Solenidade de Todos os Santos

No dia 1º de Novembro celebramos a Festa de Todos os Santos. Esta celebração não significa apenas a comemoração dos santos reunidos, mas o dia em que se celebra o mistério que envolve a comunhão do santos com Deus e com a humanidade.

No Credo Católico confessamos esta verdade da fé: “Creio na santa Igreja Católica, na comunhão dos santos”. A fé é como uma luz interior que não consegue ocultar-se, uma voz que não consegue calar-se. Isto significa que o Credo sobre a comunhão dos santos, não é uma repetição de palavras, uma ideia somada. O Credo, verdade da fé, é uma atitude confiante em Deus. Atitude fundamentada no entendimento e/ou consciência de que Deus é uma Pessoa, que veio ao mundo na condição de homem e que venceu a morte.

A morte e ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo é o querigma cristão, isto é, o anúncio fundamental do Cristianismo que, sem o qual, não seria possível compreender a comunhão dos santosOs santos antes de estarem na Glória de Deus no céu, eles já estavam na Glória de Deus aqui na terra. Foram homens e mulheres como todos nós, “creram em tudo aquilo que nós cremos, esperaram aquilo que nós esperamos, sofreram aquilo que nós sofremos¹. Creram na vida eterna, esperaram a segunda vinda de Jesus Cristo, e sofreram a perseguição e o martírio das forças contrárias a Deus.

São santos bem-aventurados: não porque não sentiram angústias, sofrimentos e tribulações, mas porque passaram por tudo isso conhecendo o seu real valor. Pois o belo, o divino não está na renúncia e no sofrimento em si, mas pelo que e por quem se sofre e se renúncia. Quando a razão fundamental de tantas privações e sofrimentos for simplesmente o amor contagiante e eterno pela pessoa viva de Jesus Cristo, todo o fardo será leve (Mt 11,30). Ideia definida profundamente pelo filósofo Henri Bergson: “Bem-aventurado o pobre em espírito! o que é belo, não é o ser despojado, nem mesmo o despojar-se; é o não sentir o despojamento”.

Os santos são nossos exemplos e testemunhas disso, suas obras são sinais de perseverança final no bem. Perseveravam na dor e na tristeza, no medo e na angústia, não porque possuíam apenas uma ideia de eternidade, mas porque possuíam a própria Eternidade como ponto de partida e ponto de chegada de cada ação. “Assim como o navegante que, ao chegar ao porto, não se lembra mais dos dias longos e difíceis, talvez perigosos, pelos quais passou, assim será quando chegarmos ao porto da eternidade: não nos lembraremos mais dos anos passados no mundo. Portanto, preparemo-nos um bom lugar na eternidade” (Mestra Tecla)².

Os testemunhos dos santos são, desse modo, luz do mundo e sal da terra (Mt 5,13), contagiando e ensinando todas as gerações a atualidade do Amor Ressuscitado. Toda ação humana fundamentada no amor divino é Deus encarnado no mundo, ressuscitando tudo o que está morto.

Pergunta o Pe. Raniero Cantalamessa: “Qual é a verdadeira diferença entre nós e os santos que festejamos? Estes são bem-aventurados na posse, nós somente na esperança: spe gaudentes, como diz São Paulo (Rm 12,12). 

A esperança cristã é, desse modo, ativa. Nós cristãos aprendemos pelos ensinamentos de Jesus Cristo, que o que se faz nesta vida é o que se colherá na vida futura. Custe o que custar o bem deve ser feito aqui, prontamente.

E este é o mistério da comunhão dos santosos tesouros que eles conquistaram estão eternamente assegurados no céu e acontecendo na História. Nenhuma ação boa na terra morre sem dar frutos eternos. Nós temos, na condição de filhos de Deus e irmãos dos santos, a chance de comungarmos com eles todas as virtudes cristãs. A chance de usufruirmos desse tesouro, que ninguém jamais tirará de nós, pois somos todos pedras vivas que formam a Igreja, sustentada pela pedra fundamental que é Nosso Senhor Jesus Cristo.

¹CANTALAMESSA, R. O Verbo se fez carne: reflexões sobre a Palavra de Deus – Anos A,B,C. São Paulo: Ave-Maria, 2012. p.854.
²COLLESEI, G. Venerável Tecla Merlo: mil vidas pelo Evangelho. São Paulo: Paulinas, 2014. p.26.
³CANTALAMESSA, R. O Verbo se fez carne: reflexões sobre a Palavra de Deus – Anos A,B,C. São Paulo: Ave-Maria, 2012. p.855.

Fonte: Portal A12

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