3 de Fevereiro de 2020, segunda-feira: Vendo Jesus de longe, o endemoninhado correu, caiu de joelhos diante dele e gritou bem alto: “Que tens a ver comigo, Jesus, Filho do Deus altíssimo? Eu te conjuro por Deus, não me atormentes!” (vv. 6-7).

4ª Semana do Tempo Comum 

Leitura: 2Sm 15,13-14.30; 16,5-13a

A história da sucessão de Davi é marcada por acontecimentos trágicos. Conforme o costume do Antigo Oriente, Davi era casado com várias mulheres. Seu filho mais velho se apaixonou por Tamar, sua meia-irmã e a estuprou. Outro filho de Davi, Absalão vingou a violação da sua irmã matando Amnon. Como castigo, Absalão tinha que ficar fora da corte, mas conseguiu o perdão do seu pai Davi pela intercessão de Joab, comandante do exército (cf. caps. 13-14). Ouvimos hoje da fuga do rei Davi, causada pelas intrigas e a revolta de Absalão.

A Bíblia do Peregrino (p. 580) comenta

Absalão se considera com direitos à sucessão e não quer esperar demais. Filho do rei e de uma princesa estrangeira, é agora o primeiro por idade (morto Amnon e desaparecido Queleab). Deixando as coisas no curso normal, Absalão teme perder seus direitos, porque o rei pode eleger o sucessor. Parecia que o rei mostrava preferência por Salomão; ao menos não ocultava sua preferência por Betsabeia, mãe de Salomão [cf. caps. 11-12]. Além do mais, os fatos precedentes tinham posto o jovem Absalão em posição desvantajosa, pois o perdão do rei não fora incondicional. Absalão não pode esperar indefinidamente.

Mas sabe esperar o suficiente para preparar-se bem, explorando uma série de vantagens. Primeiro, sua prestância física, qualidade que, no caso de Saul e de Davi, provou sua validez; essa aparência se realça com o aparato principesco de carruagem e escolta; trata-se de impor uma imagem ao povo. Segundo, as tensões latentes nunca resolvidas entre as tribos do sul e as do norte, Judá e Israel; Judá saiu favorecido na presente situação, provocando inveja e rancores. Terceiro, consequência do anterior, a deficiente administração da justiça central; é tarefa específica do rei em tempo de paz, e a desempenha com seus tribunais da capital ou pessoalmente (Sl 122,5). Muitos, sobretudo de Israel, se queixam dessa situação.

Absalão oferece generosamente imagem, cordialidade fácil, promessas hipotéticas. Durante quatro anos realiza uma tarefa de penetração no povo provavelmente nos conselhos, inclusive na corte. Nesta primeira parte domina a linguagem dos processos: a justiça é o lema do candidato a rei.

Depois de quatro anos desta campanha, Absalão conspirou, pedindo permissão ao rei para oferecer um sacrifício em Hebron (15,7-9); significativo a escolha deste lugar, onde tem o túmulo dos patriarcas, Davi se tornou rei de Judá e de Israel e Absalão nasceu (cf. Gn 18; 23; 2Sm 2,1-4; 3,3; 5,1-5). Lá, porém, Absalão juntou agentes de todas as tribos de Israel, declarou-se rei e aumentava o povo que o seguia (cf. 15,7-12).

Um mensageiro veio dizer a Davi: “As simpatias de todo o Israel estão com Absalão”. Davi disse aos servos que estavam com ele em Jerusalém: “Depressa, fujamos, porque, de outro modo, não podemos escapar de Absalão! Apressai-vos em partir, para que não aconteça que ele, chegando, nos apanhe, traga sobre nós a ruína, e passe a cidade ao fio da espada” (15,13-14).

Com sua intuição, Davi reconhece a gravidade da situação e decide num momento. Apanhado entre as revoltas do Norte e as do Sul, faz uma retirada estratégica. A decisão de fugir não é covardia, mas cálculo político e salvação do conjunto da dinastia, da capital, da arca, do reino. A Bíblia do Peregrino (p. 581) comenta a situação:

A dinastia: lutando dividirá mais ainda a família, ao expô-la a grandes matanças; fugindo, mesmo disposto a perder o trono, a dinastia continuará com Absalão.

