31 de Março de 2019, Domingo: Se alguém está em Cristo, é uma criatura nova. O mundo velho desapareceu. Tudo agora é novo (v. 17).

1ª Leitura:Js 5,9a.10-12

Nas primeiras leituras dos domingos da Quaresma percorremos a história da salvação no Antigo Testamento (AT). Depois da aliança com Abraão (Gn 15) e a vocação de Moisés (Ex 3-4) nos domingo passados, ouvimos hoje sobre o povo de Deus que celebra a Páscoa depois de entrar na Terra Prometida de Canaã, futuramente chamado Israel ou Palestina.

Moisés só podia ver a terra prometida do outro lado do Jordão e depois morreu, não entrou mais (Dt 34). Seu sucessor é Josué. O livro de Josué é o sexto livro da Bíblia e início da história deuteronomista, cuja narração se estende da entrada na terra prometida até sua perda no exílio babilônico (Js, Jz, 1-2Sm, 1-2Rs).

Na entrada da terra prometida se repetem diversas experiências vividas anteriormente por Moisés: Javé aparece e dialoga com Josué (1,1-9; 3,7-13; 5,13-15);este tem que descalçar as sandálias porque é lugar onde pisa é santo, como entrar descalço num santuário (5,15; cf. Ex 3,5); quando o povo quer atravessar, o rio Jordão recua, como antes o mar Vermelho (3,14-4,18; cf. Ex 14). Encerra-se uma fase da história e inicia outra.

O Senhor disse a Josué: “Hoje tirei de cima de vós o opróbrio do Egito”. Os israelitas ficaram acampados em Guilgal e celebraram a Páscoa no dia catorze do mês, à tarde, na planície de Jericó (vv. 9a.10).

Nos versículos precedentes (vv. 2-8, omitidos pela nossa liturgia) narra-se a circuncisão dos israelitas noprimeiro acampamento na terra de Israel, Guigal, cujo nome é explicado duas vezes: Ali Josué ergueuum círculo de doze pedrastiradas do rio Jordão(4,20).Guigal significa “círculo” e se tornou nome de diversas localidades (cf. Dt 11,30; 2Rs 2,1). O Guigal de Josué tornou-se a base para a conquista e ocupação da terra (10,40; 14,6), deve se localizar entre o Jordão e Jericó.A este lugar se liga a lembrança da circuncisão e da primeira páscoa em Canaã (vv. 10-12).A elevação de Guigal como primeiro santuário dos israelitas, após atravessar o Jordão, visa a justificar a reconquista dos territórios em épocas pós-exílicas.

É possível que nessa localidade se praticasse em tempos antigos o rito da circuncisão; também pode tratar-se de uma associação artificial condicionada por razões narrativas. Este antigo lugar de culto tornou-se o santuário principal da tribo de Benjamim da qual descende o primeiro rei Saul.A Nova Bíblia Pastoral (p.246) comenta: Na monarquia de Saul, Guilgal será importante centro político e religioso: um santuário que servia para a pratica dos sacrifícios diante de Javé (1Sm 10,8; 11,15; 15,21.33). Sacrifícios que mais tarde serão condenados pelos profetas (Os 12,12, Am 4,4).

A segundo explicação do nome Guigal está no v. 9b, (omitida pela nossa liturgia): “Aquele lugar foi chamado Guilgal, até hoje”, que segue a “Hoje tirei de cima de vós o opróbrio do Egito” (v. 9a). O autor faz jogo de palavras entre Guilgal e gallôti, ‘tirei”;gll significa rodar ou girar, remover. Difícil é perceber o que o texto intende por “opróbriodo Egito”: provavelmente se trata da incircuncisão da geração do deserto. Esse “opróbrio” (desonra) consiste em ser incircunciso, como pensava o autor a respeito dos egípcios.

“Celebraram a Páscoa no dia catorze do mês, à tarde” É solene a data e se refere às instruções sobre a páscoa em Ex 12: Os israelitas acamparam em Guigal no dia dez do primeiro mês (4,19), quando se escolhe um cordeiro para cada família (Ex 12,2s) que será imolado e comido no dia quatorze deste mês (Ex 12,6).A festa foi celebrada na planície de Jericó e não no santuário de Guilgal, o que está de acordo com seu caráter familial (Ex 12,1-11). Essa festa nascida em ambiente familiar, será mais tarde celebrada e centralizada em Jerusalém, por decreto do rei Josias (640-609 a.C.), como está determinado em 2Rs 23,21.

