9 de Setembro 2019, Segunda-feira: Jesus, porém, conhecendo seus pensamentos, disse ao homem da mão seca: ”Levanta-te, e fica aqui no meio. ” Ele se levantou, e ficou de pé (v. 8).

23ª Semana do Tempo Comum 

Leitura: Cl 1,24-2,3

Na leitura de hoje, o autor da carta, um discípulo que escreve em nome de Paulo, comenta a natureza, o conteúdo e os perigos do ministério do evangelho. Ele se alegra porque o seu sofrimento confirma que ele está anunciando o verdadeiro Evangelho (cf. Mc 13,5-10) que é um mistério divino.

Alegro-me de tudo o que já sofri por vós e procuro completar na minha própria carne o que falta das tribulações de Cristo, em solidariedade com o seu corpo, isto é, a Igreja (v. 24).

Falando com Paulo, o autor apresenta uma imagem idealizada no cenário histórico do ministério de Paulo. Assim, ministros que sofrem pela comunidade fazem-no com alegria, seguindo o exemplo de Paulo que se alegrava nas perseguições porque provam a autenticidade do Evangelho (Fl 1,18; 2,17; 2Cor 7,4; 12,10; cf. At 5,41; 14,22 etc.).

O que ainda “falta nas tribulações de Cristo”? Não se trata dos sofrimentos expiatórios da cruz, mas das provações ligadas ao fim do tempo e à pregação do evangelho (cf. Mc 13,5-10; At 14,22; Rm 5,3; 2Cor 1,5; Fl 1,20) que o apóstolo/discípulo/ministro completa em sua carne e completa com sua palavra.

O sacrifício da cruz de Jesus foi único (cf. Rm 6,10; Hb 7,27; 9,12.25-27; 10,10.12.14; 1Pd 3,18), mas o discípulo (no qual é Jesus que vive; cf. Gl 2,20; 2Cor 4,10-12) partilha a sorte do seu mestre (Jo 15,20). Seguir Jesus significa tomar o mesmo caminho e o mesmo destino. Jesus sofreu pelo reino, Paulo pela Igreja. A Igreja é o corpo de Cristo (cf. v. 18; Rm 12,4s; 1Cor 12). Uma interpretação antiga (Agostinho) estende a todos os cristãos essa vocação de sofrer em comunhão com o Senhor e em benefício da comunidade eclesial. Neste sentido, “Jesus está em agonia até o fim do mundo” (Pascal), mas na perspectiva da ressurreição (cf. Mt 28,20; Rm 8,18-23).

A ela eu sirvo, exercendo o cargo que Deus me confiou de vos transmitir a palavra de Deus em sua plenitude: o mistério escondido por séculos e gerações, mas agora revelado aos seus santos. A este Deus quis manifestar como é rico e glorioso entre as nações este mistério: a presença de Cristo em vós, a esperança da glória. Nós o anunciamos, admoestando a todos e ensinando a todos, com toda sabedoria, para a todos tornar perfeitos em sua união com Cristo. Para isso eu me esforço com todo o empenho, sustentado pela sua força que em mim opera (vv. 25-29).

Paulo, ativado pela força de Cristo (v. 29), tinha que trabalhar e lutar (esforçar, v. 29; luta, 2,1), e também sofrer (v. 24; cf. At 9,16) para dar cumprimento ao plano de Deus. Ele é confidente de um segredo que é o cerne da missão do apóstolo Paulo: anunciar o “mistério” do projeto de Deus, outrora “escondido por séculos, mas agora revelado aos seus santos (cristãos) ” e confiado especialmente a “cargo” de Paulo (Gl 2,7). Deus quer que não só os judeus, mas também os pagãos (“as nações”) participem da redenção realizada mediante Cristo (Ef 1,9-10; 3,3-7; já em Rm 16,25-26; 1Cor 2,7-9). A conversão dos colossenses, que antes eram pagãos, manifesta visivelmente esse projeto de Deus, “a presença de Cristo em vós”.

