Oito anos em Barreiras e na região oeste: Testemunho de Dom Josafá Menezes da Silva

Ao recordar os oito anos de sua presença em Barreiras e na região Oeste

Tendo completado oito anos de ministério pastoral aqui na Diocese de Barreiras, aproveito para recordar o percurso que fiz com os padres, diáconos, religiosas, leigos e as pessoas de boa vontade da sociedade civil na condição de segundo Bispo da Diocese de Barreiras.

Eu assumi a Diocese de Barreiras no dia 26 de fevereiro de 2011 era um domingo, inclusive anterior ao Carnaval.

Fiquei impressionado com o carinho que recebi no aeroporto, na missa de posse e depois quando era recepcionado em cada uma das cidades e comunidades por onde ia pela primeira vez.

Barreiras e a região eram uma realidade completamente nova para mim. Como todo baiano do litoral e que viveu a maior parte de sua vida em Salvador, o meu raio de ação foi sempre a Capital do Estado e os recantos da Baia de Todos os Santos. O ministério sacerdotal, porém, foi sempre um impulso para além dos meus limites pessoais, sociais e culturais.

Desde que ingressei no seminário em 1982, comecei a entrar em contatos com muitas pessoas e tive que me abrir para outras realidades do Estado da Bahia, do Brasil e do mundo. O Seminário Central da Bahia e a Universidade Católica do Salvador foram minhas primeiras escolas nesse sentido.

Depois, fiz dois períodos de estudos em Roma. De 1984-1987, teologia institucional; e de 1996-2002, mestrado e doutorado. Foram descortinados para mim a realidade internacional e as necessidades missionárias da Igreja Católica, inclusive nos lugares mais distantes. De modo que a notícia que viria para Barreiras, apesar dos desafios que isso acarretava, acolhi com espírito positivo. Viver no extremo oeste da Bahia, às portas do Distrito Federal e dos estados de Goiás, Tocantins e Piauí me reacendeu muitas motivações.

A maior diocese da Bahia e os desafios de uma região com grandes possibilidades de crescimento, apesar do histórico de carência de infraestrutura, conflitos de terra e outros problemas sociais, me aguçaram a curiosidade e vi tudo isso como um desafio a ser oferecido a Deus e à pequenez da minha pessoa.

Além da confiança em Deus e em Nossa Senhora, encontrei uma realidade eclesial construída por meu antecessor Dom Ricardo, que entendi que poderia ser o pressuposto interessante de onde partir.

Na missa de minha apresentação eu tracei o meu programa: enriquecer o percurso pastoral seguido até então por Dom Ricardo com os eventos da Igreja Local e Regional, as Diretrizes da CNBB e das Conferências dos Bispos do América Latina e do Caribe; bem como as inspirações pastorais dos Papas Bento e depois do Papa Francisco, pontífices reinantes nesses anos.

Se olharmos itinerário pastoral seguido nestes 8 (oito) anos nós podemos perceber esse direcionamento. Comemoramos os 50 anos do Concílio Vaticano II de 2012-2015; o Ano da Misericórdia em 2016; Ano Nacional Mariano em 2017 e o Ano Nacional dos Leigos em 2018. Agora estamos celebrando os 40 anos da Diocese de Barreiras.

Os acontecimentos locais que enfatizamos foram: 1) Em 2014, festejamos 35 anos da Diocese de Barreiras, quando inauguramos a Igreja de São Bento; 2) Em 2015, 90 anos da Catedral de São João Batista e agora os 3) 40 anos da Diocese de Barreiras.

Para aprofundar o conhecimento da realidade eclesial e espiritual local, fizemos algumas publicações: 1) Em 2013, o Manual do Peregrino ao Cantinho do Senhor dos Aflitos; 2) Em 2014, Dom Ricardo Weberberger – Sua trajetória na Diocese de Barreiras – Bahia; 3) Ainda em 2014, Marcas do Ano da Fé – Olhar do Pastor; 4) Em 2015, Padre Vieira: Missionário, Construtor e Educador em Barreiras; 5) Em 2017, Diocese de Barreiras e suas paróquias. História, Evangelização e Organização.

Insistimos na formação das lideranças leigas, das religiosas e dos ministros ordenados com encontros e cursos de formação cada ano. Fizemos as escolas temáticas: Misericórdia, Mariana e Leigos.

Trabalhamos pela formação especializada dos padres. Padre José Grigório cursou na Espanha, Espiritualidade; Padre Maycon Battisti estudou no RJ, Direito Canônico e o Padre Jocleilson Sebastião da Silva, Mestrado em Filosofia na Universidade Gregoriana de Roma. Atualmente estão estudando: Padre Mário Correia, Filosofia em Brasília; Padre Ariovan, Direito Canônico no RJ e Padre Iolando Alcântara, Teologia Pastoral em Roma.

