o vosso delito”. Moisés voltou para junto do Senhor, e disse: “Ah! Este povo cometeu um grandíssimo pecado: fizeram para si deuses de ouro. Peço-te que lhe perdoes esta culpa, senão, risca-me do livro que escreveste”. O Senhor respondeu a Moisés: “É aquele que pecou contra mim que eu riscarei do meu livro. E agora vai, e conduze este povo para onde eu te disse. O meu anjo irá à tua frente; mas, quando chegar o dia do castigo, eu os punirei por este seu pecado” (vv. 30-34).

Em vv. 11-14, Moisés já intercedeu pelo povo. Os vv. 30-35 são uma releitura que coloca Moises no papel do sumo sacerdote pós-exílico (cf. Lv 16; Ez 45,18-24; Rm 3,25).

“Risca-me do livro”; pode ser referir às listas feitas por ocasião dos recenseamentos (Nm 1,2). Ser riscado dessas listas significa não fazer mais parte do povo. Ou é o livro que contém as ações do homem e descreve o seu destino (cf. Sl 69,29; 139,16, etc.).

A Bíblia do Peregrino (p. 166) comenta: A nova intercessão se apresenta como expiação. Em vez de uma vítima, Moisés oferece sua solidariedade. Ao ser riscado do registro, é entregue à morte (Sl 69,29). Mas a responsabilidade é pessoal (segundo a doutrina de Ez 18): o castigo fica adiado e pendente. A Moisés compete continuar a grande marcha para a terra prometida: conta com águia do “anjo do Senhor” que atuou na passagem do mar Vermelho (Ex 14,19).

 A Tradução Ecumênica da Bíblia (p. 142) resume os caps. 32-34: O texto como tal é uma reflexão sobre a aliança rompida e depois refeita. O povo pecador está sob a cólera de Deus (32,10); mas em resposta à prece de Moisés (32,11-13.31-32; 33,12-16), à atuação enérgica dos levitas que permaneceram fieis (32,25-29) e à penitencia do povo (33,4-6), Deus dá o seu perdão (32,14) – ele não castiga sem discernimento (32,33) nem imediatamente (32,34). Renova a sua aliança (34,1-28) e concede ao povo o benefício de ter sempre presente um profeta como Moises (34,29-35). As antigas tradições que estão na base desse texto atestam a luta que Moisés deve ter sustentado para manter a pureza da aliança. A redação definitiva foi igualmente influenciada pela luta dos profetas (cf. Am 4,4; 5,5; 7.10-17; Os 8.5-6; 10,5) contra os bezerros erigidos por Jeroboão em Betel e em Dan (1Rs 12,26-33).

 

Evangelho: Mt 13,31-35

Antes da explicação da parábola do joio (vv. 36-43, evangelho de sábado passado), Mt apresenta duas parábolas pequenas e uma primeira conclusão do discurso das parábolas. Na primeira parábola (vv. 31-32) intervêm um homem, na segunda uma mulher (v. 33). Como o grão de mostarda e o fermento, o Reino tem um começo modesto, mas um grande desenvolvimento. Não há explicação como nas parábolas anteriores, por isso as interpretações das parábolas divergem mais, referindo-se a Cristo, à Igreja, ao cosmo e ao indivíduo. A novidade de Jesus é: Não se inaugura o Reino de Deus num grande evento apocalíptico (cf. Mt 24-25), mas num pequeno começo, o Reino já está perto e no meio de nós (cf. Mc 1,15p; Lc 17,20s), na pessoa de Jesus Cristo e no cotidiano da vida cristã.

Jesus contou-lhes outra parábola: “O Reino dos Céus é como uma semente de mostarda que um homem pega e semeia no seu campo. Embora ela seja a menor de todas as sementes, quando cresce, fica maior do que as outras plantas. E torna-se uma árvore, de modo que os pássaros vêm e fazem ninhos em seus ramos” (vv. 31-32).

