Câmara de vereadores realiza Sessão Especial em comemoração aos 40 anos da Diocese de Barreiras

Ontem, dia 14 de Agosto, a Câmara de Vereadoras de Barreiras realizou uma Sessão Especial aos 40 anos de criação da Diocese de Barreiras instalada no Oeste Baiano. Estavam presentes, Dom Josafá Menezes da Silva, Bispo da Diocese de Barreiras, padres, religiosas, líderes e membros de pastorais, movimentos e serviços das paróquias e comunidades da Diocese, e também contou com a participação de pessoas de outras religiões e da Banda 26 de Maio que abrilhantou a sessão. Na ocasião Dom Josafá recebeu uma placa em homenagem aos 40 anos de missão da Diocese de Barreiras.

=>Leia abaixo o discurso feito por Dom Josafá na Sessão Especial na Câmara de Vereadores 

Sr. Presidente, Eurico Queiroz Filho

Senhores vereadores, senhoras vereadoras. Agradeço as palavras de carinho e de reconhecimento de todos os que falaram a respeito da Diocese de Barreiras na sua trajetória de 40 anos.

Saúdo as demais autoridades presentes, padres, diáconos, líderes das pastorais e movimentos da Diocese de Barreiras.

Ouvintes das rádios que transmitem este evento e internautas.

Agradeço ao Vereador Gilson Rodrigues a proposição desta Sessão Especial, aprovada pela maioria dos vereadores desta casa e chancelada pelo Presidente, certamente, um reconhecimento da função social e religiosa que a circunscrição eclesiástica diocesana exerce em nossa região.

Para compreendermos o significado desta comemoração, devemos fazer um pouco de história. Até 1913, na Bahia, existia somente um bispo em Salvador, portanto no litoral. Em outubro de 1913, foram criados três bispados: Ilhéus, Caitité e Barra do Rio Grande. Aumenta, então, para quatro o número de bispos em todo o Estado da Bahia.

A nossa região ficou com o Bispado da Barra que se estendia ainda aos seguintes territórios: Xique-Xique, Pilão Arcado, Remanso, Casa Nova, Sento-Sé, Juazeiro, Campestre, Brotas de Macaúbas, Oliveira dos Brejinhos, Urubu, Bom Jesus da Lapa, Carinhanha, Sant’Ana dos Brejos, Porto de Santa Maria e Correntina. Barreiras,  Angical, Campo Largo e Santa Rita do Rio Preto estavam dentro dos limites da Diocese da Barra. Era uma enorme extensão territorial.

Nas condições daquele tempo, os bispos da Barra fizeram todo o possível para cumprir a missão. As paróquias de nossa região não ficaram abandonadas.

O primeiro desmembramento da Diocese da Barra aconteceu em 1962. Foram criadas: Bom Jesus da Lapa e Juazeiro. O terceiro desmembramento acontece em 1979 com a Diocese de Barreiras e em 1980, Irecê.

Como acontece a criação da Diocese de Barreiras?

Em 27 de junho de 1976, assumiu a Diocese da Barra, Dom Orlando Dotti, catarinense, natural de Caçador, um homem visionário. Dom Orlando logo em agosto de 1976 fez uma visita em Barreiras, escrevendo no Livro Tombo: “Encontrei uma cidade florescente e uma paróquia que realiza um trabalho pastoral organizado. O trabalho dos padres supera toda expectativa e o engajamento dos leigos é bom. Incentivo a todos a fim de que organizem um trabalho sério e metódico para criação no futuro de uma Diocese”. Em março de 1977, retorna a Barreiras para instalar a Comissão que deveria ultimar o processo para a criação da nova Diocese. Padre Ricardo Weberberger coordena a comissão. Foi dada como tarefa preparar a documentação e construir a infraestrutura: Residência do Bispo e o seu local de trabalho, a Cúria Diocesana. “Muitas pessoas ajudaram nesse trabalho” (Dom Ricardo, p. 16, Diocese de Barreiras – 2009) de modo que em 27 de julho de 1977 foi entregue a documentação em Brasília na Nunciatura. Em de 17 de dezembro de 1978, 1 ano e meio de trabalho, estavam prontas os dois prédios.