A capital: Davi sabe muito bem como é fácil defender Jerusalém; provavelmente está agora mais guarnecida do que no tempo dos jebuseus [cf. 5,6-9]; contudo, um assédio e uma defesa significariam condenar a cidade e seus habitantes à ruína; fugindo, salva a capital. A arca, como veremos, fica na cidade.

O reino: a difícil unificação dos dois reinos ficaria gravemente comprometida com uma guerra civil nos começos, ao passo que Absalão parece capaz de manter unida a nação.

É surpreendente a atuação de Davi diante do futuro, sua síntese de aceitação resignada e cálculo previdente. O cimento último dessa atividade é o Senhor. Davi, vilão no seu esplendor, se refaz em sua desgraça.

Davi não crê que tudo esteja perdido, pois que deixa na cidade alguns partidários seus: os sacerdotes Abiatar e Sadoc devem permanecer com a arca da aliança (vv. 24-29), onde serão espiões de Davi, juntos com seus filhos. As dez concubinas que Davi deixou para cuidar da casa, porém, serão tomadas por Absalão (v. 16; 16,19-22; 20,3).

Davi caminhava chorando, enquanto subia o monte das Oliveiras, com a cabeça coberta e os pés descalços. E todo o povo que o acompanhava, subia também chorando, com a cabeça coberta (15,30).

Caminhar de cabeça coberta e de pés descalços são costumes de luto (19,5; Ez 24,17), tornados indicações de dor (Jr 14,3s; Est 6,12; Mq 1,8) e adequados à execução de ritos expiatórios e propiciatórios. Mas também revelam a frágil resistência de Davi.

No topo do monte das Oliveiras havia um santuário (v. 32; cf. 1Sm 21,2; 1Rs 3,2), onde Davi ganha um aliado importante, Cusai que logo enviado a Jerusalém, conseguirá confundir o conselheiro de Absalão (vv. 32-37; cf. 17,5-14.23).

Quando o rei chegou a Baurim, saiu de lá um homem da parentela de Saul, chamado Semei, filho de Gera, que ia proferindo maldições enquanto andava. Atirava pedras contra Davi e contra todos os servos do rei, embora toda a tropa e todos os homens de elite seguissem agrupados à direita e à esquerda do rei Davi. Semeei amaldiçoava-o, dizendo: “Vai-te embora! Vai-te embora, homem sanguinário e criminoso! O Senhor fez cair sobre ti todo o sangue da casa de Saul, cujo trono usurpaste, e entregou o trono a teu filho Absalão. Tu estás entregue à tua própria maldade, porque és um homem sanguinário” (vv. 16,5-8).

Baurim fica um pouco a leste do monte das Oliveiras. As disputas de Davi com a casa e o partido do primeiro rei Saul balizam a história da sucessão (cap. 9; 16,1-13; 19,16-31; 1Rs 2,8s.36-46). Siba, o servo de Meribaal (filho de Jônatas e neto de Saul) veio mostrar sua fidelidade a Davi informando o sobre as pretensões de Meribaal (vv. 1-4). Mas Semei é típico partidário de Saul, não perdoando a Davi sua crueldade em relação à linhagem (cf. v. 8) do rei morto pelos filisteus em 1Sm 31.

Semei se sente solidário com a família (“casa”) ou parentela (clã) de Saul, e sua acusação principal é de homicídio, profere maldições e chama Davi de “homem sanguinário e criminoso”, lit. homem de sangue (cf. 21,1) e homem de Belial (cf. 20,1; 1Sm 2,12; 25,25). Pode ser que se refira as morte de Abner e de Isbaal (caps. 3-4) e às execuções narradas depois em 21,1-10 (cf. o tratamento misericordioso de Davi a Meribaal, filho de Jônatas em 9,1-13).

Suas palavras proferidas do alto do monte das Oliveiras tem algo de acusação pública (como as de Joatão em Jz 9), o apedrejar (cf. 1Rs 21,13) é intento simbólico de executar o criminoso e, ao mesmo tempo, invocar o Senhor como vingador do sangue derramado.

Na frase “entregou o trono (reino)” ressoam as ameaças de Saul (1Sm 13,14; 15,28). Esta é a visão de um benjaminita (da tribo a qual Saul pertencia), uma tentativa de explicação teológica da historia viva.

