9 de Maio de 2021, 6º Domingo da Páscoa : Este é o meu mandamento: amai-vos uns aos outros, assim como eu vos amei.

Tempo de Páscoa 6º Domingo Ano B

 

1ª Leitura: At 10,25-26.34-35.44-48

Hoje ouvimos outra parte da pregação missionária de Pedro diante do centurião romano Cornélio (cf. 1ª leitura do domingo da Páscoa) que resulta na descida do Espírito (“pentecostes dos pagãos”). Até então, Pedro visitava somente comunidades judeu-cristãs (cf. 9,23-43). Um judeu não entrava numa casa de um pagão para não ficar impuro (v. 28; cf. Jo 18,28; Mt 8,8p), mas uma visão (vv. 9-16.28s) mostrou a Pedro que não devia fazer distinção de puro e impuro. Impelido pelo Espírito (v. 19), Pedro aceitou o convite de Cornélio, pagão romano, mas “piedoso e temente a Deus” (v. 2; cf. Lc 7,1-10), que residia em Cesareia (cidade litoral) e queria ouvi-lo com “seus parentes e amigos mais íntimos” (v. 24).

Quando Pedro estava para entrar em casa, Cornélio saiu-lhe ao encontro, caiu a seus pés e se prostrou. Mas Pedro levantou-o, dizendo: “Levanta-te. Eu, também, sou apenas um homem” (vv. 25-26).

Cornélio lançou o convite porque um anjo tinha lhe mandado para chamar Pedro. Agora se prostra diante dele. Judeus se prostram apenas diante de Deus (Est 3,2). A Bíblia do Peregrino (p. 2654) comenta: Cornélio saúda o hóspede com solenidade ostensiva, como a um homem de Deus, enviado do céu, e Pedro lhe responde com uma palavra densa, que coloca ambos no mesmo plano. Como se insinuasse: tu capitão e eu apóstolo; pouco importa, os dois são homens. Terá de afirmar: tu romano e eu judeu? Os dois são homens (cf. Jó 31,15; Sb 7,1

Nossa liturgia saltou o diálogo (vv. 27-33) em que os dois homens revelam o motivo (visão dupla) do seu encontro.

Então, Pedro tomou a palavra e disse: “De fato, estou compreendendo que Deus não faz distinção entre as pessoas. Pelo contrário, ele aceita quem o teme e pratica a justiça, qualquer que seja a nação a que pertença” (vv. 34-35).

No início da sua pregação, Pedro resume a lição da sua visão anterior: “Deus não faz acepção de pessoas, mas que, em qualquer nação, quem o teme e pratica a justiça, lhe é agradável” (cf. 15,9; Dt 10,17; 2Cr 19,7; Sl 15,2; Pr 15,37s; 16,7).

Deus escolheu seu povo de Israel (cf. 13,46: “primeiro”), porque, “ele enviou a palavra aos filhos de Israel, dando-lhes a boa nova da paz por Jesus Cristo, que é o Senhor de todos” (cf. Is 52,7; Sl 107,20). Com isso, já introduziu Jesus como messias (“Cristo”) e “Senhor” (cf. 2,36).

Mas “Deus não faz distinções” (lit. Deus não faz acepção de pessoas, Lc 20,21; Dt 10,17); ele não leva em conta a nação à qual alguém pertença, a situação social de povos ou raças, aceita qualquer homem religioso e honrado, ou seja, “que o teme e pratica a justiça”. Quando diz “a quem respeita/venera a Deus”, o autor pensa logicamente no Deus verdadeiro. “Ele aceita” (lit. lhe é agradável). A Tradução Ecumênica da Bíblia (p. 2123) comenta: Portanto não são a pureza ou impureza rituais que tornam o homem agradável a Deus como um sacrifício (Fl 4,18; 1Pd 2,5), mas sim o “temor de Deus” (cf. v. 2…) e a “justiça” (isto é, a qualidade de sua vida religiosa e moral) e, mais profundamente ainda, a fé em Jesus, que “purifica os corações” dos judeus e dos pagãos (15,9). – cf. Rm 14,18 e seu contexto, onde se trata de alimentos puros e impuros. O sentido da visão está agora plenamente revelado.

