26 de maio de 2018, sábado: Ele abraçava as crianças e as abençoava, impondo-lhes as mãos

Leitura: Tg 5,13-20

Terminamos hoje a leitura da carta de Tiago. O traço comum aos vv. 13-18 é a oração, com ênfase especial nos casos do doente (vv. 14-16) e do pecador (vv. 16.19s) e no poder daquele que ora de modo correto (vv. 16b-18). A oração de que se trata, é antes pessoal e particular, ao passo que em v. 14 menciona a oração da Igreja.

Se alguém dentre vós está sofrendo, recorra à oração. Se alguém está alegre, entoe hinos. Se alguém dentre vós estiver doente, mande chamar os presbíteros da Igreja, para que orem sobre ele, ungindo-o com óleo em nome do Senhor. A oração feita com fé salvará o doente e o Senhor o levantará. E se tiver cometido pecados, receberá o perdão (vv. 13-15).

A Bíblia do Peregrino (p. 2901s) comenta: Para orientar-se nesse texto breve e elíptico, será útil recordar o esquema de alguns salmos de súplicas, especialmente da parte de doentes. Parte-se da experiência dolorosa da doença, que é interpretada como castigo de Deus por algum pecado; o doente se arrepende, pelo perdão e cura; às vezes antecipa a ação de graças. Ver todo o Sl 38.

Exorta a orar em diversas ocasiões: em sofrimento e alegrias, numa doença supostamente grave. Em dois casos, o interessado suplica ou canta hinos. No terceiro caso o autor introduz um rito público, oficiado por “anciãos” ou responsáveis da comunidade. O paciente só chama a se submeter à cerimônia, que se compõe de rito e palavra. O rito é uma unção com óleo (cf. Is 1,6; Mc 6,13) elevada a categoria sagrada pelos oficiantes e pela oração. Esta é precedida ou acompanhada da invocação do Senhor. A fé dos oficiantes obtém a saúde dos doentes, que pelo contexto deve ser a saúde corporal. Pode acontecer que a doença seja efeito de algum pecado, segundo a crença antiga (p. ex. Sl 38,4-6); em tal caso, pelo rito os pecados lhe serão perdoados.

No caso de Ezequias (Is 38), o doente ora sem confessar pecados, e o profeta aplica o remédio. É tradicional dar a Deus o titulo de “médico” (Dt 32,39). Eclo 38 recomenda ao doente purificar-se dos pecados, rezar e chamar o médico. Thiago fala de um ato sagrado oficial. A doutrina é a pratica da unção dos enfermos (outrora chamada extrema-unção se apóia nesse texto.

Tiago supõe conhecida a prática que fala. A unção tem suas raízes num uso ao mesmo tempo medicinal (cf. Lc 10,34) e religioso. Em Mc 6,13, os apóstolos ungem os doentes a propósito de curas.

Nesta unção feita em nome do Senhor, acompanhada de orações pronunciadas pelos “anciãos” (grego: presbíteros, trata-se de pessoas com certa competência, maturidade e autoridade como líderes da comunidade, hoje os “padres”; cf. At 11,30; 20,17; Tt 1,5s; 1Pd 5,1 etc.), tendo por fim a melhora do doente e também a remissão dos pecados (cf. Mc 2,1-12p). Já que a unção é feita “em nome do Senhor”, como o batismo, ela manifesta a fé da Igreja no poder do Senhor ressuscitado e reveste um caráter ritual. Nela, a Igreja viu uma forma inicial do sacramento da unção dos enfermos. Como as igrejas protestantes contestaram esta identificação com o sacramento, o Concílio de Trento reafirmou a identificação tradicional (1545-1549; sessão XIV). A reforma litúrgica na esteira do Concílio Vaticano II resgatou a unção dos enfermos do abuso de ser aplicado apenas para os moribundos como “extrema unção”.