Investimos na ampliação dos espaços eclesiais, construindo o Memorial Dom Ricardo em Barreiras e o Centro de Espiritualidade Senhor dos Aflitos no Cantinho, zona rural de Barreiras. Estamos iniciando a construção de novos dormitórios na Casa de Retiro São Bento.

Nesse período foram criadas quatro novas paróquias: Santa Rita de Cássia em LEM e Santa Cruz da Morada da Lua em 2012; São Francisco de Assis – Jardim Paraíso em LEM, em 2014 e Santo Antônio em Roda Velha em 2017. Foram instaladas também a Reitoria de São Bento – Memorial Dom Ricardo com atenção para a Pastoral da Cultura e o Santuário Diocesano do Cantinho do Senhor dos Aflitos para melhorar as suas romarias e atendimento diário dos devotos.

Investimos na organização administrativa, procurando deixar a Diocese de Barreiras à altura das novas exigências de informatização e transparência; além de poder cumprir as exigências das leis civis e dos tempos atuais.

Foram ordenados 14 padres, 8 diáconos permanentes e 1 Bispo Diocesano, Dom Eraldo.

Tivemos neste período muitas festas de padroeiros e titulares, muitas inaugurações de Igrejas, centros paroquiais e capelas, muitas crismas e muitas tantas outras ações em todos os cantos da Diocese de Barreiras. Esforço dos padres e das outras lideranças eclesiais em todos os cantos do território diocesano.

A Diocese de Barreiras procurou também continuar seguindo a herança de Dom Ricardo que foi muito preocupado com os problemas sociais. Acompanhamos, com a 10Envolvimento os conflitos agrários da região; mantivemos os trabalhos com os crianças e adolescentes através dos Cata-Ventos; os idosos, através do Abrigo São João Batista; os presidiários com a Pastoral Carcerária. A Paróquia de São Sebastião está conduzindo um trabalho bonito de reabilitação do Albergue São José.

As pastorais da Criança, Litúrgica, Juventude, Comunicação, Família, Catequese, Pessoa Idosa, Saúde, Missionária e as outras percorreram o caminho de acordo com a realidade da Igreja em todo o Brasil.

Os Movimentos eclesiais, Serviços e Associações também receberam o seu apoio e tiveram os seus avanços e retrocessos durante esses anos: Apostolado da Oração, Legião de Maria, Mãe Rainha, RCC, Divina Misericórdia, Oficina de Oração e Vida, Sagrada Chagas e Terço dos Homens. Estão se estruturando também os Acampamentos Juvenil e Sênior.

Passados oito anos, agradeço a Deus por ter me confortando em todos os momentos, por ter me dado saúde e alegria para viver a minha missão. Agradeço por ter tido um antecessor como Dom Ricardo Weberberger. Agradeço imensamente pela comunhão e amizade dos padres, dos diáconos permanentes, das religiosas, das lideranças leigas das paróquias e comunidades. Reconheço que sem parceria com os diversos âmbitos da sociedade civil pouco teria acontecido. Agradeço às forças da Produção agrícola; ao comércio; poder público municipal e Estadual; ao 4º BEC, às Polícias Militar e Civil, às estruturas do Poder Judiciário e às outras instâncias da sociedade civil organizada. Agradeço muito às pessoas mais simples do campo e da cidade.

Concluo citando as palavras que disse na Missa de Abertura dos 40 anos da Diocese de Barreiras:

“Se Dom Ricardo vos disse de 1979 até 17 de agosto de 2010, que Jesus Cristo é o Redentor do Homem, que pode dizer o segundo bispo de Barreiras? Tomo as palavras do Apostolo Paulo ao discípulo Timóteo: “proclame a palavra, insistia oportuna ou inoportunamente, argumente, repreenda, aconselhe, com toda paciência e doutrina” (2 Tm 4,1-8). “Quão grande é a força da palavra que, “sem cortar nem despontar espinhos, nasce entre espinhos”. Mesmo “sem arrancar nem abrandar pedras, nasce nas pedras”.  Por isso, compreende-se que a proclamação da palavra não deve desconsiderar a realidade a que se anuncia. É com a docilidade própria do bom pastor que o pregador deve bradar:  “Corações embaraçados como espinhos corações secos e duros como pedras, ouvi a palavra de Deus e tende confiança! Tomai exemplo nessas mesmas pedras e nesses espinhos! Esses espinhos e essas pedras agora resistem ao semeador do Céu; mas virá tempo em que essas mesmas pedras o aclamem e esses mesmos espinhos o coroem” (Padre Antônio Vieira, Sermão da Sexagésima).

Barreiras, 28 de fevereiro de 2019

Dom Josafá M. da Silva

Bispo Diocesano

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