Dom Josafá celebra Missa Solene na 9ª Romaria do Cantinho

Acompanhado de uma grande multidão de fiéis e devotos do Senhor dos Aflitos, que foram neste dia render graças e louvores ao Filho Redentor do homem, Dom Josafá celebrou ontem, dia 2 de julho, às 16h, a última missa da 9ª Romaria do Cantinho do Senhor dos Aflitos.

A missa solene foi concelebrada pelos padres, Pedro Felipe, reitor do Santuário Senhor dos Aflitos, Mário Correia, Manoel Aparecido e Daniel Luiz, e assistida pelos Diáconos, Da Mata e Renilton. E contou com a presença marcante de milhares de pessoas que foram a esse lugar santo agradecer e pedir uma graça especial ao Senhor dos aflitos.

Após a missa teve uma belíssima procissão pelas ruas do povoado do Cantinho, ao som da Banda 26 de Maio, de orações, louvores e preces ao Senhor de todos os aflitos.

A romaria do Cantinho do Senhor dos Aflitos está crescendo a cada ano que passa e ganhando uma estrutura maior. Vale a pena ressaltar a parceria da  prefeitura municipal, que com suas obras de infraestrutura deixou o povoado mais elegante e organizado, fazendo com que os devotos e turistas se sintam mais acolhidos no lugar.

“Sob à Cruz do Senhor dos Aflitos
Peregrinos em busca de Luz
Qual soldados de Cristo na Fé
Somos todos do Bom Jesus”.
(Hino do Senhor dos Aflitos – Letra e Música: Antônio Cardoso, escute: https://diocesedebarreiras.org.br/…/novo-hino-ao-senhor-dos…)

Leia a homília de Dom Josafá Menezes da Silva – Missa da 9ª Romaria do Cantinho do Senhor dos Aflitos:

“Senhor dos Aflitos, Redentor do Homem, 40 anos abençoando o povo de Barreiras e da região”.

Prezados Padre Pedro Felipe, Padre Manoel Aparecido, Padre Daniel e Padre Mário.

Prezados diáconos permanentes, religiosas, romeiros e romeiras. Autoridades estaduais e municipais.

Neste ano em que celebramos os 40 anos da instalação da Diocese de Barreiras em todas as festas dos padroeiros e titulares, fazemos menção à nossa história.

A Diocese de Barreiras foi criada em 21 de maio de 1979. Em 26 de Agosto de 1979 foi a instalação com a posse do primeiro bispo. Este ano nós celebramos 40 anos. A grande celebração será no dia 25 de agosto, às 17h00, virá presidente da CNBB, Dom Walmor Azevedo.

A cidade de Barreiras celebrou este ano 128 anos de emancipação política. A devoção do Senhor dos Aflitos ultrapassa em muito a história da Diocese de Barreiras.  Hoje pela manhã, a TV Oeste, através do repórter, Carlos Augusto, foi noticiado que estamos com mais 250 anos de Romaria.

No livro Manual do Peregrino deixei uma indicação histórica bastante ampla: “A imagem do Senhor dos Aflitos é um belo crucifixo que veio de Portugal, trazido por Francisco e José Ayres da Fonseca, primos carnais. Passou pela cidade da Barra e foi conduzida ao povoado de nome Timbó. Os que traziam a imagem encontraram o local adequado, por isso, deram-lhe o nome de ‘Cantinho do Senhor dos Aflitos’” (Dom Josafá M. da Silva, Manual do Peregrino, p. 9).

No período colonial vieram muitas de Portugal para o Brasil. A Gruta do Bom Jesus da Lapa foi contemplada por uma imagem em 1691, levada pelo padre Francisco da Soledade, Salvador com a do Nosso Senhor do Bonfim em 18 de abril de 1745.  Certamente, as Era o tempo do Brasil Colônia, as imagens circulavam entre Portugal e Brasil. Chegavam nos portos do Litoral, mas depois se interiorizavam.

“Antes, faz muitos anos, talvez mais de cem anos, segundo testemunho de D. Leonina Seabra de Lemos, nascida às margens do Rio Branco, na Fazenda Laranjeiras, em 27 de janeiro de 1900, já se fazia Romaria à Igreja do Cantinho” (Luiz Panplona, Barreiras, Be-A… da Barra prá cá, Edição de 2002, p. 285).