Nossa liturgia salta os vv. 36-43 (cf. 1ª leitura do domingo da Páscoa) da pregação de Pedro. A Tradução Ecumênica da Bíblia (p. 2123) comenta: A afirmação capital dos vv. 34-35 introduz um novo exemplo de pregação apostólica (2,14…). Após uma declaração sobre o sentido da vinda de Jesus (v. 36), as etapas do seu ministério são brevemente evocadas segundo o plano dos evangelhos sinóticos (vv. 37-39a) até a sua consumação: a morte, a Ressurreição e as aparições, a missão confiada aos apóstolos (vv. 39b-42), no fim, um apelo implícito a fé, confirmado pelo testemunho dos profetas (v. 43).

Pedro estava ainda falando, quando o Espírito Santo desceu sobre todos os que ouviam a palavra. Os fiéis de origem judaica, que tinham vindo com Pedro, ficaram admirados de que o dom do Espírito Santo fosse derramado também sobre os pagãos. Pois eles os ouviam falar e louvar a grandeza de Deus em línguas estranhas (vv. 44-46a).

Deus (e o Senhor Jesus; 2,33) continua a manifestar que guarda a iniciativa nessa questão capital da acolhida dos pagãos na Igreja, derramando o Espírito, quando Pedro ainda não havia  acabado de falar – ou apenas começado (11,15) a fazê-lo. Não obstante, a Palavra apostólica desempenha um papel indispensável.

“Eles os ouviam falar e louvar a grandeza de Deus em línguas estranhas” Esta frase lembra o relato de Pentecostes (2,4.11.17); agora é “o Pentecostes das nações” pagãs (cf. 11,15; 19,2).

A Bíblia do Peregrino (p. 2654) comenta a decisão de Pedro de batizar os pagãos (cf. vv. 47s): Saltando-se a resposta da fé dos ouvintes, embora a suponha, Lucas une o dom do Espírito com as palavras de Pedro. Como se seu discurso tivesse sido “inspirado” e portador do Espírito, o qual “cai sobre, se derrama sobre”, provocando os fenômenos extraordinários que costumam ser seus sinais. E aqui se justifica narrativamente a presença dos acompanhantes de Pedro, testemunhas também do prodígio. Os “fiéis circuncisos” diante dos pagãos, partilhando agora o mesmo e único Espírito. Pedro tira a consequência.

Então Pedro falou: “Podemos, por acaso, negar a água do batismo a estas pessoas que receberam, como nós, o Espírito Santo?” E mandou que fossem batizados em nome de Jesus Cristo. Eles pediram, então, que Pedro ficasse alguns dias com eles (vv. 46b-48).

“Podemos, por acaso, negar a água do batismo a estas pessoas?” (lit. “impedir a água para que não sejam batizados”). Aqui, o dom do Espírito precede o batismo e não está em relação com uma imposição das mãos (cf. 6,6; 8,17; 19,6 1Tm 4,14); com ou sem tal gesto, este dom do Espírito vem de Deus (cf. Jo 3,8). O batismo é o sinal da dedicação ao nome de Jesus e da incorporação do grupo à comunidade da Igreja: Cornélio com “sua casa”, ou seja, parentes e amigos (cf. v. 24; 16,15.31-33). Não diz de modo explicito que foram incluídas crianças, mas também não as exclui nos batismos dos At (cf. Mc 10,9,36s; 10,13-16p). O costume posterior de batizar crianças pode se basear aqui. Para Lc, autor dos At, é importante que Pedro (e o Espírito Santo) antecipa a acolhida dos pagãos na Igreja que Paulo promove em grande estilo (sem circuncisão; cf. 11,20-26; cap. 15).

Aqui, como em outros casos (8,5-17; 19,5?; 1Cor 1,14.17), não são os próprios apóstolos que batizam, talvez os diáconos (8,1.36-39; 21,8). “Eles pediram, então, que Pedro ficasse alguns dias com eles” (cf. 16,15). A comunidade de vida e, sem dúvida, de mesa (eucaristia), que a implica consagra a existência da nova Igreja nesta cidade litoral de Cesareia.

Com esta descida do Espirito sobre os pagãos que se abriram à palavra apostólica, o próprio Deus sinaliza que quer a inclusão dos outros povos formando a Igreja católica (=para todos, universal).

2ª Leitura: 1 Jo 4,7-10

Neste discurso sobre o amor, o autor da carta atinge seu ápice, quando tenta e ousa definir que “Deus é amor” (4,8.16).