A Nova Bíblia Pastoral (p. 354) comenta: As acusações do benjaminita Semei, filho de Gera e remanescente da asa de Saul (v. 11; 20,1) desvelam que a narrativa, até aqui tentou cobrir. Davi é chamado de homem sanguinário e perverso (vv. 7 e 9), acusado de assassinar a família de Saul e de lhe usurpar o reino (v. 8). Por isso, é possível que esses versículos sejam de outra fonte. Em 1Rs 2,8-9 Davi aconselha Salomão a matar Semei.

Então Abisai, filho de Sarvia, disse ao rei: “Por que há de este cão morto continuar amaldiçoando o senhor, meu rei? Deixa-me passar para lhe cortar a cabeça”. Mas o rei respondeu: “Não te intrometas, filho de Sarvia! Se ele amaldiçoa e se o Senhor o mandou maldizer a Davi, quem poderia dizer-lhe: Por que fazes isto?” (vv. 9-10).

Os vv. 9-10 parecem pertencer a outra redação que os vv. anteriores. “Não te intrometas”, lit. “que há entre mim e vós?” (cf. 19,23; 1Rs 17,18; Mc 1,24; Jo 2,4).

Apesar de ser perseguido injustamente por Saul, Davi poupou a vida dele (cf. 1Sm 24; 26) também contra a brutalidade de Abisai que queria a morte de Saul (26,8s). Agora Davi é de novo fugitivo. Quanto mais deve se poupar a vida deste parente de Saul quando o injusto agora é Davi, que sofre agora as consequências do seu pecado com Betsabeia, a desgraça anunciada pelo profeta Natã (cf. caps. 11-12).

E Davi disse a Abisai e a todos os seus servos: “Vede: Se meu filho, que saiu das minhas entranhas, atenta contra a minha vida, com mais razão esse filho de Benjamim. Deixai-o amaldiçoar, conforme a permissão do Senhor. Talvez o Senhor leve em conta a minha miséria, restituindo-me a ventura em lugar da maldição de hoje”. E Davi e seus homens seguiram adiante (vv. 11-13a).

Alguma coisa no coração de Davi correspondeu a essa interpretação teológica do parente de Saul: há pouco Davi chamou seu filho Absalão de rei (15,19), e também é certo que derramou sangue inocente (no cap. 11 o de Urias); na desgraça atual vê cumprir-se a sentença pronunciada pelo profeta Natã (12,9-12).

A Bíblia do Peregrino (p. 584) comenta a situação da desgraça de Davi: Mas não perde por completo a esperança, precisamente porque confia no Senhor que defende os humildes e humilhados: aceitando como castigo as maldições de Semei, talvez aplaque a ira de Deus. A esperança de Davi é humilde e nem sequer se converte em súplica formal, mas fica na insinuação. Que Deus considere a aflição, é tema comum (cf. Sl 9,14; 25,18; 31,8; 119, 153; Lm 1,9; 3,19). Neste momento, Davi se submete à justiça do Senhor como vassalo, e renuncia formalmente a fazer a justiça como soberano. Tudo ascende a um plano de visão teológica, não teórica, porém vivida pelo personagem.

Talvez o Senhor leve em conta “minha miséria” (v. 12); versões: “minha falta” ou “(as lagrimas do) meu olho”. Aqui, o sofrimento do rei ungido Davi prefigura a via sacra do sofrimento do Cristo (Cristo e messias significam rei “ungido”) indo para o calvário.

Na sua volta vitoriosa, Davi perdoará Semei (cf. 19,24), mas para assegurar a tranquilidade da sua dinastia registrará a morte de Semei entre seus últimos desejos (cf. 1Rs 2,8s). Assim, em diversos salmos, o orador não esconde seu desejo de vingança, mas não pela própria mão.

Evangelho: Mc 5,1-20

Hoje o evangelho nos apresenta a primeira atuação de Jesus em terreno pagão, logo um exorcismo de dimensão colossal e descrito por Mc com muitos detalhes e vivacidade.

Já comentamos o esquema comum dos relatos de exorcismo (cf. 1,23-27; comentário da terça-feira da primeira semana) com os seguintes passos: a descrição e a aproximação do possuído (vv. 2-6), o conhecimento sobrenatural da identidade, a revelação do nome (v. 9), a ordem do exorcista (v. 8), a demonstração da cura através de um gesto do demônio (gritar, sacudir; cf. v. 13) e do comportamento normal do possuído curado (v. 15), a reação do povo ao redor (vv. 14.16-17).