Como Paulo se esforçou, também o fazem os ministros (“nós”, v. 28): “anunciamos, admoestando a todos e ensinando a todos, com toda sabedoria, para a todos tornar perfeitos” A perfeição em Cristo é o objetivo do ministério, mas vem somente “em (sua união com) Cristo”, i. são, dentro do seu corpo (da Igreja), não separado dele (cf. Fl 3,12-15a).

Quero, pois, que saibais que luta difícil sustento por vós, pelos fiéis de Laodiceia e por tantos outros, que não me conhecem pessoalmente, para que sejam consolados e se mantenham unidos na caridade, para que eles cheguem a entender profunda e plenamente o mistério de Deus Pai e de Cristo Jesus, no qual estão encerrados todos os tesouros da sabedoria e da ciência (2,1-3).

Em nome de Paulo que se esforçou com todo empenho numa “luta difícil” (cf. 2Cor 11,16-33) , autor se dirige aos que não viram o apóstolo “pessoalmente”, aos colossenses (1,7s), aos fiéis da cidade vizinha, Laodiceia (4,13-16) e tanto outros, para que os cristãos intensifiquem a vivência do amor e cheguem a conhecer outro “mistério” inesgotável: “todos os tesouros da sabedoria e ciência” que há em Cristo (cf. as riquezas da sabedoria personificada em Pr 2,3-6; 8,21ss; Eclo 24,28; Sb 9,11; cf. 1Cor 1,24; Ef 2,4; 3,4; Cl 4,3). Desse modo, eles permanecerão firmes na fé e se tornarão capazes de discernir e resistir a qualquer coisa ou doutrina que possa desviá-los do Cristo anunciado pelo Evangelho.

O primeiro mistério, ao ser divulgado, deixou de ser segredo: Deus tinha prometido um messias (Cristo) para os judeus, e eles o esperavam para si. Mas no projeto de Deus, o messias estava destinado também para os pagãos; o segredo, porém, foi guardado até o momento oportuno. Agora Paulo é o confidente. Cabe a ele (e seus sucessores) comunicá-lo e divulgá-lo (cf. Gl 2,7; At 9,15s; 22,21; 26,17s). O segundo mistério não se esgota, porque acontece que o messias enviado supera toda imaginação, ele é o salvador das nações e do universo (cf. o hino em 1,15-20); cada manifestação sua tem tal profundidade que sempre será um mistério, ou seja, nunca se esgota, nunca chega a um fim do conhecimento, sempre é novo (cf. o mistério da Santíssima Trindade).

 

Evangelho: Lc 6,6-11

No evangelho de hoje lemos o quinto confronto de Jesus com as autoridades e o segundo por causa do sábado.

Aconteceu num dia de sábado que, Jesus entrou na sinagoga, e começou a ensinar. Aí havia um homem cuja mão direita era seca. Os mestres da Lei e os fariseus o observavam, para verem se Jesus iria curá-lo em dia de sábado, e assim encontrarem motivo para acusá-lo (vv. 6-7).

“Aconteceu num dia de sábado que” (lit.: em outro sábado, cf. v. 1), Jesus provoca outra vez na ocasião do seu ensino na sinagoga num dia de sábado (cf. 4,15s.31) vendo um homem com a mão direito “seca”, quer dizer, paralisada. Lucas atribui a letrados e fariseus uma intenção má: observam, espiam em silêncio (cf. Sl 59,4) para poder acusar Jesus diante da autoridade suprema (cf. Dn 6,12). Lc já notou a perspicácia de Jesus em 5,22, com Mt e Mc. Mas aqui Lc é o único a notá-la aqui, como em 9,47 (cf. 11,17 e 20,23).