Mt encontrou a parábola da mostrada já em Mc 4,30-32. As concordâncias com Lc 13,18s contra a versão mais antiga de Mc são significativas: “um homem”, “árvore”, “abrigam em seus ramos”, e a segunda parábola (do fermento) falta em Mc. Pode-se pensar em duas possibilidades: Ou havia uma segunda edição de Mc (Deuteromarcos) com estas modificações, ou havia outra versão da mesma parábola em Q (a coleção perdida de palavras de Jesus que Mt e Lc usam além de Mc). A última tese é mais provável, porque Lc colocou esta parábola junto com a do fermento em outro lugar (Lc 13,18-21), fora do discurso das parábolas (Lc 8,4-18p).

Como as parábolas anteriores, também essa parábola de imagem vegetal descreve o dinamismo da mensagem evangélica. O crescimento só vem mencionado num inciso (“quando cresce”, v. 32). O grão de mostarda tem um tamanho menor que um milímetro, mas a planta madura pode alcançar uma altura de quatro metros nas hortas da Galileia, “estende ramos tão grandes que os pássaros do céu podem abrigar-se à sua sombra” (Mc 4,32b; cf. Ez 17,23). Nos livros proféticos, Isaías comparou Israel com uma videira (Is 5; cf. Jo 15); Ezequiel com uma árvore replantada (Ez 17); Daniel comparou o reino de Nabucodonosor com uma “árvore… em cujos ramos se aninhavam as aves do céu” (Dn 4,18). O termo “Reino de Deus” (maior daquele de Nabucodonosor) aparece neste contexto (cf. Dn 2,44; 4,14.31; 7,13-14). Os pássaros voando nas hortaliças alargam o alcance da imagem inicial e sugerem a entrada de muitos povos no Reino. À diferença de Lc 13,19, Mt não afirma, mas pressupõe a expectativa comum de Israel que o fim será esplêndido, mesmo para as nações, quando vier o Senhor.

A expressão “pequeno como um grão de mostarda” tornou se provérbio. A mensagem da parábola é que o Reino terá sucesso, embora ainda possa parecer pequeno. Sua lição é uma visão de fé: reconhecer, através dos modestos inícios de Jesus – muito mais modestos que os de outras figuras no passado de Israel – o esplendor do fim.

Sem confundir o Reino de Deus com a Igreja, podemos afirmar que o começo modesto e o crescimento enorme já se verificaram de certo modo: Um casal estéril (Abraão e Sara) se torna ancestral de um povo numeroso; escravos fugitivos do Egito (Moisés) e pastores das montanhas (Davi), aos poucos formam a nação de Israel. Lá, um menino pobre em Belém está no início de um movimento que evolui para todos os cantos do mundo: de doze apóstolos na periferia do Império Romano para uma organização internacional (Igreja Católica) que hoje some mais de um bilhão de pessoas e junto com outros “ramos” (Igrejas ortodoxos e protestantes) tem como membros um terço da população do planeta (dois bilhões de cristãos).

Jesus contou-lhes ainda uma outra parábola: “O Reino dos Céus é como o fermento que uma mulher pega e mistura com três porções de farinha, até que tudo fique fermentado” (v. 33).

Esta parábola é uma variante doméstica da anterior. Ao contraste ensinado pelo grão de mostarda, acrescenta-se a mistura do levedo e a transformação da massa. Não conta só a quantidade de matéria, mas a energia no processo e a paciência exigida pelo tempo intermediário.

Também essa imagem se tornou proverbial: “o fermento na massa”. A imagem sugere o ocultamento de uma minoria na massa e o contraste entre tamanho e eficácia. Como o grão de mostarda é também o fermento, o Reino de Deus tem um começo modesto, mas um grande desenvolvimento. A imagem do fermento pode ser usada para designar um desenvolvimento bom, como aqui, ou ruim também, como num desvio de comportamento ou doutrina descritos por Paulo: “um pouco de fermento leveda toda a massa” (1Cor 5,6; Gl 5,9, cf. Mt 15,6.11p).