No dia seguinte à Páscoa comeram dos produtos da terra, pães sem fermento e grãos tostados nesse mesmo dia. O maná cessou de cair no dia seguinte, quando comeram dos produtos da terra. Os israelitas não mais tiveram o maná. Naquele ano comeram dos frutos da terra de Canaã (vv. 11-12).

A Páscoa é para Israel a festa da libertação. Daí a ligação litúrgica, “nesse mesmo dia”, entre a saída e a entrada. A fórmula “no mesmo dia” aparece em Ex 12,17.41.51, e se emprega no calendário do Levítico (Lv23,14.21.28.29.30).

O autor supõe já reunidas a festa pastoril do cordeiro (páscoa) e a festa agraria dos “pães sem fermento”, os pães ázimos (cf. Ex 12,15-20; 13,3-10; 23,15). A menção a espigas ou “grãos tostados” no quadro da Páscoa é peculiar ao nosso texto; ordinariamente só se faz menção a elas para as oblações das primícias (Lv2,14; 23,14). O comer ázimos e grãos tostados, indicando a entrada de Israel em pais de cultura, tomava um caráter religioso, por causa da Páscoa, e exigia a circuncisão (vv. 2-9). A cessação do maná significava o fim do período do deserto.

A Tradução Ecumênica da Bíblia (p.331) comenta:O maná cessa (cf. Ex 16). É o fim de um período – a vida no deserto – e o início de um novo – o da vida sedentária em Canaã. A evocação da Páscoa e a manducação dos produtos da terra acentuam essa ruptura.

2ª Leitura: 2Cor 5,17-21

A 2ª leitura nos apresenta a novidade que veio através de Jesus Cristo.Para o apóstolo Paulo, o Evangelho (boa notícia) não é simples história de Jesus, mas anúncio de sua morte e ressurreição, que restaura a condição humana, vence a alienação causada pelo pecado e inaugura nova era.

Se alguém está em Cristo, é uma criatura nova. O mundo velho desapareceu. Tudo agora é novo (v. 17).

É uma alusão à ressurreição e ao novo nascimento no batismo (Rm 6,4). A palavra grega ktisis pode significar criação/criatura ou humanidade (cf. Rm 8,19-22). O cristão é criatura, humanidade nova. O “antigo” é a conduta precedente, no caso individual, ou o regime do Antigo Testamento (AT), em termos de história de salvação. A “realidade nova” se vislumbra na volta do exílio em Is 43,18-19 e na escatologia em Is 65,17 e no Novo Testamento (NT), na Jerusalém celeste do Apocalipse: “As coisas antigas se foram… Eis que faço novas todas as coisas” (Ap 21,4s).

Deus que já havia criado todas as coisas por Cristo (cf. Jo 1,3), restaurou a sua obra desordenada pelo pecado recriando-a em Cristo (Cl 1,15-20). O centro dessa nova criação (cf. Gl 6,15) que interessa ao universo inteiro (Cl 1,19-20; cf. 2Pd 3,13; Ap 21,1) é o “homem novo”, criado em Cristo (Ef 2,15; cf. 1Cor 15,22.45) para uma vida nova (Rm 6,4) de justiça e santidade (Ef 2,10; 4,24; Cl 3,10).

E tudo vem de Deus, que, por Cristo, nos reconciliou consigo e nos confiou o ministério da reconciliação. Com efeito, em Cristo, Deus reconciliou o mundo consigo, não imputando aos homens as suas faltas e colocando em nós a palavra da reconciliação. Somos, pois, embaixadores de Cristo, e é Deus mesmo que exorta através de nós. Em nome de Cristo, nós vos suplicamos: deixai-vos reconciliar com Deus (vv. 18-20).

O homem em relação a Deus é ofensor, devedor culpado. Como por si mesmo não pode reconciliar-se, compete a Deus reconciliá-lo consigo; ele o faz por meio de Cristo, que carrega as culpas dos outros (cf. Is 53) para que sejam perdoadas. Só assim o homem perdoado volta a ser “justo e inocente”.

A reconciliação é radical, equivale à nova “criação” (cf. Sl 51,12); é oferecida e comunicada pela mensagem apostólica, “ministério da reconciliação” (v. 18). O homem simplesmente se “deixa” (v. 20) reconciliar, responde a oferta removendo obstáculos e aceitando na fé.