Como era um plano inclusive anterior a Dom Orlando Dotti, esperava-se que Roma aprovasse a nova diocese ainda em 1978. Mas aquele ano atípico: na sede de São Pedro se sucederam três papas. Em 06 de agosto de 1978, morre o Papa, São Paulo VI.

Em 26 de agosto de 1978, é eleito João Paulo I, que no dia 28 de setembro do mesmo ano, deixa vacante a sede petrina com apenas 33 dias de pontificado. Eleito Papa em 26 de outubro de 1978, São João Paulo II cria a Diocese de Barreiras em 23 de maio de 1979 e no mesmo dia nomeia o 1º bispo, Dom Ricardo Weberberger. 11 de julho de 1979, Dom Ricardo é ordenado no Mosteiro de Kremsmunster. Em 24 de agosto retorna para Barreiras e no dia 26 de agosto, inicia o seu ministério pastoral como 1º Bispo da Diocese de Barreiras.

 Em latim, “dioecesis” quer significa um território autônomo entregue à direção de um bispo.

“Separamos integralmente da Diocese de Barra, como está circunscrita na atual lei civil, os municípios que, em língua portuguesa se chamam: Angical, Baianópolis, Barreiras, Brejolândia, Catolândia, Cotegipe, Cristópolis, Formosa do Rio Preto, Riachão das Neves, Santa Rita de Cássia, São Desidério, Tabocas do Brejo Velho e destes formamos a nova Diocese, que se chama Barreiras, dentro dos limites aqui indicados, que, como se disse, formam estes municípios” (Bula IN HAC SUPREMA). Eram 12 municípios. Luís Eduardo Magalhães, Mansidão e Wanderley vieram depois. A população era de 200 mil habitantes em 72.000 km2. Hoje são 15 municípios, uma população segundo o IBGE, no último censo é 446.279,00 mil habitantes.

Eis a realidade que Dom Ricardo encontrou: “De fato a tarefa que o espera era é particularmente árdua. Comandando um reduzido contingente de seis padres e oito religiosas, a atuação de Dom Ricardo deve se estender pelos amplos e problemáticos limites de uma diocese onde o nível de vida é um dos mais baixos do país e onde explodem, com regular frequência, conflitos pela posse da terra” (Veja, 5.09.1979).

As paróquias atendidas por padres e religiosas eram 6: Barreiras-Angical (Padre Geraldo e Padre Gunther), Baianópolis (Mons. Armindo), Cristópolis (Mons. Francisco), Cotegipe (Frei Arnoldo) e Santa Rita (Padre Pedro-José Bergésio). Hoje são 24 paróquias; uma Reitoria São Bento – Memorial Dom Ricardo e o Santuário Diocesano do Senhor dos Aflitos – no Cantinho. As igrejas e capelas chegam perto das 460.

Na época da criação da Diocese de Barreiras eram seis padres. Hoje são vinte e sete. Religiosas também são vinte e sete. Vinte e um Diáconos Permanentes. Seminaristas são oito. Os líderes de comunidades, catequistas, coordenadores de grupos e pastorais, ministros da palavra, batismo, eucaristia e outros são muitos.

A criação de uma nova Diocese acontece, para que as populações da região possam ser melhor evangelizadas e o povo seja mais bem atendido nas suas necessidades religiosas e materiais.

Foram muitos os benefícios que recebemos nesses anos de história: “[…] olhando para passado e para o presente, podemos fazer uma lista longa até: de homens e mulheres, bispos, sacerdotes, religiosas, diáconos, agentes pastorais, líderes de movimentos e associações, pais e mães de famílias, políticos e simples cidadãos, jovens e adultos, agricultores e comerciantes, brasileiros e estrangeiros – entre eles austríacos -, que encontraram recursos e condições materiais, humanas e institucionais; com os quais foram construídas: Residência do Bispo, Cúria Diocesana, Casa de Retiro de São Bento, igrejas, santuários, capelas rurais e urbanas, casas paroquiais, centros comunitários e paroquiais, creches, abrigos de idosos, casas de passagem, escolas urbanas e agrícolas; rádios comunitárias, sede de sindicatos rurais e de associações, casas populares, estruturas de proteção para menores, adolescentes e jovens em situação risco e outras realidades, onde o povo se reuniu como “comunidade de comunidades” para compreender e viver a sua vocação missionária a serviço da vida digna. […] Por essas edificações e pelas pastorais sociais e instituições coordenadas pela Caritas Diocesana; podemos entender que a Diocese de Barreiras desenvolveu uma função evangelizadora que sem descuidar das questões estritamente espirituais, incidiu profundamente nos campos da reforma agrária, educação, saúde, ocupação urbana, do crescimento sustentável e dos outros desafios e angústias desta imensa região” (Dom Josafá, Homilia da Missa dos 35 anos da Diocese de Barreiras).

