6 de Junho de 2020, Sábado: Jesus dizia, no seu ensinamento a uma grande multidão: “Tomai cuidado com os doutores da Lei!

9ª Semana do Tempo Comum 

Leitura: 2Tm 4,1-8

Em 3,10s, (o autor da terceira geração que escreve em nome de) Paulo confirma que Timóteo é um dos discípulos mais fieis (At 16,1-3; 17,14s; 18,5; 19,22; 20,4; 1Ts 3,2.6; 1Cor 4,17; 16,10; 2Cor 1,19; Rm 16,21). A carta 2Tm supõe a prisão de Paulo em Roma (1,8.16s; 2,9). Ele se sente perto do fim, estando sozinho escreve uma despedida, um testamento (cf. At 20,17-37; Jo 13-17). Insiste em recomendações para o ministério (cf. 1Tm 6,11-14).

(Caríssimo:) Diante de Deus e de Cristo Jesus, que há de vir a julgar os vivos e os mortos, e em virtude da sua manifestação gloriosa e do seu Reino, eu te peço com insistência: proclama a palavra, insiste oportuna ou importunamente, argumenta, repreende, aconselha, com toda paciência e doutrina (vv. 1-2).

É uma recomendação solene e urgente diante da parusia (volta de Cristo no fim dos tempos): “Eu te peço com insistência (lit. conjuro-te): Proclama a Palavra”. A “palavra” é a mensagem evangélica.

A Bíblia do Peregrino (p. 2862s) comenta: “Conjurar” é tomar juramento na presença de testemunhas qualificadas, invocando motivos sagrados (cf. Js 24,22). A testemunha pode ser Deus, a pessoa que jura ou um documento jurídico (cf. Dt 31,26). Invocar a parusia e o juízo universal confere garantia máxima ao juramento: o definitivo se faz presente (1Pd 4,5).

“Há de vir a julgar os vivos e os mortos”. Cristo será o juiz de todo o mundo, dos que ainda estiverem vivos no momento de sua vida e dos que ressuscitarão (cf. Mt 25,31; Jo 5,26-29; 1Ts 4,15-17). Esta afirmação que pertencia certamente ao anuncio primitivo (kerigma; cf. At 10,42; 1Pd 4,5) entrou no Credo apostólico.

A Bíblia de Jerusalém (p. 2235) comenta: Este apelo a um discípulo querido, no fim da última das epístolas, pode se comparar, numa tonalidade diferente, ao discurso de Mileto (At 20,18-36). Dominado pelo pensamento da morte próxima (4,6-8) e da vinda do Senhor, Paulo admoesta Timóteo a prosseguir sem desfalecimento a missão que ele lhe transmite.

“Proclama a palavra” é o lema episcopal de D. Josafá, bispo de Barreiras.

Pois vai chegar o tempo em que não suportarão a sã doutrina, mas, com o prurido da curiosidade nos ouvidos, se rodearão de mestres ao sabor de seus próprios caprichos. E assim, deixando de ouvir a verdade, se desviarão para as fábulas. Tu, porém, mostra vigilância em tudo, suporta o sofrimento, desempenha o teu serviço de pregador do evangelho, cumpre com perfeição o teu ministério. Sê sóbrio (vv. 3-5).

O tempo será de discernimento, entre as Palavras do evangelho que salvam, e as palavras vãs que só servem para “o prurido da curiosidade nos ouvidos”, sentido-lhes comichar os ouvidos ou para fazer com que lhes cocem os ouvidos. Afagam os ouvidos (cf. 1Tm 4,1ss)6,11-14), como no chamado testamento de Isaías (30,10) e falando de falsos profetas (1Rs 22,8).

A “sã doutrina” contra as “fábulas” (1Tm 1,3f) dos falsos mestres. As cartas Pastorais retomam sempre a “sã” doutrina, (1Tm 1,10; 6,3; 2Tm 1,12; 4,3; Tt 1,9.13; 2,1.8), designa a pregação apostólica com todas as qualidades da saúde e em relação com a conduta ética (cf. Rm 2,1s; Fl 4,8s). “Sê sóbrio”; é acréscimo da Vulgata (tradução latina), cf. 1Tm 3,2-3.8.11; Tt 2,12; com moderação: 1Tm 5,23.