Caríssimos, amemo-nos uns aos outros, porque o amor vem de Deus e todo aquele que ama nasceu de Deus e conhece Deus.  Quem não ama, não chegou a conhecer a Deus, pois Deus é amor (vv. 7-8).

A carta já falava do mandamento do amor mútuo (cf. 2,7-11; 3,23; Jo 13,34; 15,12.17; 1Ts 4,9; 1Pd 1,22). Quem é guarda seus mandamentos, é justo e ama, “nasceu de Deus”, então é filho de Deus (cf. 2,29; cf. Jo 1,12s). Já nossa filiação divina é um “grande presente de amor” do Pai (3,1). Na linguagem bíblica, “conhecer” e “amar” podem significar a mesma coisa (cf. Mt 1,25; Lc 1,34; Gn 4,1.17.25; 19,8; 24,16 etc.), por isso só pode chegar ao conhecimento de Deus quem ama. O amor não se entende teoricamente, mas sim por experiência inter-humana (vv. 7-8).

Temos três célebres descrições joaninas de que Deus é: “Deus é espírito” (Jo 4,24), “Deus é luz” (1Jo 1,15), e agora “Deus é amor” (1Jo 4,8,16). Mais de trinta vezes em 4,7-5,3 aparecem as palavras “amor” ou “amar”. Religiões antigas veneravam o amor como uma divindade entre outras; o único e verdadeiro “Deus é amor”, afirma João. A origem do amor é Deus, que é amor.

No AT, Deus ama seu povo Israel (cf. Is 54,8; Dt 4,37; 10,15; Jr 31,3; Sf 3,17; Ml 1,2). Seu amor eterno é semelhante ao amor de um pai por seus filhos (cf. Is 1,2; 49,14-16; Jr 31,20; Os 2,25; 11,1-4) ou à paixão de um homem por uma mulher (cf. Is 62,4-5; Jr 2,2; 31,21-22; Ez 16,8.60; Os 2,16-17.21-22; 3,1).

Foi assim que o amor de Deus se manifestou entre nós: Deus enviou o seu Filho único ao mundo, para que tenhamos vida por meio dele. Nisto consiste o amor: não fomos nós que amamos a Deus, mas foi ele que nos amou e enviou o seu Filho como vítima de reparação pelos nossos pecados (vv. 9-10).

O amor de Deus é gratuito e iniciativa dele (v. 9). Deus manifestou seu amor na missão do único Filho como salvador do mundo (vv. 7-9; 3,16; 4,14; Jo 3,16; 4,42; cf. Rm 4,24-25; 5,8; 8,31-39) “para que tenhamos vida por meio dele” (cf. Jo 10,10; 14,6; 20,31). Entretanto este amor que se manifesta na história da salvação, revela no mesmo tempo o amor do Pai por seu Filho (Jo 3,35; 5,20; 10,17; 15,9; 17,26). Todo amor vem de Deus (v. 7) e reflete entre nós a própria vida das pessoas na Santíssima Trindade, modelo para a comunidade.

O horizonte de Sb 11,24 é o universo: “Amas todos os seres que fizeste”; o de João é a salvação (v. 14): “vítima da reparação/expiação por nossos pecados” (v. 10; 2,2) é termo do culto sacerdotal do AT (Ex 29,36-37) e evoca o sacrifício voluntario de Jesus na cruz que intercede por nós (cf. Ap 5,9-10). Já em 3,16, definiu-se: “Nisto conhecemos o amor: ele deu sua vida por nós”. Dar a própria vida em favor dos amados é o “amor maior” de Jo 15,12 (cf. 1Cor 5,5-8).

Evangelho: Jo 15,9-17


Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos:
9Como meu Pai me amou,
assim também eu vos amei.
Permanecei no meu amor.
10Se guardardes os meus mandamentos,
permanecereis no meu amor,
assim como eu guardei os mandamentos do meu Pai
e permaneço no seu amor.
11Eu eu vos disse isto,
para que a minha alegria esteja em vós
e a vossa alegria seja plena.

12Este é o meu mandamento:
amai-vos uns aos outros,
assim como eu vos amei.
13Ninguém tem amor maior
do que aquele que dá sua vida pelos amigos.
14Vós sois meus amigos,
se fizerdes o que eu vos mando.
15Já não vos chamo servos,
pois o servo não sabe o que faz o seu senhor.
Eu vos chamo amigos,
porque vos dei a conhecer
tudo o que ouvi de meu Pai.
16Não fostes vós que me escolhestes,
mas fui eu que vos escolhi
e vos designei para irdes e para que produzais fruto
e o vosso fruto permaneça.
O que então pedirdes ao Pai em meu nome,
ele vo-lo concederá.
17Isto é o que vos ordeno:
amai-vos uns aos outros.