“Desde cedo me indagava, meio confuso, se não era a mesma coisa apegar-se com Nosso Senhor Jesus Cristo, crucificado, orando contrito sob qualquer crucifixo ou, seria mais vigoroso e válido ir até a Igreja para fazer minhas preces e rezar minhas orações. Havia e ainda há, mais firmeza, mais crença, mais apego, mais segurança, se a invocação fosse por ato de penitência, após longa caminhada, rezando em grupo, preferencialmente cantando. Certo é que por longos e longos anos, quem quisesse ser válido por ato de piedade, de clemência, de bondade, de recuperação da saúde, de favorecimento em reconciliação conjugal, encontrar cousas perdidas, algo difícil de acontecer normalmente, teria seu pensamento voltado para a força milagrosa da Imagem de Nosso Senhor dos Aflitos, a que está na Igreja do Cantinho. E de pronto se prometia algum ato de penitência, como, por exemplo, levar uma mão de cera para ser colocada no altar da Igrejinha do Cantinho, fazendo-se o percurso a pé. E a fé dos romeiros era a toda prova exposta aos milhares, sob intensa emoção, a todo dois de Julho […] Dois de Julho bi-feriado. Houve tempo que no dia dois de julho, bi-feriado, dia dedicado à adoração do Senhor dos Aflitos, não havia uma vivalma perambulando pelas ruas Barreiras. Todo mundo estava no Cantinho. Uns tanto, movidos pela  fé e de puro comportamento religiosos. Outros tantos, comerciantes de tudo; outros pelo lado pagão da festa. Dá de tudo” (Luiz Pamplona, Barreiras, Be-A… da Barra prá cá, Edição de 2002, p. 285).

“Caminhar de noite com tantas pessoas, enfrentar com os outros, a emoção, o cansaço, o sono, a poeira, o frio, o compromisso e comoção da chegada ao Santuário do Senhor dos Aflitos deixam um sinal dentro de cada um de nós. Me senti uma gota dentro de um rio de fé, oração e esperança” (Testemunho de um romeiro).

Essa realidade Dom Ricardo percebeu a partir de 1995: “Este ano aceitei o convite e celebrei juto com o Padre João a festa, a missa e a procissão. Teve grande número de fiéis acompanhando a celebração. Parece o ponto importante em nossa pastoral para as massas” (Dom Ricardo).

“Uma multidão enorme com carros. Sem a ajuda da prefeitura e do poder público será impossível de realizar esta festa” (Livro Tombo, 1996).

Quando o primeiro Bispo de Barreiras descobriu a beleza da festa, somente se não estivesse na sede diocesana, por um motivo particular, deixou de presidir a missa. Segundo as anotações do livro tombo, Dom Ricardo presidiu doze vezes.

 “A prefeitura montou uma grande estrutura – com arquibancada” (Tombo 2009, última missa presidida por Dom Ricardo).

Mas irmãos e irmãs, essa necessidade de apoio logístico da parte do poder público é importante. Por ocasião do tricentenário do Santuário de Nossa Senhora Aparecida, o maior do Brasil e um dos maiores do mundo, eis o que se reconheceu:

‘Foi decisiva para popularização da santinha a questão geográfica […] A Estrada Real era o ponto de passagem obrigatório de quem circulava entre o Rio de Janeiro, que em breve se tornaria capital, e as Minas de Outubro, que ainda não se chamavam de Minas Gerais. Era o ponto de parada para descanso de quem viajava entre Rio e a cada vez mais próspera capitania de São Paulo.

A estrada, mais recentemente alterada e em parte rebatizada como rodovia Presidente Dutra, continua sendo a mais importante do Brasil […] ainda pode se ver do asfalto, do interior de um carro, ônibus ou caminhão o enorme santuário dedicado à imagem de 36 cm.” (Rodrigo Alvarez, Aparecida, a biografia da santa que perdeu a cabeça, ficou negra, foi roubada, cobiçada pelos políticos e conquistou o Brasil, Globo Livros, 2014, p. 11.).

Que mensagens os devotos podem ter neste dia de adoração ao Senhor dos Aflitos?

Vejamos o que dizem as leituras:

“Naqueles dias os filhos de Israel partiram do Monte Hor, pelo caminho que leva ao mar Vermelho para contornar o país de Edom”.  O percurso do Egito para Terra Prometida significa atravessar vários territórios de reinados. “Desejo atravessar a tua terra. Não nos desviaremos pelos campos e pelas vinhas; não beberemos a água dos poços; seguiremos a estrada real, até que tenhamos atravessado o teu território” (Nm 21,22). Sem pão, sem água, em território de muitas serpentes venenosas, contornar um país significa que acrescentar muitos quilômetros aos sofrimentos do percurso.

Edom não permitiu que Israel violasse o seu território e Moisés, sob o comando de Deus, resolveu fazer um contorno. Alguns estudiosos dizem que acrescidos muitos km ao trajeto.