Importante é perceber que a reconciliação não é uma ação do ser humano, que queria aplacar um deus irado, mas é obra de Deus (“tudo vem de Deus”) através de Jesus manifestando seu amor na cruz (cf. Rm 5,5-11).Deus realiza a reconciliação não apontando, “não imputando” os delitos (v. 19; cf. Sl 32,1s).

A cruz de Jesus anunciou o fim da inimizade com Deus e inaugurou a era da reconciliação universal. Enquanto esperamos o dia da ressurreição, Deus escolheu apóstolos para exercer o “ministério da reconciliação… e é Deus mesmo que exorta” através deles. São “embaixadores de Cristo” e falam “em nome de Cristo”, exortando e perdoando (cf. Jo 20,23). Por meio deles, o próprio Senhor Jesus continua sua atividade na terra e convoca todos os homens a reconciliação.

O termo “reconciliação” podia lembrar os coríntios da história da fundação da sua cidade. Em 44 a.C., Júlio César tinha proclamado uma “reconciliação” na cidade deserta de Corinto, acolhendo de todo Império, pessoas de passado comprometido, que se beneficiavam de uma anistia.  Aqui se aplica a reconciliação ao Cristo, mas o v. 21 indica o quanto custou a Deus esta reconciliação:

Aquele que não cometeu nenhum pecado, Deus o fez pecado por nós, para que nele nós nos tornemos justiça de Deus (v. 21).

Paulo apura a expressão até os limites da linguagem (cf. Gl 3,13; Rm 8,3). Comparam-se as liturgias penitenciais do AT: Na relação bilateral de julgamento contraditório (Sl 50,51; Is 1,10-20; Dn 9,7), um tem a justiça, a razão, e o outro a culpa, o pecado. Deus colocou Cristo, embora inocente, na parte do pecado, por parte de suas consequências, como vítima expiatória (cf. Rm 3,25-26). Assim nos colocou na parte da “justiça de Deus”, pelo perdão que Cristo nos conseguiu, já não somos mais injustos.

Evangelho: Lc 15,1-3.11b-32

O 4º Domingo da Quaresma chama-se Laetare(da antífona latim de entrada: “Alegre-te, Jerusalém”), é marcado pela alegria (latim: Laetítia) e tem a cor litúrgica (opcional) rósea. Deus não quer a morte do pecador, mas que se converta e viva (cf. Ez18,23.32). Ele se alegra quando encontra uma ovelha desgarrada e quando pode acolher um filho pródigo e arrependido (Lc 15).

O texto do evangelho de hoje é um dos mais conhecidos, mas encontra-se só em Lucas. Para Lc, a misericórdia de Deus e de Jesus é fundamental (cf. 6,36), não só para doentes e pobres, mas se abre ao perdão dos pecadores e a acolhida dos marginalizados (cf. 7,36-50; 19,10; 23,43).

Os publi­canos e pecadores aproximaram-se de Jesus para o escutar. Os fariseus, porém, e os mestres da Lei criticavam Jesus: “Este homem acolhe os pecadores e faz refeição com eles”. Então Jesus contou-lhes esta parábola: (vv. 1-3).

Lc escreveu um capítulo inteiro com três parábolas da misericórdia, a da ovelha desgarrada (vv. 4-7; cf. Mt 18,12-14), a da moeda perdida (vv. 8-10) e a do filho pródigo. O evangelho de hoje nos apresenta somente a última, mas preserva a introdução do capítulo que dá uma chave para nossa parábola. “Os fariseus, porém, e os mestres da lei criticavam Jesus: “Este homem acolhe os pecadores e faz refeição com eles”” (v. 2). Jesus é Filho, só ele conhece o Pai (10,22) e age como ele acolhendo o pecador (o filho pródigo) e faz refeição com ele, da qual o filho mais velho (os fariseus) não quer participar.

Mas a arte literária de Lc deu a esta parábola um sentido mais universal que podia ajudar também na reflexão no Ano da Misericórdia (2016; cf. também n.º 5-6 da encíclica Dives em Misericórdia de João Paulo II) e sobre a juventude (cf. Campanha da Fraternidade 2013), porque os jovens querem conquistar sua liberdade e autonomia, mas às vezes por caminhos errados.

Um homem tinha dois filhos. O filho mais novo disse ao pai: “Pai, dá-me a parte da herança que me cabe”. E o pai dividiu os bens entre eles. Poucos dias depois, o filho mais novo juntou o que era seu e partiu para um lugar distante. E ali esbanjou tudo numa vida desenfreada (vv. 11b-13).

