Nossa Senhora do Carmo, dia 16 de julho

Na época das cruzadas no século XII, alguns eremitas constituíram na “Terra Santa” uma ordem de vida contemplativa, os carmelitas. Como ancestral espiritual consideraram o profeta Elias que defendeu a fé no único Deus no monte Carmelo (1Rs 18). O título Nossa Senhora do Carmo está ligado à visão que o Elias teve sobre o Monte Carmelo durante a grande seca. Elias viu que subia do mar uma nuvem muito pequena, em forma de mão humana e daquela pequena nuvem desabou uma chuva muito forte (1Rs 18,41-46). Os místicos viram na pequena nuvem a imagem profética da Virgem Maria, que gerando o Verbo de Deus, trouxe vida para o mundo. Segundo a tradição carmelita, Nossa Senhora teria entregue o escapulário do Carmelo a São Simão Stock, primeiro geral da ordem. O Monte Carmelo era muito florido. Os santos disseram que Nossa Senhora é a mais bonita flor do Jardim de Deus, a flor do Carmelo. Maria é comparada também à colina de “Sião”, porque nela Deus se fazia presente como antigamente no templo de Jerusalém.

Leitura: Zc 2,14-17

Neste dia dedicada a Nossa Senhora ouvimos o profeta Zacarias animando seus compatriotas para reconstruir o templo em Jerusalém, símbolo da fé e unidade nacional. Junto com seu colega contemporâneo Ageu, agiu com inspirador da reconstrução do templo após o exílio babilônico (por volta de 530 a 518 a.C.). Dezoito anos depois da primeira caravana dos repatriados, Jerusalém estava reconstruída só pela metade. O povo se sente desencorajado e pergunta: “Deus ainda está em nosso meio?”

Rejubila-te, alegra-te, cidade de Sião, eis que venho para habitar no meio de ti, diz o Senhor (v. 14).

Jerusalém e a “cidade de Sião” porque foi construída sobre uma colina chamada Sião. O templo é considerado o lugar da presença de Deus na terra. A razão da alegria será a presença salvadora do Senhor no meio de seu povo (cf. a alegria em Is 12,6; 54,1; Sf 3,14). Estando presente o Senhor, retornarão para a cidade santa não somente os exilados, mas todas as nações.

Muitas nações se aproximarão do Senhor naquele dia e serão o seu povo (v. 15a).

Os profetas mais antigos já sonharam com uma romaria dos povos a Jerusalém para adorarem junto o mesmo Senhor; então haverá paz universal (cf. Is 2,2-4 par Mq 4,1-3). Com a conhecida fórmula de união “naquele dia”, acrescenta-se outro oráculo que alarga a visão precedente (Is 19,24-25; 56,3.6; Jr 50,5). A fórmula da aliança – “serão o seu povo” – é estendida aqui a “muitas nações”: Jerusalém será a metrópole religiosa do universo (cf. Is 45,14); cf. Is 19,25: “meu povo, o Egito e a Assíria… e Israel”.

O Senhor entrará em posse de Judá, com porção na terra santa, e escolherá de novo Jerusalém (v. 16).

A expressão “terra santa” aparece aqui pela primeira vez na literatura bíblica (cf. 2Mc 1,7; cf. Ex 3,5: terreno sagrado). Segundo o texto hebraico, esta adesão dos pagãos far-se-á por uma conversão no seu lugar, enquanto Jerusalém conservará ainda a sua posição privilegiada: “porção”. Na perspectiva da tradução grega, os pagãos se instalarão no meio do povo e dele farão parte integrante, sem nenhuma discriminação. Será a perspectiva do NT em At 8 e 10.

Emudeça todo mortal diante do Senhor, ele acaba de levantar-se de sua santa habitação (v. 17).

É como o grito de um arauto impondo silêncio ao chegar o soberano (Hab 2,20). Como final de vv. 15-16, refere-se à tomada de poderes de um reino próprio e um império internacional (cf. o dialogo de Is 51,9-52,6; cf. também Sl 44,24; 65,9; 73,20). A ”santa habitação” é a o palácio celeste que se imaginava exatamente acima do templo em Jerusalém, o lugar que Javé Deus havia “escolhido para aí fazer habitar seu nome“ (Dt 12,11 etc.).

 

Evangelho: Mt 12,46-50

No evangelho de hoje, Jesus nos apresenta seus novos familiares. Mt copiou este relato do encontro com os familiares de Jesus da sua fonte Mc 3,31-35.

Enquanto Jesus estava falando às multidões, sua mãe e seus irmãos ficaram do lado de fora, procurando falar com ele. Alguém disse a Jesus: “Olha! Tua mãe e teus irmãos estão aí fora, e querem falar contigo” (vv. 46-47).