“Nós morreremos!”. A primeira reação descarregar a culpa das nossas próprias dificuldades sobre os outros, encontramos os culpados, falamos “contra” alguém: “contra Deus e contra o povo”. Enjoamos o alimento e cansamos das atividades que devemos realizar. Perde-se a confiança em Deus, esquece-se as maravilhas que o Senhor (Sl de meditação) realizou em favor de seu povo e ao invés de caminhar o povo para no meio do deserto.

Impacientar-se expressa a incapacidade de resistir a situação que pela avaliação soberba e autoritária que entende que os obstáculos estão para além das medidas das nossas possibilidades.

A impaciência revela a arrogância de quem quer ser agente exclusivo do próprio existir e não se deixa conduzir pela mão misteriosa e poderosa de Deus.

“Mesmo sendo o povo de Deus, a Israel não é garantido um percurso triunfalista, devendo fazer planos não de um povo conquistador e cheio de grandiosos triunfos. Deus garante a sua assistência, mas os modos de realiza-la não seguem a lógica dos poderosos e dominadores. Israel não deve se envergonhar de ser um povo sem importância”.

Ter a memória curta não significa ter uma mente fraca e inconsistente, mas ter um coração ingrato, incapaz de compreender e custodiar os dons recebidos, as ações de misericórdia e de bondade de que tem sido objeto.

“O tempo é superior ao espaço” (Papa Francisco). Significa nunca deixar a visão de longo prazo, a esperança que sustenta a caminhada e ser capaz de gerar processos, ações que tragam transformações e mudanças profundas.

“Onde está a cruz, a ressurreição está próxima” (Dietrich Bonhoeffer).

 “Jesus podia descer da cruz, mas esperou ressurgir do sepulcro […] E isso fez ele, tanto mais aqueles que devem renascer no Espírito […]” (Agostinho, Comentário de São João, p. 283).

“Jesus Cristo, existindo em condições divina, não fez do ser igual a Deus uma usurpação, mas esvaziou-se a si mesmo, assumindo a condição de escravo e tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz” (Fil 2,6-11).

Em que sentido renunciou as prerrogativas da condição divina? Esvaziando-se a si mesmo, renunciando os atributos divinos que não eram compatíveis com a encarnação. Este esvaziamento serviu para assumir a condição de servo, exatamente o oposto, da condição de Deus. Durante a sua vida terrena ele não se comportou como Deus e Senhor dos homens, mas como servo, privado de toda dignidade, autoridade e poder, completamente dedicado ao humilde serviço dos outros.

Por isso, Deus o exaltou sobremaneira, dando-lhe o nome mais excelso e mais sublime (Fil 2,11).

“Aquele que está suspenso sobre a cruz não é alguém que fracassa por completo rodeado de opróbrios; Deus estabeleceu que o crucificado seja símbolo de salvação, fonte de vida” (Klemens Stock, Comentario a los Evangelios, p. 191).

Esse movimento busco de Deus, sobretudo de descida, tem um fundamento: “Deus amou tanto o mundo, que deu Filho unigênito […] De fato, Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele” (Jo 3,13-17).

“Ninguém subiu ao céu, a não ser aquele que desceu do céu, o Filho do Homem… Deus amou tanto o mundo que deu o seu Filho unigênito para que não morra todo o que nele crer, mas tenha a vida eterna. De fato Deus não enviou o seu Filho para condenar o mundo, mas para o mundo seja salvo por ele”.

 “O crucificado nos dá a resposta: Deus ama o mundo e quer a salvação do mundo. Seu amor é de tal medida e tem tal intensidade que, se for possível, teria que dizer: Deus ama o mundo e nos ama, a nós os homens, mais do que seu próprio Filho. Não se desinteressa da sorte do mundo, ao contrário, se interessa por ele há tal ponto de entregar o seu próprio Filho, entregando-o como dom […] Nós, homens e mulheres, temos tanto valor aos seus olhos que ele põe em risco o seu próprio Filho […] O Filho deve preocupar-se pessoalmente de nós, deve mostrar-nos o caminho da salvação, deve levar-nos à comunhão com ele e à vida eterna” (Klemens Stock, Comentario a los Evangelios, p. 192).

“A Nicodemos, Jesus conseguiu explicar o mistério, utilizando dois verbos: “subir, descer e descer e subir”. Portanto, este é o mistério do amor: Jesus desceu do céu para conduzir todos ao céu: este é o mistério da cruz» (Papa Francisco, 2017).

Dom Josafá M. da Silva – Bispo Diocesano

 

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