“Pregando a verdade evangélica e iluminando com a sua doutrina e o testemunho dos fiéis todos os campos da atividade humana, ela […] respeita e promove também a liberdade e responsabilidade política dos cidadãos” (GS 76). Os melhores cidadãos deveriam ser os fiéis seguidores de Jesus Cristo. Por isso que no passado se dizia: “A sorte do Estado depende do culto que se tributa a Deus: e há entre ambos numerosos laços de parentesco e de estrita amizade” (Sacr. Imp. Ad Cyllirium Alexandr. Et Episcopos metrop. Cfr. Labbeum, Collect. Conc. T. III).

Santo Agostinho fala assim da função da Igreja: “Tu conduzes e instruis as crianças com ternura, os jovens com força, os velhos com calma, como o comporta a idade não somente do corpo, mas ainda da alma. Sujeitas as mulheres aos maridos por uma casta e fiel obediência, não para cevar a paixão, mas para propagar a espécie e constituir a sociedade da família. Dás autoridade aos maridos sobre as mulheres, não para zombarem do sexo, mas para seguirem as leis de um sincero amor. Subordinas os filhos aos pais por uma espécie de servidão livre e prepões os pais aos filhos por uma espécie de terna autoridade. Unes não só em sociedade, mas numa espécie de fraternidade, os cidadãos aos cidadãos, as nações às nações e os homens entre si pela lembrança dos primeiros pais. Ensinas os reis a velarem sobre os povos, e prescreves aos povos submeter-se aos reis. Ensinas com cuidado a quem é que é devida a honra, a quem a afeição, a quem o respeito, a quem o temor, a quem a consolação, a quem a advertência, a quem o incentivo, a quem a correção, a quem a reprimenda, a quem o castigo; e fazes saber como, se nem todas essas coisas são devidas a todos, a todos é devida a caridade, e a ninguém a injustiça” (De moribus Eccl., cap. XXX, n. 63).

Certamente pelo reconhecimento dessa relação mútua entre poder político e a ação religiosa que nós nesses 40 anos encontramos no poder público municipal a parceria para cessão de terrenos para construção de igrejas, capelas, centros catequéticos, abrigos e outras estruturas; na assinatura de convênios de cooperação técnica e fomento para os vários projetos sociais, alguns ainda vigentes para o Abrigo São João Batista e os projetos Cataventos. Na verdade, desde a emancipação política de Barreiras que uma relação de cooperação e de respeito mútuo se estabeleceu entre a Igreja Católica e o Município, Prefeitura Municipal e Câmara de Vereadores. Atendo-nos às quatro décadas da realidade diocesana, foram nossos parceiros, cada um com as suas peculiaridades: Balthazarino, Otacílio, Paulo Braga, Saulo Pedrosa, Antônio Henrique Moreira nos seus três mandatos, Jusmari Oliveira e agora, Zito Barbosa. Aos vereadores e vereadoras, eleitos nesta última legislatura, queremos agradecer a função institucional de Câmara Municipal de Barreiras nessas quatro décadas, aprovando projetos em favor das paróquias e das outras instâncias e pessoas diretamente ligadas à Diocese de Barreiras, contribuindo de maneira decisiva para o crescimento de nossa missão, aqui dentro do município de Barreiras, sede de nossa circunscrição eclesiástica.

Certamente as comemorações dos 40 anos trazem ainda à nossa mente outros diversos personagens da vida civil, nos setores da política, administração da justiça, da segurança, da economia, educação, saúde, comunicação, enfim, trazem à mente todas as pessoas, cidadãos barreirenses e de outras regiões do Oeste e do mundo inteiro, que tendo diante de si uma demanda da Diocese de Barreiras, responderam com prontidão e terminaram fazendo um bem para a trajetória feliz dessas quatro décadas de história. A todos muito obrigado.