A Tradição Ecumênica da Bíblia (p. 2376) comenta: Os verbos “salvar” e “pôr de pé” podem designar, seja o estabelecimento do doente, seja a salvação escatológica que não implica necessariamente a cura. Todavia, algumas afinidades com narrativas de milagres (cf. Mc 5,34.41 “Tua fé te salvou… Levanta-te”; Lc 17,19: “Levanta-te… tua fé te salvou”) fazem pensar de preferência de curar o doente e salvar o pecador. O vínculo entre doença e pecado está profundamente inscrito na mentalidade bíblica, o que explica porque o NT liga o perdão dos pecados e cura do corpo como sinal da ressurreição já atuante nos gestos de Cristo.

Confessai, pois, uns aos outros, os vossos pecados e orai uns pelos outros para alcançar a saúde. A oração fervorosa do justo tem grande poder (v. 16).

Há vários tipos de confissão de pecados no AT e no judaísmo: do doente a Deus (Sl 32,5), do pecado a um profeta (2Sm 12), litúrgica (Sl 51), o dia da expiação (Lv 16), coletiva (Ne 9; Br 1-3). Aqui, o autora da carta fala de uma confissão mútua, ao que parece de pecados concretos, com oração mutua pela saúde corporal ou espiritual (Cf. Pr 28,13). A confissão das faltas, associada aqui a oração, é recomendada ao doente (v. 15). Não há aqui nenhuma alusão precisa à uma confissão sacramental.

A Tradição Ecumênica da Bíblia (p. 2376s) comenta: Este v. recapitula os três temas do anterior: perdão dos pecados, oração e cura. Segundo alguns, essa “confissão dos pecados” estaria ligada à unção. Parece, antes, que a menção do perdão dos pecados tenha provocado esta exortação sobre a confissão das faltas (cf. Dn 9,24-20; Br 1,14-2,10; Mt 3,6; At 19,18…).

Assim Elias, que era um homem semelhante a nós, orou com insistência para que não chovesse, e não houve chuva na terra durante três anos e seis meses. Em seguida tornou a orar, e o céu deu a chuva e a terra voltou a produzir o seu fruto.

O autor apresenta como exemplo a figura de Elias, muito popular na tradição judaica (Ml 3,23; Eclo 48,1-11; Mc 9,11-13) também o foi entre os cristãos que identificam Elias que deve vir com João Batista (cf. 11,14; 17,10-13). Tiago insiste que esse homem de oração tão poderosa era “semelhante a nós” (cf. Sb 7,3; At 14,15). Elias pode representar todo o profetismo (1Rs 17-18). Também Abraão e Moisés eram exemplos de intercessores pelo povo (cf. Gn 18,22s; Ex 32,11-14.30-32).

No trecho sobre Elias no AT citado, em 1Rs 17,1; 18,41-45 não se fala da duração da seca. A tradição de “três anos e seis meses” desta seca encontra-se em Lc 4,25. “Três e meio” é metade de “sete”, número da perfeição (cf. Gn 1,1-2,4), portanto, “três anos e meio” e seus equivalentes “42 meses” ou “1260 dias” significa um tempo de calamidades permitidas por Deus, mas cuja duração, para consolo dos aflitos, será limitada (cf. Dn 7,25; Ap 11,2-3.11; 12,6.14; 13,5).

Meus irmãos, se alguém de vós se desviar da verdade e um outro o reconduzir, saiba este que aquele que reconduz um pecador desencaminhado salvará da morte a alma dele e cobrirá uma multidão de pecados (vv. 19-20).

A Bíblia do Peregrino (p. 2902) coloca o problema: A frase grega não resolve a atribuição de funções sintáticas. Quem é o beneficiário? O mais lógico é que se salve o extraviado, quando outro o encaminha e faz com que os pecados sejam perdoados (cobertos, Sl 32,1). Outros pensam que o beneficiário é quem encaminha (o que não se exclui); conseguir uma conversão já é honra e privilegio. A citação de Pr 10,12 é segundo o grego e não corresponde ao sentido original.

A Tradição Ecumênica da Bíblia (p. 2377) comenta: Tiago considera a volta do irmão extraviado à verdade como uma verdadeira salvação da morte (cf. Mt 18,12-13; 1Jo 5,15). Parece que os pecados cobertos, isto é, remidos, são os do irmão que se extravia (cf. 1Pd 4,18 com a mesma citação de Pr 10,12), antes que os do irmão que o reconduz à verdade (cf. Ez 3,20-210. Empregando a expressão “multidão de pecados”, talvez queira Tiago designar, ao mesmo tempo, as faltas de um e de outro (cf. 2,13).