A Nova Bíblia Pastoral (p. 1203) comenta: Esta parábola trata do incômodo que a presença do Reino produz na sociedade marcada por critérios e práticas que discriminam e marginalizam as pessoas. Para compreender o impacto da chegada do Reino, é preciso olhar não para o pão, mas para a maneira como ele é feito pela ação da mulher, e para os efeitos do fermento, algo malcheiroso que inclusive era tido como símbolo de corrupção.

O termo “fermento” foi usado pelo Concílio Vaticano II (LG 31) para caracterizar a missão própria dos leigos e leigas no meio da sociedade: Por vocação própria, compete aos leigos procurar o Reino de Deus tratando das realidades temporais e ordenando-as segundo Deus. Vivem no mundo, isto é, em toda e qualquer ocupação e atividade terrena, e nas condições ordinárias da vida familiar e social, com as quais é como que tecida a sua existência. São chamados por Deus para que, aí, exercendo o seu próprio ofício, guiados pelo espírito evangélico, concorram para a santificação do mundo a partir de dentro, como o fermento, e deste modo manifestem Cristo aos outros, antes de mais pelo testemunho da própria vida, pela irradiação da sua fé, esperança e caridade. Portanto, a eles compete especialmente, iluminar e ordenar de tal modo as realidades temporais, a que estão estreitamente ligados, que elas sejam sempre feitas segundo Cristo e progridam e glorifiquem o Criador e Redentor.

Tudo isso Jesus falava em parábolas às multidões. Nada lhes falava sem usar parábolas, para se cumprir o que foi dito pelo profeta: “Abrirei a boca para falar em parábolas; vou proclamar coisas escondidas desde a criação do mundo” (vv. 34-35).

O v. 34 era o final do discurso de parábolas em Marcos (Mc 4,33s). Mt, porém, acrescenta uma citação bíblica (v. 35), conforme seu costume. Em seguida, apresenta a explicação do joio e mais duas parábolas, dirigidas apenas aos discípulos, não mais às multidões (vv. 36-53).

Diferindo do primeiro motivo dado às parábolas (13,10-15, copiado de Mc 4, e ampliado por Mt), a segunda explicação, própria de Mt, se relaciona com a maneira necessária da revelação dos mistérios divinos.

Mt chama de “profeta” o salmista (Sl 78,2), inaugurando uma tradição interpretativa que os Santos Padres repetirão. Unido a 11,13, ele considera grande parte do AT como profecia: lei, profetas, salmos. Em vez de “criação” pode se traduzir “fundação”; portanto, vários documentos omitem: “do mundo”. É citação de um salmo que repassa teologicamente a história de Israel desde o êxodo até Davi. A aplicação parte de Jesus e visa ao futuro.

As parábolas permitem às pessoas que as escutam, desenvolver a compreensão sobre as realidades da vida cotidiana e perceber de que forma o Reino anunciado e realizado por Jesus convoca para a ação e transformação, em vista da justiça de Deus.

O site da CNBB comenta (referindo-se a Mt 5,48; Ef 4,12; Cl 3,14; 1Jo 4,16): A nossa vida de fé é um processo de maturação espiritual que encontra seu início nas águas do Batismo e deve crescer durante toda nossa vida apesar de todas as dificuldades que marcam a existência humana. Este crescimento deve acontecer constantemente. Deve ser uma busca cada vez maior da perfeição, conforme nos diz o próprio Jesus: “Sede perfeitos como vosso Pai que está nos céus é perfeito”. O modelo para nós de perfeição é o próprio Jesus, e é por isso que São Paulo nos exorta ao crescimento até atingirmos a estatura de Cristo. O amor nos leva ao crescimento, já que a caridade é o vínculo da perfeição e quem ama permanece em Deus.

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