 

P 5s 5ª e 6ªf

Evangelho: Jo 15,9-11

Depois da alegoria da videira (vv. 1-8), Jesus continua falar a seus discípulos no discurso de despedida durante última ceia (cap. 13-17). O precedente imaginativo da metáfora da verdadeira videira (vv. 1-8) era o canto da vinha de Is 5,1-7 que colocou a ação no campo do amor, e o fruto esperado era a prática da justiça e o direito entre os homens. Lá se tratava do amor conjugal, aqui do amor paterno, filial e os frutos são amor fraterno. Não é um amor simplesmente humano, porque recebe sua seiva de Jesus. Funda e engloba tudo o que abrange a justiça e o direito. Modelo e força é o amor de Jesus ao Pai e a seus “amigos” (v. 15). O amor filial de Jesus se traduz em cumprir o mandamento do Pai (cf. 6,38; 8,29), o amor do fiel cristão para com Jesus se traduzirá em cumprir seu mandamento.

Como meu Pai me amou, assim também eu vos amei. Permanecei no meu amor. Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor, assim como eu guardei os mandamentos do meu Pai e permaneço no seu amor (vv. 9-10).

“Permanecer” é uma palavra chave neste capítulo (vv. 4.5.6.9.10) e neste evangelho (1,32s.38; 4,40; 14,16, principalmente para esta redação que lidar com o problema da separação, divisão e ir embora, cf. 1Jo 2,18-28 etc.). “Permancei no meu amor”, diz Jesus após a comparação com a videira cujos ramos (os discípulos) devem permanecer na videira. O contrário de permanecer seria separar, afastar-se (cf. 1Jo 2,19), desistir da fidelidade e da obediência e em consequência perder a vida. Porque a vida e o amor brotam do Pai para o Filho (3,35; 5,26), e do Filho para os discípulos (cf. 17,23; 20,21; 1Jo 4,7-12.16). Quem ama Jesus, vai guardar os mandamentos depois da partida dele e assim permanecer no amor mútuo do Pai e do Filho que inclui os discípulos.

Eu vos disse isto, para que a minha alegria esteja em vós e a vossa alegria seja plena (v. 11).

Guardar os mandamentos (sobretudo praticar o amor-caridade, vv. 12s.17; 13,34s) não escraviza, mas é fonte de alegria. Quando há amor, o cumprimento é gozoso, até o sacrifício pode trazer alegria (cf. as dores do parto em 16,21s; cf; 17,13; 1Jo 1,4). O tema da alegria (com seu correlativo, a festa) é frequente no AT; com Javé como sujeito: “Vou alegrá-los em minha casa de oração” (Is 56,7); a seu servo (Sl 86,4); “houve uma festa, porque o Senhor os inundou de alegria” (Ne 12,43). Também na evangelização, a alegria no Espírito Santo acompanha os apóstolos (At 2,46 etc.).

O site da CNBB comenta: Os mandamentos que Deus nos deu na verdade constituem-se na grande manifestação do seu amor, pois os mandamentos de Deus nos possibilitam a descoberta dos valores que podem fazer o homem verdadeiramente feliz. O cumprimento dos mandamentos tem dois significados: o primeiro é a correspondência ao amor de Deus que nos amou primeiro, e o segundo é trilhar os caminhos para a verdadeira felicidade, pois o amor faz com que permaneçamos unidos a Deus, que é a única fonte da verdadeira alegria, a alegria plena, que é a alegria da perfeita comunhão com aquele que nos ama com amor eterno.