A Bíblia de Jerusalém (p. 2269) finaliza: O amor fraterno e o perdão podem reconduzir os desviados (cf. Mt 18,15.21-22; 1Ts 5,14), mas por ocasião do julgamento, serão proveitosos também para aquele que os exerce (1Pd 4,8; cf. Dn 12,3; Ez 3,19; 33,9). A epístola termina assim, sem nenhuma saudação usual.

 

Evangelho: Mc 10,13-16

Na sua catequese sobre família, depois de se manifestar sobre a duração do casamento (indissolubilidade, vv. 2-12), Jesus acolhe as crianças.

Traziam crianças para que Jesus as tocasse. Mas os discípulos as repreendiam (v. 13).

Pessoas anônimas, provavelmente da multidão que Jesus ensinava em v. 1, traziam crianças “para que Jesus as tocasse” como sinal de benção ou cura (cf. 5,28-31.41; 6,56 etc.). De novo, os discípulos que em Mc só pensam nos primeiros lugares (cf. 9,34; 10,37) não entendem o valor dos pequenos e os rejeitam. Na sociedade antiga, crianças não estavam no centro da atenção, tinham pouco valor, pois não podiam ainda contribuir como os adultos. Os romanos costumavam jogar crianças indesejadas no lixo.

Vendo isso, Jesus se aborreceu e disse: “Deixai vir a mim as crianças. Não as proibais, porque o Reino de Deus é dos que são como elas. Em verdade vos digo: quem não receber o Reino de Deus como uma criança, não entrará nele” (vv. 14-15).

Já no cap. anterior, Jesus colocou uma criança no meio, deu carinho e se identificou com ela (cf. 9,36-37). Enquanto nas outras religiões, é o ancião que é valorizado por sua sabedoria, na religião cristã também é a criança que ganha valor, porque o próprio Jesus se fez pequeno e servo. Ele apresenta aqui a humildade e a confiança das crianças como exemplos de fé. O reino de Deus é graça, não mérito ou pretensão. Nós adultos não devemo-nos omitir de responsabilidades apresentando um comportamento infantil (ou juvenil), mas podemos e devemo-nos sentir como crianças diante de Deus Pai (cf. Sl 131; 8,3; Mt 11,25-30; 21,16) e dar às crianças a devida atenção, carinho e cuidado.

Ele abraçava as crianças e as abençoava, impondo-lhes as mãos (v. 16).

Como sinal de carinho e proteção, Jesus abraça as crianças e abençoa-as, “impondo-lhes as mãos”. O mesmo gesto é usado em curas (Mc 6,5; 7,32; 8,23-25; 16,18; Lc 4,40; 13,13; At 9,12.17; 28,8) e na transmissão do Espírito para cargos eclesiais (cf. At 6,6; 13,3; 1Tm 4,14; 5,22; 2Tm 1,6; Hb 6,2). Hoje a psicologia reconhece a importância da fase infantil para o desenvolvimento da pessoa humana. Desde suas origens, a Igreja se empenha pela vida (contra aborto) e tem instituições como orfanatos, creches, pastoral da criança, pastoral do menor, catequese, colégios etc.

O site da CNBB comenta: O Reino de Deus é para aqueles que são como crianças. A criança é aquela que depende totalmente das outras pessoas e não tem nada a oferecer em troca daquilo que lhes dão. Assim devemos ser diante de Deus. Devemos ter plena consciência de que dependemos totalmente dele para que possamos entrar no Reino dos Céus e nada podemos oferecer em troca disso. A salvação nos é dada pelo amor gratuito de Deus e pelos méritos de Jesus Cristo. Ninguém pode se salvar. Jesus é o único salvador. Devemos, como as crianças diante dos adultos, colocar a nossa confiança em Deus, e viver em constante ação de graças porque ele, gratuitamente, nos salva.

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