Foi sugerido de chamar esta parábola não a do filho pródigo, mas do “Pai misericordioso”, ou dos “dois filhos” (mas já existe outra com este título em Mt 20,28-32). Como é costume chamar as parábolas do reino pelo protagonista (semeador, joio e trigo, tesouro e perola, vinhateiros assassinos etc.), a parábola continua ser a do filho pródigo, no entanto o que Jesus mais revela nela é o Pai (cf. 10,22; Jo 1,18).

Ao contrário do que muitos pensam, já encontramos no Antigo Testamento (AT) textos sobre o aspecto emotivo e entranhado da paternidade de Deus (Os 11; Jr 31,18-20; Sl 103,13), aliás, a palavra “misericórdia, compaixão” vem da palavra hebraica de “entranhas, útero” que se comovem com a miséria dos outros. O amor paternal encontra-se também no desfecho da novela de José (Gn 50) e na história de Davi (2Sm 12,15-25; 19,1-9).

O filho mais novo pede ao Pai a parte de sua herança que lhe cabe (v. 12); a parte que cabe ao mais novo é um terço dos bens móveis (Dt 21,17). Contra a recomendação de Eclo 33,20-24 de não ceder herança em vida, o “pai dividiu os bens entre eles” (mas em v. 31 só deu a parte do mais novo). O filho mais novo “partiu para um lugar distante”, longe da presença paterna, num desterro voluntário, buscando a liberdade, mas o mau uso desta liberdade (cf. Gl 5,13-21), a libertinagem, leva logo a miséria e “ali esbanjou tudo numa vida desenfreada” (v. 13; cf. Pr 23,21; 29,3; Eclo 18,30,19,2).

Quando tinha gasto tudo o que possuía, houve uma grande fome naquela região, e ele começou a passar necessidade. Então foi pedir trabalho a um homem do lugar, que o mandou para seu campo cuidar dos porcos. O rapaz queria matar a fome com a comida que os porcos comiam, mas nem isto lhe davam (vv. 14-16).

Na sua necessidade (Pr 16,25), só consegue um trabalho degradante com um patrão pagão (Lv 25,47): cuidar dos porcos (v. 15), ofício humilhante para qualquer um, mais ainda para um judeu, forçado a ficar no meio de animais impuros que judeus não comem (Lv 11,17; cf. Mc 5,12s). Como não se bastasse, esses porcos gozam de melhor sorte do que o filho (v. 16).

Então caiu em si e disse: “Quantos empregados do meu pai têm pão com fartura, e eu aqui, morrendo de fome. Vou-me embora, vou voltar para meu pai e dizer-lhe: ‘Pai, pequei contra Deus e contra ti; já não mereço ser chamado teu filho. Trata-me como a um dos teus empregados’” (vv. 17-19).

O narrador revela os pensamentos do jovem que chegou ao fundo do poço. A necessidade o faz refletir, ainda com interesse próprio, aquela situação passada com o Pai onde era mais feliz do que agora (Os 2,9; Jr 2,9), e depois descobre a dimensão religiosa: O pecado vai contra Deus (vv. 18.21; cf. Gn 39,9; Ex 10,16; Dt 1,41; 2Sm 12,13; Sl 51,8). Em pensamento, o jovem impõe a pena a si mesmo: perder todos os direitos de filho (cf. Gn 43,9).

Então ele partiu e voltou para seu pai. Quando ainda estava longe, seu pai o avistou e sentiu compaixão. Correu-lhe ao encontro, abraçou-o e cobriu-o de beijos. O filho, então, lhe disse: “Pai, pequei contra Deus e contra ti. Já não mereço ser chamado teu filho” (vv. 20-21).

O pai não se deixa levar pela lei (Dt 21,20), mas pela graça, ou seja, pelo afeto paternal (Jr 31,20; Os 11,8), identificando-o de longe e “sentiu compaixão” e, mesmo sendo velho, “correu-lhe ao encontro” (v. 20). O abraço com beijos sela a reconciliação antes que o filho pronuncie a confissão (cf. Jr 3,13).

Mas o pai disse aos empregados: “Trazei depressa a melhor túnica para vestir meu filho. E colocai um anel no seu dedo e sandálias nos pés. Trazei um novilho gordo e matai-o. Vamos fazer um banquete. Porque este meu filho estava morto e tornou a viver; estava perdido e foi encontrado”. E começaram a festa (vv. 22-24).