Jesus e seus discípulos chegaram à outra margem do mar, na região dos gerasenos (v. 1).

Depois da tempestade perigosa no mar da Galileia (lago de Genesaré; cf. evangelho de sábado passado), Jesus e seus discípulos chegaram à outra margem do mar da Galileia (lago de Genesaré), isto é, à terra estrangeira, “na região dos gerasenos”. Gerasa faz parte da “Decápole” (v. 20), ou seja, “dez cidades” de cultura e língua gregas, mas a cidade de Gerasa fica distante do lago, por isso Mt mudou para “gadarenos” (Mt 8,28). Para os judeus, é terra dos pagãos.

Logo que saiu da barca, um homem possuído por um espírito impuro, saindo de um cemitério, foi ao seu encontro. Esse homem morava no meio dos túmulos e ninguém conseguia amarrá-lo, nem mesmo com correntes. Muitas vezes tinha sido amarrado com algemas e correntes, mas ele arrebentava as correntes e quebrava as algemas. E ninguém era capaz de dominá-lo. Dia e noite ele vagava entre os túmulos e pelos montes, gritando e ferindo-se com pedras (vv. 2-5).

O “homem possuído por um espírito impuro” (cf. 1,23) representa aqui a situação dos pagãos (como o possuído em 1,23-27 representou de certo modo a dos judeus na sinagoga): crenças e ideias esquisitas, superstições, comportamentos imundos de uma cultura da morte que se opõe com muita força à cultura da vida.

O possuído é descrito com detalhes realistas: uma força desmedida (“ninguém conseguiu amarrá-lo”) e autodestrutiva (“vagava entre túmulos e pelos montes, gritando e ferindo-se com pedras”). O relato parece-se inspirar na descrição dos povos pagãos em Is 65,4: “Habitavam nas sepulturas e pernoitavam nas grutas, comiam carne de porcos, pondo nos seus pratos caldo abominável.”

Vendo Jesus de longe, o endemoninhado correu, caiu de joelhos diante dele e gritou bem alto: “Que tens a ver comigo, Jesus, Filho do Deus altíssimo? Eu te conjuro por Deus, não me atormentes!” (vv. 6-7).

Este pagão com sua força terrível e indomada vem correndo ao encontro de Jesus, como saindo do reino da morte, mas em vez de ameaçá-lo, “caiu de joelhos” e vem pedindo: “Eu ti conjuro, não me atormentes” (v. 6). Igual aos outros possessos, ele conhece a identidade de “Jesus, Filho do Deus altíssimo”, título conveniente na boca de um pagão que reconhece a superioridade de Jesus e do verdadeiro Deus superior aos deuses pagãos (cf. Gn 14,18; Nm 24,16; Sl 9,2;18,14,83,19; Is 14,14; Dn 4,29-31; Lc 1,32-35,76;6,35; At 7,48).

Com efeito, Jesus lhe dizia: “Espírito impuro, sai desse homem!” Então Jesus perguntou: “Qual é o teu nome?” O homem respondeu: “Meu nome é Legião, porque somos muitos.” E pedia com insistência para que Jesus não o expulsasse da região (vv. 8-10).

Aqui Jesus não impõe silêncio aos demônios (cf. 1,25.34; 3,12), porque em terra pagã (não-judaica) não havia o perigo de ser mal-entendido como messias nacionalista e guerreiro (cf. o segredo do Messias no evangelho de Mc). Jesus o obriga a revelar seu nome (v. 9); segundo os exorcismos da época, o conhecimento do nome confere poder sobre o portador do nome. O nome “legião” sugere que um regimento inteiro de demônios ali se acha instalado (uma legião romana constava de 6000 soldados). A pluralidade de demônios indica a gravidade da alienação (cf. Mt 12,45; Lc 8,2; 11,26). Aqui a narrativa ultrapassa o caso do doente e tenta ilustrar o poder de Jesus sobre o reino de satanás (cf. 1,13; 3,23-27: “amarrar”) e sua autoridade também em território pagão.