Quanto a mim, eu já estou para ser derramado em sacrifício; aproxima-se o momento de minha partida (v. 6).

Em 4,6, para significar o mistério da sua morte, Paulo recorre a duas imagens, que já empregara em Fl: A morte do apóstolo será uma “libação” (derramar), não de vinho, mas de sangue, não alheia, mas própria. Nos sacrifícios judaicos e pagãos, libações de vinho, água ou óleo eram derramadas sobre as vítimas (cf. Ex 29,40; Nm 28,7; Fl 2,17). Assim o sangue de Paulo ia ser derramado em libação no sacrifício do seu martírio. É morte com valor quase litúrgico.

Outro termo, a “partida” emprega-se para um navio levantar âncoras, largar as amarras e as fazer à vela rumo ao alto-mar, ou também para soldados que dobram as tendas e levantam o acampamento (cf. 2Cor 5,1-10; lembramo-nos de que Paulo era fabricador de tendas, cf. At 18,3).

Combati o bom combate, completei a corrida, guardei a fé. Agora está reservada para mim a coroa da justiça, que o Senhor, justo juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos que esperam com amor a sua manifestação gloriosa (vv. 7-8).

Paulo nasceu fora de Israel em ambiente helenista e gosta de comparações da vida esportiva ou militar dos gregos e romanos (“combate”, “corrida”; cf. 1Cor 9,24-26; Gl 2,2; 5,7; Ef 6,10-17; Fl 2,16; 3,12-14; 1Tm 1,18; 6,12; Hb 12,1). Jesus contou parábolas para a população rural da Galileia; Paulo discursa para um público urbano, para filósofos (At 17), políticos (At 25-26), comerciantes (At 16), reis (At 26), soldados, gladiadores e outros. Paulo se vê como atleta na corrida da vida, competiu até o final e agora se dispõe para receber a coroa do prêmio (1 Cor 9,25). Mas esta “coroa da justiça” está reservada não somente a um, “mas também a todos” os que correm com esperança invencível. O “justo juiz” é árbitro da competição: é o Senhor Jesus no dia da sua vinda gloriosa (parusia).

 

Evangelho: Mc 12,38-44

Ouvimos hoje Jesus em Jerusalém terminando seu ensinamento público. Depois de ser desafiado pelos sacerdotes saduceus e fariseus mestres da lei (11,27-12,34), ele adverte sobre esta categoria e apresenta depois um exemplo de humildade e fé.

Jesus dizia, no seu ensinamento a uma grande multidão: “Tomai cuidado com os doutores da Lei! Eles gostam de andar com roupas vistosas, de ser cumprimentados nas praças públicas; gostam das primeiras cadeiras nas sinagogas e dos melhores lugares nos banquetes. Eles devoram as casas das viúvas, fingindo fazer longas orações. Por isso eles receberão a pior condenação” (vv. 35-40).

Concluindo as discussões com os líderes em Jerusalém, o evangelista reúne algumas críticas contra autoridades corruptas, como já o fizeram os profetas reiteradamente (cf. Jr 21-23; Mq 2-3 etc.). Os “doutores da Lei” arrogavam-se uma autoridade superior e exerciam uma influência dominante entre o povo. Daí a gravidade da denúncia.

Falando contra os doutores da Lei de Moisés (cf. Mt 23), Jesus alerta contra a hipocrisia de quem utiliza o própria saber religioso para encobrir o oportunismo e a exploração dos pobres. A tradição judaica estava cheia de exortação sobre o cuidado para com as viúvas, mas os setores dominantes oprimem. Qualquer semelhança com setores da sociedade de hoje é mera coincidência?