É recebido como “filho” e assim restituído com a “melhor túnica” e um “anel” (v. 22). É um reviver, “meu filho estava morto e tornou a viver”; não a simples volta, mas o arrependimento e o perdão precisam ser festejados (cf. Eclo 32,5,6; 2Cor 5,17-19). A história poderia terminar com esse convite à alegria como nas duas parábolas anteriores (cf. vv. 6-7.9-10).

O filho mais velho estava no campo. Ao voltar, já perto de casa, ouviu música e barulho de dança. Então chamou um dos criados e perguntou o que estava acontecendo. O criado respondeu: “É teu irmão que voltou. Teu pai matou o novilho gordo, porque o recuperou com saúde” (vv. 25-27).

Mas esta parábola tem uma segunda parte, porque nem todos (os fariseus, nós?) se alegram com o resultado da misericórdia desse pai. Nem todos aceitam nem compreendem o coração do Pai, por ex. Jonas que não queria ser profeta de um “Deus compassivo e clemente, paciente e misericordioso” (Jn 4,2; cf. Ex 34,6; Jl 2,13; Sl 86,15; 103,8; 145,8; Ne 9,17). O filho mais velho voltou do campo, não estava folgado, mas dedicado ao trabalho. Ele estranha ao ouvir o barulho da música e a notícia sobre o irmão.

Mas ele ficou com raiva e não queria entrar. O pai, saindo, insistia com ele. Ele, porém, respondeu ao pai: “Eu trabalho para ti há tantos anos, jamais desobedeci a qualquer ordem tua. E tu nunca me deste um cabrito para eu festejar com meus amigos. Quando chegou esse teu filho, que esbanjou teus bens com prostitutas, matas para ele o novilho cevado”(vv. 28-30).

O irmão mais velho ficou com raiva, não quer entrar na alegria (cf. 14,15-24; 18,17.24s; Mt 5,20; 7,21; 23,13; 25,10.21.23) e discute com o pai em termos de retribuição comparativo. Sua fala é mais explícita do que a do próprio narrador: “esbanjou teus bens com prostitutas” (v. 30; apenas “vida desenfreada” em v. 13). Não chama o mais novo de “meu irmão”, apenas de “teu filho”.

Então o pai lhe disse: “Filho, tu estás sempre comigo, e tudo o que é meu é teu. Mas era preciso festejar e alegrar-nos, porque este teu irmão estava morto e tornou a viver; estava perdido, e foi encontrado” (vv. 31-32).

O pai faz ver seu filho obediente que está bem pago convivendo com ele: “Tu estás sempre comigo, e tudo o que é meu é teu”. Já que o mais velho participa de tudo do Pai, deveria também participar da sua alegria de recuperar seu filho, porque a vida de uma pessoa vale mais do que bens perdidos (cf. Mc 5,1-20; 9,36). O padre belga José Cardijn, fundador da Juventude Operária Católica, dizia: “Cada operário vale mais que todo ouro da terra”. Muito mais ainda vale o filho para o pai do que um empregado.

A parábola termina aqui. Não sabemos se o filho mais velho aceitou a misericórdia do Pai e se reconciliou com seu irmão. Assim a parábola fica aberta com um convite a todos nós: mais do que obedecer todas as ordens do pai, devemos partilhar do seu coração compassivo. Paternidade gera fraternidade. Verdadeira obediência a Deus é amor aos irmãos.

Devemos amar Deus, mas amar também o irmão (cf. 1Jo 2,9-11; 3,11-17; Mt 6,14; 18,21-35; 22,34-40; Cl 3,13). E para facilitar a conversão (e a volta à Igreja), todo pecador deve saber que Deus não é um monstro vingativo, mas é um Pai misericordioso que quer a liberdade e a vida. “Deus não quer a morte do pecador, mas que se converta e viva” (Ez 18,23-32). “Aproximemo-nos, então, com segurança do trono da graça para conseguirmos misericórdia e alcançarmos graça, como ajuda oportuna” (Hb 4,16).

O site da CNBB conclui: A Igreja precisa se aproximar cada vez mais dos pecadores e pecadoras para dar-lhes oportunidades reais de conversão e meios concretos para que possam seguir o itinerário da fé e trilhar os caminhos da santidade. Isso só é possível quando seguimos o exemplo de Jesus e acolhemos todas as pessoas que vivem no pecado e que são marginalizadas por causa disso. Se não nos dispomos a criar espaço nas nossas comunidades para essas pessoas e não criamos mecanismos pastorais e evangelizadores eficazes, os pecadores e as pecadoras não terão as melhores condições para corresponder à graça divina e nós seremos responsáveis por isso.

 

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