Aproveito também para dizer que internamente somos devedores reconhecidos da doação dos padres, diáconos, religiosas, líderes das pastorais e dos fiéis de todas as paróquias, comunidades, pastorais, movimentos e serviços. A Igreja é a cada de todos. “A cada um é dada uma manifestação do Espírito em vista do bem” (1 Cor 12,7).

Enfim, aos que contribuíram e aos que estão participando da homenagem desta noite nosso agradecimento. Agradecer significa mostrar gratidão por, render graças, recompensar. Ao povo de Barreiras a quem pertence esta casa, aos vereadores, autoridades e convidados, ao tempo em que agradecemos à gentileza desta homenagem, em nome de toda a Diocese de Barreiras, reafirmo o nosso compromisso de com maior afinco continuar nos dedicando às causas desta cidade, de acordo com os ideais evangélicos, dos quais nós somos sempre servidores.

MENSAGEM DO SANTO PADRE FRANCISCO PARA A CELEBRAÇÃO DO DIA MUNDIAL DA PAZ – 1º DE JANEIRO DE 2019 «A BOA POLÍTICA ESTÁ AO SERVIÇO DA PAZ»

A propósito, vale a pena recordar as «bem-aventuranças do político», propostas por uma testemunha fiel do Evangelho, o Cardeal vietnamita Francisco Xavier Nguyen Van Thuan, falecido em 2002:

Bem-aventurado o político que tem uma alta noção e uma profunda consciência do seu papel.

Bem-aventurado o político de cuja pessoa irradia a credibilidade.

Bem-aventurado o político que trabalha para o bem comum e não para os próprios interesses.

Bem-aventurado o político que permanece fielmente coerente.

Bem-aventurado o político que realiza a unidade.

Bem-aventurado o político que está comprometido na realização duma mudança radical.

Bem-aventurado o político que sabe escutar.

Bem-aventurado o político que não tem medo. [5]

Cada renovação nos cargos eletivos, cada período eleitoral, cada etapa da vida pública constitui uma oportunidade para voltar à fonte e às referências que inspiram a justiça e o direito. Duma coisa temos a certeza: a boa política está ao serviço da paz; respeita e promove os direitos humanos fundamentais, que são igualmente deveres recíprocos, para que se teça um vínculo de confiança e gratidão entre as gerações do presente e as futuras”.

Concluo com as palavras do Apóstolo Paulo.

“Mas, irmãos, acerca dos tempos e das estações, não necessitais de que se vos escreva;

Porque vós mesmos sabeis muito bem que o dia do Senhor virá como o ladrão de noite;

Pois que, quando disserem: Há paz e segurança, então lhes sobrevirá repentina destruição, como as dores de parto àquela que está grávida, e de modo nenhum escaparão.

Mas vós, irmãos, já não estais em trevas, para que aquele dia vos surpreenda como um ladrão;

Porque todos vós sois filhos da luz e filhos do dia; nós não somos da noite nem das trevas.

Não durmamos, pois, como os demais, mas vigiemos, e sejamos sóbrios;

Porque os que dormem, dormem de noite, e os que se embebedam, embebedam-se de noite.

Mas nós, que somos do dia, sejamos sóbrios, vestindo-nos da couraça da fé e do amor, e tendo por capacete a esperança da salvação;

Porque Deus não nos destinou para a ira, mas para a aquisição da salvação, por nosso Senhor Jesus Cristo,

Que morreu por nós, para que, quer vigiemos, quer durmamos, vivamos juntamente com ele.

Por isso exortai-vos uns aos outros, e edificai-vos uns aos outros, como também o fazeis.

E rogamo-vos, irmãos, que reconheçais os que trabalham entre vós e que presidem sobre vós no Senhor, e vos admoestam;

E que os tenhais em grande estima e amor, por causa da sua obra. Tende paz entre vós.

Rogamo-vos, também, irmãos, que admoesteis os desordeiros, consoleis os de pouco ânimo, sustenteis os fracos, e sejais pacientes para com todos.

Vede que ninguém dê a outrem mal por mal, mas segui sempre o bem, tanto uns para com os outros, como para com todos.

Regozijai-vos sempre.

Orai sem cessar.

Em tudo dai graças, porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco”.

Barreiras, 14 de agosto de 2019

Dom Josafá Menezes da Silva

Bispo da Diocese de Barreiras

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