Havia aí perto uma grande manada de porcos, pastando na montanha. O espírito impuro suplicou, então: “Manda-nos para os porcos, para que entremos neles.” Jesus permitiu. Os espíritos impuros saíram do homem e entraram nos porcos. E toda a manada – mais ou menos uns dois mil porcos – atirou-se monte abaixo para dentro do mar, onde se afogou (vv. 11-13).

A legião dos demônios não quer ser destruída, mas pede uma concessão. Acreditava-se que um demônio expulso devia procurar outro refúgio (cf. Mt 12,43p). A presença dos porcos, animais impuros para os judeus (cf. Dt 14,18; Lv 11,7), ilustra aqui a impureza de uma terra pagã (cf. Is 65,4; Lc 15,15-16). A concessão de Jesus de entrarem nos porcos, porém, significa sua ruína, afundou-se a legião no caos do mar.

Pode-se pensar numa origem popular desta narração na Palestina: os pagãos romanos invadiram Palestina vindo pelo mar mediterrâneo em 63 a.C. e se apoderaram das terras e do povo judeu. O povo oprimido (possuído, alienado) desejava que os opressores romanos com todas suas legiões violentas e imundas voltassem para o lugar de onde vieram e se afogassem no mar como antigamente o exército do Faraó (Ex 14,27-15,21).

Os homens que guardavam os porcos saíram correndo e espalharam a notícia na cidade e nos campos. E as pessoas foram ver o que havia acontecido. Elas foram até Jesus e viram o endemoninhado sentado, vestido e no seu perfeito juízo, aquele mesmo que antes estava possuído pela Legião. E ficaram com medo. Os que tinham presenciado o fato explicaram-lhes o que havia acontecido com o endemoninhado e com os porcos. Então começaram a pedir que Jesus fosse embora da região deles (vv. 14-17).

O possesso libertado por Jesus demonstra agora comportamento social e civilizado “sentado, vestido e no seu perfeito juízo” (v. 15), mas os homens da região ficaram com medo e começaram a pedir que Jesus fosse embora da região deles (vv. 15-17), talvez pensando no prejuízo de perder 2000 povos pela cura de uma única pessoa. Se Jesus continuasse com suas curas assim, poderia ameaçar a economia da região toda (cf. a idolatria do dinheiro, Mt 6,24).

Enquanto Jesus entrava de novo na barca, o homem que tinha sido endemoninhado pediu-lhe que o deixasse ficar com ele. Jesus, porém, não permitiu. Entretanto, lhe disse: “Vai para casa, para junto dos teus e anuncia-lhes tudo o que o Senhor, em sua misericórdia, fez por ti.” Então o homem foi embora e começou a pregar na Decápole tudo o que Jesus tinha feito por ele. E todos ficavam admirados (vv. 18-20).

O homem curado queria “ficar com ele” (v. 18), mas Jesus não o aceita; o fato de “estar com ele” caracteriza os Doze em 3,14. Mas Jesus o deixa como testemunha e mensageiro na sua família e terra.

A ausência da imposição do silêncio (aqui e em vv. 7-8) parece contradizer o segredo messiânico, comum no Ev de Mc. Mas aqui Jesus se retira da região, e a ordem de falar não se refere à sua pessoa, mas à obra do verdadeiro Deus, o “Senhor” (v. 19) também fora de Israel na terra pagã. Mesmo assim, o ex-possesso torna-se o primeiro pregador da boa notícia de Jesus em terra pagã.

Nós cristãos brasileiros tampouco somos judeus; então podemo-nos perguntar: Quais são os nossos demônios, possessões, impurezas, etc.? Não devemos expulsar Jesus do nosso meio, só porque, para nossa cura espiritual e para recuperar o equilíbrio na sociedade, uns sacrifícios materiais possam ser necessários como efeitos colaterais de um bem maior.

O site da CNBB resume: O que nós queremos fazer a partir do momento em que fazemos uma experiência mais profunda do amor de Deus em nossas vidas? Em muitos casos, o que acontece é que a pessoa adota uma postura intimista e individualista de vivência religiosa. O Evangelho de hoje nos mostra essa tendência, mas nos mostra também a vontade de Deus. Jesus não permitiu que o homem que tinha sido endemoninhado ficasse com ele, mas o enviou para ser evangelizador através do testemunho da misericórdia de Deus, mostrando-nos, assim, que a verdadeira resposta ao amor de Deus é o compromisso evangelizador.

Voltar