Mt não diz que Jesus estava numa casa (mas o diz em seguida em 13,1; cf. Mc 3,20.31). Do lado de “fora” deste círculo das multidões que estão com Jesus (desde v. 23), os familiares procuram Jesus, são “a mãe de Jesus e seus irmãos”. O termo “irmão” abrange, em linguagem bíblica, também os parentes (cf. Gn 13,8)

A expressão “irmãos e irmãs” de Jesus (cf. 13,55-56p) é interpretada de maneira diferente: para os católicos são apenas parentes; para os protestantes são outros filhos de Maria. A Tradução Ecumênica da Bíblia (TEB, p. 1882) anota: Na Bíblia, como ainda hoje no Oriente, a palavra irmãos pode designar tanto os filhos da mesma mãe, como parentes próximos (cf. Gn 13,8; 14,16; 29,15; Lv 10,4; 1Cr 23,22).

A própria Bíblia não decide a questão (não está escrito em nenhum trecho da Bíblia que Maria teve apenas um filho, nem está escrito que teve mais de um), mais é tradição da Igreja desde os primeiros séculos que Maria não teve outros filhos além de Jesus. A Igreja Católica considera como revelação divina não só a Bíblia, mas também a tradição da Igreja. O que reforça o dogma da Igreja Católica é a entrega da mãe no pé da cruz ao discípulo amado (Jo 19,26-27). Se existissem outros filhos de Maria, Jesus não precisava entregá-la aos cuidados de um discípulo.

Não se menciona o pai (cf. 13,55; Mc 6,3; 10,30). Então, José, cujo papel Mt destaca na infância (Mt 1-2), já deve ter morrido e Jesus adulto tornou-se chefe da família que quer agora romper o círculo dos seguidores e reclamar seu parente famoso.

Jesus perguntou àquele que tinha falado: “Quem é minha mãe, e quem são meus irmãos?” E, estendendo a mão para os discípulos, Jesus disse: “Eis minha mãe e meus irmãos. Pois todo aquele que faz a vontade do meu Pai, que está nos céus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe” (vv. 48-50).

Jesus não despreza vínculos familiares (cf. 15,4-6), por isso, ele tem um “Pai, que está nos céus” (6,9; 23,9; Lc 2,41-52; Mc 14,36). O Filho de Deus está criando uma nova família, não através da carne, mas através do Espírito (cf. Jo 1,12-13; Rm 8,14-17).

Quem faz a “vontade do meu Pai”, fará parte desta família de Jesus. Quanto a Maria, ninguém como ela cumpriu a vontade do Pai e foi agradecida com o Espírito (cf. Lc 1,35-38). Jesus anuncia a vontade do Pai e a cumpre (26,42). A comunidade reza por ela na oração que Jesus ensinou (6,10). Será critério no julgamento (7,21-23).

O Papa Bento XVI (na Encíclica Deus Caritas Est) olha para a situação de Maria deixada de lado, durante os anos da vida pública de Jesus e percebe a sua grande humildade: aceita ser deixada de lado para que Jesus forme a sua nova família. Maria só se aproximará de Jesus no momento da cruz, quando os seus discípulos tiverem fugido (Jo 19,25-27). Em Pentecostes, todos irão se juntar ao redor dela à espera do Espírito Santo (cf. At 1,14). Stº Ambrósio comentando o texto de hoje diz assim: “Não se propõe aqui a recusa ofensiva dos parentes, mas ensina que os laços espirituais são mais sagrados do que os laços de sangue”.

O próprio Mt acrescentou que Jesus estava “estendendo a mão para os discípulos” (v. 49). Na tradição bíblica, este gesto significa diversas atitudes: carência (12, 13), hostilidade (26,51), bênção (Gn 48,14) ou o poder e o julgamento de Deus (frequente em Ez, Jr, Sf). Em Mt, Jesus estende a mão ao leproso (8,3) e a Pedro que afunda (14,31), ambas demonstrações do seu poder auxiliador. Aqui significa que os discípulos estão sob a proteção do seu Senhor que estará com eles até o fim do mundo (28,20).

Para os judeus, “irmãos” já eram os conterrâneos, para os cristãos são os membros da comunidade. Além disso, os discípulos são “meus irmãos” (cf. 28,10; 25,40; 23,8; Jo 20,17; Rm 8,29; Hb 2,11s). Como irmãos de Jesus, podemos invocar Maria como nossa mãe (cf. Jo 19.25-27).

O site da CNBB comenta (citando Jo 15,15): Jesus não quer que nós sejamos seus servos, pois o amor que ele tem por nós não permite isso. O apóstolo São João nos diz no seu Evangelho que Jesus não chama os seus seguidores de servos, mas de amigos, porque lhes revelou tudo o que o Pai lhe deu a conhecer. Mas no Evangelho de hoje, Jesus vai mais além, ele nos mostra que quer que todos os que ele ama e o amam sejam membros da sua família, participem da sua vida divina. Para demonstrar o amor que temos por Jesus, não basta apenas afirmar o amor que se sente por ele, é preciso ir além, é preciso conhecer e realizar a vontade do Pai. Somente quem faz a vontade do Pai ama verdadeiramente a Jesus, torna-se membro da sua família e participa da sua vida.

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