 

Evangelho: Jo 15,12-17

Depois da alegoria da videira (vv. 1-8; evangelho do domingo passado), Jesus continua falar a seus discípulos no discurso de despedida durante última ceia (cap. 13-17). Primeiro disse cumprir “mandamentos” (no plural) como expressão do amor (v. 10). Depois os reduz a um “mandamento” (no singular), que consiste em amar o próximo (v. 12). O precedente imaginativo da metáfora da verdadeira videira (vv. 1-8) era o canto da vinha de Is 5,1-7que colocou a ação no campo do amor, e o fruto esperado era a prática da justiça e o direito entre os homens. Lá se tratava do amor conjugal, aqui do amor paterno, filial e os frutos são amor fraterno. Não é um amor simplesmente humano, porque recebe sua seiva de Jesus. Funda e engloba tudo o que abrange a justiça e o direito. Modelo e força é o amor de Jesus ao Pai e a seus “amigos” (v. 15). O amor filial de Jesus se traduz em cumprir o mandamento do Pai (cf. 6,38; 8,29), o amor do fiel cristão para com Jesus se traduzirá em cumprir seu mandamento.

Este é o meu mandamento: amai-vos uns aos outros, assim como eu vos amei. Ninguém tem amor maior do que aquele que dá sua vida pelos amigos (vv. 12-13).

O mandamento de amar o próximo já existe na lei de Moisés (Lv 19,18), mas é um mandamento “novo” (13,34; 1Jo 2,7-11; 3,23; 4,19-21), porque foi Jesus quem o cumpriu perfeitamente com sua entrega na cruz. Amar “assim como” Jesus é a medida, não mais amar “como a si mesmo”.

A morte de Jesus é definida como ato supremo do amor (a palavra grega usada aqui é agape, não eros nem filia). Amor é o contrário do egoísmo, é altruísta, é “querer o bem do outro” (S. Tomás de Aquino). Jesus ama “até o extremo” (13,1) e “dá sua vida pelas suas ovelhas” (10,11.14s). O salmista reza: “Tua lealdade vale mais do que a vida” (Sl 63,4). O amor vale mais do que esta vida, porque lhe dá sentido e a transcende.

Vós sois meus amigos, se fizerdes o que eu vos mando. Já não vos chamo servos, pois o servo não sabe o que faz o seu senhor. Eu vos chamo amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi de meu Pai (vv. 14-15).

Em Is 41,8, Israel recebeu o título de “servo”, Abraão de “amigo”. Servo de Deus pode ser título honorífico (cf. Nm 12,7; 2Sm 12,7; Is 42,1; At 3,13 etc.). Quem imita Jesus no seu amor radical, não é escravo, mas é livre, é amigo dele. Nas cortes dos reis romanos e helenistas, havia um círculo de amigos (cf. 19,12) que conviviam com o rei, o animavam e aconselhavam. Aqui os discípulos convivem em regime de amizade com o rei e mestre Jesus embora não o aconselhem. Aqui o sinal de amizade é partilhar confidências (cf. Jó 29,4; Sl 55,15). Faz parte deste novo estilo de amor que Jesus não retenha nada para si, que comunica tudo aos seus discípulos. Eles são amigos e não servos, apesar de ele permanecer o “Senhor e mestre” lavou os pés dos discípulos para que estes também se sirvam (e amem) “uns aos outros” (cf. 13,13-15).

Não fostes vós que me escolhestes, mas fui eu que vos escolhi e vos designei para irdes e para que produzais fruto e o vosso fruto permaneça. O que então pedirdes ao Pai em meu nome, ele vo-lo concederá. Isto é o que vos ordeno: amai-vos uns aos outros (vv. 16-17).

A escolha é iniciativa soberana de Jesus (Mc 3,13p), como o é de Javé Deus no AT (cf. Nm 16,7; escolha do povo em Dt 7,7; de Davi em 2Sm 6,2 etc.). O amor é fecundo, o amor divino (agape) produz frutos que permanecem”.

Jesus promete atendimento a quem “pedir ao Pai em meu nome” (14,13s; 15,16; 16,24.26; cf. Mt 7,7-11; Lc 11,5-13). O nome representa a pessoa. Mas pedir em nome de Jesus significa também sintonizar-se com a vontade dele, assumir sua missão e pedir com reta intenção, de modo que ele possa assinar o pedido (cf. At 19,13-16; Tg 4,2s).

O site da CNBB comenta: Jesus não quer que nós sejamos seus servos, mas seus amigos. O servo trabalha em função do seu salário e não tem nenhum compromisso com o seu senhor além do vínculo do trabalho. O amigo é comprometido com o outro, acredita nos seus valores e luta com ele na conquista de um ideal comum. Assim, quando Jesus nos chama de amigos, ele quer dizer que está compromissado conosco na construção do ideal do Reino de Deus e quer que todos nós também sejamos seus amigos, comprometidos com ele na construção da civilização do amor.

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