Os casuístas fariseus consideravam uma cura, mesmo milagrosa, como um ato medicinal, portanto, um trabalho proibido no dia de sábado (cf. 13,14 e 14,1-2). Segundo os rabinos, só se podia dar alivio a um doente durante o sábado se ele estivesse em perigo de morte. O caso do deficiente constituía-se, por isso, em maneira de testar a atitude de Jesus a esse respeito.

Jesus, porém, conhecendo seus pensamentos, disse ao homem da mão seca: ”Levanta-te, e fica aqui no meio. ” Ele se levantou, e ficou de pé (v. 8).

Jesus chama o deficiente físico: “Levanta-te e vem para o meio” (era o lema da CF 2006), porque estava excluído, estava à margem. Jesus mostra que a lei do sábado deve ser interpretada no seu sentido original como libertação e vida para o homem. Por isso, os que preferem ficar com o velho sistema se reúnem para planejar a morte de Jesus (v. 11): ele está destruindo as ideias de religião e sociedade que eles tinham.

Disse-lhes Jesus: “Eu vos pergunto: O que é permitido fazer no sábado: o bem ou o mal, salvar uma vida ou deixar que se perca? ” Então Jesus olhou para todos os que estavam ao seu redor, e disse ao homem: “Estende a tua mão. ” O homem assim o fez e sua mão ficou curada (vv. 9-10).

Na doença se antecipa a morte (Sl 30,3s; 41; 88,2-7); por isso, curar é fazer o bem, arrancar ou afastar da morte. Omitir o socorro possível em tais circunstâncias é fazer um mal. O doente centraliza e concentra atenção. Ora, a vida é mais importante que o sábado (cf. 1Mc 2,32-41). Jesus leva a questão ao terreno do bem e do mal, da vida e da morte, como fizera Moisés: “Hoje ponho diante de ti a vida e o bem, a morte o mal” (Dt 30,15.19). Em resumo escalonado: defender a própria autoridade, defender a autoridade da lei, defender a vida humana. A lei de Jesus é salvar o homem.

Eles ficaram com muita raiva, e começaram a discutir entre si sobre o que poderiam fazer contra Jesus (v. 11).

Jesus provoca e desafia os desumanos intérpretes da lei, “que decretam injustiças invocando a lei” (Sl 94,20), e eles, por falta de razões, reagem com o rancor. Enquanto Mt e Mc relatam aqui os propósitos homicidas dos fariseus (e dos herodianos) contra Jesus, Lc não especifica as intenções dele. Talvez porque julgue esta ameaça prematura, mas também porque nunca envolve os fariseus na morte de Jesus: ele atribui a responsabilidade desta aos sumos sacerdotes.

No tempo de Lc e Mt (cerca de 80 d.C.) não havia mais sacerdotes, porque o templo em Jerusalém foi destruído em 70 d.C. pelos romanos que não deixaram mais reconstruí-lo. Em Mt, os fariseus e mestres da Lei são responsáveis pela morte dos profetas e de Jesus (cf. Mt 23), por que ele escreve para judeu-cristãos que enfrentavam a hostilidade das lideranças judaicas que restaram, os fariseus. Lc, porém, escreve para gregos e romanos distantes dos costumes e da religião judaica, ele quer criar simpatia no leitor pelo povo judeu do qual nasceu Jesus (cf. Lc 1-2).

O site da CNBB comenta: Duas perguntas podem ser feitas a partir do Evangelho de hoje: a primeira é sobre o motivo da existência da lei, e a segunda é sobre a nossa atitude em relação ao modo de agir das outras pessoas. No primeiro caso, a lei pode existir tanto para garantir direitos como para ser instrumento de opressão e de dominação. Os fariseus e os mestres da Lei fizerem da Lei de Deus não um meio para garantir o bem, mas um meio de estabelecerem relações de poder e dominação. No segundo caso, quando uma pessoa faz algo que nos surpreende, nós podemos condená-la e excluí-la porque não segue os padrões da normalidade ou podemos buscar os seus motivos, e talvez aprendamos novas formas de amar.

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