A Bíblia do Peregrino (p.2433) comenta: O primeiro capítulo de acusação é a vaidade, parente da soberba, fustigada pelos Sapienciais e pelos profetas (Pr 8,13; Is 2,12). O segundo é a exploração de classes indefesas (as viúvas, segundo ampla tradição, Is 1,17.23) sob pretexto de orações que resultam viciadas; abusam ao mesmo tempo das viúvas e do culto. De modo bem diferente, os profetas Elias e Eliseu socorriam as viúvas e os órfãos (1Rs 17; 2Rs 4 e 8). Pelo tema da oração, essa série se une ao capítulo anterior (11,17.26).

“Devoram as casas das viúvas, fingindo fazer longas orações” (v. 40); outro sentido possível: “e, como dissimulação, oram longamente”.

A atuação pública em Jesus em Jerusalém começou no templo (purificação), para onde a narração se dirige ao final deste capítulo (cf. o Ev de Lc que inicia e termina sua narração inteira no templo).

Jesus estava sentado no Templo, diante do cofre das esmolas, e observava como a multidão depositava suas moedas no cofre. Muitos ricos depositavam grandes quantias. Então chegou uma pobre viúva que deu duas pequenas moedas, que não valiam quase nada. Jesus chamou os discípulos e disse: “Em verdade vos digo, esta pobre viúva deu mais do que todos os outros que ofereceram esmolas. Todos deram do que tinham de sobra, enquanto ela, na sua pobreza, ofereceu tudo aquilo que possuía para viver” (vv. 41-44).

O lugar do “Tesouro” (cofre) estava no recinto do templo, tinha um gazofilácio (ou cofre) exterior para receber as ofertas da multidão que depositava suas “moedas” (lit. “cobre”; cf. Mc 6,8).

Jesus critica a pratica do sistema religioso da época, que privou os pobres dos bens necessários para sobrevivência. A relação com a palavra anterior, dirigida aos doutores da lei, indica que esta viúva é uma daquelas que têm sua casa “devorada” pelos líderes religiosos (cf. v. 40)!

A Bíblia do Peregrina (p. 2433) comenta: Atraída pela palavra “viúva”, entra aqui esta narração: episódio sucedido ou parábola em ação. Colocada neste contexto próximo, irradia reflexos de contrastes. Seu desprendimento total ante a cobiça dos outros; o último lugar ante a busca dos primeiros; seu conceito puro do culto, vivido como sacrifício da pessoa. Podemos recordar a viúva fenícia que partilhou com Elias a última comida sua e do filho (1Rs 17). Sobre o cofre do templo, ver 2Rs 12,5; no tempo de Jesus se haviam diversificado os cofres, segundo o destino do dinheiro.

Com essas palavras, termina o ministério público de Jesus no evangelho de Marços. Quis conservar para todas as gerações (onde se pregar o evangelho) a figura dessa viúva pobre e anônima: uma lição e uma denúncia. Não precisava conhecer os 613 preceitos para cumpri-los; sabia dar a Deus o que é de Deus, ou seja, em forma de duas moedinhas, toda a sua vida.

A Tradução Ecumênica da Bíblia (p. 1951) especifica as duas moedas “que não valiam quase nada”, lit. isto é um “quadrante” (outros traduzem: “alguns centavos”): Essas moedazinhas eram os mínimos valores monetários (lepton) em circulação. A especificação um “quadrante” destina-se aos leitores greco-romanos. A equivalência dada não é exata, mas exprime bem que se trata de muito pouca coisa

O site da CNBB comenta: Entre as inúmeras motivações que encontramos nos dias de hoje para o seguimento de Jesus, uma delas é a busca de privilégios. Isso não é uma coisa nova. Basta, para nós, a memória dos filhos de Zebedeu, que queriam sentar-se à direita e à esquerda de Jesus na sua glória. De fato, a religião pode tornar-se fonte de privilégios para muitas pessoas, principalmente numa sociedade religiosa e hierarquizada como a nossa. Não é essa a vontade de Jesus para os seus seguidores, pois Jesus não quis privilégios nem mesmo para si próprio. Ele quer de nós a disponibilidade e a entrega de vida, a exemplo da viúva que, com a única moeda que não seria valorizada por ninguém, deu o maior exemplo de total entrega.

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